Love And Hate
Foi o tempo de entrar no elevador que Suga percebeu como tinha pilotado feito louco até o apartamento de Jungkook. Suas mãos tremiam e o sangue pulsava de maneira angustiante em seus olhos.
A porta de metal abriu enquanto ele trincava os dentes e passava a mão nos olhos para aliviar a pressão.
Seu punho esmurrou a porta pesada de madeira. Ele pensou se chutava ou se procurava outra entrada, já que o apartamento de Jungkook era o único na cobertura, porém a porta foi aberta nesse meio tempo.
Tudo que Jungkook fez foi abrir a boca para perguntar algo, mas Suga foi mais rápido impulsionando seu punho para frente.
Ele acertou em cheio o nariz de Jungkook que foi para trás com passos cambaleantes, incertos, até encontrar a mesa de centro e cair por cima dela. O vidro se desfez em mil pedaços, mas nenhum dos dois pareciam se importar.
Suga aproveitou a vantagem para subir em cima do mais novo, socando seu rosto sem intervalos.
Ele ouviu o barulho de osso quebrando sem saber exatamente a quem pertencia.
Jungkook usou a força de Suga contra ele mesmo o derrubando no chão.
Suga gritou com um pedaço de vidro entrando nas suas costas através da camiseta de tecido fino, seus olhos ficaram nublados e enegrecidos com o sangue que escorria de um recém corte em sua sobrancelha.
O mais novo gritou em resposta, sem saber o que realmente aconteceu ali.
- Que porra você tá fazendo? - Jungkook perguntou quando se afastou de Suga gemendo de dor.
- Seu filha da puta. Você tem noção de quantas pessoas morreram graças a você? - Suga gritou. Metade do seu rosto coberto de sangue.
O líquido viscoso misturava com saliva conforme ele falava, os dentes colorindo de vermelho vivo.
- Se não fosse eu, seria outra pessoa. Por quê o escândalo? - Jungkook perguntou indignado.
Suga esqueceu o quão machucado estava desferindo mais um soco no mais novo.
Do jeito que Jungkook caiu ele ficou, mas Suga não parecia nem um pouco preocupado. Ele pegou Jungkook pelo cabelo se aproximando de seu ouvido.
Jungkook gritou de dor, fazendo uma careta assustadora no processo.
-Sarajevo te lembra algo? Eu sou o soldado que explodiu sua sede de carregamento.
Jungkook arregalou os olhos.
Ele lembra de ter rido na cara do seu contato com a célula principal de carregamento de armas quando ele tocou no assunto. Afinal, quem acreditaria que um único soldado dizimou mais de cinquenta homens armados até os dentes?
- Você sabia que tinham mulheres e crianças no porão? Escravos seu filha da puta. - Suga empurrou a cabeça de Jungkook no chão, fazendo um barulho oco com a pancada do piso contra seu crânio.
Jungkook por reação automática desferiu um chute na perna esquerda de Suga fazendo um barulho de osso sendo partido ao meio.
Suga gritou caindo para trás de um jeito engraçado, ele se encostou na parede com a mão na perna machucada.
Sangue escorria pelos seus dedos manchando o jeans claro de vermelho.
Foi a primeira vez que os dois perceberam que não estavam sozinhos. O grito de Jin foi alto e assustador, mas os dois estavam concentrados demais em suas próprias dores para dar atenção ao mais velho.
- Você já sabe que eu sou culpado. Por que agora foi que resolveu ficar revoltado? - Jungkook perguntou estalando a própria mandíbula com uma mão enquanto segurava o abdômen com a outra.
Suga sentia suas lágrimas caírem sem intervalos, a dificuldade de se manter acordado era exaustiva, porém a adrenalina em suas veias o ajudava com isso.
- Eu sei. Sou um hipócrita. Só me importei quando vi que foram meus homens que morreram massacrados aquele dia, era minha missão, meu erro.
-Eu sinto muito. - Jungkook falou percebendo pela primeira vez do que aquilo tudo se tratava.
Suga se apoiou na parede, tentando subir com uma perna só, enquanto se apoiava na estrutura em suas costas.
Sua costela deu sinal de estar quebrada, assim que seu corpo foi esticado e os órgãos internos tombaram sobre ela.
Por incrível que pareça Jungkook estava muito pior que Suga. Seu braço esquerdo tinha uma fratura exposta, o osso branco rasgado para fora do corpo, os joelhos repletos de cacos de vidros por causa dos rasgos na calça jeans, um olho fechado pelo inchaço e o nariz um pouco torto.
- Dahyun morreu naquela missão. - Suga sussurrou sentindo o osso quebrado irritar seu pulmão conforme puxava o ar para respirar.
Suga foi mancando até a metade da sala. Jungkook não fez nada, não tinha o que fazer, ele não sentia mais suas pernas de qualquer forma, fugir seria impossível.
A porta do apartamento foi escancarada, fazendo Suga parar no meio do caminho.
- Que porra você tá fazendo? - RM perguntou se colocando na frente de Suga.
- Não tenho posição de brigar com você agora, até porque minha briga não é contigo, então sai da minha frente ou me mata, porque só tem duas formas de me ver saindo daqui hoje. - Suga sussurrou parecendo muito mais assustador do que deveria, dado às circunstâncias.
RM olhou para o estado de Jungkook, depois virou para Suga tirando a arma do coldre no processo.
Ele esvaziou o pente e entregou a arma nas mãos de Suga fazendo Jin e Jungkook suspirarem ao mesmo tempo.
- Uma bala. Faz o que tem que fazer, se é isso que quer. - RM falou se afastando.
Ele foi até Jin, o abraçando a força enquanto sussurrava algo em seu ouvido. O mais velho se debatia para tentar afastá-lo, mas não conseguiu apesar dos tapas que deu em seu braço enquanto gritava um “me solta” irritado.
Suga apontou a arma para Jungkook assim que a destravou, pensativo. O mais novo não tinha para onde ir, então ele olhou nos olhos de Suga, as lágrimas caíam limpando o sangue do seu rosto e enchendo sua boca com o líquido salgado.
Suga nunca tinha visto tanta coragem nos olhos do garoto antes, ele nunca viu tanta paz, nem mesmo quando era Jimin com a arma apontada.
- Você quer isso. Não quer? - Suga tremeu o revólver quase o deixando cair, mas conseguiu mantê-lo firme. - Você quer que tudo isso acabe. Seus erros te corroem por dentro. Eu posso ver sua dor agora.
- Eu prefiro sentir dor do que te ver sentindo. - Jungkook sussurrou.
Suga sorriu de uma forma assustadora, sangue escorria da sua boca fazendo Jungkook tremer assustado. Ele não queria morrer, não assim, mas ele sabia que o que tinha feito para Suga não tinha perdão.
Suga gritou tão alto que todos no ambiente pularam assustados. Jungkook começou a chorar ainda mais forte, o desespero e o instinto de sobrevivência dando seus primeiros sinais de vida.
Sem que ninguém prevê-se. Suga tirou a arma direcionada para a cabeça de Jungkook, apontando para sua própria.
- Espera! Por favor, não. - Jungkook gritou, como se pela primeira vez lutasse por sua vida. - Não se mate por mim. Não vale a pena. Eu não tenho valor nenhum. - Jungkook implorou tentando se levantar e falhando miseravelmente.
- Não sou eu quem vai te libertar. - Suga sussurrou chorando ainda mais
- Por favor. Eu te amo, por favor não. Eu confesso, eu confesso tudo. Eu vou para cadeia. - Jungkook implorou aos prantos.
Suga riu ironicamente e puxou o gatilho.
…
As macas de emergência foram as próximas a serem enviadas, depois que o perímetro foi cercado e considerado seguro.
Jungkook soluçava de forma desesperada enquanto era carregado até a maca de remoção.
RM chamou por alguém nos seus comunicadores e questão de segundos o apartamento era rodeado de soldados da SWAT.
- Sr. Jeon Jeongguk. Polícia de Los Angeles. Você está preso. - RM disse enquanto algemava o garoto na maca de hospital. - Você tem o direito de permanecer em silêncio; tudo o que você disser poderá e deverá ser usado contra você no tribunal. Você tem o direito de ter um advogado presente durante qualquer interrogatório. Se você não puder pagar um advogado, um defensor público lhe será indicado. Você entende os seus direitos?
O silêncio parecia reinar no lugar, mesmo com tantas pessoas aglomeradas ali.
RM se aproximou de Suga tirando com pesar a arma de suas mãos rígidas e já um pouco azuladas pela falta de sangue.
- Desculpe irmão, mas eu precisava te distrair ao mesmo tempo que provava pra você mesmo que jamais conseguiria matar o garoto.
Suga soluçou vendo a arma vazia saindo de sua mão.
Ele viu RM tirar as balas do pente, mas tinha certeza que a do cano tinha ficado, então quando o RM falou que ele só tinha uma bala fez todo sentido para ele, porém RM tinha tirado toda a munição da arma e quando ele apertou o gatilho, nada aconteceu. Ele não entendia porque.
- Por que ? Por que tirou todas as balas? - Suga perguntou num sussurro, a visão ficando nublada.
- Porque eu sabia que você se sacrificaria por ele. Você precisava saber disso também, não importa o que faça para provar o contrário. - RM suspirou autorizando a outra maca a se aproximar deles. - Você o ama irmão, precisa começar entender isso o quanto antes.
Foi a última coisa que RM disse e foi a última coisa que Suga ouviu, antes de finalmente apagar numa escuridão sem dor ou arrependimento, só vazio.
…
De primeira, seus olhos se abriram automaticamente, mas levou um tempo para que sua visão ganhasse foco à medida que se acostumava com a iluminação intensa e fria do quarto de hospital.
- Achei que não ia acordar nunca. - Uma voz doce falou, se levantando da poltrona para se aproximar de Suga.
Jimin tinha o olhar preocupado e cansado, mas o sorriso enorme no rosto escondia boa parte do quanto realmente estava perturbado.
- Você não está no quarto errado ? - Suga perguntou o lembrando de seu irmão.
- Jungkook está bem, sua recuperação foi inacreditável e ele já se encontra com o macacão amarelo rumo a sua cela. - Jimin respondeu um pouco mais animado do que deveria.
Suga suspirou sem perceber, ao entender que Jungkook estava bem.
- Você quase o matou. - Jimin sussurrou conspiratório e um pouco mal humorado.
- Desculpa pirralho. - Suga suspirou de dor pela tentativa falha de tocar nos cabelos amassados do menor.
- Eu não sei muito bem o que aconteceu entre vocês, mas fico feliz que ambos estejam vivos e bem longe um do outro. - Jimin balançou suas mãozinhas delicadas em negação fazendo Suga reclamar por ter rido da fofura do garoto.
- Fico feliz que seus instintos assassinos tenham diminuído. - Suga retrucou com dor.
Jimin deu de ombros, o sorriso radiante ainda no rosto.
- Tem uma pessoa louca pra te ver. - Jimin falou depois de olhar no seu Rolex de ouro branco.
Suga enrugou a testa sentindo uma fisgada no lado da sobrancelha que antes havia um corte, provavelmente por causa dos pontos, mas antes que Jimin pudesse continuar a conversa a porta se abriu e um garoto confuso, assustado e em seguida sorridente, entrou de mãos dadas com V.
- ,Eih! Lucas. Que surpresa incrível. - Suga falou com sua voz rouca, pontadas de dor latejavam sua cabeça pelo esforço de falar, comprovando suas suspeitas sobre a costela fraturada.
V pegou a criança no colo e o inclinou para que o pequeno beijasse Suga na testa.
- Como estão te tratando, ham? - Suga perguntou enquanto apertava o botão de penicilina por causa da dor, sentindo um alívio instantâneo e a cabeça leve também.
- Bem. Eu conheci o tio Kookie, mas eu o apelidei de Bunny, você disse que eu poderia apelidar sua família um dia.
O clima da sala desceu alguns graus negativos, o silêncio era absoluto enquanto Lucas esperava uma resposta com seus olhos enormes e espertos, alguns cachos caindo em sua testa.
Suga sorriu em meio a uma crise de tosse.
- Quem te levou para conhecer o… - Suga engasgou. - Tio Kookie? - terminou.
- Tio Jin. Ele me deu chocolate também.
Suga concordou em silêncio enquanto todos ficavam em silêncio.
- Por que não deixamos o Suga descansar? - V disse olhando para Lucas que negava com cara feia para o maior. - Tem bolo rosa na cafeteria. - V acrescentou.
Lucas olhou indeciso para Suga causando um ataque de risos em Jimin.
- Vai lá pirralho. Eu vou dormir um pouco e nos falamos mais tarde. - Suga sussurrou sentindo a droga pesar sua habilidade de raciocínio.
Lucas concordou veemente, indo animado para fora do quarto com V.
- Vou deixar você descansar. - Jimin sussurrou.
Suga já estava quase voltando para seu mundo de escuridão e alívio, mas conseguiu ficar mais um pouco a tempo de agarrar os braços de Jimin.
- Jiminnie, preciso de um favor. - Suga falou obrigando o menor a se inclinar para que pudesse sussurrar em seu ouvido.
...
[ Três meses depois]
Sr. Park Ji-Hyu entrou com um sorriso largo no rosto, que logo se desfez quando percebeu que a pessoa sentada no banco duro de madeira da sala de visitas, não era seu filho.
- Quem é você? Cadê meu filho? - O homem perguntou brutalmente.
- Desculpa, eu abusei um pouco da vontade do seu filho para podermos conversar. - Suga disse depois de sorrir ironicamente para o homem à sua frente.
- Não tenho nada para falar com você. Guardas. - Ji-Hyu gritou se afastando da mesa.
- É sobre Jungkook. - Suga falou mais alto assim que os guardas abriram a porta.
Ji-Hyu parou em choque, dando um aceno para os guardas antes de se sentar em frente ao mais novo.
- O que tem ele? - O homem perguntou com brilhos nos olhos.
Suga sorriu de canto mais uma vez se aproximando do pai de Jimin.
- Ele tá finalmente na cadeia. - Suga disse dando de ombros.
- Filho da puta. Você veio aqui só para se vangloriar? Quem é você? É polícia?- Ji-Hyu partiu para cima de Suga, sendo interrompido pelas correntes grossas que estavam prendendo seus pés no chão.
Suga cruzou as mãos em cima da mesa, sem reagir aos pulos do transtornado Ji-Hyu à sua frente.
- Na verdade, muito recentemente eu descobri que quero ajudá-lo, mas preciso saber por onde.
Ji-Hyu o olhou desconfiado.
- Como sei que ta falando a verdade? - Ji-Hyu falou, provando que já sabia da prisão de Jungkook. Estavam nos jornais do mundo inteiro afinal, não tinha como não saber.
Suga estava mentindo, ele só queria desmembrar cada célula daquela organização, membro por membro, mas sabia que não era assim que conseguiria a confiança de Park Ji-Hyu e algo lhe dizia que ele tinha a chave de tudo isso. Por ele Jungkook que morresse naquela maldita prisão.
- Você não tem outra escolha. - Suga deu de ombros sem saber se aquela era a melhor forma de lidar com aquilo.
O homem soltou o ar bruscamente parecendo perder na sua própria guerra interna.
- O que quer saber?
Suga torceu os dedos com ansiedade, tomando cuidado com o que diria a seguir.
- O que aconteceu? Entre você e Jungkook? - Suga não queria saber na verdade, mas aparentemente não tinha muito o que ser feito quanto a isso.
O homem deu de ombros.
- Muita coisa aconteceu. Eu era apaixonado por ele, o seguia sempre que podia. Eu e seu pai tínhamos negócios juntos, eu sempre ficava na casa deles como convidado de honra.
Suga apertou as mãos até seu sangue parar de correr por seus dedos.
- Quantos anos ele tinha? Quatorze, quinze? - Suga perguntou se esforçando para não ranger os dentes no processo.
O cara o enojava.
- Sei lá. Por aí, mas ele era bem mais velho para sua idade.
Suga pensou na criança que Jungkook era agora, caindo numa contradição inútil com Ji-Hyu. Ele queria saber se Jimin sabia de tudo isso.
- ,Desculpe qualquer forma ele gostava de um pirralho qualquer. Dahy… alguma coisa, mas eu era um homem paciente, o presenteava sempre que podia, umas apertadas na bunda de vez em…
- Direto ao ponto, por favor. - Suga pediu prestes a voar no pescoço do homem.
- De qualquer forma. O garotinho deu um pé na bunda dele, ironicamente por causa de Jimin meu filho e Jungkook acabou no meu quarto no mesmo dia.
Filho da puta! Pedófilo do caralho.
Suga puxou o ar tentando se acalmar ao máximo.
- O que aconteceu depois.
- Eu separei da minha mulher, tivemos um caso secreto de amor. Você sabe.
Suga sentiu seu estômago embrulhando, ele não sabia quanto tempo mais aguentaria aquilo. Ele abaixou a cabeça na mesa com dificuldade de respirar.
- Minha mulher descobriu sobre nós e ameaçou me denunciar, por causa do problema da idade. No final das contas a piranha não teve coragem. O próprio Jungkook contou para ela em um dos seus momentos de indecisão, mas ela não acreditou de início. Jungkook desistiu de bancar o difícil depois disso.
Suga segurou as lágrimas enquanto levantava a cabeça para encará-lo.
Jungkook era só uma criança.
- Eu contava sobre meus negócios para ele na cama, depois do sexo, principalmente os negócios ilegais. - O homem riu maliciosamente. - Jungkook era um garoto curioso, ele queria saber sobre tudo. Pena que um pouco fraquinho, sempre desmaiava uma vez ou outra.
Suga levantou da cadeira, andando em círculos pela pequena sala.
- Alguém me denunciou pelas drogas, não pelo nosso amor. Jungkook disse q não foi ele, eu acredito. - Ji-Hyu sorriu orgulhoso. - Quando ele tomou meu lugar nos negócios eu não podia ficar mais orgulhoso. Eu ensinei o garoto bem. Garoto esperto, mais esperto que o bunda mole do meu filho.
Suga mal pensou quando atravessou a mesa e socou Park Ji-Hyu. Ele mal sabe como tiraram ele de cima do homem, mas ele definitivamente deixou cicatrizes para ser lembrado.
...
- Ruim assim? - Jimin perguntou encostado no carro alugado e fumando um cigarro.
Suga veio acelerado para cima de Jimin e o abraçou apertado sem nenhuma explicação a dar.
Jimin o abraçou de volta, já imaginando o porquê daquilo, mas não disse nada, ficou ali pelo tempo que o mais velho precisou dele, sentindo as lágrimas de Suga umidecerem sua camisa de linho branca.
...
Jin odiava a prisão, ele queria morrer toda vez que tinha que entrar lá, mas o pior de ter que passar pelo processo de entrar naquele lugar, era ter que encarar Jungkook desanimado, infeliz e às vezes, nos seus melhores dias, possesso.
Dessa vez foi ainda pior, porque quando Jin entrou na sala de visitas encontrou Jungkook praticamente todo espancado. Os cabelos antes lisos e brilhantes, agora estavam sebosos e grudando na testa oleosa.
- Jesus! O que aconteceu você?
- Tentaram me matar. - Jungkook disse desanimado. - De novo.
- Mas não te colocaram na solitária no mês passado, depois da tentativa de assassinato com uma escova de dente afiada? - Jin falou sentindo arrepios por todo corpo.
Jungkook confirmou desanimado, um sorriso cansado no rosto.
- Eu preciso sair daqui. - Jungkook sussurrou com os olhos desesperados, batucando os dedos nervosamente nas pernas.
- Então entrega a porra dos traficantes para quem você trabalhava. - Jin gritou revoltado.
Eles já tinham tido essa conversa um milhão de vezes. Jungkook parecia irredutível até então.
- Não posso fazer isso e você sabe.
Jin suspirou cansado.
- Se você fizer um acordo, vai cumprir pena em domicílio, principalmente por causa das ameaças contra sua vida dentro da prisão. Sem contar que vai viver confortavelmente, você parece acabado JK.
- Você não entende? Se eu entregar eles eu sou um homem morto. - Jungkook gritou perdendo a paciência.
- Você já é um homem morto sem fazer nada.
Jungkook olhou nos olhos de Jin com lágrimas ameaçando cair, mas sem dar o braço a torcer.
- Não sei o que fazer. Eu já estou morto de qualquer forma.
- Não se você fizer um acordo com a corregedoria e então vai poder volt….
- E quem vai me proteger lá fora? - Jungkook gritou assustando Jin.
- Eles colocam você na proteção a testemunha, não?
- E você acha que isso vai impedir um bando de russo armado até o pescoço, me matar?
- Você tem que tentar. - Jin murmurou implorativo. Ele odiava ver Jungkook naquelas condições, o menino mal conseguia se manter em pé de tão machucado.
- Talvez eles me deixem em paz quando verem que eu não delatei ninguém.
- JK você nasceu privilegiado, sua família é influente. Ninguém acreditaria nisso. Sem contar que é doce e bondoso, você não é traficante de verdade querido. - Jin sorriu triste no final vendo Jungkook dar de ombros.
- Minha família me abandonou, minha noiva não fala comigo, eu não tenho ninguém, minha firma vai muito bem sem mim. Por que eu iria querer sair daqui?
- Porque aqui é um inferno e você tem a mim, eu sou sua família, já falamos sobre isso.
Jungkook mordeu o lábio inferior com desleixo.
- Eu tô com tanto medo Hyung.
- Eu sei, mas você tem que fazer algo. Sentar e esperar coisas ruins acontecerem não é a melhor alternativa. - Jin se aproximou de Jungkook massageando seu pescoço.
O garoto pulou assustado de início, mas aceitou o carinho no fim.
- Por favor, confia em mim?
Jungkook suspirou encarando o mais velho.
- Se você conseguir o acordo eu assino.
Jin deu uns pulinhos de alegria mesmo que sentado.
- Só que tem um porém…
Jin fechou a cara esperando Jungkook terminar a frase.
- Quero Suga como o detetive oficial responsável, não posso confiar em mais ninguém. - Jungkook declarou resoluto.
- Você tá louco? Ele definitivamente tentou te matar. Não deveríamos pelo menos tentar procurar alguém que você não sabe se quer te matar primeiro?
Jungkook negou com a cabeça.
- Ele desistiu. Ele desistiu no final, ele apontou a arma para própria cabeça. - Jungkook falou esperançoso apontando para sua cabeça.
- Ele fez isso porque você partiu o coração dele JK. Se você tá pensando em alguma forma distorcida de tê-lo de volta com isso, é melhor…
- Não. Não é isso. Eu quero viver primeiro. - Jungkook declarou com confiança demais pro gosto de Jin que o olhava de canto de olho desconfiado.
- Eu quero sim. - Jungkook falou ignorando a descrença nos olhos do mais velho. - Mas eu também quero Suga do meu lado, esses são meus termos.
Jin concordou pensativo.
- Acha que ele vai aceitar? - Jungkook perguntou inseguro.
- Acho que ele não mediria esforços para te proteger. - foi a resposta de Jin. Não era no que ele acreditava, mas ele queria ver um sorriso no rosto cansado de Jungkook.
…
- Nem fodendo. - Suga gritou para Naomi que olhava estranho para o cachorro enquanto falava com ele.
- Você não disse que quer destruir a célula terrorista? Com Jungkook do nosso lado, temos grandes chances. - Naomi falou de forma monótona e entediante.
Suga estava no quintal de sua casa levantando peso, fazendo a fisioterapia do jeito que deveria, após a briga no apartamento de Jungkook e suas consequências.
Ele pegou uma toalha de rosto ao lado da squeezie de água , jogando água no rosto para depois secá-lo com a toalha e deixá-la jogada na nuca.
Naomi lambeu os lábios com a cena, se distraindo de forma crítica pela aproximação de Suga suado, sem camisa e com uma bermuda justa demais para maldição de sua própria sanidade.
- Eu não vou ajudar aquele filha da puta nem fodendo. - Suga disse baixo, mas bruscamente, arrepiando a garota dos pés a cabeça.
- Não sei se tem muita opção. A agência está de saco cheio de você. Sua missão foi definitivamente ortodoxa.
- Foi eficaz.
- Barulhenta no entanto. Você tem sorte do garoto não ter te denunciado por agressão e má conduta - Naomi jogou uma pasta em uma das cadeiras de descanso próxima dele. - Aqui estão as fotos de Jungkook com o único USD de cópias, a liberação de Jeon Hoseok da investigação ilegal que ele conduziu à seu pedido e tudo que temos sobre o soldado Dahyun. Como prometido. - Naomi falou agressiva pela frustração de não poder tocar em Suga.
- Então terminamos por aqui? - Suga perguntou um pouco empolgado com a ideia.
- Leia os dossiês antes de qualquer decisão, depois conversamos. - Naomi rodou o corpo em direção a saída, o salto batendo exagerado na parte cimentada do jardim.
Suga olhou curioso para as costas da mulher até que desaparece de vista, para só depois pegar os arquivos nas mãos.
Não havia nada ali. Nada de útil pelo menos.
Dahyun não parecia ter muita importância para o exército, até porque ele tinha uma baixa patente e poucas atividades em campo. A única coisa que Suga conseguiu além do que já sabia, era a arma que matou Dahyun a distância devido a autópsia e era definitivamente armamento com o que Jungkook trabalhava.
Talvez o serviço de Suga não tivesse acabado afinal. Ele precisava vingar a morte daqueles soldados e destruir aquela célula, ninguem perdesse a própria alma tentando. O que significa que veria Jungkook novamente.
…
[ Uma semana depois ]
- Você não deve usar sua linha pessoal, caso precise nos contatar use o sinal de emergência em um telefone público ou celular descartável. Não entre em qualquer relacionamento pessoal com o prisioneiro. Não conceda pedidos pessoais para o prisioneiro. Não mude o protocolo de procedimento padrão sob nenhuma circunstância ou aborde uma ameaça sem nos consultar. Você entende as regras? - Naomi perguntou ao lado de Suga, dentro da SUV preta, padrão da CIA.
- Nada de telefones, entendi. - Suga respondeu mal humorado fazendo Naomi revirar os olhos com a situação.
- Eu estou ciente que você já teve uma relação com o Jungkook. Isso não pode voltar a acontecer.
- Ah! Acredite. Não vai. - Suga respondeu rindo ironicamente para ela antes de descer do carro.
Jungkook estava rodeado de policiais e advogados de dentro de uma casa simples, ouvindo regras sobre a proteção à testemunha, porém quando Suga entrou no lugar apertado e abafado, seu coração disparou e tudo que ele conseguia fazer agora, era encarar ferozmente o mais velho.
Ele tinha consciência de que Suga tentou matá-lo, mas seu coração não tava nem aí para isso, tudo que ele queria era abraçá-lo e desabar em seu colo, mas Suga não parecia querer o mesmo que ele.
- Você entenderam as regras? - Naomi perguntou olhando Jungkook com desdém. Ela não entendia o porquê de tanta confusão por um garoto magricela e sem graça como aquele.
Tanto Suga quanto Jungkook concordaram com a cabeça para a pergunta de Naomi, mas nenhum dos dois estavam realmente escutando.
Os dois entraram na SUV do estacionamento. Tinham três carros idênticos, com a mesma placa e peso. Os três seguiram caminhos distintos, para se caso estivessem seguindo Jungkook, eles os despistassem antes de chegar na casa.
Uma hora depois, eles já estavam num hotel barato no meio da estrada, passariam a noite lá e depois seguiriam para a casa protegida que a operação chamava de “ponto cego” , toda vez que se referiam a ela.
Suga e Jungkook ficavam sozinhos dentro do quarto, enquanto três policiais guardavam o perímetro, esse era o procedimento.
Jungkook levantou o olhar da tv, encarando Suga saindo do banho com uma toalha amarrada na cintura.
-Você perdeu peso. - Jungkook falou, olhando algumas cicatrizes novas no peitoral de Suga, provavelmente feito por ele na última vez em que se viram.
- E você continua o garoto perfeito, agora não me enche o saco e vai tomar banho. - Suga resmungou fazendo Jungkook pular da cama e ir direto para o banheiro.
O garoto costumava ser tão teimoso, desobedecia a tudo que Suga falava, agora ele simplesmente fazia ao que lhe era ordenado e Suga não entendia o porquê daquela mudança repentina. Não que ele estivesse reclamando.
- Eu sei que você provavelmente não quer me escutar. - Jungkook começou quando estavam comendo sanduíches na mesa de montar do quarto de hotel.
- Ainda bem que sabe. - Suga falou de boca cheia enquanto comia as batatas secas da cestinha com um guardanapo quadriculado de vermelho e branco dentro.
Jungkook revirou os olhos mordendo seu sanduíche antes de continuar.
- Eu só queria dizer que realmente sinto muito pela sua missão, por Dahyun. Acho que nunca parei pra pensar o que realmente transportava ilegalmente. - Jungkook tomou sua Coca pensativo. - Eu sei o que armas fazem, mas nunca pensei que machucariam pessoas a quem eu tenho um carinho enorme.
- Eu fui visitar Park Ji-Hyu na prisão. - Suga disse jogando um guardanapo amassado em seu prato depois de ter limpado a boca, suja de gordura e sal.
Jungkook parou com o lanche no meio do caminho, mas fingiu não ter ouvido nada depois que se recuperou do choque.
- Ele me contou tudo. - Suga tentou mais uma vez.
- Aposto que contou. - Jungkook jogou seu lanche no prato, se levantando da mesa.
Suga segurou seu braço, para que ele parasse e ele assim o fez.
- Eu entendo as circunstâncias, você era uma criança e tentou fazer o melhor com o que tinha.
- Não, você não entende. - Jungkook disse entre dentes soltando a força do aperto de Suga. - Ninguém nunca entendeu. - ele resmungou indo na direção do banheiro.
Os dois estavam deitados em suas camas de solteiro. Suga já tinha apagado as luzes, mas nenhum dos dois conseguia dormir.
Havia um silêncio confortável enquanto eles encaravam o teto, que mudava de cor à medida que carros entravam no estacionamento em frente ao hotel.
- Por que não me matou aquele dia? - Jungkook perguntou pensativo.
Suga fechou os olhos, a respiração controlada, apesar do nervosismo de ter Jungkook ali tão próximo.
- Não tinha bala na arma. - Suga respondeu automático.
- Mas, se tivesse…
- Se tivesse eu estaria morto. - Suga o interrompeu.
Jungkook suspirou, os olhos enchendo de lágrimas pela milésima vez nos últimos meses.
- Porque quis se machucar por minha causa? - Jungkook perguntou chateado.
Suga riu baixo, grave e debochado.
- Sua causa? Você não entende não é ? Eu não ia enfiar uma bala na minha cabeça por você Jungkook. Eu não te matei porque queria que sofresse, queria que soubesse como é ver alguém que você ama morrer em seus braços. Queria que sofresse tanto quanto eu sofri.
Jungkook sentiu um gelo percorrer sua espinha, sua mente se recusava a raciocinar, apesar de não ter como escapar disso.
Antes que pudesse controlar, ele começou a chorar vergonhosamente alto e sem controle. Seus olhos estavam embaçados, suas mãos delicadas apertavam com força a cabeça.
Suga saiu às pressas da cama e o abraçou. Jungkook não queria o abraço, empurrando Suga com toda sua força, mas o mais velho conseguiu se manter firme junto a ele, até que Jungkook finalmente se entregasse, chorando ininterruptamente nos ombros de Suga até finalmente dormir.
Na manhã seguinte nenhum dos dois queriam falar sobre o assunto, nem o fato de Jungkook ter chorado como uma criança, nem de Suga ter dormido abraçado com ele na cama até ambos pegarem no sono.
- Eu acho que devia te contar tudo que eu sei, caso eles me achem antes do julgamento e sabe, me matem. - Jungkook enfiou um pedaço enorme de pão na boca enquanto assistia Suga colocar a arma na cintura e pendurar o distintivo por cima da camiseta lisa preta.
- Para de me olhar assim. - Suga resmungou sem humor para Jungkook.
- Acho foda pra caralho você se trocando. - Jungkook disse inconsequente fazendo Suga olhar o mais novo com a boca aberta e os olhos arregalados.
- Por que tá falando essa merda agora? - Suga explodiu.
- Principalmente quando tá armado, fica sexy. - Jungkook continuou, sorrindo largo para a cara emburrada de Suga.
- Cala a boca.
- Me beija. - Jungkook pediu travesso.
- Jungkook.
- Suga?
O mais velho se aproximou lentamente, deixando Jungkook numa expectativa torturante. Seu indicador levantou o queixo do mais novo para ter acesso a sua boca enquanto inclinava o corpo na sua direção. Jungkook entreabriu os lábios e fechou os olhos lentamente, a respiração falha pela ansiedade, porém Suga beijou apenas sua testa, roubando o suco de laranja no processo.
- Eih. Meu suco. É meu - Jungkook reclamou ao ver seu copo indo na direção da boca de Suga.
Jungkook nunca sentiu tanta inveja de um copo antes. Eles estavam há tantos meses separados. Jungkook sentia falta do toque e do cheiro do mais velho desesperadamente.
Ele o desejava como só um viciado seria capaz de desejar.
- Queria que não fosse tão fácil sorrir para você. - Suga disse quando devolveu o copo vazio na mesa, acariciando a bochecha do mais novo e assistindo ela se tornar rosada com seu toque.
Ele estava prestes a ir contra todos seus julgamentos e se aproximar para beijar aqueles lábios convidativos do menor quando três batidas na porta os fizeram pular tensos e assustados.
- Precisamos ir. - O policial do turno avisou através da porta.
- Dez minutos. - Foi a resposta de Suga.
O clima naquele quarto tinha ficado tão tenso e estático que agora parecia claustrofóbico.
Suga se afastou de Jungkook, mesmo depois de ver sua feição empolgada se tornar desanimada.
- Vai escovar os dentes. - Suga mandou enquanto juntava todo resto de comida que eles consumiram numa sacola de lixo.
Suga sentia os dedos que tocaram o mais novo dormentes, sua mente o estapeava por ter tratado o garoto tão mal sem se importar se era merecido ou não. Seu corpo implorava de formas diferentes por Jungkook.
- Merda. - Suga xingou largando as coisas que tentava botar em ordem para correr até o banheiro.
Ele abriu a porta de maneira brusca encontrando Jungkook com os olhos vermelhos e irritados, se encarando no espelho pequeno à frente.
Os dois se entreolharam através do espelho, seus olhos transmitiam o que eles queriam sendo massacrado pelo que não podiam aceitar.
Suga fechou a porta, dando vazão para Jungkook virar, se apoiando na pia com as duas mãos.
- Suga eu…
Suga deu apenas um passo e uma de suas mãos já estava entre os cabelos de Jungkook, seus lábios se encontraram num beijo carinhoso, porém desesperado.
Jungkook gemeu nos lábios de Suga ao sentir seu gosto, o mais velho respondeu com um mordida em seu lábio inferior.
De uma coisa Suga tinha certeza, ele amava Jungkook tanto quanto o odiava. Já Jungkook amava Suga tanto quanto sabia que ele o queria morto ou sofrendo como ele sofreu.
Ambos não tinham ideia de como lidar com uma situação desse tipo, mas não era algo que os dois descobririam da noite para o dia de qualquer forma, então nesse meio tempo, tudo que eles tinham era um ao outro.
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