Pesadelo

Acordei no outro dia com o sol batendo em meu rosto. Me esqueci de fechar a cortina na noite passada e agora despertei antes do que eu tinha previsto. Michonne, na noite passada, veio aqui e conversou comigo,  contado a mim sobre o grupo e sobre ela. E eu, fiz o mesmo. Talvez, tenha contado até demais, só que tenho certeza de que não teria de repetir toda a história novamente, já que ela perguntou se poderia conversar com o Rick sobre, e eu, logicamente, concordei.

Me sentei na cama, me espreguiçando e mesmo não tendo dormido o quanto eu gostaria, me sentia descansada e em segurança, pela primeira vez em anos. Passei a mão em meu cabelo para tira-lo do rosto. Tenho certeza de que devia estar um ninho, pois dormi com ele molhado, já que eu não podia me dar ao luxo de seca-lo com um secador. Por ter entrado às pressas no quarto, não pude notar no quão grande ele era. Além da porta que dava para o closet, havia uma que, aparentemente, daria para o banheiro. E isso era o máximo, já que eu não precisaria dividir o outro com ninguém, e eu nunca tive um banheiro só para mim. Quando morava com meus pais, eu e meu irmão dividiamos o que ficava no andar de cima, e bom, todos sabem que na Universidade o banheiro é compartilhado.

Pensei em tomar outro banho, antes de sair de casa, mas me contive. Poderia deixar isso para mais tarde. Lavei meu rosto com a água da torneira, e tentei domar meu cabelo, prendendo-o em um coque bagunçado. Minha pele começará a descascar, e estava sensível em alguns lugares. Precisava arrumar algum tipo de hidratante, sei que não seria fácil, mas é necessário.

Caixas de plástico e papelão estavam empilhadas em um canto do quarto. Esvaziei cada uma delas, e com uma caneta que encontrei no interior de uma gaveta, escrevi "Roupas" "Judith" "Outros". As roupas, ocuparam quatro caixas. Acessórios e coisinhas meio inúteis, duas. E na caixa com o nome da bebê, coloquei umas roupinhas de criança qur encontrei em Seattle, na casa dos meus pais, que pertenciam a mim, e minha mãe havia guardado de recordação; umas fitas VHS de desenhos antigos, dois ursinhos de pelúcia e uma barbie.

Peguei uma muda de roupas que separei para mim, consistia em: uma calça jeans surrada, uma regata vermelha e uma jaqueta de couro. Calcei meu velho tênis, e coloquei o colar que era de mamãe no pescoço. Na casa deles, encontrei alguns maços de cigarro e um relógio que ainda estava na embalagem. Guardei esses objetos na gavetinha do criado mudo, ao lado da minha cama, em algum momento eu daria aquilo para alguém.

Desci as caixas de roupas e objetos, e as deixei na varanda. Pediria para Carl, avisar a Tara que ja estava tudo separado e que ela poderia dividir de forma correta. Peguei a caixa com os novos pertences da Judith, e sai em direção a casa do Rick. Quando me aproximava desta, vi que Daryl estava sentado na escada que dava para a entrada da residência onde ele vive. Em sua mão, estava um canivete prateado e um toco de madeira. Ele estava usando uma blusa sem mangas, que pelo modo como estava acredito que o próprio a tenha rasgado. Seu cabelo caia em seu rosto por estar com a cabeça baixa, enquanto afiava aquele pedaço de madeira.

Eu ficará chateada por saber qir ele estava me tratando bem, apenas por eu me parecer com a outra guria. Ele podia muito bem, ter continuado me tratando do modo como fez quando cheguei. Me analisando de cima a baixo, sem nunca me encarar. Mas, ele tinha de colocar aqueles malditos olhos azuis em mim. Trouxa. É isso que ele é.

Quando passei por ele, Daryl ficou de pé. Parei por reflexo e me virei para olha-lo. Semicerrei meus olhos, e franzi o cenho, como se daquele modo eu pudesse intimida-lo. Sei que não consegui muito, já que ele me olhou como se eu fosse doida, mas eu tentará, disso eu não tenho dúvidas. Ele acenou para mim, eu não respondi. Apenas me virei e continuei meu caminho até a casa dos Grimes. Bati na porta e Carl me recebeu. Antes de entrar dei mais uma olhada em direção ao homem, e este continuava me olhando. Trouxa. Eu comecei a gostar mais ainda dessa palavra. Qualificava-o bem.

Quando entrei na casa, vi Michonne na cozinha, preparando o café da manhã. Ela usava uma blusa masculina, ela pegava ate metade da coxa. Devia ser de Rick. Quando me viu, abriu um largo sorriso e veio pegar a caixa de minha mão.

- O que temos aqui? - ela disse curiosa

- Trouxe algumas coisinhas para Judith, espero que Rick não se importe.

- Espera que eu não me importe com o que? - o homem entrou no cômodo onde nós estávamos, ele estava sem camisa. Deu um beijo na mulher e me abraçou. Minha cabeça ficou no seu peito nu. Tenho que confessar, que fiquei um pouco constrangida. Me afastei gentilmente dele, e dei um tapinha em seu braço.

- Parece qje o fim do mundo lhe fez bem. - falei rindo e Michonne me acompanhou.

- Pai, - Carl disse se juntando a nós-  vai vestir algo, Enid está vindo. Não a quero babando, como essas duas estão.

- Cala a boca, pirralho. - Michonne falou, brincando - Mandy não esta babando, ela está apenas contemplando, e eu deixo.

Senti minhas bochechas corarem e me afastei para entregar os brinquedinhos a bebê, qur e estava sentada em um tapete brincando com uma bonequinha de pano, bem velhinha. Quando entreguei os dois ursinhos para ela e a Barbie, ela abriu um largo sorriso e pegou rapidamente da minha mão, como se pensasse que eu não daria a ela.

Depois disso tomamos o café todos juntos. Como uma família feliz. E talvez em um futuro, não muito distante pudéssemos ser. Quando terminamos, fiquei a sós com Rick.

- O que temos para hoje? - perguntei

- O pessoal saiu para procurar mais comida, seu irmão e seus amigos foram juntos. - Quando ele disse, revirei os olhos - Eu achei melhor manda-los, sei que está chateada com eles, principalmente com Ed, e eu compreendo, só não seja muito dura com ele Mandy. Sabe que ele não fez por mal, ele não te deixaria na mão.

- Certo - falei tentando fugir daquela conversa - E o que temos para mim? - perguntei. Já que todos estão fazendo algo, quero fazer também.

- Pensei que gostaria de ficar. Descansar um pouco. Achei que sairia daquele quarto so daqui a três dias ou mais. - ele disse e eu neguei. - Bom, se quer assim, o único que ainda não saiu foi Daryl. Ele ia de moto, mas posso pedir qur ele vá de carro, tudo bem para você?

- É, pode ser.

- Falarei com ele agora, daqui a pouco já é hora dele ir mesmo. Vá pegar o que precisa, e esteja no portão o mais rápido possível.

Quando voltei a minha casa, peguei uma mochila e nela coloquei, o maço de cigarro, um isqueiro que encontrei na minha cozinha, algumas toalhas de rostos, um lençol (nao sei por que), algumas frutas e uma máquina fotográfica. Cheguei ao portão, quando Daryl e Rick estavam conversando.

- Tudo pronto. - Rick disse e me puxou para um canto - Sabe atirar, não é mesmo? - ele perguntou

- Claro que sei, você e papai me ensinaram quando era mais nova. Só não entendo de armas, mas sei como usar uma.

- Quero que leve esta. Talvez não precise, mas por precaução. - ele me entregou um revólver preto, que guardei dentro da mochila. Daryl ja estava no carro e buzinou para que eu andasse logo. Aquilo me irritou muito. E Rick percebeu - Está tudo bem entre voces ?

- Claro.

- Num. Sei que Daryl é um pouco difícil, mas pode confiar nele, Mandy. - apenas respondi "okay" e dei um beijo em sua bochecha, antes de entrar no carro.

Passei o tempo todo calada, em alguns momentos percebi que Daryl olhava para mim, meio de lado, mas logo desviava o olhar. Em algum momento ele decidiu puxar assunto, mas eu não estava afim de conversar. De repente o carro começou a engasgar e ele batia a mão no volante e falava "merda! Merda! Merda!". E então, o carro parou. Olhei para ele com o cenho  franzido.

- A gasolina acabou - Ele disse e eu soltei um riso de escárnio para ele - Qual que é o problema? Se eu tivesse vindo com a moto isso não teria acontecido.

Desci do carro antes que ele pudesse terminar de falar, peguei a mochila no banco de trás e fiquei olhando para frente e para trás, para ver se encontrava algum carro largado no meio da estrada, mas esta estava vazia. Daryl também desceu do carro, e começou a caminhar para dentro da floresta. Descidi segui-lo. Já havíamos andado cerca de duas horas e não encontramos nem uma casa se quer para ficarmos.

- Já vai anoitecer, precisamos achar um lugar rápido -  ele disse e eu meio que sabia que aquilo era óbvio. Ele olhou para cima e mordeu o lábio inferior, sinal que estava mentalizando algo - Segura aqui - ele me entregou a besta e começou a subir em uma árvore, deixando-me sozinha aqui embaixo.

Eu não tinha medo dos walkers, mas não queria encontrar nenhum deles e estava torcendo para não ouvir o farfalhar das folhas, nem o som de gravetos quebrando. Mas, como hoje em dia, sorte é algo mais raro que trevo de quatro folhas, três Walker vinha em minha direção.

- Daryl - chamei uma vez, e apontei a crossbow na direção do que estava mais próximo. Aquilo era pesado demais, e eu não fazia ideia de como usa-lo - Daryl - chamei novamente, um pouco mais alto agora.

Consegui disparar uma flecha na direção do monstro, mas esta caiu sobre meus pés como uma pétala. Joguei o aparelho no chão, peguei a faca que estava em meu cinto, e cravei na cabeça do primeiro e do segundo. Não percebi quando um deles se aproximou, e cai no chão, com ele em cima de mim. Minha faca havia caído a poucos centímetros de mim, mas eu não alcançava. Merda, eu iria me transformar em um deles a qualquer momento, e esse seria meu fim. Quando finalmente encontrei um lugar seguro para ficar, eu morreria.

- Há uma pequena casa à trinta minutos daqui, indo pelo Leste, podemos chegar antes de escu... - Daryl parou de falar quando me viu caída, com o mordedor em cima de mim. Pegou a besta que eu deixei "gentilmente" no  chão e atirou em cheio na cabeça do monstro. Este caiu em cima de mim. Daryl o empurrou para que pudesse me ajudar a levantar.

- Você não precisava ter me ajudado. - gritei com ele, enquanto limpava minha roupa

- Você estaria sendo devorada agora. - Ele gritou de volta

- Sei me cuidar sozinha, Dixon. Não preciso da ajuda de ninguém. Acha que sobrevivi esse tempo todo graças ao meu "grupo", me poupe. Eles estão vivos graças a mim. Posso ate parecer frágil, mas não sou, eu sei do que sou capaz.

- Agora resolveu falar comigo? A única coisa que deveria dizer, era um muito obrigado, por eu ter acabado de salvar a sua vida - ele disse no mesmo tom. Estávamos um de frente para o outro, discutindo alto, a mercê dos walkers e nenhum dos dois deu atenção para isso.

- Você só me salvou, por que me pareço com ela. - gritei de volta - Se não fosse por isso, se eu não me parecesse com a sua querida Beth, você não teria me ajudado. Me deixaria para trás. - okay, se o Oscar ainda existisse o prêmio de melhor atriz dramática do ano, iria para mim com certeza.

Daryl me olhou surpreso, pelo fato de eu saber sobre ela, mas não negou. Eu estava certa então. Se eu não fosse um pouco parecida com ela, ele teria me deixado para trás, e isso me machucou ainda mais. Peguei me mochila que estava no chão, coloquei nas minhas costas e caminhei na direção que ele havia indicado. Não falamos mais nada pelo caminho.

Ele estava certo, havia uma casa  à alguns quilômetros de onde eatavamos. Pegamos uma lanterna e olhamos cada cômodo para ver se encontrávamos alguém vivo ou não. Estava vazia, devem ter ido embora antes de tudo. Mas, não havia comida, nem água. Daryl, encostou uma poltrona na porta de entrada e eu subi para um dos quartos, que tinha colchão para me deitar. Eu estava exausta, e meu corpo todo doia.

Tirei meus sapatos, e minha jaqueta. Deixei a arma e a faca ao meu alcance, e me deitei na cama. Cheirava a perfume que pessoas idosas costumam usar, e era relaxante aquele cheiro. Quando senti meus olhos pesando, ouvi um ranger vindo da escada. Meu corpo ficou tenso, e peguei a arma, e apontei em direção a porta. Um silêncio ensurdecedor se fez, e tomei coragem para chamar o homem no andar de baixo.

- Daryl? - falei e a porta se abriu. - Mas, que merda. Eu podia muito bem ter atirado em você.

- Não podia não, a arma ainda esta travada. - ele disse apontando para mim - Só queria saber se estava bem. Já vou voltar para baixo. - ele virou as costas e ia saindo quando o chamei novamente. Respirei fundo antes de dizer.

- Poderia ficar aqui? Não estou me sentindo segura aqui sozinha.

- Mas, você não é a pessoa que não precisa de ninguém? - ele perguntou sarcástico, mas fechou a porta atrás de si, e empurrou a velha cômoda para trava-la.

- Há um lençol na minha mochila, pode forra-lo no chão. - falei e me deitei, virando para a parede. Aparentemente ele já havia deitado, mas nao parava de resmungar, dizendo que o chão estava frio demais, que estava duro demais, que voltaria para a sala, por que la havia um sofá.

Contei até dez para evitar de mata-lo.

- Anda logo - falei - Pode deitar aqui. Peguei dois travesseiroz que havia posto no outro lado da cama, e criei uma barreira para impedir que nos tocassemos.

***

No meio da noite, acordei com alguém gritando o nome de alguém, me virei para o lado, e Daryl estava tendo um pesadelo, e ele dizia "Não, faça isso" "Beth". Encostei nele, e o sacudi para ver se este acordava. Não demorou muito para que eu conseguisse. Ele se sentou na cama assim que abriu os olhos, e me encarou preocupado. Sua testa estava suada. Passei a mao secando-a e fiz com que ele deitasse novamente.

- Está tudo bem, você teve um pesadelo. Não tem com que se preocupar. 

Retirei os travesseiros que nos separava e me aproximei dele com cuidado. Era assim que Ed Se fazia comigo, mesmo eu sendo a maos velha. O corpo do homem tremia é seu coração estava acelerado. Deitei minha cabeça em seu peito e o abracei.

- Shiu! - falei baixinho - Está tudo bem agora. Eu estou aqui, nada vai te fazer mal. - Senti que o corpo dele se acalmou, quando o abracei. Ele pousou as maos em minhas costas, retribuindo o abraço.

- Ninguém é bom sozinho, Mandy. - Ele disse com os olhos fechados. Acredito aue dormimos naquela posição.

Eu tentará evita-lo o máximo que eu pude, mas Daryl tinha algo bom nele. Algo que fazia com que fosse difícil odia-lo. Ele ate parecia ser mau, e ranzinza, mas não era bem assim. Pelo menos o pouco que vi. Ele tentava ser melhor, ser diferente. E  isso era digno.

Tentei me afastar um pouco, mas foi em vão, Daryl abraçou-me de volta com mais força, como que por instinto para que eu não ficasse longe, e me mantive ali, ate pegar no sono.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top