Fotos e Vozes

*Daryl pov's on*

Levantei no outro dia antes de Mandy despertar. Ela ainda estava com o braço envolta do meu corpo, e com todo o cuidado do mundo, tentei afasta-la, sem que ela acordasse. Depois de muito esforço consegui, e coloquei um travesseiro no lugar onde eu estava. Ela não pareceu reparar que nao era eu ali, e permaneceu quieta.

Sentei em uma poltrona no fundo do quarto, e fiquei olhando para a garota largada ali, sobre aquela grande cama. Eu não podia dizer que ela dormia como uma princesa, pois eu estaria mentindo. O modo como seu corpo estava na cama, era extremamente engraçado, uma perna dobrada para um lado, uma quase caindo do lado oposto ao que eu estava, um braço envolta do travesseiro e o outro sobre a cabeça.

Antes de chegarmos a casa, havíamos discutido na floresta. No momento em que desci da árvore, e a vi sendo atacada por um deles, senti meu sangue gelar, e tive de agir o mais depressa possível. Quando ajudamos alguém que esta em extremo perigo, esperamos que esta pessoa, pelo menos, nos agradeça pelo que fizemos, mas não foi o que aconteceu. Ela tocou em uma ferida que eu tentava ao máximo esconde-la e esquecer que ela existirá. Não a culpo, pois ela também não estava errada. Eu realmente a ajudará, pelo fato de ela se parecer com a outra, mas não foi apenas por isso. Há algo a mais. Algo que não consigo explicar. Sinto a necessidade de estar próximo, de protege-la, de cuidar dela, mesmo eu tendo a total noção de que ela não precise de minha ajuda. Que é mais provável que ela me salve com mais frequência do que eu faça por ela. E não, não estou apaixonado. Foda-se! Essa ideia é maluca. Merlee me zoaria eternamente por isso. Não tem nem uma semana que a conheço, e ela ja está bagunçando minha vida simples e "regrada".

Procurei em sua bolsa algo para comer e encontrei algumas maçãs e outras frutas, o que mais chamou minha atenção foi uma câmera fotográfica, daquelas antigas. Decidi tirar um retrato dela, e talvez, quem sabe, zoa-la depois. Bati a foto que logo foi revelada, e decidi que guardaria no bolso do colete, para que ela não visse. Antes disso, encontrei uma caneta e escrevi, "Mandy sleeping". Guardei a máquina de volta na mochila.

Eu deveria estar procurando combustível. E precisava encontrar rápido, pois Rick e o pessoal, deveria estar preocupado conosco e logo mandaria alguém atrás de nós. Nas condições atuais, não podemos deixar Alexandria sozinha, não com ele ainda à solta.

Retirei a cômoda, tentando não fazer nenhum barulho, e sai do quarto. No andar de baixo, deixei minha besta encostada próximo a escada e retirei o móvel que travava a porta de entrada da casa. Esta, ficava no meio de um campo aberto e não havia carros próximos de onde estávamos, e eu não podia me afastar muito, pois não poderia correr o risco de deixa-la só. Encontrei no fundo da residência uma garagem e por sorte um pequeno galão com combustível. O deixei em um canto, quando percebi que walkers se aproximavam. Cinco de uma vez, vieram talvez pelo cheiro. Os matei com facilidade. Se existissem tatuadores ainda, mandaria tatuarem "Eu sou o cara" em mim. Por que, cá entre nós, eu realmente sou o cara.

Quando ia voltando para dentro da residência, Mandy estava saindo. Seu cabelo estava todo bagunçado, e estava com cara de sono ainda. Ela bocejou algumas vezes, antes de falar,  com a voz um pouco rouca.

- Pensei que tinha desaparecido.

Olhei para ela, revirei os olhos e entrei na casa. Quando passei por ela, ouvi um baixo "okay, então".

- Vá pegar suas coisas. Encontrei combustível, já podemos voltar ao carro.

- Por que você tem de ser tão arrogante? - ela perguntou cruzando os braços e batendo o pé no chão.

- Porque você tem de ser tão mimada e intrometida? - perguntei no mesmo tom que ela.

A garota apenas revirou os olhos, descruzando os braços logo depois.

- Vá buscar suas coisas logo, Mandy.

- E continuaremos com a nossa missão? - ela perguntou animada. O humor dela me impressionava. Uma hora ela esta cagando para você, na outra estava dando pulinhos de alegria.

- Com calma James Bond. - falei e seu sorriso sumiu -  Acho que seria melhor voltarmos a Alexandria. Rick, com certeza, irá nos procurar logo.

- Ah! Certo. Volto em um minuto. - ela subiu as escadas correndo e não demorou a voltar.

- Pronta? - perguntei olhando para baixo. Não ouvi respostas, e me virei para ve-la. Seus olhos estavam fixos em algo atras de mim. Ela sussurrou "não se mexe" e fez menção com a mão, para que eu me afastasse um pouco. Tirou a faca do cinto, e a jogou no que quer que seja que estava atrás de mim. Quando me virei, havia um Walker caído no chão, com a faca cravada no meio da testa. - Uau! Ótima mira. - falei olhando para a garota, que estava se aproximando de mim.

- Não foi nada - ela disse e suas bochechas coraram - Aliás o arqueiro aqui é você.

- Vou lhe ensinar a usa-la depois - falei levantando a besta. Ela deu sorriso tímido, retirou a faca da cabeça da coisa, limpou-a na calça e começou a caminhar, deixando-me ali na porta.

Caminhamos durante um tempo, sem conversarmos. Ela na minha frente e eu logo atrás. Mandy, conseguia encontrar o caminho de volta, sem precisar da minha ajuda. Talvez por ter decorado quando viemos, ou por ser boa mesmo.

Olhei para ela e seu semblante era sério. O cenho franzido, os lábios em linha reta e os olhos semicerrados. O maxilar estava travado, e a linha deste bem desenhada. Ela pegou-me a observando, e arqueou uma sobrancelha, esperando que eu explicasse o que estava fazendo. "Contemplando a sua beleza que não era", pensei em falar, para quebrar o gelo, mas me contive. Seu olhar se distanciou do meu, e voltou para o caminho a nossa frente. Gaguejou algumas vezes antes de falar.

- Me desculpa, por ontem. Por ter falado dela. Nao conheço você e não a conheci - ela fez uma pausa antes de continuar - Eu não tenho direito algum de falar sobre. - suas desculpas soaram sinceras.

- Tudo bem. Eu devia pedir desculpas a você também, por não ter negado o que disse ontem.

- Não ha necessidade. Suas ações mostram que as coisas não são como eu imaginei. - ela disse acelerando o passo e eu a acompanhei - Obrigada, por ter me salvado, por ter encontrado um lugar seguro para ficarmos, por achar combustível. - disse apontando para o galão.

- Meu dever - tentei sorrir, mas fracassei. O silêncio voltou a tona, e parecia que ela gostaria de falar mais, só que se conteve. Não ouvimos nada, além dos gemidos dos walkers durante um bom tempo, ate que ela começou a cantar baixinho.

- "I see trees of green, red roses too. I see them bloom, for me and you. And I think to myself, what a wonderful world."* - Mandy cantou, e me pegou olhando-a. Cmeçamos a rir, ja que aquilo não existia mais. O mundo maravilhoso ao qual nos apegamos, deixará de existir e agora estávamos a mercê de algo que o próprio homem criou. Pelo menos essa é a minha teoria.

A garota, parou bruscamente e começou a olhar para um lado e para o outro. Fiz o mesmo, para tentar ver o que a assustará. Estávamos ouvindo vozes e eu conheço uma delas. Conheço perfeitamente. "Merda!", pensei. Segurei em sua mão e começamos a correr.

- Vamos nos esconder aqui. - falei o mais baixo que consegui para ela.

- No alto de uma árvore? - ela perguntou baixo também. Apenas concordei - Não sei subir em árvores. - ela disse nervosa, não comigo, mas com toda a situação.

Bufei. Coloquei a besta em um local que imagino ser seguro e fiz menção, para que ela subisse em minhas costas. Assim o fez. Não foi fácil subir com ela ali, mas ela não era pesada. Quando alcancei uma altura que acreditei ser segura para nós,  a desci e ela se sentou em um tronco.

Os donos das vozes pararam bem de baixo da árvore onde estávamos escondidos.

- Eu juro que ouvi alguém cantar - Dwight disse a alguém.

Como eu sinto ódio desse babaca. Eu podia ter enfiado uma flecha na cabeça dele, e da mulherzinha dele quando pude. Mas, eu tinha que ser o bom, não é? Eu tinha que pensar duas vezes. Salvei a vida de um cara, que me tratou feito um lixo.

- Você está louco, meu amigo. - Negan respondeu. O maldito taco estava em sua mão.

Tá ai outro que eu não suporto. Eu sentia uma vontade imensa de tortura-lo, e eu sei que não sou assim, mas o que ele fez com Abraham e com Gleen, e o que seus homens fizeram a Olívia e a Denise, é imperdoável. Eu poderia surpreende-los agora, e mata-los, mas Rick disse que deveríamos ir com calma. Tenho grande apreço de respeito por ele, mas não concordo em ir "com calma". Negan ainda irá aprontar algo terrível conosco. E machucará alguém mais próximo ainda de nós.

Mandy me olhou, e sussurrou em meu ouvido "podemos leva-los para Alexandria?". Apenas neguei com a cabeça e fiz sinal para que ela se mantesse em silêncio absoluto. A garota pegou a maquina fotogracica de dentro da bolsa, e fotografou os dois homens. Não entendi o motivo por ela ter feito isso, mas não contestei. Eles se afastaram alguns minutos depois. Desci primeiro e olhei pelo perímetro para ver se não estavam escondidos, atrás de alguma árvore ou moita. Não encontrei ninguém. A garota desceu logo que fiz sinal dizendo que era seguro.

- Precisamos chegar o mais rápido possível no carro. - falei pegando a crossbow e o galão com combustível.

- Vai me contar quem eles são e por que não os ajudamos?

- Sim, mas quando chegarmos a Alexandria. Rick saberá explicar melhor. - falei e ela concordou, sem discutir.

Corremos juntos em direção ao carro que estava parado no meio da estrada. Cada barulho que ouvíamos, ficávamos mais atentos e aceleravamos o passo. Quando chegamos ao carro, aparentemente  ninguém havia tocado nele. Mandy, olhou debaixo do automóvel, para ver se eles não colocaram algum tipo de escuta para nos espionar. Não encontramos nada.

Entramos neste, depois que abasteci, e acelerei o mais rápido que pude. Ela parecia cansada, e tinha dificuldades de retomar o fôlego. Quando percebi que nos afastamos o suficiente, para estarmos seguros, parei o carro rapidamente.

- Precisa de ajuda? - perguntei a ela. A garota levantou o dedo indicador, indicando que precisava de um minuto. Respeitei seu espaço. Ela respirava profundamente, mas por algum motivo o ar não estrava perfeitamente. Parecia que estava sufocando aos poucos.

Pousei a mão nas costas dela, delicadamente, passando-a de cima até o meio. Ela aos poucos foi se acalmando, e a cor foi voltando aos seus lábios e ao rosto. Seu peito subia e descia, de forma mais tranquila e ela apoiará o cotovelo nos joelhos, para sustentar o corpo. Seu rosto estava virado em minha direção. Os olhos não se encaixavam com a cor do cabelo. Eram grandes demais, e escuros demais. Mal se via a íris. As bochechas ficaram um pouco rosadas devido ao esforço em respirar.

- Asma? - perguntei e ela negou com a cabeça. Demorou um instante para que falasse

- Ataque de pânico. - sua voz estava baixa. - Acarreta um tipo de asma, mas não há a necessidade de utilizar a bombinha, só em certas ocasiões, quando esta vem muito forte. Só que, com tantas mudanças repentinas, eu acabei perdendo-a. E de um tempo pra cá, vim tentando controla-la sozinha. É difícil e doloroso, mas possível.

- E o que faz para melhorar sem ela?

- Bom, - ela respirará profundamente - eu tenho de ficar quieta, em silêncio absoluto. Preciso tentar puxar o ar o máximo que consigo.

- Porque ficou assim agora?

- A corrida talvez. Não paramos um minuto se quer. Quando me assusto ou fico em estado de choque. As vezes, sem motivo.

Fiquei meio constrangido em dizer, mas precisava perguntar.

- Quando você precisou, "ajudar" sua mãe em Seattle, você não ficou nesse estado. Ficou?

- Não. - ela deu de ombros - Talvez, por que la no fundo, eu ja sabia que não os encontraria vivos. E já estava meio preparada para o que viesse.

Assenti, e liguei o carro, voltando a dirigir o mais rápido possível. Em certos momentos, eu olhava para ela para ver se estava tudo bem. Até então ela não havia percebido que estava fazendo isso.

- Daryl? - ela chamou. Fiz menção com a cabeça para que ela dissesse. - O que o faz lembrar dela, quando me vê?

Hesitei um pouco antes de responder. Eram poucas coisas, mas Mandy me trazia certa paz e tranquilidade, assim como Beth. Sei que o cabelo, me lembrava bastante. Mandy é um pouco mais alta, e magra como a outra. Os olhos dela são escuros, e possui o semblante fechado. Dificilmente está sorrindo ou contando algo engraçado. Hesitei um pouco antes de responder. Estendi a mão e dei um puxão de leve, no rabo de cavalo que ela havia feito.

- O cabelo loiro e comprido, principalmente. - falei e ela concordou. Passados alguns minutos retornará a falar.

- Daryl? - chamou novamente e perguntei o que era. - Poderia parar de me olhar e focar na estrada? Gostaria de chegar logo em casa.

Ela perguntou com sarcasmo. Mas, independente da entonação, fiz o que ela me pedirá. Dirigi o mais rápido que pude.

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Foto:

Música

* "Eu vejo as árvores verdes, rodas vermelhas também. Eu as vejo florescer para mim e você. E eu penso, que mundo maravilhoso."

Louis Armstrong - What a Wonderful World.


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Oiiis! Tudo bem com vocês? Espero que sim. Gostaria de agradecer pelos votos e comentários, são coisas que melhoram o meu dia!

• Daqui 2 ou 3 capítulos, eu irei postar o cast que imagino quando escrevo, espero que gostem dele.

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