The Truth Untold

 O quarto estava relativamente silencioso, porém ainda se podia ouvir vozes atravessando o vão da porta. Isso deveria irritar Suga, mas ele gostava. Gostava de não se sentir mais tão sozinho, como antes de JHope invadir sua privacidade e mudar toda sua vida.

É, ele realmente tinha mudado.

 Suga saiu do banho, abrindo finalmente a porta do seu quarto e sorrindo torto para a cena na sala.

Jimin e Jungkook jogavam alguma coisa aleatória na tv, se xingando e distribuindo cotoveladas de vez em quando. Jin brigava com alguém na cozinha, o que provocava algumas risadas em JHope e V, jogados do sofá.

- Min Suga. - Jimin falou, pausando o jogo para dar atenção ao maior encostado de maneira relaxada no batente da porta do quarto.

- Bom dia Jiminnie. - Suga falou com a voz rouca, ainda sonolento. - Jungkook. - Suga disse simplesmente.

Jungkook jogou seu controle remoto com violência no chão e levantou, indo em direção a varanda sem olhar na direção do mais velho.

Suga levantou uma sobrancelha para Jimin que deu de ombros despausando o jogo assim que V apareceu para substituir Jungkook.

Ele resolveu ir atrás do mais novo num ato instintivo, o abraçando por trás assim que se aproximou, sentindo o vento gelado da primavera bater contra seus corpos com violência, a água da piscina vibrava com a corrente de ar também e Suga tinha quase certeza que choveria sobre eles a qualquer momento.

O dia estava bonito no entanto. O vento deixava um clima prazeroso, as folhas das laranjeiras na rua sendo arrancadas durante a ventania, trazia um cheiro cítrico e adocicado no ar.

- Você é tão quente. - Suga disse abraçando Jungkook ainda mais forte conforme esfregava de forma carinhosa seu nariz no pescoço do mais novo.

 Ele sorriu ao sentir os pêlos de Jungkook arrepiar com sua voz.

- Eu sou quente. - Jungkook resmungou mal humorado.

Suga sorriu apaixonado enquanto se aconchegava no moletom gelado do mais novo.

- O que veio fazer aqui amor? - Suga perguntou suavemente depois de um tempo balançando levemente seus corpos colados de um jeito calmante e acolhedor para ambos.

- Jogar. - Jungkook praticamente ronronou em resposta, deixando suas bochechas rosadas com a realização do quanto se abalava com a presença do mais velho.

Suga riu baixo voltando a beijar Jungkook no ombro e pescoço.

- Que tipo de jogo é esse que você tá jogando? - Suga perguntou com claras segundas intenções.

Os dois ficaram num silêncio confortável por um tempo.

- Seja ele qual for. Quero que me peça para desistir. - Jungkook sussurrou soltando o ar desanimado por fim.

Suga sentiu seu corpo enrijecer com aquelas palavras inesperadas. Ele escorregou as mãos até a cintura do menor, o apertando forte.

- Kookie. - Suga o virou, ficando de frente para aqueles olhos enormes e cheios de expectativas. - Você se sente seguro comigo? - Suga tocou no queixo do mais novo com seus dedos gelados, aproveitando para segurar sua nuca em seguida.

Jungkook mordeu os lábios, olhando para baixo um pouco antes de finalmente falar o que queria.

- Eu sei que falei muita merda no dia do julgamento, mas eu estava estressado e  confuso. Sempre vou me sentir seguro ao seu lado. - Jungkook abraçou o mais velho, aproveitando para sentir o cheiro de erva doce impregnado em sua camisa.

Suga sabia disso, algo dentro dele lhe dizia que Jungkook sempre confiaria nele, mesmo depois de conhecer seu lado obscuro. Ele sabia que um podia confiar no outro, simplesmente porque sim e por nenhum outro motivo.

- Então não se case amanhã. - Suga queria retirar o que disse imediatamente.

 Ele não queria parecer desesperado, mesmo que estivesse.

Jungkook soltou o ar, desanimado por precisar se afastar do mais velho.

- Sabe que não tenho escolha. - Jungkook passou a ponta dos dedos pelo abdômen de Suga, por cima da camisa e se afastou por completo a contragosto.

- É exatamente isso que você tem no momento. - Suga sussurrou travando a mandíbula para se controlar. - Uma escolha. - ele soltou entredentes.

Jungkook bufou irritado.

- Não é como se fosse o fim do mundo Yoongi, nada mudou entre nós, independente do meu status social.

Suga soltou uma risada fria e sem vida.

- Você realmente não entendeu,  não é?! - Suga se aproximou, deixando sua respiração ser lançada no rosto de Jungkook, que fechou os olhos quase gemendo em frustração.

- Se você se casar amanhã. O que quer que a gente tenha, acabou. - Suga sussurrou por fim, voltando para dentro da casa antes que Jungkook abrisse os olhos lentamente ainda inebriado com a presença de Suga marcada por todo corpo.

Ele não teve tempo de responder, o que foi bom porque ele não saberia o que dizer de qualquer forma.

Um vazio invadiu seu peito, no momento em que realizou o fato de que estava sozinho.


Assim que Suga entrou de volta na casa, percebeu uma movimentação estranha na sala. Os meninos estavam todos acumulados em um círculo frouxo, dando atenção para alguém no meio deles, até Yeontan parecia empolgado com a visita.

Assim que V percebeu a entrada de Suga se afastou da roda, mostrando Lucas no centro dela. Os olhos perdidos, porém alerta, uma mochila aparentemente pesada nas costas e os lábios rachados, provavelmente de tanto mordê-los num ato de nervosismo.

Suga se aproximou sem dizer nada, ao mesmo tempo que todos na casa se calavam com  sua presença.

Ele nunca entendeu isso, as pessoas tinham medo de sua reação, porém ele não lembra de nenhum momento em que reagiu tão mal assim, a ponto de deixar seus amigos apreensivos.

- Hyung, pega leve com o garoto. Ok?! - Jimin pediu enquanto empurrava levemente Lucas pela mochila para que ele se aproximasse.

Suga levantou uma sobrancelha vendo a criança relutante enquanto os garotos fingiam fazer outras coisas.

- O que faz aqui Lucas? - A voz de Suga saiu grossa assustando o garoto um pouco, mas Suga não teve essa intenção, ele só estava prestes a chorar quando saiu da varanda, fazendo com que sua voz saísse arranhada por sua garganta.

- Suga Hyung. - Lucas sussurrou, engolindo em seco suas próximas palavras.

Suga cruzou os braços, mas não disse nada, obrigando o menor a continuar.

- Eu vim pedir para morar com você. - O garoto deu de ombros, mas era novo demais para conseguir fingir desinteresse em algo tão importante.

- O orfanato sabe que você está aqui? - Suga perguntou, ignorando as palavras anteriores do garoto.

Lucas negou com a cabeça, os olhos brilhando lágrimas resilientes.

- Como chegou aqui?

- A pé. - Lucas coçou a nuca, olhando para Suga com uma mistura de expectativa e medo.

- Você sabe que fez algo errado, não sabe? - Suga disse indicando com a cabeça para que o garoto o seguisse.

Suga foi até a cozinha, indicando uma cadeira para Lucas que se sentou imediatamente depois de jogar a mochila no chão ao lado da mesa.

Lucas admirava o maior andando pela cozinha, com toda sua calma e destreza enquanto preparava algo para eles.  Ele simplesmente achava tudo que o maior fazia, algo incrível e novo, mesmo que não fosse.

- O que aconteceu?  - Suga perguntou colocando uma caneca de chocolate quente na frente do menor algum tempo depois.

- Quero morar com você. - Lucas resmungou tomando o líquido quente.

Sua língua ardeu, adormecendo a ponta assim que queimou, mas ele ficou com medo de avisar o ocorrido e levar bronca, então continuou tomando seu chocolate.

- Você sabe que não é assim que funciona. - Suga resmungou enquanto tomava do seu próprio chocolate quente.

- Eu sou velho, ninguém me quer no orfanato, lá tem crianças bem menores. - Lucas falou sem nenhuma tristeza, apenas como um fato.

Suga concordou com a cabeça, entendendo também como um fato.

- Quando você sumiu, achei que me esqueceria para sempre, então vim aqui te lembrar que eu existo.

Suga sorriu para a expressão séria e dramática do menor.

- Eu não te esqueci pirralho, só não pude manter contato enquanto estava dentro de uma  missão, era perigoso demais.

O garoto arregalou os olhos, considerando Suga uma espécie de super herói moderno, daqueles que não usa capa ou cueca por cima da calça.

- Você poderia me adotar, por favor? - Lucas sussurrou, voltando a se sentir triste e sem ninguém.

Suga esticou a mão, fazendo carinho no ombro do pequeno que voltou a tomar sua bebida quente.

- Não sei se conseguiria nem se pudesse garoto. Eu moro praticamente em uma república, não tenho casa, carro ou condição financeira estável, sem contar que ... - Suga parou com seus devaneios, assim que notou o quanto o menor não fazia ideia do que ele tava falando.

- Vou ver o que posso fazer, ok? - Suga disse por fim.

Lucas afastou a mão de Suga bruscamente e bufou.

- Isso é mentira. - O menor gritou, se levantando da mesa.

- Controla sua voz. - Suga disse simplesmente, ignorando o acesso de nervosismo do pequeno.

- Eles vão me levar se você não fizer nada.

- Quem? - suga perguntou calmo.

- Os velhos que querem me adotar.

Suga levantou as sobrancelhas.

- Achei que fosse velho demais para alguém querer te adotar. - Suga sorriu debochado vendo o garoto inflar suas bochechas da maneira mais fofa possível ao mesmo tempo que ficava todo vermelho.

O garoto lhe lembrava tanto Jungkook, era quase doloroso de ver.

- Eles são velhos demais também, eu odiei eles. - Lucas disse, mesmo que não tivesse conhecido direito o casal.

- Mais respeito garoto. - Suga disse, mas tinha um sorriso dançando no canto de sua boca.

- Não deixa eles me levarem. - Lucas implorou.

Suga suspirou, largando de vez a cabeça em suas mãos.

- Prometo que vou dar um jeito, Ok? Tenho certeza que vamos achar pais decentes para você. - Suga bagunçou os cabelos do menor, sorrindo para os anéis cacheados entre seus dedos.

- Eu já disse que quero você. - Lucas bateu o pé no chão fazendo birra, mas ficou envergonhado assim que o fez, se ajeitando imediatamente enquanto olhava para os próprios pés, tímido.

- Ok, entendi. Agora vamos voltar para o orfanato, antes que ativem uma alerta Âmbar para você.

Lucas suspirou triste, mas não desobedeceu o maior.


Quando Suga chegou em casa, já se passavam das seis.

Ele jogou as chaves na direção de RM e sentou relaxado ao lado do maior.

- Como foi com o garoto? - RM perguntou colocando a tv no mudo.

- Sei lá, confuso eu acho. - Suga respondeu pensativo, lembrando de Lucas grudado em seu casaco enquanto chorava por vê-lo partir.

- Você já pensou em …

- Adotá-lo? Nem pensar. - Suga riu um pouco afobado com o pensamento.

Ele se remexeu incomodado com aquela ideia, sem saber o que exatamente o incomodava.

- E seu outro garoto? - RM perguntou rindo da cara de desconforto de Suga.

- O que tem ele?

- Vai ter casamento mesmo?

Suga deu de ombros coçando o nariz com a manga da blusa em sinal de nervoso.

- Por que não teria? - Ele se mexeu no sofá, incomodado..

- Vocês dois. - RM suspirou pensativo. - É estranho que não possam ver o que está bem na cara dos dois.

Suga fechou os olhos tentando ignorar o aperto no peito.

- Eu não sou a pessoa certa para o garoto. Sem contar que ele só tem a perder me escolhendo. Sua família, sua carreira, sua comodidade. Seria loucura de qualquer forma. - Suga disse pela milésima vez a mesma coisa em sua mente.

- O amor não é pra fazer sentido, você devia dizer.

- Dizer o que ?

RM deu de ombros tirando a tv do mudo.

- Dizer tudo que sente por ele e se ainda assim ele escolher ela, você vai saber que tentou tudo que pôde para tê-lo.

Suga concordou distraído, mas não disse nada sobre o assunto.

- Falando em escolhas. Acha que consigo permanecer na força tarefa do FBI? - Suga perguntou curioso.

- Alguém te demitiu?

- Não, mas o contrato com a Naomi dizia…

- Você assinou o contrato com a CIA. Sua força tarefa para proteção de Jungkook foi pelo FBI, no qual não tem revoga, a não ser que você peça.

- Então eu tenho um emprego? - Suga perguntou pela primeira vez no dia, animado.

- Você faz parte da força tarefa de transporte e resgate, não se anima muito, tem mais treinamento que ação de qualquer forma.

Suga concordou distraído.

- Relaxa. Eles vão te ligar na segunda. - RM bateu no ombro de Suga que enrugou a testa com a resposta do maior.

- Você sabia disso é não me falou nada?

RM soltou uma risada divertida.

- Gosto de te ver ansioso com algo, isso quase nunca acontece.

Suga revirou os olhos e se levantou, indo em direção ao quarto enquanto RM ainda ria no sofá da sala.

 Ele agia como se nada tivesse acontecido, mas essas pequenas mudanças o incomodava muito. Suga não costumava se preocupar com emprego, se tinha ou não uma casa, se a outra pessoa estava apaixonada por ele ou essas merdas.

 Normalmente todas essas perguntas levavam um “Foda-se” como resposta principal, antes mesmo de se formar por completo em sua mente.

Então porque agora ele parecia se incomodar tanto com cada uma dessas perguntas sem respostas?

Era enervante e cansativo, toda vez que sua mente caía no buraco negro que eram cada um desses pensamentos.

E no dia seguinte seu garoto ia se casar com outra pessoa. Esse era o mais assustador de todos os seus outros pensamentos. O único que nunca ia embora.



Lucas

Lucas estava sentado na sala da diretoria há pelos menos uma hora. Tudo que ele queria era correr para o seu quarto e chorar nos braços do seu coelho rosa de pelúcia, Bunny. Os outros meninos sempre zoavam com seu coelho, mas ele não abandonaria seu amigo peludo por nada nesse mundo, mesmo depois de sobreviver a um incêndio com uma de suas orelhas queimadas. Ele odiava o fato de não ter conseguido fugir, como planejado.

- E eu te daria muitas outra punições se não fosse por você estar praticamente saindo da instituição. Onde já se viu, incomodar um agente federal como se não fosse nada demais. - A diretora com óculos pontudos roxo ergueu as mãos para o alto em pura indignação antes de voltar sua atenção para o pequeno garoto à sua frente.

- Eu sinto muito Sra. Sanchez. - Lucas disse fazendo seu bico de triste e os olhos arregalados.

Sempre funcionava.

Ele aprendeu desde muito cedo a usar seu jeito fofo como uma arma para coisas que precisava e não tinha.

A mulher o analisou metodicamente, puxando a armação grossa para cima mais uma vez, como se assim o enxergasse melhor, o que provavelmente devia ser o caso.

- Saia já daqui e não esqueça que vai ter que ajudar a Maia na cozinha até o dia em que sair daqui, como sua punição. - Sra. Sanchez começou a mexer em alguns papéis em cima da mesa, perdendo a confusão no rosto de Lucas.

- Maia? Na cozinha? Mas eu não quero.

- É por isso que se chama punição. Jesus! Você ao menos ouviu algo do que eu passei a última hora falando?

Não?!

- Desculpa, Sra. Sanchez. - Lucas disse monótono, se retirando da sala.

Sra. Sanchez não era dos piores adultos que Lucas já conheceu, aliás ela era bem generosa e paciente, apesar de muito rígida.

Não era nada que Lucas não conseguisse lidar, pelo menos não depois dos seus últimos anos de vida, onde ele teve que viver amontoado em meio a outras crianças choronas durante o dia, enquanto a noite precisava vestir roupas estranhas, que cobriam muito pouco, para trabalhar na parte de cima do casarão onde morava.

Ele ainda tinha que aceitar de bom grado que homens velhos passassem a mão em seu corpo enquanto ele servia bebidas coloridas numa bandeja pesada de metal.

Se ele derrubasse a bandeja ele apanhava muito, então não podia se dar ao luxo de chutar clientes quando eles eram atrevidos, mas não resistia em mostrar a língua vez ou outra, o que arrancava mais risadas do que caras feias, infelizmente.

Lucas balançou a cabeça, na tentativa de esquecer todas aquelas coisas e acabou se dando conta de que estava a caminho da cozinha. O cheiro de pão e alho invadia o corredor estreito e de madeira velha, fazendo Lucas acelerar ainda mais seus passos curtos e desajeitados.

Ele virou o corredor e entrou na cozinha sem ao menos ser notado.

Maia estava com sua saia rodada, de estampas estranhas enquanto girava uma massa grossa e salpicada de farinha no ar, como uma verdadeira profissional.

Ela não era uma profissional, talvez por esse motivo seu rosto estava forrado com farinha e pedaços pequenos de massa. Lucas riu do rosto sujo de Maia, levando um beliscão da mulher bochechuda.

- O que faz aqui peste? - Maia perguntou agora com um rolo de pão nas mãos.

- Castigo. - Lucas falou entediado enquanto fazia desenhos com pés no pouco de farinha que forrava o chão.

Ele achou que a mulher iria pedir milhões de explicações para sua curta e nada explicativa resposta, mas ela só bufou e voltou a amassar seu pão, o que significa que aquilo devia ser uma espécie de rotina pra ela.

- Lava a louça então, mas se quebrar ou derrubar algo vai ficar com a limpeza dos banheiros. - Maia gritou enquanto Lucas arregalava os olhos para a mulher.

Limpar os banheiros era sempre muito pior, era o que ele fazia no casarão onde morava. Era um total pesadelo.

Lucas correu até a pia velha, se lembrando de pegar o banquinho embaixo da mesa para poder alcançar a torneira e começou a esfregar panelas enormes e sujas.

- Você está empolgado com a família nova? - Maia perguntou curiosa, depois de muito tempo em silêncio.

Lucas deu de ombros suspirando fraco.

- É sempre a mesma coisa. Quando se cansam de mim, me abandonam.

Maia travou seus movimentos com a massa em suas mãos.

- Você quer dizer sua mãe? - Alguns poderiam até achar Maia indelicada, mas num orfanato esse tipo de pergunta era bem comum.

- Minha mãe não teve escolha, ela me deu porque eu não era filho do meu pai e ele descobriu. - Lucas resmungou lembrando do dia em que foi deixado no casarão, para seu verdadeiro pai cuidar dele.

A Mãe de Lucas era garota de programa e Lucas não sabia dizer o porquê, mas ela era casada com um homem muito violento e que a obrigava trabalhar até tarde da noite. Ele sabia que era pequeno por causa disso, ela mal comia e escondeu por um bom tempo sua gravidez do homem mal.

Ele lembra o quanto apanhava também, mas não doía tanto quanto doía ver sua mãe apanhar.

Quando o homem descobriu que a criança era na verdade de um cliente que abusou da sua mãe que estava sobre efeito de drogas, ele foi entregue no casarão imediatamente. Era para o cafetão da sua mãe encontrar o verdadeiro pai de Lucas, mas o garoto tinha um rosto angelical e cabelos sedosos, ele achou vantagem usar a criança para alguns serviços exibicionistas em dias de pouco movimento.

Poderia ter sido pior. Lucas era novo, mas sabia a sorte que tinha quando o homem o defendia de alguns clientes que passavam de seus limites. Ele se considerava com sorte na verdade, até descobrir o que sorte significava.

Lucas torceu suas pequenas mãos na bucha de louça, sentindo fios de alumínio entrarem em suas mãos delicadas.

Ele sentia ódio por ter sido rejeitado por Suga. O mais velho era o mais perto que ele tinha de esperança e agora tudo que ele sentia, era que chegou o mais perto do que ele jamais pôde chegar, do sentimento de desilusão e rejeição possível.

Doeu. Não tanto quanto o dia em que sua mãe o abandonou, porém ainda assim, doeu.

Talvez ele devesse voltar para o homem que mostrou algum tipo de misericórdia a ele. Seu número de telefone ainda estava anotado numa folha amassada dentro de seu coelho rosa, talvez fosse onde devesse, ou até mesmo merecesse estar.

Pelo menos lá, ele tinha certeza que não seria abandonado, pois não teria nada para abandonar. Dentro do casarão ele era apenas mais um, sempre foi, só mais um número útil em meio a tantos outros.



Suga estava deitado em sua cama, olhando entediado para o teto enquanto chupava um dos pirulitos que Jimin vivia esquecendo pelo quarto, ele tinha dormido muito mal na noite anterior, ainda pensando na última conversa que teve com Jungkook e em seu casamento, que seria hoje, quando seu telefone começou apitar. Ele praticamente se jogou da cama para alcançá-lo, sabendo exatamente o que aquele som significava.

Depois de entregar Lucas no orfanato, a convicção de que a criança fugiria de novo era insistente em sua mente. O medo de que seu endereço não fosse mais opção era preocupante e foi exatamente por isso que ele colocou um dispositivo rastreador numa pelúcia velha dentro de sua mochila, que ele havia notado o quanto era inseparável de Lucas, desde o dia em que resgatou o garoto do incêndio e mesmo quando o pequeno perdeu as forças no corpo a rigidez de suas mãozinhas sobre a pelúcia não se perdeu.

Ele sabia o que era se agarrar a algo significativo na vida.

Suga tocou no projétil de fuzil que tinha numa corrente em seu pescoço, ao lado da patente de fuzileiro naval de Dahyun.

O GPS mostrava um ponto vermelho no mapa de Manhattan. Lucas não estava nem um pouco perto de sua casa, pelo contrário, o ponto estava cada vez mais próximo de um bairro nada seguro nos arredores do Brooklyn.

Ele sentiu um aperto no peito, era constante e cada vez mais óbvia a sensação de que tinha alguma coisa errada.

Então ele não esperou o ponto vermelho, piscante, parar para sair de casa e segui-lo.


Ele tirou o capacete olhando com suspeitas para enorme casa em que Lucas estava.

Bom, pelo menos era onde a pelúcia de Lucas estava, mas isso poderia muito bem significar a mesma coisa se tratando do garoto.

Era uma mansão, fortemente vigiada e terrivelmente familiar. Suga já sabia onde Lucas tinha ido, ele só não entendia o porquê.

 Ele estava   a frente de uma Casa noturna exclusiva. Era óbvio pelas roupas das pessoas que entravam, a música alta escapando pelas janelas de vidros e a guarda armada, olhando todos com desconfiança, precaução e respeito.

Nada se encaixava naquele bairro pobre e esquecido por Deus.

“Tá fazendo algo importante?” - Suga perguntou assim que RM atendeu o telefone aos sussurros.

“Tirando o fato de que o casamento do melhor amigo do meu namorado é hoje e eu estou me arrumando para ir? Não, nada sério”.

“Ótimo. Preciso de você. Vou te mandar o endereço”. - Suga desligou a ligação, analisando mais detalhadamente uma forma de entrar no local sem maiores estardalhaços.

- Trouxe uma MC7, longo alcance, visão noturna e bússola eletrônica. - RM falava, abrindo o porta mala para  mostrar a arma ainda desmontada , descansando na parte de trás do carro.

- Isso é muito lindo Nam e nem é meu aniversário ainda, mas não vou usar nada de longo alcance hoje. - Suga disse com um sorriso amargo no rosto enquanto vestia o colete a prova de balas que RM jogava em suas mãos.

- Quem disse que é pra você? - JHope perguntou saindo do carro com seu sorriso convencido no rosto.

- Você?! Estamos condenados.

- Eih! Eu posso não ter seus olhos de águia, mas sei atirar em algumas pernas. - JHope pegou a arma, a montando em mais segundos do que ele gostaria de admitir, o que gerou um sorriso condescendente no rosto de Suga.

- Tem certeza que não quer chamar a equipe da SWAT? - RM perguntou preocupado enquanto colocava os pentes de balas extras no suporte amarrado em sua perna esquerda, já que ele era canhoto.

Suga negou enquanto tirava sua própria arma das costas, para pegar uma Glock não registrada que RM trouxe.

- Se envolvermos a polícia, Lucas vai se prejudicar, ele fugiu pela segunda vez essa semana. Sabe lá Deus onde vão enfiar o menino depois disso.

- Achei que vocês eram a polícia. - JHope resmungou provocativo, como sempre.

- Hoje não. - Suga respondeu, fechando o porta malas com violência.

- Você acha que o orfanato não vai reportar o incidente?

- Eu cuido do orfanato depois. - Suga falou distraído. - Ok! O plano é o seguinte...

Suga deu o sinal para JHope, que começou a atirar nas pernas dos seguranças na frente da mansão. Ele riu ao perceber que JHope era realmente bom atirando em pernas enquanto se aproximava da parte dos fundos da casa.

 Um corpo caiu do telhado, aterrissando bem na sua frente faltando pouco para não atingi-lo. Ele olhou feio para onde devia ser o estacionamento, onde JHope atirava feito um louco descontrolado. Voltando a correr na lateral da casa, ele aposta que JHope gargalhava da sua cara mal humorada agora.

O silenciador na Glock  foi bem-vindo, quando ele atirou no trinco da porta, antes de chutá-la para abrir.

Os convidados corriam feito loucos na parte de baixo da casa. Suga não sabia para onde ir. Ele não tinha a planta da casa, então se extinto tomou conta enquanto ele subia as escadas.

Ele não tinha muito tempo a perder, então agradeceu quando viu três seguranças armados em frente a uma porta. Isso só podia significar que seu patrão estava ali dentro.

Suga olhou para o ponto vermelho do GPS em seu celular mais uma vez. O garoto estava lá dentro também.

- Dois coelhos. - Ele cantarolou irônico.

Seus passos foram curtos, antes de atirar nos pés de um dos seguranças enquanto agarrava a cabeça de outro e o empurrava de encontro à parede. Ele ouvir os ossos da cervical quebrarem com a força do impacto e o segurança provavelmente estava morto, mas não tinha tempo para pensar sobre isso. Sua cabeça foi golpeada pelo terceiro segurança e sua visão ficou turva por um instante, o homem caiu atrás dele, logo depois que um zumbido de projétil passando entre eles. Suga olhou na direção do atirador, encontrando RM com um sorriso convencido no rosto.

Pronto! Agora ele ouviria o fato de RM tê-lo salvado, por meses.

RM passou as coordenadas do ponto na casa onde estavam e confirmou para Suga entrar, assim que JHope alertou sua mudança de posição no comunicador em seus ouvidos.

- Não se preocupa. Eu te protejo. - RM sussurrou sorridente cobrindo a retaguarda do menor.

Suga revirou os olhos antes de entrar na sala que os seguranças antes protegiam.

Dentro, havia dois seguranças, no qual Suga eliminou em poucos segundos, restando apenas um homem velho, segurando Lucas na frente de seu corpo enquanto apontava uma arma para a cabeça do menor.

Lucas chorava, mas parecia imóvel e arrependido depois de reconhecer Suga.

- Não dê mais um passo. - O velho falou, nervoso demais para segurar uma arma apropriadamente.

- Eu costumo brincar um pouco quando encontro alguém se achando na vantagem, só porque está confiante demais para notar que caiu numa armadilha, mas hoje não é um bom dia, então eu vou direto ao ponto. - Suga disse monotonamente. - Está vendo essa pequena luz vermelha aqui? - Suga perguntou apontando para sua testa.

JHope apontou o laser vermelho para testa de Suga, que sorria ao ver a cara de espanto do homem desconhecido.

- Então. - Suga sorriu um pouco mais largo, inclinando sua cabeça para o lado e quanto indicava para JHope voltar para a posição anterior. - Essa pequena luz está apontada para sua nuca agora, o que significa que estou te dando uma escolha. Me entrega o garoto e vamos embora, vai ser como se nunca tivéssemos nos conhecido. - Suga mentiu, lembrando de todas os seguranças mortos ou gravemente feridos, espalhados pela mansão.

O homem olhou indignado para a janela atrás dele, sem saber muito o que fazer.

Suga tinha planejado tudo isso, atirando nos seguranças da frente da casa para causar caos, automaticamente levando o homem em questão, se esconder num lugar onde se sentia protegido, carregando Lucas com ele, já que era o único provável motivo pela invasão.

- Você roubou ele de mim uma vez, não vai fazer isso de novo. - O homem gritou apertando ainda mais Lucas. - O garoto me dá um bom lucro e já tá crescido, vai me render uma grana, assim como sua mãe.

Lucas estava estático, ele tinha um olho roxo e a boca vermelha com sangue, mas não parecia assustado.

Suga suspirou impaciente e atirou na cabeça do homem, espirrando sangue por todo o corpo de Lucas, que agora tinha seus olhos fortemente fechados.

- Nunca aponte uma arma se não tem intenção de atirar. - Suga disse se aproximando do garoto que finalmente abria os olhos.

- Tira o garoto daqui enquanto eu reporto isso. - RM disse, finalmente entrando na sala.

Suga confirmou e pegou Lucas no colo.

Suga estava de frente para Lucas sentado no carro com uma coberta nos ombros, enquanto assistia a polícia invadir a mansão, agora silenciosa.

- Que merda você tinha na cabeça? - Suga gritou, mas interrompeu a bronca quando JHope tocou em seu ombro o alertando em silêncio, que Lucas ainda era só uma criança.

- Ele nunca me rejeitou, como você e todos os outros fizeram. - Lucas disse com ódio nos olhos.

Suga bufou, mas pediu para o moleque se aproximar.

- Não vou te abandonar seu cabeça de vento. - Suga abraçou o garoto que agarrou seu pescoço com toda sua força, arrancando uma risada de JHope que encostava relaxado no carro, ao lado dos dois.

- Tudo resolvido. - RM disse ao se aproximar. - Não mencionei vocês. - RM disse sorridente.

- Você acha que vão acreditar que fez isso tudo sozinho? - JHope perguntou debochado e com um enorme sorriso no rosto.

- Eles só estão felizes que alguém entregou o maior traficante da região de mãos beijados, aparentemente ele estava desesperado para ganhar dinheiro, depois de termos botado fogo no seu último empreendimento. O que significa que estava vendendo todo tipo de droga de baixa qualidade nas ruas, gerando várias mortes nos últimos meses.

- Sem chance que acreditaram que você dominou todos aqueles homens sozinhos. - JHope insistiu quando já estavam todos dentro do carro.

- Todos acreditam na história de Suga, quando dominou todos aqueles homens em Sarajevo. - RM respondeu indignado.

- A diferença é que isso realmente aconteceu. - Suga disse em voz baixa, mas com o humor presente em cada palavra.

RM bufou irritado.

- Tem como fazer um desvio? Tem algo que preciso fazer antes. - Suga pediu vendo RM pegar a rota contrária sem ao menos perguntar para onde.

Ele já sabia onde Suga queria ir. Aliás, ele já estava impaciente com a demora de sua decisão.

- Droga esqueci minha moto no Brooklyn. - Suga resmungou coçando a nuca confuso, arrancando uma risada animada de Lucas ao seu lado.



Jungkook se olhava no espelho por um tempo já. Suas olheiras foram disfarçadas por uma boa quantidade de maquiagem, seu fraque era preto e prata, combinando com a petúnia branca no seu bolso esquerdo.

Pessoas entravam tranquilamente na mansão onde seria seu casamento. Ele estava em um dos quartos que foram separados para sua preparação. Jungkook não podia ouvi-los, mas sabia que estavam ali, centenas de rostos que ele duvidava realmente conhecer.

Seu rosto era triste quando se pegou bufando para seu próprio reflexo.

Ele teria pensado melhor sobre seu humor, se não fosse por um barulho de alguém levando socos e caindo em frente a sua porta. Era algo que assustaria qualquer outro, já Jungkook, só revirou os olhos e se virou para a porta esperando.

Suga entrou na sala parecendo alguém vindo direto de um filme de ação. O lábio inferior cortado e vermelho, os cabelos molhados de suor grudado na testa, a respiração alta e os olhos assassinos.

Ele ficava sexy pra caralho assim.

- Veio me sequestrar? - Jungkook perguntou cruzando os braços e levantando uma sobrancelha em desafio.

Suga cuspiu saliva e sangue no chão e limpou a boca com as costas da mão sem falar absolutamente nada.

Jungkook trocou o peso dos pés, um pouco incomodado com o olhar constante de Suga, quando Dimitri entrou às pressas no cômodo, olhando assustado de Suga para Jungkook.

Jungkook nunca admitiria, mas se pegou soltando o ar em alívio pela atmosfera ter sido alterada.

- Sr. Jeon. O Sr está bem? - Dimitri torceu o nariz ao olhar para Suga. Ele conhecia a fama do cara, não queria enfrentá-lo, mas era o que faria se seu chefe mandasse.

Fez-se mais um silêncio incômodo. Suga olhou preguiçosamente para Dimitri soltando uma risada seca, curta e quase soluçada em desafio. Jungkook e Dimitri não ousaram desafiá-lo depois disso.

- Não deixe mais ninguém entrar. - Jungkook disse simplesmente. O que foi o suficiente para Dimitri concordar positivamente e se retirar, parecendo aliviado demais por se ver livre daquela situação.

Jungkook o entendia perfeitamente, não parecia um bom dia para se meter no caminho de nenhum dos dois.

- Então. - Suga resolveu começar, já que Jungkook não parecia querer se pronunciar. - De traficante à homem de família. - ele coçou a nuca um pouco sem jeito. - Parece um grande passo. - Suga deu de ombros, mas não parecia tão indiferente como queria transparecer. Suas personalidades oscilando entre tristeza e excitação.

- É, tanto faz. - Jungkook disse enquanto assistia Suga sentar no encosto do sofá.

Seus passos foram lentos e indecisos, mas calmos quando resolveu servir uma bebida para o mais velho que só o assistia sem dizer nada.

- Vai assistir a cerimônia?  - Jungkook perguntou apreensivo com a ideia.

Suga riu debochado aceitando o copo de Whisky que Jungkook oferecia.

- Prefiro engolir cactos enquanto danço numa perna só. - Suga tomou um gole da bebida, vendo Jungkook pensar em sua figurativa demonstração de tortura equivalente à sua proposta.

- Parece doloroso. - Foi sua conclusão dita em voz baixa.

- Exatamente. - Suga sussurrou no mesmo tom, porém com tristeza nos olhos e as mãos de repente trêmulas.

O silêncio voltou a rondá-los, Jungkook não sabia mais o que dizer e Suga não sabia se queria ouvir algo vindo do mais novo de qualquer forma.

- O que faz aqui Yoongi? - Jungkook disse bem próximo de Suga, que suspirou ao sentir o cheiro familiar do mais novo invadir seu espaço pessoal.

- Eu não faço ideia. - Suga levantou a cabeça, encarando os olhos curiosos de Jungkook. - Não faço ideia do que estou fazendo. - Suga disse engasgado, seus olhos brilhavam com as lágrimas que se recusavam cair, suas mãos suavam.

Ele não pensou muito bem em seu plano, tudo que ele queria era tocar em Jungkook, abraçá-lo como se o perdesse caso não fizesse.  

- Não sei o que fazer. - Suga disse, mas sua voz saiu falha, quase sem emitir nenhum som.

Suga exalava angústia e Jungkook moveu impulsivamente sua mão no rosto do mais velho ao sentir isso.

- Não posso desistir agora. Não é justo com a Jenny ou minha família, não é que eu não queira…

- Eu sei. - Suga se inclinou sobre a mão do mais novo em seu rosto e fechou os olhos.

Eles ficaram um tempo assim e o silêncio não os incomodava mais.

- Hyung. Nada precisa mudar entre nós. - Jungkook disse com um aperto no peito por seu próprio egoísmo, mas não sabia mais o que dizer.

Suga tirou as mãos do garoto do próprio rosto e as acariciou delicadamente.

- Ok. - Suga disse conformado.

Jungkook se empertigou, um sorriso indeciso surgiu no canto de sua boca.

- O que quer dizer? - Achou melhor perguntar, caso tivesse entendido errado.

- Nada precisa mudar, se não quiser. - Suga disse forçando um sorriso.

Jungkook enrugou a testa, tentando não se empolgar com a ideia de não precisar perder nada afinal.

- Por que mudou de idéia?

Suga levantou, segurando o mais novo pela cintura e selou seus lábios, não durou muito tempo, mas foi tempo o suficiente para mexer com seu emocional.

- Não sei se seria capaz de perder o que você trás para minha vida. - Suga sussurrou em seu ouvido, aproveitando para passar o nariz por seu pescoço, só para sentí-lo arrepiar com seu toque.

- E o que seria isso? - Jungkook perguntou um pouco cismado.

- Qualquer coisa que queira me dar... - Suga beijou seu ombro, subindo por seu maxilar delineado. - ...eu aceito. - Ele respondeu, rindo amargamente com o trocadilho de situações.

Jungkook mordeu o lábio, seu coração acelerado.

- Você tem certeza?

- Não ter nada é muito pior.

- Mas você mudou de ideia tão de repente. - Jungkook estava sendo um idiota a esse ponto, porém ele não sabia o que pensar sobre a proposta de Suga, simplesmente porque nunca o imaginou cedendo dessa forma.

- Mas… - ele começou, mas Suga soltou o ar impaciente, o empurrando na parede antes que pudesse continuar.

- Se não calar a boca eu vou mudar de ideia de novo.

- Não. Por favor, não. - Jungkook soltou sem conseguir disfarçar muito seu desespero, mas isso era o que menos importava no momento.

- Eu te amo. - Jungkook sussurrou entre seus lábios antes de beijá-lo.

- Porra, você seria muito otário se não amasse. - Suga disse sorrindo amoroso, antes de devolver o beijo de um jeito ainda mais apaixonado que dá última vez.

Os dois pularam para longe um do outro quando alguém bateu na porta insistentemente, arrancando uma resposta atravessada de Jungkook que provavelmente estava atrasado para o próprio casamento.

- Você deveria ir. - Suga riu um pouco sem graça, nada parecia confortável naquele momento.

Jungkook pareceu aéreo, pensando no que estava realmente acontecendo ali e em como ele era um filha da puta egoísta, como sempre. Seu rosto queimava pelos arranhões da barba mal feita de Suga, seu corpo estava quente e sua respiração errática.

Suga havia mudado tanto desde que se conheceram, se tornando mais acessível, mais aberto e paciente.

Jungkook permaneceu o mesmo de sempre. Só mais um metido, reclamão e mimado garoto.

- Eu não aceito. - Jungkook disse pensativo e baixo demais para os ouvidos do mais velho.

- O que disse?

- Eu vou me casar.

- Eu posso ser um pouco distraído, mas acho que já percebi isso Jungkook. - Suga riu sem humor.

- Não é isso que eu quis dizer. - Jungkook revirou os olhos. - Eu escolhi outra pessoa ao invés de você, não pode fazer isso com você mesmo. Deixar eu comandar sua vida dessa maneira. - Jungkook suspirou desanimado. - Você merece mais, merece alguém melhor.

- Não acho que isso é algo que alguém escolhe garoto. - Suga resmungou impaciente.

- Não importa. Eu não aceito sua proposta. - Jungkook disse encarando o mais velho que o fitava perplexo, a ponto do seu queixo cair.

- Isso é sério? - Suga perguntou, assim que se recompôs do seu estado de choque.

Jungkook concordou pensativo, terrivelmente frio e consequentemente distante.

Suga não sabia mais o que fazer. Ele queria o garoto em seus braços, queria protegê-lo e mimá-lo tanto quanto pudesse. Ele definitivamente não devia ter demonstrado o quanto aquele par de olhos curiosos o deixava instável e principalmente não queria que o garoto soubesse o poder que ele tinha.

Não tem muito tempo que Suga percebeu o quanto Jungkook o tinha na palma de suas mãos.

Ele se sentia desprotegido e exposto, mas completamente dependente desse sentimento.

Suga sabia que Jungkook poderia fazer o que quisesse com seu corpo e sua mente, deveria ser algo importante ou ao menos precioso, mas Suga só não se importava mais.

Ele estava dolorosamente entregue e a disposição.

Se ao menos Jungkook soubesse.

- Me diz que tem certeza disso. - Suga pediu desesperado. A garganta arranhando enquanto o peito apertava sobre seu coração trabalhando com dificuldade.

- Eu tenho certeza. - Jungkook disse com a voz instável e nada confiante, mas pareceu o suficiente para o mais velho.

Suga nunca se sentiu tão desamparado em toda sua vida.

Era essa sua realidade. Todos que já lhe amaram algum dia, o abandonaram sem dar muita explicação. Exatamente assim.

Simples, preciso e cruel.

Ele estava magoado sim, mas a raiva era o sabor predominantemente em sua língua no momento.

- Então vai se foder Jungkook. - Suga passou a mão por seus cabelos selvagens e caminhou até a saída, batendo a porta com toda sua força, na expectativa de selar sua distância em relação ao mais novo.

A única coisa que diferenciava das outras vezes, é que ele nunca havia amado alguém nessa intensidade antes.

E uma coisa era certa, doía pra inferno!

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