Dog Days Are Just Beginning

 Suga pegou uma caneca de café e foi até os fundos da casa, seguindo o som de gritarias e assobios escandalosos às 5h da manhã.

Ele ainda não tinha notado que o quintal fazia uma curva para esquerda onde os meninos estavam aglomerados.

-O que tá acontecendo aqui? - Suga perguntou para RM que se mantinha a uma distância segura dos demais.

- JK fez uma aposta com o Tae de quem consegue completar três voltas na piscina em menos tempo. - RM respondeu preocupado com a brincadeira, eles poderiam ficar doentes, estava escuro ainda e o vento gelado cortava seus rostos como fios de nylon.

Jungkook e V estavam jogando água para todos os lados, desesperados para vencer aquela aposta inútil, enquanto Suga encarava a água escura com bastante indignação.

-Por que parece que vai matar o primeiro que cruzar seu caminho? - RM perguntou ao notar a carranca que o menor fazia.

- Ninguém me falou que tinha uma piscina na casa.

- Você não gosta de piscinas?

- Eu não gosto de ter que limpá-las.

Os dois ficaram em silêncio olhando para piscina pensativos.

-Precisamos conversar.

- Sobre?

- Sobre o motivo de você ter me evitado nos últimos dias.

- Estranho, na minha versão dos eventos dos últimos dias, isso não acontecia. Será que estamos vivendo em algum vórtex, um buraco de minhoca ou coisa assim?

- Suga, é sério.

- Eu estou falando sério.

RM ficou em silêncio ao lado de Suga que estava começando a se incomodar com a situação.

-Ok. Desculpa, acho que não sou tão fácil de perdoar quanto achei que era.

RM travou a mandíbula, os olhos eram neutros, mas Suga quase podia sentir a tempestade por trás de sua íris.

-Eu não devia ter mentido, mas também não podia falar, quase como o que está acontecendo agora entre você e Jungkook.

Suga semicerrou os olhos, os cílios se movimentando lentamente, a boca franzida, os braços antes cruzados para se proteger do vento cortante agora estavam em punhos ao lado do corpo rígido, mas o rosto permanecia inexpressivo.

-Eu não disse para ofender, só estou dizendo que você também não fala nada para ele porque precisa manter isso em segredo e eu entendo, o que eu não entendo é o porquê você acha que comigo foi diferente.

Os dois trocaram olhares congelados, num clima ainda pior que os prováveis 09°C que devia estar do lado de fora da casa.

-Eu não quero brigar Namjoon e você provavelmente está certo, mas não coloca o nome do Jungkook em nenhuma de nossas discussões de novo.

RM olhou para as próprias mãos, confuso com a sentença de Suga.

- Essa foi a primeira vez.

- Primeira e última. - Suga bateu no ombro do maior antes de dar uma última olhada para o final do pequeno torneio de quintal deles.

- Agora se troca e vem comigo, preciso de ajuda em algo.

- Ajuda com o que?

Suga sorriu para Jungkook que o olhava em busca de aprovação assim que notou sua presença. Ele sorriu largo quando saiu da piscina, vestindo uma Boxer preta molhada deixando pouco para imaginação de Suga, os cabelos em mechas grossas caindo nos olhos.

O garoto precisava urgente de um corte de cabelo.

-Eu ganhei. - Jungkook falou, pairando perto de Suga, indeciso com o que fazer.

- Bom garoto. - Suga sacudiu a mão nos cabelos de Jungkook e se afastou para entrar na porta de vidro que tinha em direção a sala de estar.

- Não vai me dar um abraço de premiação pelo trabalho duro?

Suga virou para o mais novo que parecia desolado, um sorriso bobo no rosto, a água demarcada, escorrendo pelo seu tronco musculoso e leitoso.

-Você tá molhado, eu posso ficar doente. - Suga sorriu no final da frase ao ver o bico de Jungkook aumentar. - Vai tomar banho e se trocar, mais tarde te agradeço com algo tão duro quanto seu trabalho aqui.

A última coisa que Suga viu antes de se virar, foi o sorriso largo e infantil de Jungkook e tudo que ele queria ter feito era beijar a boca gelada e vermelha do mais novo, mas ele ia parecer apaixonado demais e seria estranho para ambos o resultado do seu afeto exposto daquela forma, pelo menos essa tinha sido sua conclusão enquanto se lamentava por não ter sentido o gosto da boca de Jungkook pela manhã.

...

-No que está pensando? - Namjoon perguntou encostado na parede do estacionamento suspenso de um shopping abandonado, ao lado de um nada bem humorado Suga.

- No porque da Naomi não ter devolvido a arma de Jimin ainda e no que ela está tramando com essa reunião de emergência. - Suga respondeu calmamente. Ele devia estar pensando nisso, ele devia estar montando estratégias para se proteger e proteger os meninos, mas tudo que passava por sua cabeça era nos lábios de Jungkook, ele só não queria falar isso em voz alta.

Porque era algo que ele jamais confessaria para RM.

-Você acha que ela está tramando algo?

Um carro parou próximo ao outro único carro do estacionamento vazio, o deles. Naomi saiu elegantemente da porta de trás, deixando dois seguranças ficarem em posição de alerta ao lado do carro enquanto ela se aproximava.

-Naomi sempre está aprontando algo. - Suga sussurrou assistindo a ruiva se aproximar deles com o ar de prepotência a cercando como uma espécie de força gravitacional.

-Ora, ora, se não são meus soldadinhos favoritos.

- Trouxe a arma? - Suga a interrompeu fazendo seu bom humor cessar, junto com o meio sorriso que ela estava prestes a dar.

- Não é assim que se fala como uma dama. - Naomi forçou um sorriso, formando uma feição assustadora que antigamente Suga acharia, no mínimo interessante.

Suga tocou no ombro de RM para se retirarem, mas voltaram às suas posições anteriores assim que Naomi tirou a arma das costas e entregou para Suga.

-Como prometido.

Suga conferiu se as balas estavam no pente, o número de série e colocou nas costas assim que teve certeza pertencer a Jimin.

-Por que nos chamou aqui? - RM perguntou depois que Suga acenou positivamente sobre a arma.

- Parece que você debandou para o lado dele. - Naomi falou para RM enquanto sorria ironicamente.

-Achei que estávamos todos do mesmo lado. - Suga respondeu no lugar e RM.

- Eu preciso de vocês.

Suga e RM se entreolharam desconfiados.

-O que quer dizer ?

Naomi deu de ombros.

-Preciso de vocês numa missão de busca e apreensão.

- Quê? Não. Não. - Suga passou a mão nos cabelos, demonstrando seu nervosismo pela primeira vez. - Nós já estamos numa missão é só aconteceu de ser uma disfarçada, não podemos correr para te socorrer toda vez que precisar de nós Naomi.

- A inteligência tem informações de que isso pode estar relacionado com a venda de armas ilegais na qual vocês estão investigando. - Naomi colocou as mãos na cintura e puxou o ar para os pulmões tentando não perder sua postura diante de Suga, ele a amedrontava.

- E cadê essas informações? - RM perguntou tão calmo como antes.

Naomi entregou o dossiê com as informações que eles precisavam para ligar ambas investigações.

Suga esperou RM terminar de folhear os papéis e acenar em conformidade para ele continuar a conversa.

-Quando?

-Essas noite.

Suga pegou o dossiê nas mãos enquanto RM discutia sobre a falta de preparação para a batida com Naomi.

Ele entrou em uma nuvem de sentimentos confusos assim que leu do que se tratava o lugar. Era uma mansão onde caras poderosos iam para se divertir e comprar mercadorias ilegais. Naomi tinha razão sobre as armas baterem com as que tinham sumido do container do exército, que desapareceu sem deixar vestígios na Autoridade Portuária de Nova Iorque em plena luz do dia no mês retrasado. No canto esquerdo tinha um gráfico mostrando a coincidência de horários e confusão de memorando em relação a Golden Closets Entertainment que aconteceu de estar no mesmo lugar e horário do desaparecimento. Porém fora a mera coincidência de eventos, não existia prova consistente que os ligavam ao crime, não era suficiente para um mandado de busca, apreensão ou algo assim e era aí que vinha o grande motivo para Suga e RM estarem infiltrados na companhia.

-Yoongi eu preciso de você para liberar o caminho, acha que consegue? - Naomi perguntou indecisa.

Quando alguém dizia que precisava de um atirador de elite para liberar caminho, significa deixar uma trilha de cadáveres para que a equipe pudesse entrar sem mais perdas e Suga odiava o fato de que não passava de um assassino quando estava em campo hostil, mas ele era bom no que fazia e era por isso que nunca conseguia escapar desse tipo de missão.

Às vezes quando soldados voltavam para casa, eles criavam essa falsa realidade de que estavam livres da guerra, mas a guerra nunca se livra de você. A única diferença é que na cidade tudo é um pouco mais escondido, mascarado, com menos areia e uma diferente vegetação, mas ainda assim, guerra é guerra e não importava para onde Suga ia, parece que ela insistia em persegui-lo.

-Se preocupa com o seu trabalho que eu me preocupo com o meu. - Suga respondeu quando viu que ela não iria embora sem uma resposta dele.

-Ok então, vejo vocês no galpão onde nos reuniremos antes da batida, a equipe de informações enviará os dados.

Naomi saiu pisoteando com seus bons quinze centímetros de salto em direção ao carro que já tinha seu motor ligado a sua espera.

-Acha que podemos confiar nela? - RM perguntou assim que o carro virou a esquina, descendo em espiral até a avenida abaixo deles.

- Nunca confie em ninguém, principalmente nela. - Suga respondeu indo em direção ao carro deles. - Preciso que faça algo por mim durante a batida.

- Só me falar o que precisa.

- Não responda tão rápido, é totalmente ilegal e você vai estar sozinho, o que significa que se algo acontecer com você, não estarei por perto pra te proteger.

Os dois entraram no carro pegando o mesmo trajeto do carro anterior.

-Só me falar o que precisa.

Suga sorriu acenando positivamente com a cabeça enquanto analisava o dossiê, agora com calma e minuciosamente.

...

Suga estava deitado na cama ouvindo Epik High quando seu telefone começou a vibrar no criado mudo.

-Estou de folga, então não perturbe. - Suga falou assim que atendeu.

- Preciso de um favor. - RM falou em resposta.

Suga bufou um não baixo, mas RM não pareceu ter ouvido, pois continuou mesmo assim.

-Preciso que me cubra no evento de hoje a noite.

Suga sentou de abrupto na cama, a testa franzida.

-Evento?

- Sim. Jungkook não comentou nada?

Suga negou com a cabeça, mas respondeu um "Não" logo em seguida, quando lembrou que RM estava no telefone e não podia vê-lo.

-É mais um evento de fotos? - Suga tentou parecer descontraído e desinteressado, mas não tinha certeza se conseguiu esconder sua preocupação.

-É algo do tipo. Você acha que consegue então?

- Claro. Claro. - Suga estava distraído, pensando no quanto realmente tinha sido estranho ganhar uma folga fora da escala e de última hora.

Originalmente ele pensou ser por causa do excesso de horas extras, mas agora parecia fora do comum ou talvez fosse sua neurose falando mais alto que a racionalidade.

Ele desligou o telefone e tentou ligar várias vezes para Jungkook, mas sua ligação foi direto para caixa postal, ele precisava colocar sua cabeça na missão que faria mais tarde e não no seu caso amoroso complicado, então achou melhor não insistir.

...

-Tem certeza que esse é o melhor para Suga e Jungkook? - RM perguntou confuso assim que desligou a ligação com Suga.

- É um tiro no escuro, mas talvez isso faça Jungkook desistir dessa loucura de casamento por aparências. - Jin respondeu abraçando RM pela cintura nua do mais novo.

Os dois estavam na cama, seus corpos estavam quentes, ele dormiram juntos a tarde toda e Jin não podia estar mais feliz com isso.

RM abraçou Jin, acariciando seus cabelos loiros que caíam em mechas macias pelo seu peito.

-Você acha que eles já estão nesse ponto? Quero dizer, Jungkook faria qualquer coisa pelo pai, você acha que o relacionamento com Suga mudou alguma coisa?

Jin deu de ombros, os olhos vagando através das cortinas agitadas pelo vento que a janela entreaberta deixava entrar.

-Sinceramente eu espero que essa paixão seja o suficiente, caso contrário, Jungkook vai cometer a maior burrada da vida dele.

Os dois ficaram em silêncio, deixando a ideia pesada corroer suas mentes enquanto confiavam cegamente que Suga poderia ajudá-los de alguma forma, mas ambos conseguiam sentir o cheiro de fumaça no ar, mesmo que ainda não houvesse fogo.

...

" Alfa um e dois reportem posição".

Suga ouviu no ponto em seu ouvido enquanto RM se agachava ao seu lado com um binóculo nas mãos. Ele sentiu sua Fuzil AR-15 com visão a laser tremer no seu ombro antes de ter certeza que era RM ao seu lado.

Era sua primeira missão sem Dahyun e algo nisso o desequilibrava emocionalmente, mais do que ele estava disposto a admitir.

-Alfa um e dois em posição esperando comando. - Suga respondeu analisando o terreno com a visão ampliada pela lente da arma.

- Quem é o alfa um afinal? - RM pergunta, mostrando a troca de turno acontecendo na segurança.

A passagem de confirmação só aconteceria daqui dois minutos, o que significava que eles só tinham um minuto e trinta e oito segundos para entrar, antes de um dos seguranças notarem que tinha algo errado acontecendo e acionar alerta de invasão.

-Quando entrarmos, mantenha o comunicador livre e confirme pelo celular caso tenha problemas, eu vou até você.

RM confirmou, mesmo sabendo que jamais pediria ajuda para Suga, ele não poderia pôr ambas as vidas em risco afinal, só a sua já era o suficiente.

Suga soltou um xingamento baixo, alongando seu ombro deslocado que apoiava a arma de quase cinco quilos.

-Fala sério, você estava com saudade da atividade em campo. - RM riu quando Suga continuou xingando, só que dessa vez seu colega ao invés do braço.

" Alfa um e dois permissão para se aproximar".

-Essa é a nossa deixa.

Suga apontou com a mão livre para RM pegar a sua direita enquanto ele atirava nos seguranças que estavam no telhado.

Ele tinha que atirar para matar, infelizmente. E isso o corroeria em seus sonhos perturbados mais tarde, porém agora, tudo que ele tinha em mente era a agitação da sua adrenalina acelerando por suas veias, os dedos ágeis e as pernas rígidas no chão. Os seguranças inimigos caíam como bonecos de panos, moles e sem vida, conforme Suga atirava com seu calibre de longo alcance a uma distância ridiculamente próxima, não era uma luta justa e eles não tiveram nem chance de se defender. Suga não se importava.

Seu corpo se movia com suavidade através da grama, enquanto atravessavam o jardim colonial que dava para os fundos da grande casa de três andares pintada em um rosa desbotado. A arquitetura antiga formando uma sombra fantasmagórica em cima de seus corpos, por causa da luz fraca e escassa do lado de fora, o cheiro de flores silvestres era irritantemente forte e irritava o nariz de Suga.

Ele e RM conseguiram eliminar toda a segurança em 1:36 segundos, ele desligou o cronômetro no relógio assim que trombou com RM no ponto de encontro nos fundos da casa.

-Você entra antes que eu dê o sinal verde para a invasão, vou te dar vinte segundos de vantagem.

Suga programou o relógio para o tempo que tinha determinado.

-Isso é o máximo de brecha que eu consegui, se você se deparar com a segurança local ou com qualquer um do FBI, eu não vou poder te defender, você está por conta própria a partir de agora.

Suga viu RM analisando o lugar minuciosamente, era como se fosse possível enxergar a engrenagem em funcionamento do seu cérebro. RM era um gênio e um estrategista nato, mas noventa por cento do plano deles foi baseado em improviso e eles tiveram menos de cinco horas para planejar tudo, então a margem de erros era muito grande para que qualquer um deles se sentisse tranquilo. Tudo que eles podiam fazer era torcer para que saíssem vivos e se tivessem sorte, com o que vieram buscar.

Parece exagero, mas entrar em ambiente hostil sem parceiro para proteger sua retaguarda era mais sério do que se imagina e ambos estavam se colocando em risco naquele momento.

-Te vejo do outro lado irmão. - RM disse batendo no punho de Suga que devolveu um meio sorriso nervoso a ele.

Suga ativou o cronômetro no relógio assim que RM abriu a porta dos fundos com dois grampos e uma habilidade impressionável.

"Alfa um e dois, aguardando direcionamento"

Suga ignorou o rádio, os segundos pareciam pesados, os números não corriam da forma que parecia que deviam.

-Alfa um e dois tomando posicionamento. - Suga respondeu se aproximando da casa sozinho.

"Aguardar comando".

-Positivo.

Suga suspirou, encostando ao lado da porta por alguns segundos que pareciam uma eternidade.

Seu cronômetro zerou ao mesmo tempo que ele começou sentir seu coração bater num ritmo insano através do seu peito.

Ele apertou sua cicatriz no ombro, sentindo a dor substituir seu nervosismo, o que fez seus batimentos milagrosamente se acalmarem e sua mente clarear, foi quando ele percebeu que vinham novas ordens no rádio.

"Autorizado a invasão, considerar qualquer cidadão como hostil".

Suga abriu a porta assim que colocou seu rifle nas costas, trocando por sua Glock calibre .40 em punho. A lanterna apoiada no cano curto da arma, o indicador no gatilho.

Ele atirou em dois seguranças e estava prestes a subir as escadas em direção ao segundo andar quando notou fumaça vindo de uma porta que ele não lembrava de ter visto na planta do imóvel mais cedo durante a análise de estratégia e tática de invasão.

-Permissão para mudar de curso. - Suga falou no rádio enquanto se aproximava da porta, embaixo da escada que dava a acesso ao andar de cima.

"Permissão negada". - Naomi respondeu.

Suga ignorou a ordem de Naomi e puxou a jaqueta do FBI para abrir a porta, considerando que se aquela fumaça indicasse fogo, o trinco de metal estaria quente.

Ele pôde sentir a temperatura alta através do tecido, confirmando sua teoria, mas a porta estava trancada de qualquer forma.

Suga olhou ao seu redor, se deparando com um vaso de flores, em cima de uma mesa de madeira simples, ele sorriu com sua sorte, derramando a água do vaso numa parte da sua jaqueta para que ele conseguisse respirar por mais tempo na fumaça.

Ele correu até a porta, procurando um ponto fraco na madeira maciça, não demorando muito para encontrar e chutou a porta, a assistindo bater com força na parede assim que o trinco se rompeu.

Descartando a ideia do ato quase suicida, Suga entrou sem pensar muito no assunto, afinal ninguém incendeia um lugar que não tenha o que esconder durante uma fuga de emergência. E como se o mundo concordasse com ele, pedidos baixos de socorro seguido de uma gritaria descontrolada chegou aos seus ouvidos, o guiando até uma segunda porta, ainda mais frágil que a primeira.

Assim que Suga arrombou a segunda porta várias crianças com poucas roupas e um estado deplorável o encararam em um silêncio desesperado.

-Não se aproxima. - Alguém gritou para ele chamando sua atenção.

Um dos guardas segurava um garoto de uns oito anos pelos cabelos. Ele tinha lágrimas secas limpando o rosto preto da fumaça, o cano de uma espingarda apoiada na sua têmpora, seu olhar era vazio e não parecia que se importava se estaria vivo ou se morto nos próximos minutos, toda atenção do menor estava voltada para um canto específico do pequeno cômodo para onde Suga não podia olhar agora.

-Solta o garoto. - Suga ordenou, a voz baixa e rouca por causa de toda fumaça que vinha ingerindo até agora.

- Dê mais um passo e eu mato ele.

-Vocês sabem como sair daqui? - Suga perguntou ignorando a ameaça do homem armado, mas não o subestimou em nenhum momento.

Suga levantou a arma em sinal de desistência enquanto se afastava da porta.

-Vão. - ele sussurrou e as crianças começaram a correr desesperadas porta a fora.

O homem na frente de Suga apertou sua vítima ainda mais forte, olhando assustado para onde as crianças desapareciam.

-A casa foi invadida, acabou pra você. Por que não deixa a criança ir e eu prometo que te deixo sair com vida. - Suga falou ainda com a arma apontada para cima, apesar do dedo no gatilho.

- Deixa eu passar com ele e eu não te mato. - O homem falou, fazendo Suga sorrir.

- Sua arma está apontada para a cabeça da criança e a minha para o teto, podemos fingir que estamos no velho oeste e ver quem atira primeiro, mas nós dois sabemos que sou eu, então porque não aproveita a oportunidade que estou te dando e foge?

Suga calculou o ângulo da bala. Era a regra número um que qualquer Sniper aprendia em seu primeiro dia de treinamento. Como eliminar um hostil carregando uma vítima, o problema de atirar em alguém que tem sua arma apontada para uma vítima, é que mesmo depois que ele morre o gatilho pode ser disparado, seja por reflexo nervoso ou um simples espasmo, resposta automática do corpo. Então nesses casos ou você atira para matar ou não atira.

E a mira tem que ser perfeita, pois você precisa acertar exatamente no cerebelo do atirador, que é a parte responsável pela coordenação motora do ser humano, se você atirar ali a pessoa vai cair feito geleia no chão imediatamente, pois todos seus movimentos motores são desarmados. O único problema é que fica na parte de trás da cabeça, um pouco acima da nuca. Se o atirador está numa posição alta é mais fácil, é só ele atirar no centro da testa um tiro limpo e angulado, a bala vai atingir na testa e ter sua saída exatamente acima da nuca e em direção ao chão, mas atirar da própria altura era um risco e a fumaça estava começando a prejudicar sua visão.

-Eu vou atirar no moleque e tentar a sorte então. - O homem falou sorrindo.

-Solta o garoto e eu não te mato. - Suga repetiu, vendo o guarda agora desesperado e confuso o obedecer.

Os próximos átimos de segundos foram mais reacionários do que qualquer outra coisa. Ambos levantaram suas armas e atiraram, Suga levou um tiro no seu ombro esquerdo, rasgando sua jaqueta de uniforme, o sangue quente e pegajoso começou a descer pelo seu braço, pingando lentamente por seus dedos até o chão. O outro atirador não teve tanta sorte, ele estava caído do outro lado do cômodo, com um tiro no olho esquerdo.

O menino tremia, os olhos negros e grandes encaravam Suga, assustado e paralisado.

-Você está machucado? - Suga perguntou tirando a jaqueta para entregar para o garoto.

O menino deu passos bruscos para trás, tropeçando e caindo no chão.

Suga ergueu as mãos e parou de tentar aproximação.

A madeira que estrutura o teto rangia ameaçadoramente, eles não tinham muito tempo.

-Coloca a parte úmida do casaco no rosto e vai, não temos muito tempo, eu não vou te tocar. - Suga jogou o casaco na direção do garoto que pegou no ar ainda um pouco aturdido e amedrontado.

- Se eles me pegarem...

- Eles não vão te pegar, vou estar logo atrás. - Suga disse o encorajando.

- Eu não confio na polícia. - O garoto disse empinando o nariz.

-Eu também não. - Suga quis sorrir mesmo diante de uma situação tão inapropriada.

Ele não tentar mais apressar as coisas, guardando a arma e olhando dentro dos olhos da criança.

-Meu nome é Min Yoongi, mas meus amigos me chamam de Suga. - ele falou como se tivessem numa conversa casual no meio de uma praça e não prestes a serem soterrados por madeira e cimento.

-Lucas. - O garoto falou com a voz falhada olhando ainda desconfiado para Suga.

-Ok Lucas, se você confiar um pouco em mim, podemos sair vivos dessa. O que me diz? - Suga perguntou agachando para ficar na altura do garoto.

Lucas pareceu pensar sem pressa em um assunto enquanto mordia a boca incessantemente.

- O senhor pode salvar Yeontan também?

Suga confirmou com a cabeça, agora sim um pouco desesperado para sair dali.

RM entrou de abrupto no porão, olhando assustado para a cena.

-Lucas, esse é meu amigo Namjoon, você pode chamá-lo de RM.

Lucas olhou curioso para o homem alto que entrava pela porta.

-Precisamos ir.

-Você pode acompanhar meu amigo enquanto salvo Yeontan? - Suga perguntou vendo o garoto negar com a cabeça.

- Eu posso pegá-lo se quiser. - RM falou, imaginando ser um ursinho ou algo assim, já que não havia mais nenhuma outra criança no local.

- Ele tá ali. - Lucas apontou para um espaço vazio no canto do quarto minúsculo, até onde eles sabiam o garoto podia estar alucinando, mas ninguém iria contradizê-lo agora.

- Vem comigo, o RM vai salvar seu amigo.

Lucas foi até Suga correndo, pegando na sua mão, algo que o surpreendeu, mas não teve muito tempo para apreciar.

Lucas colocou a jaqueta molhada no nariz enquanto Suga o pegava no colo e protegia seu rosto, o escondendo no vão entre seu ombro.

Os três degraus de madeira por onde desceu estavam quase desmanchando, mas Suga não pensou muito, subindo as pressas pela madeira craquelando sob seu peso.

...

Duas horas depois da batida, metade dos convidados que estavam lá naquela noite foram liberados por fiança.

Acontece que era uma casa noturna, onde eram feitos jogos ilegais e serviços sexuais com menores de idade. Suga entendeu o porquê de Lucas ter agido do jeito que agiu, aparentemente uma parte das crianças eram vendidas como escravas e a outra trabalhavam na casa noturna, eles ficavam em correntes no porão, mas naquela noite o cara que Suga matou tinha liberado todos eles, ninguém teve a chance de descobrir o porquê.

-Você tá bem? - RM perguntou encostando no capô do carro ao lado de fora da delegacia central de Manhattan, do lado de Suga que tinha entre os dedos, um cigarro queimando com ajuda do vento incessante de começo de noite.

- Depende. Você conseguiu o que precisávamos?

RM pediu o cigarro nas mãos de Suga, que o entregou distraído.

-Tenho que analisar, mas acho que consegui o que precisávamos.

Suga concordou com a cabeça.

-Onde podemos guardar isso?

-Taehyung comentou que tem um porão na casa, podemos reunir as evidências lá.

- Onde todos que não podem ver ficam transitando durante o dia?

Suga deu de ombros.

-Esconder à vista de todos é sempre uma boa estratégia.

RM jogou o cigarro para apagá-lo quando uma mulher bem arrumada, os cabelos loiros preso firmemente num coque, alguns fios caindo pela lateral do rosto, o óculos arredondado aumentando seus olhos de um jeito estranho, o jaleco aberto mostrando um terno cinza e comportado, se aproximou deles.

-Detetive, sou a Dra. Gonzales, psicanalista encarregada do caso com os menores. Precisamos do senhor com urgência, o garoto que resgatou por último não está se comportando bem.

Suga enrugou a testa.

-É normal para vítimas de abuso se apegarem à pessoa que a salva.

- Como assim? - Suga se levantou do capô do carro, se sentindo desconfortável.

- É chamado de Síndrome de Clèrambault , consiste na convicção delirante, por parte do paciente, de que alguém de posição social mais elevada é responsável por ele. Não dura muito, você só precisa passar essa confiança para mim para que eu possa tratá-lo, ele é o único que parece responder a sinais de comunicação, as outras crianças precisarão de um tempo maior de tratamento e a Detetive St. Claire está impaciente por respostas.

Suga revirou os olhos.

-Naomi está sempre impaciente.

- Eu vi que você deu sua jaqueta para ele, sua voz e seu cheiro vai acalmá-lo por enquanto.

- Você fala como se ele fosse um animal hostil Dra...

- Malia, pode me chamar de Malia.

- Ok. Malia, você vai tratá-lo como se ele fosse hostil?

A mulher deu de ombros.

-Na verdade, o tratamento é bem similar para vítimas de abuso, posso te explicar melhor no caminho. Você vem?

Suga soltou o ar que segurava, pensativo.

-Me dê alguns minutos.

A mulher acenou em concordância e se retirou.

Suga pegou o celular, ligando para Jungkook, chamou três vezes até o mais novo atender.

"Senti sua falta".

Suga sorriu com aquilo.

" Você já tá vindo?"

"Na verdade é por isso que estou ligando".

"Suga oppa, por favor não cancela comigo". - Jungkook suspirou audivelmente através da linha. " Você prometeu me mostrar algo da sua vida e eu preciso de você".

Suga se segurou para não derreter com aquela afirmação tão aberta para ele.

"Eu sei baby, mas teremos outras oportunidades, eu realmente não posso te ver agora, talvez mais tarde?"

Suga aguardou Jungkook responder, mas a linha estava muda.

"Tenho compromisso mais tarde e preciso desligar, depois nos falamos". - Jungkook desligou o celular deixando Suga confuso do outro lado.

-Tá tudo bem? - RM perguntou depois de ver a cara de Suga.

- Jungkook. Eu prometi que levaria ele num lugar, mas não posso agora.

RM concordou em silêncio.

-A ideia era estúpida na verdade, hoje é aniversário de Dahyun e eu pensei...

- Você pensou? - RM perguntou o interrompendo ao mesmo tempo que encostava a mão no peitoral de Suga.

Suga levantou a sobrancelha para a mão de RM que foi afastada quase que imediatamente.

-Suga essa ideia foi sua, tem certeza?

Suga deu de ombros.

-Foi. - ele pensou um pouco sobre o assunto.

- Na verdade, Jimin achou que seria uma boa...

- Não. - RM negou várias vezes com a cabeça. - Essa é a última coisa que Jungkook apreciaria. Jimin está jogando com você.

Suga sentiu o coração acelerar.

-Tem certeza?

RM concordou com pesar, por seu amigo quase ter sido feito de bobo.

-Caralho, eu juro por Deus! O joguinho desses dois um dia vai acabar dando em merda de verdade.

- É um milagre não ter dado ainda. - RM concordou. - Bom, de qualquer forma, preciso ir. Tenho que levar o cachorro no veterinário.

- Cachorro?

- Acontece que Yeontan realmente existe, os bombeiros colocaram um soro IV nele, mas vai precisar de um veterinário. O cachorro ficava escondido em uma porta onde as crianças usavam um pinico de banheiro, não sei se ele vai sobreviver, parece desnutrido e imundo e não latiu ou chorou nenhuma vez quando o carreguei para fora da casa.

Suga concordou com a cabeça.

-Para onde ele vai depois que for tratado?

- Não sei, algum canil eu acho. Tem alguma outra ideia em mente? - RM perguntou curioso.

-Casa. Da meu número como contato próximo e depois leva o animal para casa.

- Tem certeza?

Suga concordou distraído e entrou na delegacia em seguida.

Naomi veio a passos largos pelo corredor assim que avistou Suga.

-Você desobedeceu ordens expressas minhas, se não tivesse encontrado aqueles ranhentos pra salvar você estaria encrencado na minha mão. - Naomi falou batendo o indicador no peito de Suga.

- Não encosta em mim. - Suga falou, a voz baixa e rouca, os olhos assustadoramente serenos.

Naomi se retraiu, vendo Suga passar por ela sem dizer mais nenhuma palavra, desaparecendo pelo corredor.

...

-Lucas. Lembra de mim? - Suga perguntou assim que entrou numa sala de interrogatório infantil.

O garoto estava desenhando numa mesa para crianças, havia alguns papéis jogados pela mesa repleta de giz de cera e lápis de colorir.

-Suga. - O pequeno sussurrou levantando o olhar para encarar o maior.

A criança era muito menor que Suga tinha na memória, ele estava tão magro, mas ainda assim tinha o rosto arredondado, seus dedos longos rabiscavam linhas desconexas, seus olhos grandes e perdidos viajavam no papel como se ele não estivesse realmente ali, há não ser quando Suga falava, então toda sua atenção se voltava para o detetive.

-A Malia disse que você ficaria comigo. - Lucas falou um pouco indeciso, seus dedos passaram a apertar a jaqueta suja que tinha no colo. Suga reconheceu ser a que ele havia dado para o mais novo cobrir o rosto da fumaça.

- Eu vou ficar o quanto precisar, mas você precisa comer, tomar banho, dormir e então eu posso voltar e ficar com você. - Suga falou, sua voz era doce e gentil, apesar de um pouco rouca e arranhada pela fumaça de mais cedo.

- Não pode ficar pra sempre? - Lucas perguntou olhando dentro dos olhos de Suga, como se pudesse ver sua alma por completo.

Suga tossiu um pouco desconcertado com a vulnerabilidade que sentia, mas se recompôs rapidamente.

-Não posso ficar pra sempre.

O garoto encheu os olhos de lágrima, a jaqueta apertada entre seus dedos magros, ele parecia tão quebrável. Seu corpo tinha roxos por toda parte, o casaco de lã que alguém provavelmente tinha fornecido quando ele chegou na delegacia, estava caído em um dos ombros, mostrando marcas de mordidas cicatrizadas entre suas axilas.

-Se você conversar com a Dra. Malia, tomar banho e comer, eu prometo que venho te fazer companhia pela manhã.

- Não quero que vá embora. - Lucas limpou o nariz que escorria, com as costas da mão, acariciando a jaqueta em seguida, os olhos baixos e um bico chateado nos lábios.

- Yeontan foi pro médico também.

O garoto arregalou os olhos para Suga, quase pulando da cadeira em expectativa.

-Ele foi?

Suga concordou com um sorriso no rosto.

-E ele está tomando banho e depois vai comer, assim como você. Certo?

Lucas concorda veementemente.

-Posso ver Yeontan?

Suga negou.

-Só se fizer o que eu pedi.

Lucas pareceu pensar na ideia com seriedade.

-Não gosto de banho. - ele deu de ombros.

- Por que não?

Ele se aproximou, os olhos correndo através da sala, como se soubesse que estavam sendo observados.

-Eles ficam me olhando lá também. - Lucas sussurrou no ouvido de Suga, cobrindo sua voz com a pequena mão em concha.

Suga sentiu um arrepio subir por sua espinha,o deixando enjoado.

-Eles não vão tocar em você. - Suga se afastou para encarar o garoto que agora chorava livremente. - Nunca mais.

Lucas limpou as bochechas sujas de fumaça preta, borrando todo seu rosto, os cachos negros caindo nos olhos conforme se agitava para voltar para o lugar onde estava antes, os olhos pretos brilhando de forma anormal por causa das lágrimas.

-Promete?

Suga concordou com a cabeça.

-Prometo.

Suga assistiu por um tempo Lucas voltar a desenhar nas folhas amassadas que tinha à sua frente. Ele não fazia ideia de quanto tempo passou, mas eventualmente a porta foi aberta e a Dra. Gonzales trouxe um prato de comida leve para o garoto que tentou disfarçar o melhor que pôde, mas estava faminto.

...

Suga ficou um tempo indeterminado no banho, o sangue seco que tinha da ferida em seu ombro, agora com cinco pontos, desciam por seu braço rígido e dolorido. A água teve tons diferenciados até se tornar leitosa por causa do sabonete de camomila que Suga usava.

Ele precisava se apressar para cobrir o turno de RM no evento que Jungkook tentou mantê-lo afastado e ele estava curioso para saber o porquê, definitivamente estava, mas vez ou outra sua mente se transportava para a criança em pé diante dele, os olhos mortos, nenhum medo aparente, uma arma apontada para sua cabeça, mãos esmagando seu braço. Suga pensava onde estava o limite em que aquela criança ultrapassou para que não houvesse medo em seus olhos diante de uma situação tão inimaginável como aquela.

...

O lugar onde eles fariam a segurança era o salão de um hotel em Chelsea, chamado McKittrick Hotel. O espaço era conheço como Gallow Green por ter um domo de vidro no meio de um jardim de flores selvagens e coloridas.

Suga não precisava ouvir do que o evento se tratava, mas ouviu mesmo assim, várias vezes.

Era o noivado de Jungkook e pareceu óbvio o porque ele não queria Suga ali. Não porque ele costumava rebolar a bunda no seu pau quase todas as noites agora, ou por tomarem café da manhã juntos na cama enquanto se beijavam com gosto de café e suco de laranja, ou porque partilhavam do mesmo cheiro de camomila do sabonete que agora tinha no apartamento de Jungkook também, mas sim porque Jungkook parecia feliz.

Completamente feliz e alheio à presença do mais velho.

Suga o viu sorrir a noite toda, não educadamente ou cordialmente, mas alegre. Sim! Alegre.

Seu coração tinha batimentos engraçados e irregulares e sua pele parecia querer se romper com a rigidez da suas artérias bombeando sangue por seu corpo em uma velocidade descomunal, ainda assim Suga foi capaz de manter seu lado profissional intacto e sua tristeza indetectável sob sua inexpressiva feição.

Ele estava admirando um conjunto de lírios, distraído com seu serviço quando seu olhar cruzou com os de Jungkook. O mais novo travou no meio de uma conversa, confuso no que fazer a seguir, enquanto Suga o olhava sem nenhuma expressão no rosto.

Depois do que pareceu uma eternidade, Jungkook se aproximou do mais velho, os passos firmes, a mente confusa e o coração apertado.

-Não era pra você estar aqui. - Foi a primeira coisa que Jungkook disse, olhando com preocupação ao redor pra ver se alguém notava com quem ele conversava.

Suga baixou a cabeça, admirando os lírios mais uma vez.

-Meu pai amava lírios, ele costumava levar um buquê deles para minha mãe todos os dias e deixá-los na janela de seu quarto.

Jungkook franziu a testa, confuso com o rumo da conversa, mas se pegou admirando a flor também.

-Foi assim que ela se apaixonou por ele?

Suga negou com a cabeça, deixando um silêncio confortável rondar entre eles por um tempo.

-Minha mãe odiava meu pai, ele era pobre e pirralho. Ela precisava de alguém que fornecesse estrutura familiar para que ela saísse da casa dos seus pais, mas não perdesse as coisas que era acostumada, coisas que o dinheiro podia fornecer.

As mãos de Jungkook tremerem por um instante, a energia que atraia ele para Suga parecia queimá-lo por dentro como punição para sua resistência.

-Ele lutou por ela? - Jungkook perguntou, a voz seca, a garganta formigando.

- Ele deu lírios todos os dias, por sete anos, viu ela namorar homens ricos e bem sucedidos, viu ela ficar noiva, mas nunca deixou de dar-lhe flores. - Suga tocou uma pétala da flor. - ele costumava dizer que era por seu significado que hoje ele a têm.

- O que ela significa?

Suga levantou a cabeça, encarando Jungkook no fundo dos seus redondos e curiosos olhos.

-Te desafio a me amar.

Jungkook travou a mandíbula, os pés tremeram com o desejo de se aproximar e suas mãos foram em direção ao rosto do mais velho, mas não deu tempo de alcançá-lo.

Seu coração parecia o de um beija-flor, seu rosto estava quente, mas a boca era seca e desconfortável, ele queria dizer para Suga que faria como sua mãe, que deixaria de seguir o desejo de seu pai e correr atrás do que realmente queria. Ele.

Mas sabia que não era verdade, ele jamais faria algo assim.

-Aí está você. - Jenny gritou do meio do salão, se aproximou de Jungkook e tocando em seu antebraço carinhosamente.

- A representante da Vogue quer conversar com você sobre o noivado, ela disse que você é tão humilde conversando com o staff quando tem vários bilionários implorando sua atenção.

Jungkook sorriu carinhosamente para sua noiva e tocou em sua mão, agora coronhada pôr um anel cravejado de diamantes e um solitário no centro disputando a atenção. Suga pensou se não pesava carregá-lo.

-Nos falamos depois. - Jungkook sorriu tristemente para Suga e se afastou, deixando Jenny para trás.

- Vá embora, você não pertence aqui. - Jenny falou docemente estranhando Suga concordar várias vezes com a cabeça para a sua afirmação.

...

Ele estava sentado em uma das vigas de reforma na ponte do Brooklyn, a escuridão era iluminada pelas luzes presas nos ferros de aço que formavam arcos aleatórios, as lâmpadas tinham uma distância semelhante entre si formando um padrão que Suga olhava já há um tempo, sem um pensamento específico sobre o porquê daquilo chamar sua atenção.
A chuva começou a cair, e com ela veio uma ventania forte, capaz de sussurrar sons aleatórios em seu ouvido.

A garrafa de Whisky em sua mão tilintava conforme a areia batia no vidro com o líquido ja quase no fim, ele sabia que precisava sair dali antes que seu estado alcoólico o levasse a fazer alguma idiotice e ele acabasse machucado ou impossibilitado de descer o andaime por onde subiu.

Ele não sabia como encarar qualquer um que soubesse dele e de Jungkook. Aquele relacionamento entre eles finalmente o fez se sentir uma farsa, um imoral e vergonhosamente uma muleta sentimental para toda vez que o mais novo se sentia compelido a desagradar o pai.

Suga se sentia um idiota, aliás ele sentia a palavra marcada a ferro em sua testa e não podia culpar ninguém além de si mesmo por isso.

Suga tinha sido feito de idiota e o pior de tudo, é que ele não sabia se estava pronto para deixar de ser.

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