Isolados
Já se passou uma semana e meia desde a minha tarde com Daryl. Pensei que a situação fosse ficar meio constrangedora entre nós dois, mas, aparentemente, somos maduros o suficiente para encarar de forma natural.
Ele não ousou tocar no assunto, muito menos eu. E nem demonstrou que gostaria de repetir o beijo. Talvez, por eu ter dito que não gostaria que acontecesse novamente, mesmo sendo uma puta mentira.
Dois dias depois da nossa conversa, Daryl saiu para procurar mantimentos e algumas outras coisas para a comunidade de Alexandria e para Hilltop. Trabalhávamos juntos agora. Em um determinado mês alguém da nossa comunidade procurava por coisas para eles, e alguém da comunidade deles procurava algo para nós.
Eu ainda não tive a oportunidade de conhecer as duas outras: OceanHill e o Reino. Mas, Rick disse que logo marcaria uma hora com o Rei Ezequiel para que eu o conhecesse. Marcar uma hora? Rei Ezequiel? Prefiro não perguntar nada, ainda.
Daryl devia ter voltado a três dias e nada dele ainda. Michonne pediu para que eu não criasse alarde, e nem me preocupasse tanto, já que ele sabia cuidar de si mesmo.
Eu juro que tentei não me preocupar com ele, mas eu sentia que algo de ruim estava acontecendo com ele.
(...)
Levantei bem cedo certa manhã para poder organizar o consultório. A noite passada havia sido uma bagunça em relação aos atendimentos. Maggie vinha de dois em dois dias, para que eu pudesse ver a dilatação e ficar atenta a qualquer alteração que pudesse colocar a vida dos dois em risco. A posição do bebê não era nada boa, e a pressão arterial dela também não. Preciso encontrar algum medicamento próprio para gestantes que auxilie para que a pressão fique pelo menos estável.
Estava terminando de arrumar um sanduíche para mim quando bateram na porta da casa. Quando a abri, Rick estava parado ali, segurando Judith no colo. Ele sorriu envergonhado e entrou quando me afastei.
- Está tudo bem? - perguntei fechando a porta.
- Ela está com um pouco de febre e tem vomitado muito. Michonne deu um analgésico infantil a ela, mas a febre não abaixou.
- Posso dar uma olhada? - ele concordou. - Sente-se na maca e coloque a neném sentadinha no seu colo, virada para mim. Certo? - Rick fez o que eu pedi. - Oi, pequenininha. Eu vou colocar esse aparelhinho debaixo do seu braço.
O termômetro não demorou para apitar, ela estava com quase 40°C de febre. Olhei preocupada.
- Além de febre e vômito ela apresentou outros sintomas?
- Dor de barriga. O que acha que pode ser? - ele perguntou balançando ela.
- Olha, pode ser muita coisa. Mas por enquanto não precisamos nos alarmar. Vou coloca-la no soro, com um medicamento para cessar o enjoou, que ela deve estar sentindo.
Rick a deitou na maca e buscou o cobertor que estava no sofá e a cobriu. Preparei a medicação e quando a furei com a agulha, ela apenas fez uma careta.
- Que mocinha forte. Quem dera certas pessoas serem assim. - disse me referindo a Daryl. Ela começou a dormir por conta do remédio, e levantei as grades da maçã para que ela não virasse e caísse.
Rick estava sentado no sofá com os cotovelos apoiados sobre os joelhos e a cabeça baixa. Sentei a seu lado e passei a mão em suas costas.
- Ela vai ficar bem.
- Eu sei, Mandy. Obrigada. - ele respondeu me olhando. Estava chorando. - É que, eu ja perdi demais e perde-la seria, doloroso. Ela e Carl, são tudo para mim. - ele secou as lágrimas e se levantou, para ficar próximo a filha. - Ela não é minha. Sabia?
- Quê? Como assim? - perguntei confusa me aproximando.
- Eu fiquei um tempo longe da Lori e do Carl, e ela estava tendo um caso com Shane. Judith é filha dos dois. Mas eu a amo com todo o meu ser. - ele diz, como se sentisse culpa. Não me lembro muito bem do Shane, mas lembro que meu pai não ia muito com a cara dele. Não sei o motivo.
- Pai é quem ama e cuida. Não precisa ser necessariamente biológico. Você é um pai maravilhoso. - ele sorriu e secou as lágrimas.
- Daryl esta bem, Mandy. Ele esteve aqui de madrugada e pediu para lhe dar isso. - Ele tirou um pequeno envelope do bolso de trás da calça. - Já almoçou? - ele perguntou e neguei. - Então vai, eu ficarei aqui.
Rick puxou uma cadeira e sentou, segurando a mãozinha dela. Coloquei o envelope no bolso do jaleco e peguei o prato com o sanduíche que estava na cozinha, e me sentei na varanda. Dei a primeira mordida na comida e abri o envelope. Havia uma carta.
"E aí? Hum. Não sou bom em falar, então escrevendo sou pior ainda. Mas, eu 'to' bem. Estive fora da zona que costumamos averiguar, tentei ir mais longe para ver como as coisas estão. Está tudo muito ruim. Consegui pegar algumas coisas e trouxe para a comunidade. Eu estou bem. Michonne disse que você estava preocupada. Não estou muito longe agora. Devo voltar amanhã. Tente não fazer merda durante este tempo." .Daryl
Li a carta várias e várias vezes. E quando ia voltar a comer, Rick me gritou. Larguei o sanduíche no prato e corri para dentro. Judith estava tendo uma convulsão. A virei de lado, e esperei que aquilo parasse.
- O-o que ela tem? - Rick perguntou, andando de um lado para o outro.
- Eu não faço ideia. Terei de fazer alguns exames. Mas será um pouco difícil, já que não temos os equipamentos suficientes.
- Dane-se. Eu busco então. Eu vou lá agora. - ele já estava saindo quando o parei.
- Escuta, você não sabe do que preciso, deixa que eu vou. Eu sei chegar a loja, lá é seguro e não muito longe daqui. Ela precisa do pai aqui, com ela. - ele concordou e voltou a se sentar. - Se ela tiver outra convulsão, vire-a de lado e esper ate acabar. Voltarei o mais rápido possível.
Peguei minha arma e uma faca, e sai correndo para o carro. Michonne veio atrás de mim.
- Vá ficar com ele. Eu já volto. - ela concordou e eu acelerei quando a mulher ordenou que abrissem o portão.
Quando cheguei a loja que estive com Daryl. Havia dois carros parados na frente. Não me lembro se eles estavam aqui anteriormente. Toquei no capô e estava morno. Talvez Daryl estivesse aqui. Sorri com o pensamento. Abri o porta luvas do carro em que vim e peguei uma lanterna.
Estava na sessão de equipamentos quando ouvi vozes. Merda! Me escondi entre as prateleiras. Graças aos deuses, que passei fome nesses últimos anos, se tivesse meu peso normal, não caberia aqui.
- Eu juro que ouvi alguém. - a voz era masculina. Os passos estavam próximos.
- Está ficando louco. - eu já ouvirá esta antes. - E estamos perdendo nosso tempo aqui. Já pegamos o que precisávamos, vamos embora.
A voz se aproximava. Quando o homem passou por mim, senti um grande calafrio. Negan.
- Okay. Okay. Quando iremos encontrar com Rick novamente? - mas que porra!
- Logo, Dwight. Podemos falar sobre isso quando chegarmos a casa. Agora vamos embora. - as vozes começaram a se afastar e não estava ouvindo mais os passos.
Decidi sair do esconderijo.
- Espera. - merda - Tem um outro carro lá fora. - merda, merda, merda. Saí correndo e no final do corredor havia uma porta, entrei ali. O lugar fedia a podre. Quando acendi a lanterna havia alguns corpos encostados em um canto. MERDA!
De duas uma: eu seria morta pelos walkers ou raptada por Negan. Os corpos começaram a se virar na minha direção. Enfiei a faca na cabeça de dois, e os outros começavam a vir em minha direção. Girei a maçaneta, sai correndo dali. Os mortos viam atrás de mim. Enquanto corria no completo escuro, esbarrei em alguém ou algo. Gritei. Senti os braços rodearem a minha cintura.
- Mandy? - a coisa que me abraçava perguntou. - Sou eu, fica calma. - Daryl estava ali.
- Precisamos ir. Está cheio deles aqui. Negan também esta aqui. Vamos. - eu estava ofegante. Daryl segurou a minha mão, e me puxou. Quando saímos, trancamos a porta de entrada. E me encostei na parede, para tentar me acalmar.
- O que estava fazendo aqui? - o homem me perguntou.
- Judith. Ela. Não está. Bem. - falei pausadamente. - Precisava de alguns equipamentos daqui, quando estava pegando ouvi vozes e me escondi. Dwight e Negan. Eles estavam pegando medicamentos, aparentemente. Dwight viu o carro em que estava e sai correndo para me esconder, e encontrei os andantes. E depois você me encontrou.
Quando me recompus, comecei a andar na direção do carro. Mas ele não estava mais la.
- Levaram o carro.
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