❐ 𝐂𝐡𝐚𝐩𝐭𝐞𝐫 𝐓𝐞𝐧 ➹
Bradshaw acordou cedo com o raiar do quinto dia dos Jogos Vorazes.
Ele olha em volta, assustado. Brad não deveria ter dormido, estava de vigia desde a meia noite, quando trocara de turno com Catheryne. Mas dormir não estava nos planos.
Bradshaw coça os olhos se levantando, dormir sentado escorado numa árvore não é algo muito confortável. Suas costas doíam, mas logo passaria.
Indo até o riacho, Brad se abaixa na margem e, com as mãos, joga água no rosto. Agora, sentindo que estava totalmente despertado, o garoto começou a analisar o acampamento improvisado.
Depois que encontraram a água, o trio atravessou para o lado dos pinheiros, já que a margem daquele lado era mais confortável. Enquanto o chão da savana era cheio de matos altos e arbustos que espetam, além do clima ser extremamente quente.
Mas, do outro lado do riacho, a grama era confortável, as árvores grossas, formando ótimos escudos naturais, e a brisa leve não parava de bater.
Não havia sinais de que outros tributos ou animais tivessem passado pelo acampamento, até porque provavelmente Bradshaw, Catheryne e Rey estivessem mortos se isso acontecesse.
Lembrando-se de suas aliadas, Brad olhou para o topo da árvore em que estava escorado. Lá estavam Cath e Rey, sentadas em alguns dos galhos mais estáveis do pinheiro, dormindo.
O garoto não ligava de ficar de guarda, nunca conseguiu dormir muito durante a noite depois da morte de seu irmão.
De repente, atraído por um barulho na água, Bradshaw se virou para a margem da savana, encontrando um pequeno cervo bebendo água. Era um filhote.
Seu primeiro pensamento foi matar o animal, já que estavam sem comida. Mas a culpa o atingiu em cheio, era um cervo pequeno, não deveria ter mais que alguns dias de vida. Apesar disso, suas necessidades falaram mais alto e ele decidiu atacar o animal.
Agindo rápido, Bradshaw sacou a faca que trazia na bainha e arremessou no cervo. A lâmina cravou numa das patas traseiras do animal, o assustando e derrubando. Enquanto cervo tentava desesperadamente fugir, Brad atravessou o riacho correndo, a água batendo nos tornozelos.
O animal conseguiu se levantar e mancou por alguns metros, mas Bradshaw foi rápido, tirando a faca da pata e a cravando na cabeça. Pronto, agora eles tinham comida. Com certa dificuldade, Bradshaw conseguiu colocar o animal ensanguentado nos ombros e o levou para o acampamento.
Depois de ter descido o cervo, o garoto percebeu que seu corpo estava cheio do sangue do animal. Indo ate a água, Brad se deitou no riacho, encarando o céu azul claro.
ㅡ O que você estaria fazendo numa situação dessa? - Indagou para si mesmo quando sentou e começou a se esfregar, limpando o sangue da pele. ㅡ Essa é a vida que você queria pra mim, Dacre? Obviamente não.
Então, se assustando, Brad escutou a voz de Catheryne.
ㅡ Tá falando sozinho?
ㅡ Não... Só perdido em pensamentos. ㅡ Cath encarava o garoto como se ele fosse louco. ㅡ Você tem irmãos?
ㅡ Tenho. São três, todas mais novas que eu. ㅡ Cath se sentou na margem, molhando as mãos e passando no rosto.
ㅡ Ah. Eu tinha um irmão mais velho, ㅡ o garoto suspirou levantando o olhar pro céu novamente ㅡ ele morreu oito anos atrás, num Jogos Vorazes.
Brad não entendia porque estava falando aquilo. Ele nunca desabafou e nem sentiu necessidade de fazer isso com alguém, sempre resolveu seus problemas e enfrentou seus demônios sozinho. Talvez fosse a atmosfera da arena que estava mexendo com ele e suas emoções.
ㅡ Eu sinto muito. ㅡ Cath se virou para a árvore no instante em que Rey desceu.
ㅡ Bom dia amigos, dormiram bem? ㅡ A garota abaixou seu olhara para o cervo jogado no chão, uma possa de sangue em volta. ㅡ Não acredito! Temos comida!
ㅡ Sim, mas precisamos limpar e guardar, se não vai encher de moscas e apodrecer. ㅡ Catheryne ficou de pé, observando o animal. ㅡ Não temos material suficiente pra isso aqui.
ㅡ Eu posso ir na Cornucópia pegar o que precisamos. - Bradshaw se levantou da água, as roupas pingando, já limpo do sangue do cervo. ㅡ Umas facas maiores e talvez uma caixa de metal, né?! Acho que vi uma dessas durante o banho de sangue!
ㅡ Cê ta doido, é?! ㅡ Rey arqueou uma das sobrancelhas. ㅡ Se for lá, é morte certa!
ㅡ Não, eu sou especialista em entrar nos lugares e sair sem ser visto. ㅡ Bradshaw sorriu envergonhado. ㅡ É uma habilidade que se ganha quando tem que roubar pra sobreviver.
Rey ficou pensativa, ela olhava fundo nos olhos de Brad. Enquanto isso, Cath retirou seu facão, que estava amarrado ao quadril, e entregou ao aliado.
ㅡ Você tem duas facas e um facão, é o máximo que vamos conseguir te dar.
Porém, Rey ainda não sabia se era uma boa ideia. Seu olhar passava de Cath para Brad e vice-versa. Por fim, ela suspirou convencida.
ㅡ Se você conseguir trazer algum controle remoto, eu agradeceria.
ㅡ Por que quer um controle remoto? ㅡ Indagou Catheryne.
ㅡ Pretendo testar algo, apenas.
Brad assentiu para a garota. Enquanto tirava a camiseta e a calça para torce-las, Cath escalou o pinheiro, pegou uma das mochilas do trio e arremessou pro garoto.
ㅡ Aproveita a viagem e trás mais comida!
ㅡ Pode deixar.
Bradshaw sorriu com o canto da boca e acenou para as garotas. Ele se virou na direção da Cornucopia e começou a andar, bastava seguir a linha da fronteira entre as vegetações que iria encontrar a pirâmide.
Não iria demorar muito, no máximo umas duas horas, contando com a caminha de ida e de volta e o assalto a Cornucopia. Ele já fizeram aquele caminho diversas vezes desde que montaram acampamento no riacho, enquanto as garotas dormiam.
Brad não conseguia dormir direito, constantemente tinha a sensação de que era observado, então passou a trocar com Cath e Rey, preferindo ficar com o turno da meia noite até o raiar do sol. Ele não precisava dormir muito, então, quando a lua iluminava o céu, ele subia no pinheiro e ficava empoleirado lá em cima, da forma mais confortável possível, e desfrutava de suas cinco ou seis horas de sono.
Mas então percebeu que ficar tanto tempo sozinho no escuro não era bom. No Distrito 3 ele ainda tinha um lugar seguro para dormir e livros roubados para ler, mas ali nem isso. A inquietação o fez passar a perambular pelos arredores, até que descobriu que, em mais ou menos uma hora, literalmente contando os minutos, Brad consegue fazer o caminho de ida e volta do acampamento até a orla da floresta com o campo aberto da pirâmide.
Perdido em seus pensamentos, Brad começou a mastigar a maçã. Ele não comia nada desde o almoço do dia anterior, quando conseguiram abater um pássaro e decidiram devora-lo inteiro já que não tinham onde guardar o resto. Mas não tinha problema, ele já estava acostumado com a fome.
Enquanto comia, sua mente se voltou para Catheryne, que, sem nem pensar duas vezes, lhe entregou o facão dela e o despachou para a Cornucopia. Era óbvio que ela estava tirando o dela da reta. Brad não confiava em Cath, muito menos em Rey, mas gostava delas, conseguia dormir sabendo que não seria morto por nenhuma das duas.
Os tributos do Distrito 3 não tendem a ser traiçoeiros e, quando são, escondem muito bem, até a hora certa chegar. Eles não matam seu aliados no início dos Jogos se ainda podem usá-los. E aquilo parecia ser exatamente o que Catheryne estava fazendo. Manipulando, mesmo que rapidamente, a situação, ela enviou Brad para uma missão provavelmente suicida.
Ou não, poderia apenas ser as vozes da cabeça de Bradshaw falando muito alto. Ele não se permitiu criar laços com nenhuma outra pessoa desde a morte do irmão, nas mãos de um traiçoeiro carreirista do Distrito 2, a quem ele confiava. Dacre acabou por ficar em quarto lugar. Desde então, Brad se isolou, evitando o contato afetivo com as pessoas, durante oito anos. E agora, depois de tanto tempo sozinho, sua mente insistia constantemente em dizer que as duas garotas só tinham um objetivo: usar Bradshaw até que não fosse mais útil e o descartar.
Ele pensou no que sabia sobre Catheryne: ela possuía três irmãs mais novas, um pai e uma mãe rígidos e severos, mas que a amavam, e uma avó gentil e carinhosa. Além disso, ela nascera em uma das famílias mais ricas só Distrito 3, e regularmente estava nas ruas do Distrito, com sua avó, fazendo trabalho voluntário e doando brinquedos e alimentos para os pobres. Ela era uma princesa de contos de fada. Por um momento, o coração de Brad pesou pensando que uma pessoa como essa poderia estar tramando para mata-lo em segredo.
Mas era bobagem. Qualquer um dentro da arena tinha o mesmo objetivo: ficar vivo. E isso significava matar, na pior das hipóteses, seus aliados.
Então, puxando o garoto de volta para o mundo real, a pirâmide apareceu, bela e imponente, a luz do luar. Na direção norte estavam as barracas dos carreiristas, montadas ao pé da pirâmide. Eram três, uma para cada distrito. No topo, ele enxergou três cabeças, mas, na distância que estava, não conseguia distinguir a quais carreiristas pertenciam. Os outros deveriam estar caçando, ele teria que ser rápido.
Se esgueirando pelos degraus, indo pelo lado oeste, Bradshaw começou a subir. Seus passos e movimentos eram silenciosos, não emitindo nenhum ruído. Mais uma herança que ele ganhou da sua vida nas ruas do terceiro distrito.
Não demorou muito até ele estar quase no topo. O garoto então, já engatinhando pelos degraus, foi para o lado oeste. Depois de mais três degraus, Bradshaw chegou ao fim. Ele levantou sua cabeça, olhando para os três carreiristas.
A primeira era uma descendente de asiática do Distrito 2, ela estava com a canela costurada. A outra era uma garota loira e extremamente bronzeada, provavelmente vinda do quarto distrito. O último era um garoto baixinho, com uma grande musculatura.
Tirando a garota asiática, os outros dois estavam de costas para Bradshaw. Porém, a grande estrutura metálica da Cornucopia tampava boa parte da visão da direção norte, então o garoto estava com sorte.
Pra quem tá de vigia, vocês são bem desatentos. Pensou Brad engatinhando até o chifre de ouro.
No momento em que iria entrar dentro da Cornucopia, o garoto baixinho se levantou. O sangue de Bradshaw gelou e ele trancou sua respiração, não podia emitir nenhum ruído. O carreirista andou até as bordas, dando chances para que Brad entrasse rapidamente na Cornucopia.
O garoto agiu rápido, achando uma caixa de metal do tamanho de um microondas. Ele a abriu e começou a pegar algumas facas das prateleiras e as colocar lá dentro, seguindo para algumas barras de ceral e frutas. Por fim, Brad começou a procurar pelo controle remoto que Rey queria. Ele vasculhou em todos os lados, porém não encontrou nada parecido, mas, não se dando por convencido, pegou uma daquelas caixinhas pretas que os pacificadores usam para dar choque nos criminosos e o colocou na caixa, fechando a.
Porém, em sua saída ele teve uma surpresa. Se deparou com o garoto baixinho na entrada da Cornucopia.
ㅡ Eu sabia que tinha escutado algo aqui. ㅡ O garoto levou a mão a cintura, procurando em vão uma faca que não estava na bainha. ㅡ Merda!
Aproveitando a oportunidade, Bradshaw correu até o menino com a caixa em mãos e, quando pareceu que ia arremessar a caixa nele, deu um chute em suas bolas. O garoto urrou de dor enquanto Bradshaw fugia desesperado.
Descer a pirâmide definitivamente foi mais fácil que subir, mas, uma vez em campo aberto, ele estava em perigo. De repente, facas se cravaram na terra, próximas ao garoto, ele nem precisou olhar para trás para saber que elas estavam sendo arremessadas por uma das carreiristas no topo da pirâmide.
Assim que entrou na fronteira entre a savana e os pinheiros, o garoto parou de correr e controlou sua respiração rápida. Se afastando do perigo, novamente Bradshaw se perdeu em seus pensamentos, retornando as memórias do irmão na arena.
Castiel corria o mais rápido que podia. Ele desviava dos eucaliptos enquanto tentava não ser acertado pelas facas que Sophia arremessava com precisão.
Atrás do garoto estavam, além da carreiristas do Distrito 1, seu parceiro, Attlas, e Sarah, do Distrito 4. Castiel ainda não entendia o porquê ele topou servir de isca no plano suicida de Jonathan. Mas a lembrança da espada do carreiristas rente ao pescoço de Willow o fez lembrar.
Mais a frente, Kaya e Jonathan estavam esperando por eles, escondidos. Quando visse a betula com ranhuras da espada de Jonathan, Castiel deveria pular, assim não seria pego na rede que servia de armadilha. Com sorte, Attlas, Sarah e Sophia iriam cair.
Essa não era a decisão de Castiel. Mas, desde que encontraram Willow com Jonathan, ele e Kaya ficaram a mercê do carreirista. Desde o dia seguinte eles estavam seguindo as ordens de Jonathan, que não saia de perto da garotinha, com seu sorriso sádico no rosto.
Em troca de água e comida, a dupla concordou em ajudar o tributo do Distrito 2 a matar alguns dos carreiristas, mas Castiel nunca imaginou que iria servir de isca numa perseguição.
Por fim, quando avistou a árvore com ranhuras, Castiel pulou. Pulou alto, e sentiu que estava voando.
Tendo uma aterrissagem brusca, mas caindo em pé, ele se virou rapidamente para trás a tempo de ver Sarah e Sophia sendo presas pela rede feita de corda escondida no chão por terra e folhas. As duas loiras até tentaram cortar a rede com suas facas, mas Jonathan e Kaya apareceram de seus esconderijos, com suas armas em mãos.
ㅡ Olá, caras amigas. Como estão? ㅡ Jonathan debochou sorrindo para as garotas enquanto rodeava a rede.
ㅡ Vá se foder, seu cretino! ㅡ Sarah cuspiu no rosto do garoto, o fazendo solta um urro de nojo. ㅡ Nós vamos te matar!
ㅡ Eu acho que não. ㅡ Jonathan limpou o cuspi com a barra de sua regata e voltou a encarar as garotas. Enquanto isso, Kaya e Castiel apenas se olhavam nervosos, aquela seria uma ótima hora pra soltar as duas carreiristas e sair correndo deixando que elas e Jonathan se matassem. ㅡ São duas contra três.
Foi aí que Castiel percebeu algo errado. Ele coçou os olhos e olhou atentamente para a rede suspensa entre as árvores. Durante sua perseguição, Attlas, o garoto baixinho do Distrito 1, estava atrás dele. Porém, agora, apenas Sarah e Sophia estavam capturadas.
Castiel olhou preocupado na direção do acampamento, onde deixaram Willow sozinha. Talvez elas estivesse segura, comendo alguma fruta, e com a faca em mãos, se preparando para perigo nenhum. Ou talvez não.
Saindo do meio dos eucaliptos, Attlas apareceu segurando Willow pelo pescoço, uma faca na garganta da menina. Castiel sentiu seu coração parar de bater.
ㅡ Soltem elas! Ou a garota aqui morrer. ㅡ Attlas apertou a lâmina contra a pele de Willow, que arfou com lágrimas escorrendo pelo rosto.
ㅡ Não tem problema. ㅡ Respondeu Jonathan aproximando sua espada do rosto de Sarah. ㅡ Ela é só um peso morto agora...
ㅡ Tem problema sim! ㅡ Antes que Jonathan terminasse de falar, Kaya usou sua faca e cortou uma das contas que prendi a rede nas árvores, derrubando as carreiristas em cima de Jonathan. ㅡ Não matem ela, por favor!
Enquanto Attlas segurava Willow, Castiel e Kaya assistiam paralisados Sarah e Sophia socando e chutando Jonathan.
ㅡ Não vamos te matar agora. ㅡ Falou Sophia. ㅡ Concordamos com Kira que ela iria tirar sua vida. Então, até lá, vamos apenas te dar uma surra.
Sarah chutou uma última vez o rosto do garoto.
ㅡ Vamos embora. Já acabamos aqui. ㅡ A carreirista do Distrito 4 se voltou para a direção da Cornucopia.
ㅡ Peraí! ㅡ Gritou Castiel levantando o machado. ㅡ E quanto a Willow?
ㅡ Não vamos mata-la. ㅡ Respondeu Sarah. ㅡ Mas venham buscar ela. Estaremos esperando por vocês três.
Sarah mandou um beijo para Castiel a medida que ela, Sophia e Attlas, ainda com a faca no pescoço de Willow, se afastavam.
Eva e Doug caminhavam tranquilamente pelos pinheiros. Eles acabaram se separando de Attlas, Sarah e Sophia depois que os três iniciaram uma perseguição nos eucaliptos.
Mas a garota não ligava, gostava de ficar sozinha com Doug. Ele era um amigo de longa data e fazia tempo que os dois não conversavam sozinhos.
Porém, desde que ficaram sós, nenhum dos dois abriu a boca. Na floresta, a brisa leve balançava as folhas, e o ruído de esquilos por todo lado ecoava.
ㅡ Qual a sensação de matar, Doug? ㅡ Indagou Eva de repente. Apesar de ter auxiliado o garoto em todas os assassinatos que ele cometera no banho de sangue, Eva nunca tirou uma vida. Além disso, Doug sempre executava os criminosos do Distrito 4, então ele já tinha experiência.
ㅡ Não é difícil. ㅡ Respondeu o garoto, sério e concentrado como sempre estava. ㅡ Você só precisa enfiar a faca na cabeça e pronto, tá feito.
ㅡ E você gosta disso? ㅡ Eva estava tentando atrair algum tributo que estivesse na região, já que o motivo dos dois estarem ali era a caça de seus adversários. Mas, acima de tudo, ela queria entender Doug. Apesar de conversarem bastante, se é que dá pra conversar bastante com Doug, enquanto ainda estavam no Distrito 4, Eva nunca soube o porquê dele não ligar de matar os criminosos.
Sabia que sua mãe era uma prostituta e que ela o abandonou ainda pequeno, assim como Eva. Sabia que seu pai não ligava para ele, assim como o de Eva. Mas a história de Doug talvez fosse mais profunda, já que ele diversas vezes foi agredido por um pai bêbado que descontava as frustrações no filho.
Por isso Eva sabia cada significado das cicatrizes que cobriam os braços, pernas e costas do garoto. E sabia o porquê de sua personalidade calada. Ele apenas se blindou para que não se machucasse mais, já que uma vez amou seu pai e acabou com sérios traumas.
Porém, depois de tanto apanhar, Doug revidou. Matou seu pai socando o por cerca de dez minutos sem parar. Seus punhos ficaram em carne viva e não paravam de sangrar. Já o rosto do homem estava irreconhecível, nariz quebrado, dentes quebrados, maxilar quebrado, olhos tão roxos que pareciam pretos e as bochechas e cabelos banhados de sangue.
Como na época Doug ainda tinha apenas catorze anos, o Distrito 4 não podia sentenciar o garoto a morte. Então, após uma votação dos cidadãos, foi decidido que o garoto iria ser o novo executador do distrito, e viveria em liberdade condicional. Porém, o medo de Doug simplesmente matar alguém que não fosse um ladrão sempre rondou as mentes fracas dos cidadãos do quarto distrito.
Mas Eva não tinha medo. Desde o início entendia Doug e sabia como lidar com ele. O começo da amizade foi estranho e difícil, já que Doug não respondia nenhuma das perguntas de Eva. Com o tempo uma relação instável nasceu, e eles viraram amigos.
ㅡ Matar não é legal, mas é algo que precisa ser feito. ㅡ Doug se virou para alguns arbustos que se mexiam quando um esquilo surgiu deles. ㅡ Ou você vive pelas pessoas que matou, ou morre cheio de arrependimentos. A escolha não é difícil.
ㅡ E que tal se, em vez de matar, você se permitisse amar um pouco as vidas alheias? ㅡ Eva olhou para Doug seria, mas sua voz era calma e gentil.
ㅡ Somos carreiristas, Eva. Não podemos deixar os sentimentos transparecer, nosso trabalho é matar.
ㅡ Não, Doug, não somos carreiristas. Sarah, Attlas, Sophia e Moon são, JJ era. Nós somos apenas lixos que o distrito finalmente pode jogar fora. A verdade é dura, mas real.
Então, antes que qualquer um dos dois pudesse falar algo a mais, eles escutaram uma terceira voz. Uma voz que definitivamente não pertencia a eles.
Correndo na direção da voz, com suas armas em punho, a dupla do Distrito 4 acabaram topando com as duas garotas do quinto distrito. Eva até parou de correr, visando elaborar um plano de ataque, mas Doug apenas partiu para cima. Afinal, era assim que ele era, fazendo o trabalho sujo de forma rápida.
As duas garotas se assustaram, definitivamente não esperavam por aquilo. Então, aproveitando o efeito surpresa, Eva também atacou. A morena saltou sobre Aurora, a filha de Chris Labonair, tentando a cortar com sua faca.
Aurora desviou, sacando sua própria lâmina. As duas se atacaram, trocando socos e chutes, por vezes as pontas de suas facas raspavam a pele de alguma delas, abrindo pequenos cortes nos braços e rostos das garotas, mas nada fatal.
Porém, no momento que conseguiu chutar Aurora para longe, Eva se virou para ver Doug tropeçando numa raiz e caindo de costas no chão. A garota com quem ele lutava recuou por uma fração de segundos, desperdiçando a chance de cravar sua faca em Doug. Mas Eva não.
Seguindo seus instintos, Eva não deixaria com que seu melhor amigo fosse morto. Ela correu até Hazel e enfiou a faca nas costas da garota, visando perfurar o coração.
Canhão.
ㅡ Não! Seus idiotas! ㅡ Aurora se levantou do chão, com lágrimas escorrendo pelo rosto. ㅡ Ela nunca o mataria!
Com os olhos marejados e terra em todo o corpo, Aurora fugiu correndo, deixando Eva, Doug e o corpo inerte de Hazel.
As mãos de Eva tremiam enquanto o sangue da garota morta escorriam por elas. O próprio sangue de Eva fervia, a adrenalina percorrendo todo o seu corpo e tomando conta dele. A carreirista até pensou em perseguir Aurora, mas Doug a impediu.
ㅡ Deixa que ela vá. Isso não vai te fazer bem.
No primeiro momento, Eva achou que Doug estava louco. Eles estavam em vantagem e poderiam facilmente matar Aurora. Mas então, com um baque, ela percebeu o que havia feito.
Eva tinha matado alguém, tinha tirado uma vida. A sensação de ser uma assassina e saber que o fim de uma vida encontrou seu fim em suas mãos fez o estômago de Eva embrulhar. Num último esforço de se manter em pé, Eva foi tomada pelo desespero e pelo nojo que sentia de si mesma.
A garota caiu de joelho no chão, vomitando.
Catheryne estava sentada a margem do riacho, comendo um pedaço da carne do cervo. Depois de Brad ter voltado, eles limparam o animal, e guardaram a carne na caixa de metal, usando as pedras grandes do fundo do riacho como se fosse gelo e tentando manter a temperatura estável na caixa.
A noite acabara de cair, e a lua brilhava forte e cheia no céu. A luz da fogueira, Catheryne observava tudo em volta, enquanto Bradshaw dormia no chão, a cabeça encostada em uma raiz. Rey estava sentada perto da fogueira, passando o pingente do colar que usava pelos dedos.
Cath se lembrou do que seu mentor disse, que fogueiras não eram uma boa ideia, ainda mais de noite. Mas, contrariando provavelmente todos os vitoriosos anteriores, aparentemente a maioria dos tributos acendia fogo quando escurecia, já que o céu noturno era repleto de fumaça.
Perdida em seus pensamentos, a garota lembrava de sua avó paterna e dos doces que comiam juntas todo natal.
A família de Catheryne era uma das mais ricas só terceiro distrito de Panem. Dono de uma grande empresa de tecnologia, que fornecia a Capital os painéis de controles dos trens e da arena dos Jogos Vorazes, o pai de Cath era o detentor de 37% de todo o dinheiro que o Distrito 3 possuía.
A fabrica antes pertencia ao bisavô de Cath, que a passou para seu filho que, por sua vez, a passou para o primogênito. Agora era vez de Catheryne herdar todo o império da família Romanov.
A avó de Cath passou a viver na mesma casa da garota desde que ela era muito pequena. Após a morte de seu avô, a idosa se mudou. Isso foi bom, já que permitiu que a mãe de Catheryne pudesse continuar trabalhando enquanto alguém cuidava das quatro meninas.
As duas, Catheryne e sua avó, sempre tiveram uma boa relação. Costumavam ler os mesmo livros para conversar sobre eles depois da leitura, jogavam jogos de tabuleiro, e, a atividade que mais gostavam, era fazer biscoitos natalinos. Quando foi escolhida pelos cidadãos do Distrito 3, Catheryne prometeu a sua avó que voltaria para que elas pudessem comer os biscoitos juntos novamente.
Sendo quase como uma princesa, Cath nunca passou dificuldade em sua vida, sempre teve tudo o que queria ao seu alcance. Inclusive, destacando parte de sua personalidade altruísta, Catheryne jamais deixou com que seus colegas de classe mais necessitados passassem fome, já que insistia ao pai para fazer doações de alimentos para aquelas famílias.
De repente, arrancando Catheryne de seus desvaneios, uma garota com machado apareceu por trás de Rey e a atacou. Rey porém, percebendo o ataque, rolou para o lado, fazendo a lâmina se cravar na terra.
ㅡ Acorda o Bradshaw! ㅡ Rosnou Catheryne sacando suas facas e saltando na garota de machado. ㅡ Tá sozinha é?
ㅡ Eu não seria tão burra a esse tempo. ㅡ Enquanto Rey acordava Brad, Cath atacava com toda sua força, bloqueando o machado com uma das facas e usando a outra como contra ataque.
A batalha parecia equilibrada, nenhuma das duas dava sinal de desistir.
ㅡ Mas que porra tá acontecendo? ㅡ Bradshaw indagou gritando depois de ser surpreendido por outra garota com um machado. Elas eram idênticas. ㅡ Não se pode mais dormir em paz, não?!
Bradshaw estava visivelmente morrendo de sono, e a voz carregada de ódio e raiva. Talvez aquilo fosse bom, já que ele atacava sua adversária com brutalidade, brandindo o facão com toda força.
Enquanto se defendia e atacava, o olhar de Catheryne vasculhava o lugar em busca de Rey, já que a garota sumiu desde que acordou Bradshaw.
De repente, surgindo atrás da adversária de Cath, Rey, segurando a arma de choque que Bradshaw trouxe da Cornucopia, eletrocutou a garota, permitindo com que Catheryne enfiasse sua faca na testa da menina.
Canhão.
ㅡ Sua vadia! ㅡ Gritou a segunda garota, arremessando seu machado em Catheryne ao mesmo tempo que Bradshaw perfurava seu peito com o facão.
Canhão.
Antes que Cath entendesse o que aconteceu, um machado se cravou em seu peito.
ㅡ Porra... ㅡ A garota caiu no chão, seu corpo já ensanguentado. Rey se aproximou com lágrimas escorrendo pela bochecha, enquanto Bradshaw evitava olhar para o corpo e checava se as gêmeas, que provavelmente pertenciam ao Distrito 7, estavam mortas. ㅡ Me desculpa, vovó...
A respiração de Catheryne parou, o brilho de vida sumiu de seus olhos e ela parou de se mexer.
Canhão.
001. ㅡ CAPÍTULO DEZ! NÃO CREIO QUE CHEGAMOS AQUI AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
002. ㅡ Gente do céu, seis não sabem como tá o capítulo 11 não eheheheheh, ele já foi metade escrito! Bora que eu tô a mil por hora
003. ㅡ VOTA E COMENTA NA BOSTA DO CAPÍTULO, AGORA EU NÃO SÓ RESPONDO COMO CURTO, EU VALORIZO CADA COMENTÁRIO ❤️
004. ㅡ Comentem VITORIOSO nos seus três tributos favoritos:
Sophia, D1
Attlas, D1
Kira, D2
Moon, D2
Jonathan, D2
Rey, D3
Bradshaw, D3
Sarah, D4
Eva, D4
Doug, D4
Aurora, D5
Castiel, D7
Kaya, D8
Everlee, D9
Artemisia, D9
Zachary, D9
Willow, D11
Delilah, D12
Aniel, D12
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