Seattle - Parte I
Ainda abraçada ao amigo do papai e chorando muito, por reencontrar alguém, principalmente, uma pessoa que nos foi tão importante, senti algo gelado tocar meu ombro. Me afastei um pouco, e me virei, olhando para quem havia me tocado. Carl, estava logo atrás de mim, com aquele mesmo sorriso tímido, que eu sempre ganhava quando ia visita-los, quando ele ainda era uma criança. Observei atentamente seu rosto e um de seus olhos estava enfachado, o outro claro, como os olhos do pai, está vermelho, não consegui distinguir ao certo se era de sono ou se estava chorando.
Me afastei por completo de Rick, e me joguei sobre o corpo de Carl, abraçando-o com toda a força que consegui. Quando o vi, pela última vez, Carl iria completar 11 anos, em pouco tempo. E como todo "pré-adolescente" estava me dando nos nervos, aquele dia. Havia sido a última vez que passaria as férias de inverno em casa, com meus pais. Meu corpo tremia, devido aos soluços, assim como o do rapaz que me mantinha acolhida nos braços.
Distanciei um pouco do abraço, e segurei seu rosto com as duas mãos, observando-o novamente, só que mais próxima. Afastei seu cabelo longo dos olhos, e passei os dedos gentilmente pelo pano branco que cobria algum machucado. Carl manteve os lábios em linha reta e segurou firmemente meus pulsos.
- Você cresceu tanto. - falei em sussurro, secando, com os polegares, as lágrimas que escorriam pelo rosto de Carl. Ele balançou a cabeça lentamente sorrindo, e apertou ainda mais minha cintura, me puxando de volta para o abraço.
Alguns segundo depois, nos afastamos e uma garota de longos cabelos castanhos, estava parada à alguns centímetros de nós, nos observando com atenção. Ela se aproximou lentamente e estendeu a mão, se apresentando.
- Sou Enid, hum, amiga do Carl. - apertei sua mão e sorri para ela o máximo que pude
- Enid, - Carl disse com a voz embargada, devido a emoção - é, na verdade, minha namorada.
Como se fosse possível, sorri ainda mais e olhava constantemente na direção de Carl, Rick e Enid. Meu sorriso logo se esvaiu, quando percebi que faltava alguém.
- Onde está Lori? - dirigi a pergunta a quem quisesse me responder
Rick olhou para os pés e passou a mão pela farta barba.
- Venham, temos muito o que conversar. - me aproximei dele e este passou o braço pelos meus ombros me guiando para dentro do que vinha ser Alexandria.
O lugar era lindo, principalmente agora com o sol raiando. No passado deveria ter sido um luxuoso condomínio fechado. Um pequeno lago decorava o local, juntamente com gramas bem aparadas, um deque de madeira, balanços, jardins e muitas coisas mais. Entramos em uma casa que ficava bem no início do conjunto habitacional que se seguia logo adiante.
Quando adentramos o local, Rick apertou um interruptor e luzes se acenderam. Olhei para ele com os olhos arregalados, e este sorriu para mim, apertando meus ombros com a mão que estava apoiada neles, delicadamente. Ele pediu que Ed, Zach, Lea e eu, nos sentassemos no sofá á frente da poltrona em que ele se sentaria. Cinco pessoas ficaram em pé em cantos diferentes do ambiente.
Rick começou a contar sobre tudo que acontecerá. Sobre quando ele acordou no hospital e percebeu que estava totalmente só e demorou a entender o que havia acontecido ali. Contou que Morgan, e seu filho Duane, foram os primeiros a ajuda-lo. Disse que chegou a ir ate Atlanta, onde conheceu Gleen, que salvou sua vida, mas que, infelizmente, não estava mais ali para que eu pudesse conhece-lo. Quando reencontrou Shane, Lori e Carl em um acampamento ao ar livre. Me disse que foram ao CDC, e lá descobriram que todas as pessoas estão infectadas. Contou sobre a Fazenda dos Green, e como Hershel, pai de uma garota chamada Maggie, que estava encostada à parede atrás de Rick, os ajudou com tudo que pode. Disse que encontraram uma prisão onde moraram por um bom tempo, ate um cara que se auto intitulava como Governador, destruiu tudo. Depois falou sobre o Terminus e sobre o que acontecia com as pessoas que iam para lá, e que só escaparam devido à uniao que a equipe que estava ali com ele, possuia. Logo após Terminus, contou que encontraram um Padre, que havia sobrevivido esse tempo todo sem matar um monstro se quer, apenas acreditando na palavra de Deus. Ouvimos também sobre como foi chegar em Alexandria e quão difícil foi depois por ter que lidar com o grupo de Negan. Mas que ate aquele momento, aparentemente, estava tudo resolvido. Rick, não sei deu detalhes sobre o que aconteceu entre ele e esse tal de Negan, e eu perguntaria depois.
- Uau! - exclamei - Vocês passaram por coisas demais. Eu não imaginava nada disso.
- Acho que teremos tempo para conversar sobre. - Zach falou pela primeira vez
- Mas, onde está Lori? - Ed perguntou.
Eu não o culpava, por ainda querer saber o que aconteceu a ela, mesmo que já soubéssemos. Ed, é três anos mais novo que eu, e Lori cuidou dele quando meu pai havia sido baleado e mamãe precisou ficar um tempo no hospital. Na verdade, cuidou de nós. Mas, Ed e ela, criaram uma forte ligação e mantinham uma relação como de mãe e filho.
- Lori faleceu quando estávamos na prisão. Ela estava grávida e foi no momento do parto. - Rick respondeu cabisbaixo. - Está é Judith, irmã de Carl.
Rick apontou para a garotinha que estava no colo de uma mulher negra. Me levantei e a mulher caminhou ate mim, sorrindo e fez menção para que eu a segurasse.
- Posso? - perguntei
- Fique a vontade - Rick respondeu sorrindo
A peguei com todo o cuidado. Ela já estava grandinha, e nao tinha mais a idade para passar o tempo todo no colo, mas estar ali com ela, me trouxe uma sensação de paz e amor. Me lembrou quando Carl nasceu e o peguei no colo pela primeira vez. Beijei gentilmente sua testa e ela aninhou a cabeça em meu ombro.
- Aliás, está é Michonne. - Rick apresentou a mulher negra, que por eu estar com as mãos ocupadas apenas abriu um largo sorriso para mim. Rick entrelaçou a mão de Michonne e sorri para os dois. - Aquela é Maggie - ela acenou para nós - Carl e Enid, vocês já conheceram. E aquele é Daryl.
Olhei para trás, e o homem que Rick havia apresentado estava encostado na janela, olhando para fora dela, tentando ao máximo não olhar para nós. Apenas nos cumprimentou com a cabeça e voltou seu olhar para onde estava antes. Ao contrário dos que conhecemos antes que aparentavam ser bem receptivos e abertos, Daryl ficava mais na sua, e eu me lembraria disso, para não tentar me aproximar demais.
- Antes de qualquer coisa, preciso fazer três perguntas, tudo bem ? - Rick disse e concordamos - Quantos walkers mataram?
- Isso é sério? - Zach disse - Não tivemos tempo de anotar.
Lea deu uma cotovelada nele e respondeu por nós.
- Muitos, senhor. Centenas, talvez milhares. Não sabemos com precisão.
Lea e Zach, não conheceram Rick antes. Morávamos próximos, mas em cidades diferentes.
- Quantas pessoas mataram? - Rick perguntou e meu sangue gelou.
- Nenhuma. - Ed respondeu
- Nenhuma também. - Zach e Lea responderam juntos.
Todos olhavam para mim.
- Uma. - respondi baixo
- Por quê? - Michonne perguntou, com um tom preocupado na voz.
- Foi necessário. Ele pediu que eu o fizesse.
Todos pareceram entender, e não disseram mais nada. Devolvi Judith para Michonne, e Rick puxou a mim e a meu irmão para um canto.
- Elena e Kenan? - ele se referiu a meus pais
- Gostaria de falar com você sobre isso. Meus pais vieram, antes de tudo acontecer, para Seattle. Eu e Ed pensamos que poderíamos encontra-los. Sabemos onde a casa fica e sabemos também que talvez eles possam estar lá, como eles costumavam ser ou tenham se tornado aquelas coisas. Ou talvez, não estejam la. Mas, Rick, é difícil dormir a noite sem saber o que realmente aconteceu.
- Só para constar não dormimos a tempos. - Ed disse como se aquilo ajudasse em algo
- Não se preocupem. Daremos um jeito. - ele se afastou e foi em direção a Daryl. Cochicharam algo e trocaram um aperto de mão. O homem passou por nós, e saiu pela porta da frente e Rick voltou. - Daryl vai com vocês, podem confiar nele para tudo. Eu confio minha própria vida, a de Carl e a de Judith nele, então não se preocupem.
Assentimos.
- Vou mostrar onde ficarão. - saímos da casa dele, e seguimos por mais ou menos umas seis casas. - Uma outra família morava aqui, mas problemas aconteceram. Ela é de vocês quatro. Fiquem a vontade para tudo o que quiseram. A noite jantaremos juntos, sim?
- Adoraríamos. Obrigada, Rick. Por tudo.
- Não há de que. É isso que um padrinho deve fazer, pelos afilhados. Cuidar deles e zelar como se fossem seus filhos. E vocês sempre foram assim para Lori e para mim. E agora são, para mim, para Michonne, para Judith e Carl. Vocês são mais que bem vindos.
Todos agradecemos a ele. Meu irmão e meus amigos foram ajudar as pessoas a descarregar os carros e fui conversar com Rick para resolver algumas coisas.
- Como fica nossos trabalhos para com a comunidade?
- Por enquanto, vocês precisam ficar mais fortes. - ele parou de andar e me olhou de cima a baixo - Você está muito magrinha. Quase um palitinho.
Dei um pequeno e leve soco em seu braço e rimos juntos.
- Não enche Rick.
- É bom reencontrar alguém de antes, sabe ? - ele perguntou enfiando as mãos nos bolsos e olhando fixamente para meu rosto. Concordei com ele. - Daryl irá com vocês as oito horas. Acho que deveria se trocar.
- Me trocar? Acha que passei esse tempo no shopping, escolhendo roupas? - falei e ele riu - Tenho poucas Rick, e a maioria está rasgada.
- Vem, vou arrumar algo para vestir.
Já se aproximava das oito horas, quando terminei de me vestir e de comer algo, que comi feito uma louca já que se alimentar só de enlatados por quase três anos, não é nada fácil. Rick pediu uma muda de roupa para Michonne, que de bom grado me emprestou, dizendo que eu não precisaria devolver. Consistia em uma calça jeans, uma regata justa preta e um cardigã amarelo claro. Me senti mais eu mesma com aquela vestimenta. Continuei com meu tênis, que no passado eram brancos e no momento era uma mistura de cores que variava do marrom, ao preto e ao vermelho.
Rick me chamou quando estava tudo pronto para que eu pudesse ir para Seattle.
- Não quer esperar alguns dias antes de ir? Vocês acabaram de chegar, deveriam descansar. E - ele ficou sem graça - nao quero perder vocês de novo, não depois de reencontra-los.
- Eu gostaria de fazer isso agora. Colocar um fim nessa angústia que sinto. E não se preocupe, Tio Rick - falei como antigamente - nao irá nos perder. Você disse que confia sua vida em Daryl, creio que ele irá nos proteger e sei como cuidar de mim e de Ed.
- Sei que sabe. - Rick disse. Edward veio em nossa direção.
- Mandy, posso falar com você? - Rick se afastou para falar algo com Daryl e nos deixou a sós
- Algum problema? - perguntei, cruzando os braços como de costume
- Olha, eu entendo que isso é importante para nós e tudo mais, e entendo os motivos. Mas, acho que devia deixar isso pra lá.
- Ed, eu não acredito. Você sabe que precisamos fazer isso, saber o que aconteceu com eles. Seria isso que fariam por nós. Eu sei que eles não serão mais os mesmos, sei que se tornaram walkers, mas preciso acabar com isso. Não posso deixa-los, assim.
- Eu entendo, Mandy. Entendo mais do que todo mundo, mas quero que entenda e que respeite a minha escolha de ficar. Não quero ir! Primeiro, por que você sabe que eu não conseguiria tirar a própria vida dos meus pais e segundo por que eu não quero vê-los como essas coisas.
- E você acha que eu quero enfiar uma faca na cabeça deles? Quão louca você acha que eu fiquei? Isso não é um tipo de obsessão. Mas tínhamos um trato lembra? Se eu me tornasse um monstro, um de vocês deveria acabar com isso. Por um fim ao que nos tornassemos. Esse é o trato. É o que eu faria por você e pelos nossos amigos. - eu começará a falar alto e as pessoas que começavam a sair de suas casas para trabalhar na comunidade, nos olhava. Respirei fundo e contei ate cinco mentalmente - Okay, Edward. Você fica e eu vou.
Dei as costas a ele, e fui em direção ao carro onde Daryl e Rick estavam parados, olhando para onde Ed e eu estávamos anteriormente.
- Ele não vai - falei prendendo meu cabelo em um rabo de cavalo alto.
Daryl, que estava com a porta do motorista aberta e quase entrando, olhou para mim com o cenho franzido e balançou com a cabeça negativamente, como se eu tivesse feito algo errado. Entrou no carro e bateu a porta.
- Toma - Rick me entregou uma faca - Não sei como conseguiu lutar com aquela porcaria.
Entrei no carro, e Rick pediu para que Daryl, cuidasse de mim. O motorista apenas concordou e acelerou o carro, que já estava ligado, saindo pelo portão que havia sido aberto por um rapaz com o cabelo engraçado, acho que ele que tinha aberto quando chegamos.
Estavamos indo atrás dos meus pais, e eu esperava que nada acontecesse no caminho.
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