Prólogo- A história de Alice pt.2

Enquanto estava na van, só pensava em minha família... Como as coisas mudaram assim em tão pouco tempo? A falta deles pesava o meu coração.

"Acho que você ainda não me disse seu nome" - falou a mulher,numa tentativa de me tirar dos meus próprios devaneios.

"Você também não me disse o seu" - respondi.

"Tem razão, meu nome é Yura."

"O meu é Alice. De onde você vem? É um nome.. diferente."

"Eu sou de outro país, é tão evidente assim?"

"Você tem sotaque.. O que veio fazer no Brasil?"

"Bem, eu faço parte de uma organização que faz trabalhos humanitários pelo mundo. Viemos para ajudar vocês a passar pelas dificuldades da seca."

A van parou, era a delegacia local. Yura me ajudou a descer, ela parecia legal, mas não sabia nada sobre mim e não sabia onde a mamãe estava, ela não podia me ajudar.

Os policiais fizeram várias perguntas, não paravam nunca. Uma moça de cabelo loiro e curto apareceu para falar comigo, eu estava sentada numa cadeira cinza, numa sala da mesma cor, o lugar era abafado e muito pequeno. Ela apenas disse que iriam procurar por mamãe, mas que enquanto isso, eu teria que ficarem numa casa com outras crianças que também estavam esperando suas mamães chegarem. Eu assenti.

O carro da polícia me esperava do lado de fora, Yura estava com algumas lágrimas saindo pelos olhos, acho que estava triste. Ela veio até mim e disse:
"Alice, eu prometo te tirar daquela casa."

"Não se preocupe, logo eles vão achar a mamãe e então ela me levará para casa."

Ela me deu um abraço e se despediu. A casa era marrom e parecia estar caindo aos pedaços, uma senhora de cabelos brancos e roupas simples me esperava. Os policiais deram minha mala para ela. Entrando na casa, vi várias crianças correndo, a casa tinha 2 andares, não havia banquinhos e nem redes, muito menos cavalos... Tinha uma cozinha pequena, uma sala com 2 sofás bem velhos e que cheiravam ruim. Nós subimos a escada e ela me mostrou meu quarto. Era branco, tinha duas camas e um guarda roupa. Me sentei na cama e desabei, vencida pelo cansaço.

Não sei quantos dias se passaram, pareciam uma eternidade. Eu não tinha amigos e por isso passava o dia sozinha na minha cama.
Lembro de ter visto aquela mulher loira chegar na casa, ela disse que tinha algo para conversar comigo.Ela me contou que não tinham achado mamãe, que achavam que ela podia ter morrido.Eu chorava muito enquanto ela me falava aquelas coisas, mas ela ficou impassível e só continuou.

"Alice, eu sei o quanto isso deve ser  difícil para você, mas precisamos falar sobre algumas coisas. Nós decidimos que você vai ficar com Yura, ela é uma moça muito especial que quer cuidar de você. Você voltará com ela para seu país e vocês vão viver juntas, ok?"

"Não! Eu não vou embora com ninguém, eu quero a minha mãe!"- dizia chorando.
"Eu sinto muito Alice, mas nós não achamos sua mãe é isso já foi decidido."

Depois disso tudo passou rápido, foi assim que me mudei para a "Coreia" e passei a ter uma vida totalmente nova. Os primeiros meses foram muito difíceis, eu tentava me adaptar ao lugar, mas todos falavam estranho, Yura tentava se aproximar de todo modo, mas eu ainda sentia muita falta da mamãe. Ela percebeu meu desconforto e me deu fotos da mamãe para eu poder sempre me lembrar dela.

Eu demorei a perceber que minha mãe não apareceria. Conforme o tempo foi passando, fui me conformando,aprendi a língua deles, passei a ter amigas na escola que eram de outros lugares como eu. Yura me fazia rir sempre e no meu aniversário ela me deu um cachorro, eu chamei ele de Rowler, era o nome do meu cavalo.

No final do ensino médio decidi que seria professora, eu adorava aprender e ensinar coisas novas e estava decidida a fazer faculdade de letras.

A vida foi ficando normal,eu fiz terapia por anos, mas no final eu percebi que Yura realmente se importava comigo e que apesar dela nunca tomar o lugar da minha mãe, era ela quem estaria lá para mim.


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