Eu?

Depois que voltamos a Alexandria, Daryl passou uma semana do lado de fora da comunidade, como se quisesse me evitar. Ouvi falar que ele não conseguia ficar muito tempo parado em um só lugar, e que sentia necessidade de sempre explorar. Graças a essas "explorações", que tinhamos carne nas refeições. Mas acredito que ele não precisará, daqui a algum tempo, ficar procurando veados por aí. Alexandria ficará ainda maior, e assim como em Hilltop, - foi o que me disseram - terá algumas plantações.

Contamos ao conselho, que no meio do caminho vimos Negan e um outro homem com a cara toda deformada, chamado Dwight. Rick hesitou, momentaneamente, antes de contar a mim quem são eles. Falou sobre terem atacado uma pequena base, e depois terem sido atacados pelo próprio Negan, que acabou matando dois homens de Rick. Disse que a partir de então, metade de tudo que havia em Alexandria, pertencia a ele. Algo que não sabia, era que Daryl havia sido levado pelos Salvadores. Quando ouvi tal coisa, olhei na direção do homem, que baixou a cabeça, envergonhado. Rick, com o tempo, foi juntando reforços, Hilltop, o Reino e mais dois outros povoados. Conseguiram destruir a base principal onde Negan ficava, mas aparentemente ele e seu fiel escudeiro, Dwight, não estavam la.

Daryl contou logo depois, que ficará tentado em atirar na cabeça dos dois ali, mas se conteve de tal ato. Meu padrinho disse que fizerá o certo, que mesmo ele sentindo imensa vontade de acabar com Negan também, este ainda não significava uma ameaça.

Assim como o rapaz de cabelos longos, fiquei irritada com Rick, já que o cara matou duas pessoas importantes com um taco de beisebol enrolado em arame farpado, que ele chamava carinhosamente de Lucille. Ele estourou a cabeça dos dois, céus. Isso era fodido demais. Eu nem ao menos conhecia aquelas pessoas que partiram, mas senti imensa vontade de machuca-lo por ter feito tamanha crueldade. E além desses dois, ainda havia outras pessoas que passaram pelas "mãos" deles: Denise, a antiga médica, Olívia, que ajudava na dispensa e no arsenal e Spencer, que aparentemente não fazia nada. Padre Gabriel, disse que esse último proporcionou a própria morte, mas não me deu mais detalhes.

Com o sumiço proposital de Daryl, consegui colocar algumas coisas no lugar. Ajudei Tara, que acabou se tornando uma das melhores amigas que tenho aqui, a arrumar a despensa com alimentos que trouxemos de Atlanta, e com os que o pessoal trouxe após nossa chegada. Catalogamos cada uma das armas, e arrumamos em um cantinho dali uma pequena prateleira para colocar os medicamentos.

Voltei a conversar com meu irmão, e com os meus amigos. O que veio a ser bom, já que me sentia um pouco só, quando Tara precisava sair e levava Michonne consigo. E pelo simples fato, que moramos na mesma casa, e não dá para suportar alguém debaixo do mesmo teto se vocês não se darem bem.

A contagem do tempo, pelo menos para mim, estava extremamente confusa. Mas, Carl, me mostrou um calendário em sua casa, que ele mesmo fizera, para que pudesse acompanhar tudo certinho. E pelas suas contas, hoje era domingo.

Eu havia acabado de tomar banho, e como estava extremamente quente decidi vestir apenas uma blusa longa e um short, que ficará escondido por debaixo do "vestido". Zach estava sentado em uma cadeira de balanço, que ficava na varanda da nossa casa, e quando me viu, estendeu o braço para que eu fosse em sua direção, me puxando, para que eu me sentasse na cadeira ao lado dele. Joguei minhas pernas sobre o colo dele, e este ficou dando leves beliscoes nela.

- Sinto muito pelo que aconteceu - ele disse com o olhar fixo no que estava fazendo.

- Sente muito pelo o que ? - perguntei -Não podemos ficar nos lamentando, Zach. O mundo acabou, e precisamos reergue-lo.

- Eu sei. Mas, você não devia ter passado por tudo o que passou sozinha. - as desculpas pareciam sinceras.

- Eu não estava sozinha, vocês estavam ali comigo, em todos os momentos difíceis. Talvez, não dá maneira que eu esperava que estivessem, mas estavam. E graças a tudo que passei, e pelo que vocês passaram também, nos mantemos vivos. Estamos aqui agora. Não estamos em paz, ainda, mas estamos protegidos dos mortos. - falei, mas não citei Negan, ele não precisava saber.

- Sempre sabe o que dizer, não é mesmo? - ele disse rindo e tirando uma mecha de cabelo do meu rosto, prendendo-a atrás da orelha.

Dei um pequeno sorriso, e virei meu rosto rapidamente, para que ele parasse com o que estava fazendo. Foi quando vi Daryl, de pé olhando diretamente para nós. Me levantei rapidamente, e seus olhos seguiram para a minha roupa.

- Rick quer falar com você. - ele disse desviando o olhar e focando o chão. Começou a caminhar, e me despedi de Zach seguindo-o. Ele parecia desapontado com algo.

- Quando voltou? - Eu eu estava correndo para tentar alcança-lo

- Não tem muito tempo. - respondeu seco. Daryl me deixava confusa em alguns momentos. As vezes parecia feliz e satisfeito de estar conversando comigo e no momento seguinte estava puto com algo e descontava em mim.

- O que Rick quer?

- Não sei! Pergunte você a ele. - ele disse e eu levantei minhas sobrancelhas devido ao modo como ele falou.

Entramos na casa dos Grimes, e Michonne, Maggie, Tara, Carl e Rick, estavam sentados nos sofás. Todos olharam para mim.

- Eu estou de short. - falei levantando um pouço a blusa e prendendo-a no cós do short. Michonne sorriu e pediu que eu me sentasse.

- Mandy, - Maggie falou, e está foi a primeira vez em que ela dirigiu a palavra a mim. Ela sempre estava cabisbaixa e com o semblante cansado - Michonne nos contou que você estava perto de terminar a faculdade e Rick autorizou que eu pedisse isso a você, pode dizer não se quiser, mas escute bem, okay? - ela perguntou

- Okay. - falei um pouco indecisa

- Eu estou grávida, no meu sétimo mês. - ela disse e meus olhos seguiram para a barriga. Claro que eu notará, não sou lerda assim. - Há um médico em Hilltop, e ele aconselhou que eu ficasse por lá, já que minha gravidez é de risco. Mas, eu não quero voltar a morar naquele lugar. Todos me tratam super bem, mas aqui é minha casa, minha família está aqui. - olhei para ela como se não acreditasse naquilo e ela percebeu - Sei que para voce parece loucura e que eu deveria, ficar la, já que há um médico que possa me atender se algo acontecer. Mas, - ela respirou fundo - essa é minha escolha. Quero ter meu filho em Alexandria. E se algo não funcionar bem, que tentamos ir para Hilltop o mais rápido possível, mas eu prefiro que seja aqui.

Ela fez uma pausa antes de continuar.

- Eu gostaria de saber, se você poderia fazer o parto do meu filho. Sei que não é algo comum a se pedir, mas sei que você é capaz.

Engoli em seco, e fiquei em silêncio por um tempo antes de responder. Era demais o pedido dela. Eu não possuía a formação necessária para tirar um bebê de dentro de uma mulher, e eu não fazia ideia de como fazer isso. Eu devia pelo menos alerta-la sobre.

- Realmente, não é algo comum. Mas o mundo esta de ponta cabeça, não é mesmo? - eu estava nervosa, minha voz tremia e eu começará a rir - Maggie, eu não faço ideia de como fazer isso - falei e ela parecia triste. Mas que merda! Eu não poderia deixa-la assim - Você sabe quão difícil é fazer um parto? - perguntei e o silêncio foi ensurdecedor. Ela olhará para Judith que estava deitada em um cobertor no chão. - Você?

Ela apenas concordou. Maggie trouxe Judith ao mundo, e para ela deve ter sido ainda maos difícil ja que Lori falecerá.

- Temos alguns livros. - Tara disse entregando-me, junto com os exames que o médico de Hilltop fizerá em Maggie. Pedi um instante, e subi até um quarto, para poder pensar com clareza e ver como andava as coisas com a mãe e o bebê.  Não demorei a voltar, e todos estavam conversando baixo na sala, mas se calaram quando cheguei.

- Eu posso fazer isso. - falei. Maggie levantou-se e me deu um forte abraço, dizendo "obrigado" sem parar. - Não temos equipamentos necessários para isso. - falei e todos concordaram. Quando estava no quarto, anotei tudo em um papel - Precisamos de tudo que esta nessa lista.

- Quando estávamos voltando de Seattle - Daryl falou, mas ao dizer aquilo, vacilou olhando para mim, não entendi muito bem - passamos por um lugar que possuía produtos médicos e hospitalares.

- Você pode ir Mandy, buscar essas coisas? Nenhum de nós sabemos ao certo o que são.

- Hum. Claro. - falei

- Vou me arrumar e saímos -  Rick falou sorrindo.

- Não! - falei alto e rápido de mais, todos olharam para mim - É que, bem - fiquei um pouco constrangida - Eu gostaria de saber, se Daryl poderia ir comigo? - perguntei olhando para Tara, que me trazia certa segurança. Mas senti minhas bochechas corarem, quando ela sorriu, assim como Michonne e Maggie.

Rick olhou para Daryl, e este que anteriormente estava roendo as unhas, estava olhando oara mim surpreso. Seu olhar parecia confuso.

- Tudo bem para você, Daryl? - Rick perguntou segurando o sorriso. Este  deu apenas de ombro e disse que pegaria a caminhonete. Devíamos sair logo, antes de entardecer. Rick me puxou em um canto e sussurrou em meu ouvido - Gosta dele?

- Claro que não. - falei, tentando demonstrar a maior certeza do mundo. Rick me olhou como se soubesse que aquilo não era verdade - Ele é arrogante, seco, bronco, bruto...

- E lindo. - Rick completou

- É - falei e logo me desesperei, meu padrinho estava rindo sem parar - Quer dizer, não.

- Não tem problemas se gostar dele. Daryl merece alguém de novo. - ele disse a mim, um pouco sério agora - Aconselho vestir algo melhor para ir na sua... aventura com o Daryl.

Bufei e sai pisando firme, mas envergonhada também. Quando voltei, vestida com calça jeans, um tênis e uma regata, saímos dali. Não demoramos muito para chegar ao lugar. O prédio estava em ótimas condições, a não ser pelas marcas de sangue nas paredes de fora. Tinha um placa e nesta estava escrito "Medicine: Produtos Médicos e Hospitalares - Perfumaria no corredor 3."

Daryl e eu entramos, com lanternas na mão. Eu com uma faca e ele com a besta. Olhamos corredor por corredor, atrás de cada balcão e de cada porta que encontramos, não havia nenhum vivo e nenhum morto. Eu não sabia qual seria pior encontrar. Voltamos para o lado de fora, e Daryl estacionou na porta dos  fundos, pela qual entramos, trazendo grandes carrinhos de compra para nos ajudar.

Começamos a pegar pelos equipamentos médicos. Além dos que seriam necessários para fazer o parto do bebê da Maggie, pegamos outros que seriam necessários, para outros casos. Daryl ajudava a colocar as coisas mais pesadas dentro dos carrinhos, ele estava em silêncio e do perguntava "o que mais?".

Enchemos dois carrinhos com equipamentos. Agora precisava pegar a maior quantidade de medicamentos que eu achasse necessário.

- Pode ser que demore um pouco. - informei a ele

- Não ha outro lugar para ir. - ele disse, empurrando o carrinho, enquanto eu jogava as coisas dentro dele.

- Se quiser vá explorar o local. - falei pegando caixas e caixas de antibiótico. Ele largou o carrinho e saiu. Fiquei olhando oara ele, enquanto caminhava para longe. O modo como ele andava era atraente. Firme, como se não temesse a nada. Fiquei cerca de 10 minutos sozinha, ate que uma música começou a tocar. Deixei a lista no carrinho, e peguei minha faca, começando a caminhar ate o som. Quando virei o primeiro corredor, dei de cara com Daryl, e soltei um pequeno grito de susto.

- Calma, desesperada. - ele disse segurando meu pulso.

- De onde vem essa música? - perguntei voltando ao que eu estava fazendo.

- Um rádio com pilha. - ele disse - Terminou?

- Quase. - falei. Daryl começou a cantarolar a música.

- You're just to good to be true. Can take my eyes off of you. - ele cantava baixinho e me pegou olhando-o.

- Continue. - falei - I wanna hold you so much. And I thank God I'm alive You're just too good to be true. Can't take my eyes off you.

Dai começou o refrão, e cantamos juntos.

- I love you, baby
And if it's quite alright
I need you, baby
To warm a lonely night
I love you, baby
Trust in me when I say
Oh, pretty baby
Don't bring me down, I pray
Oh, pretty baby, now that I found you,             stay
And let me love you, baby
Let me love you.

Quando terminamos, Daryl desligou o rápido e voltou a ficar sério.

- Onde esteve essa última semana? - perguntei.

- Por aí. Sentiu saudades? - ele perguntou sarcástico.

- Claro que não. - falei séria, só que era mentira, lógico.

- Sei. Claro que não sentiu, você tem ao Zach. - falou com deboche.

- Zach é meu amigo. Não tenho nada com ele.

- Nao foi o que ele disse.

- Como é? - parei de empurrar o carrinho e o encarei.

- Me pediu para ficar longe de você, que você pertencia a ele. - ele disse confuso

- Não acredito. - falei - Já tive um caso com Zach, mas forá a muito tempo, não sinto nada por ele. - voltei a andar e caminhei rapidamente ate o corredor três. Tara me pedirá para trazer alguns absorventes, sabonetes, shampoos com outra fragrância,  essas coisinhas. - Não é dele que eu gosto. - falei baixo, mas ele ouvirá.

- E de quem é então? Jesus? - ele perguntou sério. Não respondi - Quem cala consente.

Encontrei os absorventes e enchi o carrinho.

- Você sangra tanto assim? - Daryl perguntou brincalhão. Minha bochechas coraram.

- Vai se foder, Daryl. - falei rindo

- Vou guardando os equipamentos no carro, não demore, certo? - ele disse e concordei.

Coloquei mais algumas coisas nesse carrinho, e encontrei umas tintas de cabelo, peguei algumas e uma em questão me chamou a atenção. Castanho escuro. Eu poderia pintar meu cabelo, se Michonne não se incomodasse em me ajudar, claro. Talvez, Daryl não me visse como Beth. Acho que eu gostaria de te-la conhecido, parecia uma boa moça.

Carregamos o carro, e voltamos a Alexandria. Só que contei a Daryl sobre as merdas que meu irmão fez na faculdade, e este ficava rindo. Estávamos começando a dialogar feito gente, sem um gritar com o outro.

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