Capitulo I


As nuvens escuras da tempestade eram tenebrosas.

Elas tinham cores muito escuras que tiravam toda a paz que um dia habitou, em uma pessoa. Ao fechar meus olhos e prender a respiração, tentando evitá-las, suas formas de massa cinzentas adentram meus pensamentos atormentados e cenas aterrorizantes se reprisam como um velho disco arranhado.

Aos poucos, a voz do professor no outro lado da sala se tornou monótona. A chuva engrossava através da janela, e o mentor da turma perdia o interesse em dar aula. Claro, metade da sala deveria estar em sono profundo. História não era a matéria preferida dos alunos. Se eu não estivesse definhando em agonia, também estaria dormindo.

Meus dedos trêmulos tentavam brincar com meu lápis desgastado, mas ele ameaçava cair no chão. Se ele caísse eu teria que abrir os olhos. Abrir os olhos não era uma opção.

Quem sentava atrás de mim, conseguia notar meu mal-estar. Quem sentava atrás de mim e prestava atenção em minhas mãos, deveria estar rindo silenciosamente, tirando sarro de meu pequeno distúrbio de ansiedade e medo.

Não era exatamente legal ficar imaginando alguém ser agredido nos confins do mundo. E aquele não era um pensamento que eu conseguia controlar.

一 Taeh, você está bem ?

Aquele chamado tinha muito sentimento, muita preocupação. A  voz era tão tranquila e doce que me dava esperanças de sair daquele emaranhado de gritaria que se passava em minha mente.

Por alguns segundos minhas mãos pararam de se mexer. Senti lentamente, algo quente e salgado escorrer pelas minhas bochechas. Minha garganta fechou, e a voz do professor não ecoou mais pela sala.

O silêncio foi mútuo e constrangedor. Como eu queria sumir do mundo.
O bolo em minha garganta era pesado e desconfortável. Eu queria poder imitar as nuvens e chorar como uma criança. Queria poder não ligar para duas dúzias de adolescentes que ririam após meu martírio.

Eu sentia que aquela voz suave estava me chamando novamente, mas eu não… não conseguia tomar consciência para responder.  Ele soava tão, tão distante de mim e ao mesmo tempo tão, tão perto. Havia uma oscilação em minha audição. Parecia que eu estava dormindo e acordado ao mesmo tempo. Parecia que o chão sumia e aparecia simultaneamente.

一 Kim Taehyung !

Eu escancarei meus olhos.
As risadas alheias começaram.

一 Suponho que deseja ir ao banheiro lavar o rosto. 一 O professor mal me olhava.

Minha garganta estava seca. Mas minha cabeça  balançou timidamente. Meus olhos mal enxergavam, a fera do professor, por causa das lágrimas que me tomavam.

Eu havia tornado a aula um pouco mais interessante para os outros alunos. Acabei virando a atenção do momento até finalmente sumir pela porta. Mas ainda havia risadas vindo da sala.

Não. Não havia melhorado nada em minha mente. Ainda havia uma neblina densa naquela escuridão de pensamentos, ainda havia um pequeno garoto jogado no chão sendo surrado por outro. Aquele pequeno e insignificante garoto sangrava e gritava com toda sua alma, ele esperneava como um irritante bebê. E eu não podia fazer nada.

Gemidos me trouxeram a realidade.

Kwon Ji Yong fazia mais vítimas naquela manhã.

Um arrepio subiu pela minha coluna assim que avistei o cabelo ruivo de um garotinho que veio pedir ajuda a mim antes da aula.

Mais um inocente em menos de três horas.

Um ímã voltou a me puxar até o banheiro. Não ousei encarar aquela cena de espancamento. Mas lá no fundo de minha memória dois garotos ainda se espantavam. Não era o ruivo e Kwon, mas sim pessoas diferentes, pessoas cujo o barulho que faziam eram realistas demais para uma simples memória.

Aquele inútil e irritante garoto gritou.
Gritou tão alto que deu a entender que ele sabia que estava sendo observado. Mesmo que não presencialmente.

Você é o culpado de tudo.

Minhas pernas me traíram assim que tranquei o box do banheiro.

A parede do cubículo gemeu quando minhas costas encostaram nela.

Novamente as lágrimas arrancaram-me o dom da visão. E tudo que eu podia fazer era observar aquela cena repetitiva de meu cérebro.

Dois garotos. Um apanhando. Um agredindo. Um gritando. Um socando. Um sangrando. Um acusando-me…

Aquela pobre vítima não pedia mais socorro. Ela só gritava o como eu era o culpado por tudo, por todas as vítimas,
por todos os socos.

Eu não sou o culpado.

Vo-você é sim, você sabe disso melhor do que qua-qualquer um.

A cena se aproximou mais de acordo com os esperneios e cada vez mais eu conseguia ver o garoto. Cabelo castanho, roupa suja e mãos… mãos grandes… eu conhecia aquelas mãos grandes…

“Ela nunca me abandonaria.”

Meus olhos se escancararam e um soluço escapou por entre meus lábios.

Aquilo havia sido real demais. Aquele murmúrio arrastado parecia ter saído de mim. Parecia que minha voz havia
produzido aquele grunhindo.
Por um segundo havia me esquecido de que estava no banheiro.

Aquele garoto… aquele irritante garoto… era eu ?!

A porta do banheiro foi arrombada.

Kwon.

Se eu vivesse num livro, não seria o principal. Minha vida é muito desgastante, muito repetitiva e sem graça. Para ser relatado algo, cada capítulo deveria ter um intervalo de pelo menos um ano.

Jimin diria que estou exagerando.

Mas a opinião que vale aqui é minha, então ele não tem espaço para argumentação.

A chuva que caía naquela manhã continuou por um bom período da tarde e por mais que eu tentasse me distrair com a conversa de meu amigo, dois garotos se espancavam em meu pensamento…

Essa cena era algo de demasiada agonía. Sempre que eu me desconcentrava da vida e voltava a ouvir o som da chuva, aquilo voltava à tona junto.

— Taeh, por favor, olha para mim !

Eu só pisquei pois meus olhos já estavam ardendo.

— Eu sei que é angustiante ouvir esse som, mas não é como se pudéssemos evitar — Jimin se sentou mais próximo de mim.

A cama se mexeu, e essa foi a deixa para eu me segurar na vida real. A cama se mexendo, a voz de Jimin, a voz de minha mãe no andar de baixo, o som das panelas batendo, o som dos passarinhos, o som… da chuva.

Meus pelos se arrepiaram.

— Olha, lembra do que a Psicóloga disse, respire fundo e converse comigo.

Meus olhos se fecharam lentamente.

Psicóloga. Aquela psicóloga que tentava demonstrar empatia, mas não era gentil nem consigo mesma. O descontrole emocional que tinha em um simples roer de unhas… e ainda queria que eu controlasse meu medo de chuva…

A chuva estava engrossando através da janela. As pétalas das flores se retorciam com o peso das grossas gotas de água.

Eu pisquei com o suspirar de Jimin.

— Desculpe.

Queria tanto limitar minha mente à Jimin. Assim não teria problema. Mas algo nele era tão escorregadio que eu me voltava à cena que se reprisou nos cantos obscuros de minha mente nesta horrenda manhã.

— Eu… eu não consigo.

Minha voz rouca me assustou. Havia tanto tempo que eu não falava que minha garganta doeu.

Mordi a língua.

— Vamos, me diga o que sente agora ?

Ele segurou meus ombros com força, mas eu me mantive calado. Ainda não tinha forças para formar frases longas ou difíceis. Mas não contive um gemido de dor.

Apenas balancei a cabeça.

Jimin ergueu a sobrancelha.

— Está dolorido ?! Por que ?

Mudei o olhar para o chão. Meu peito estava angustiado.

Kwon pegou leve comigo hoje, mas ainda sim deixou grandes vergões roxos em meus ombros.

Novamente Jimin suspirou. Do jeito que estava conseguindo muitas respostas de mim, sua decepção se tornou visível. Ele se jogou na cama exaurido.

— Jin disse que não era para eu te deixar ficar quieto em dias de chuva — Murmurou — mas do jeito que estamos, isso se torna meio impossível.

A tristeza subia pela minha garganta como um vômito de angústia e depressão. Era estressante saber que estava causando problemas a alguém.

Jimin estava encarando o teto, provavelmente tentando descobrir alguma forma de me distrair, porém eu sentia que suas opções estavam se tornando limitadas.

— Você é complicado demais !!! — Seu tronco levantou rápido e na mesma velocidade ele me olhou com raiva.

— Meninos !

Duas batidinhas na porta foram tão suaves que quase passaram despercebidas.

Devagar a figura de minha mãe apareceu na porta e ela sorria. Aquele sorriso brilhante e perfeito iluminou um pouco o meu dia.

— O lanche está pronto — Anunciou — E seu pai ligou, Jimin — O loiro arregalou os olhos — Disse que quer você em casa logo.

Jimin se levantou rapidamente. Sua postura parecia inquieta.

— Ele voltou ? Mas disse que retornaria apenas em Julho !

Minha mãe se ajeitou diante a porta, uma cascata de negros cabelos caíram sobre os ombros, seus doces olhos vacilaram sobre meu olhar.

— Houveram imprevistos… Sua mãe está… precisando de você — Ela limpou a garganta voltando a olhá-lo nos olhos — seu pai deseja sua presença em casa.

Ele mordeu os lábios e eu me levantei para tocar seu ombro.

— Coma e vá para casa, posso te dar uma carona se desejar…

— Não precisa, tia, o Taeh precisa mais de você do que eu.

Seu pequeno sorriso tentava dar credibilidade a minha mãe. Mas ela ainda não estava completamente convencida. Mesmo assim não o pressionou.

— Vamos comer então.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top