❐ 𝐂𝐡𝐚𝐩𝐭𝐞𝐫 𝐄𝐥𝐞𝐯𝐞𝐧 ➹


Attlas estava no topo da pirâmide, com Saerom, Sarah e Willow, a garotinha que eles capturaram no dia anterior. Ele terminava de se preparar para a caçada, prendendo facas e adagas nos cintos e bainhas presos ao longo das pernas.

ㅡ A garotinha fez um suco pra vocês levarem. ㅡ Disse Moon. Desde que fora ferida na perna por Aurora, a garota não saia mais para caçar, já que o corte foi feio. Attlas voltou seu olhar para Willow, que estava dentro da estrutura metálica da Cornucopia, adicionando água dentro de garrafas com um conteúdo roxo. Ela chacoalhou as três garrafas depois de ter colocado a água.

Felizmente agora ele estava quase cicatrizado, sinal de que em breve Saerom voltaria a ação.

ㅡ É seguro? ㅡ Perguntou Attlas pegando uma das garrafas e pondo na mochila em suas costas, as outras ele segurou na mão, visando entregar para Kira e Doug que o esperavam lá embaixo. ㅡ Ela não envenenou isso não? ㅡ Ele abriu uma das garrafas e cheirou.

ㅡ É só um suco de amora. Eu mesma a vigiei enquanto preparava. Ela disse que, já que estava aqui, então ia ser útil. ㅡ Saerom sorriu se deitando no sol, a manhã estava fresca.

ㅡ A fruta pode ser venenosa, você comeu?

ㅡ Sim! Mas antes ela comeu uma primeiro. Só leva logo o suco e tá tranquilo.

ㅡ Tem certeza? Nós não tínhamos amoras no estoque de frutas...

ㅡ Eu tinha algumas nos meus bolsos. ㅡ Disse Willow de repente, atraindo a atenção de Attlas. A garotinha enfiou a mão no bolso esquerdo da calça e tirou uma amora de lá, comendo a fruta. ㅡ Era para o caso de eu ficar perdida e não ter comida.

ㅡ Entendi. ㅡ Attlas ainda não estava convencido. Ele apenas suspirou e desceu as escadas, entregando as garrafas para Doug e Kira.

Enquanto o trio caminhava pelo mato alto da savana, Attlas pensava nas baixas que já ocorreram nos Jogos, tentando contar quantos tributos ainda restavam. Desde o início dos Jogos, os carreiristas em geral não tiveram um bom desempenho no quesito matar tributos, apenas duas pessoas morreram nas mãos de algum tributo dos distritos ricos: JJ, que morreu nas mãos De Jonathan, e Hazel, morta por Eva.

Mas, em compensação, os carreiristas descobriram que a savana era um ótimo lugar para conseguir carne. Enquanto nas outras vegetações apenas esquilos e pássaros apareciam, na savana os cervos estavam espalhados. E isso era bom, já que, para um grupo grande, o animal também precisava ser grande.

Depois de cerca de meia hora procurando, Kira apontou para algo caído no chão, parecia grande e cheirava mal.

Se aproximando, Attlas viu que se tratava de um cervo. O animal tinha suas patas cortadas, todas as quatro. Seus olhos estavam aberto e imóveis, além disso, uma possa de sangue o rodeava. O cheiro forte e as moscas indicavam que ele já estava ali a algumas horas.

ㅡ É um cervo. ㅡ Disse para Doug e Kira, cada um tinha ido para um lado, não se afastando tanto um dos outros. ㅡ Morreu de hemorragia, nenhum órgão vital foi ferido.

ㅡ Aqui também tem um. ㅡ Exclamou Kira chutando algo de leve. Attlas virou seu rosto para Doug.

ㅡ Esse ainda tá vivo. ㅡ Era estranho escutar a voz do garoto, já que ele raramente abria a boca. ㅡ Sangrando, mas vivo.

Kira e Attlas se aproximaram do animal. Ele arfava no chão, o sangue escorrendo de suas patas cortadas, moscas o rodeavam.

ㅡ Talvez, se o matarmos, de pra levar ele. ㅡ Attlas analisava o animal tentando entender por que alguém cortaria as patas e o deixaria sangrando.

ㅡ Nem a pau! ㅡ Exclamou Kira de repente, se virando incrédula pra ele. ㅡ Olha o tanto de moscas que já pousaram nele! Se quiser morrer por causa de alguma infecção, fique a vontade. Mas eu vou me poupar.

ㅡ Tá bom, não precisa ficar eufórica. ㅡ Attlas e a garota encaravam o cervo, analisando a situação.

Enquanto isso, Doug caminhou em volta. Ele parou de repente, observando dois cervos.

ㅡ Temos mais comida. ㅡ Disse o garoto atraindo a atenção de Attlas e Kira.

Apesar do mato estar alto, Attlas conseguia enxergar os animais ao longe.

Um dos cervos era filhote, e parecia estar brincando com sua mãe. O filhote pulava e corria de um lado para o outro, visivelmente animado.

Attlas sentiu uma pontada no coração. Qual seria a sensação de brincar com sua mãe? Será que era algo legal? Será que ele iria gostar?

Tão rápido quanto veio, o pensamento foi suprimido. A mulher o abandonou ainda na maternidade, deixando seu pai sozinho com um recém-nascido. Ele não deveria sequer pensar nela.

De repente, pegando o trio de surpresa, duas garotas saltaram do meio do mato alto. Uma delas era loira, a outra morena.

ㅡ Que porra é essa? ㅡ Kira indagou sacando suas adagas.

Enquanto a garota morena, portando uma alabarda, atacava Doug, a loira focou em Kira e Attlas.

A loira usava uma lança de duas pontas, conseguindo assim bloquear um de seus oponentes ao mesmo tempo que atacava o outro, mas não era muito habilidosa.

Attlas pulou na loira, com seus punhais prontos para socar, mas a garota não ligou de se defender das adagas de Kira e enfiou a lança no ombro esquerdo de Attlas.

ㅡ Aí! Mas que merda! ㅡ O garoto caiu no chão, coberto pelo mato alto, no instante em que Kira conseguiu cravar as adagas no abdômen da loira.

Se levantando do chão com o braço sangrando, Attlas viu o exato momento em que Kira chutou a cabeça da loira, fazendo a cair de joelhos no chão. Aproveitando o momento, Attlas sacou uma de suas facas e a cravou na cabeça da loira.

Canhão.

ㅡ Ei! Idiota, ela era minha! ㅡ Kira esbravejou enquanto o corpo da loira caia no chão.

ㅡ Demorou muito, se quisesse mata-la devia ter feito na hora do chute.

Os dois se viraram Lara Doug no momento em que ele tomou a alabarda da mão da morena e enfiou no peito da garota.

Canhão.

ㅡ Olha, essa aqui tá com uma mochila. ㅡ Kira se aproximou da morena, abrindo a bolsa que estava em suas costas. Patas de cervos estavam dentro. ㅡ Então foram elas que mataram os animais. Que estranhas!

ㅡ Talvez fosse uma estratégia pra atrair outros tributos e os pegarem desprevenidos, assim como fizeram com nós. ㅡ Attlas abriu sua mochila e tirou de lá o suco de amoras. ㅡ Cara, essa luta me deu sede.

ㅡ Seria um milagre se não tivesse. ㅡ Kira fez o mesmo, pegando sua própria garrafa. ㅡ Estamos andando a quase duas horas sem beber nada. Se hidratar é uma coisa boa.

Depois de abrir a garrafa, ambos viraram o líquido para dentro da boca. Doug assistiu quando eles engoliram o suco e seus corpos começaram a desfalecer.

Kira e Attlas caíram no chão, as garrafas escapando das mãos e derramando o conteúdo pelo mato.

Canhão.

Canhão.

Zachary mancava pela neve. A vida dele tava uma merda, e não era de hoje.

Depois da explosão que o jogou pelos ares e a queda nada delicada na neve, além da imensa dor que sentiu, Artemisia jogou neve em cima da perna queimada do garoto.

ㅡ Eu não vou pegar uma infecção por causa disso, né?! ㅡ Zachary perguntou entre grunhidos de dor.

ㅡ Talvez, mas é o melhor remédio que temos. ㅡ Respondeu Artemisia. Ela e Everlee, depois de alguns minutos, carregaram o garoto até outra árvore, arrastando suas pernas na neve. Os três ficaram assistindo a árvore que estavam antes pegar fogo, era como uma enorme fogueira. ㅡ Tá sentindo dor?

ㅡ Sim. É óbvio que tô, acabei de ser lançado de uma árvore com uns cinco metros por uma explosão e cai de costas na neve, que não é nada fofa. Você ainda acha que eu não tô sentindo dor?

ㅡ Vá se fuder. ㅡ Artemisia se levantou e começou a caminhar pela neve, com suas facas em punhos.

ㅡ Onde vai? ㅡ Everlee acompanhou com o olhar a garota.

ㅡ Ver se acho algum esquilo ou fruta, já que toda a nossa comida pegou fogo. ㅡ Respondeu secamente.

ㅡ Mas e as carnes que estavam na minha mochila? Eu peguei antes de tudo explodir. ㅡ Zachary chacoalhou a neve de seu casaco.

ㅡ Você conseguiu pegar a mochila, mas não ficou com ela. Não achamos ela depois que você caiu. ㅡ Eve bocejou.

Depois de passarem o resto do dia sem fazer nada, já que nem Artemisia nem Everlee conseguiram achar comida, ao raiar do sexto dia eles decidiram sair andando em busca de alimento.

ㅡ Minha perna tá bem, na medida do possível. ㅡ Respondeu Zachary. ㅡ Acho que só foi uma queimadura superficial.

Depois de arrumarem a aparência da canela direita de Zachary, raspando as partes da calça que derreteu e se misturou na pele, o trio jogaram mais neve para aliviar a queimação.

Artemisia seguia na frente, era a única do grupo que não mancava. Enquanto Everlee possuía um corte no pé que começava a cicatrizar, a perna de Zachary estava toda queimada. Pelo menos algum dos três ainda conseguia correr.

ㅡ Quem diria que eu ia ter dois aleijado me seguindo. ㅡ Brincou Artemisia abrindo caminho na neve para os dois atrás. O trio se aproximava das montanhas que rodeavam a tundra.

ㅡ Não enche, princesa. ㅡ Zachary respondeu. ㅡ Aqueles dois devem ter feito macumba na maldita árvore, não é possível. Primeiro a Eve, no dia seguinte eu. Hoje é a sua vez.

ㅡ Faz sentido, mas é melhor que não aconteça não. ㅡ Eve preparou uma flecha no arco quando viu um esquilo entre algumas árvores a alguns metros deles. ㅡ Se ela ficar com a perna fudida também vamos ter sérios problemas se entramos em combate. ㅡ Eve soltou a flecha, que se cravou na testa do animal. ㅡ Merda, errei.

ㅡ Errou o que, filha? Tá cega é? Você acertou o esquilo. ㅡ Zachary olhava para a flecha que quase atravessou por completo a cabeça do esquilo.

ㅡ Eu quis dizer que errei o olho. Sempre nele por não ser comestível, mas agora perdemos a cabeça inteira dele.

Artemisia se aproximou das árvores, mas uma mão rápida roubou o esquilo. Arte viu o cabelo ruivo como se fosse um vulto.

ㅡ Volta aqui sua vadia! ㅡ A garota passou pelas árvores e correu atrás de Delilah, arremessando suas facas nela. Zachary e Everlee a seguiram.

Ao lado de Delilah, Aniel corria carregando uma mochila que parecia pesada. Os cinco estavam em um campo aberto coberto de neve, entre a área de árvores e as montanhas da tundra.

De repente, quase certeira, Everlee atirou uma flecha, que raspou na perna esquerda de Delilah, derrubando a ruiva na neve.

Foi tempo suficiente para Artemisia se aproximar da garota. As duas trocaram socos e rolaram na neve, até que Art imobilizou Delilah e colocou sua faca no pescoço da ruiva.

ㅡ Não mata ela! ㅡ Exclamou Aniel quase gritando. A neve nas montanhas pareceu tremer um pouco.

Enquanto Eve preparou outra flecha, dessa vez apontada para Aniel, Art continuou imobilizando Delilah, e Zachary mancava para chegar neles.

ㅡ E por que eu deveria fazer isso? ㅡ Artemisia apertou mais a faca no pescoço de Delilah, que grunhih e tentou se libertar.

ㅡ Eu vou gritar! ㅡ Aniel apontou para as montanhas. ㅡ Vou acabar ocasionando uma avalanche, que vai matar todos nós aqui. O que vocês preferem?

Artemisia pareceu pensativa, enquanto Eve mirava certeira no peito do garoto.

Então, assustando os cinco, um canhão soou em algum lugar da arena. Mesmo sem saber se era Delilah que tinha morrido, Aniel gritou, gritou como se sua vida dependesse daquilo.

A neve nas montanhas começaram a tremer ao tempo que um enorme barulho ecoou. A avalanche tinha começado.

Mais um canhão soou.

ㅡ Corram! Dêem o fora daqui! ㅡ Artemisia saiu de cima de Delilah, que respirou forte engolindo uma lufada de ar.

O trio do nove saiu correndo. Na verdade Everlee mancava rápido enquanto Artemisia ajudava Zachary a correr.

ㅡ Ué, achei que você tinha morrido. ㅡ Exclamou Aniel quando viu Delilah se levantando da neve.

ㅡ Cala a boca e corre, estrupicio! ㅡ Os dois correram atrás do trio, enquanto a neve descia rápido atrás deles.

O barulho da neve descendo estava cada vez mais alto, e mais perto. O coração de Zachary quase saia pela boca. Então, rápido como a luz, ele foi arrastado.

A neve alcançou os cinco tributos, arrastando eles para baixo e depois os cobrindo e afundando.

Canhão.

Canhão.

Aurora caminhava entre a fronteira entre os eucaliptos e os pinheiros. Ela já estava ali fazia alguns minutos, mas não sabia o que fazer.

Desde a morte de Hazel, quase vinte e quatro horas atrás, Aurora tinha se perdido completamente. Tanto físico quanto mentalmente.

A garota não sabia para onde ia, não tinha mais um lugar. Sua mente estava uma confusão de pensamentos, totalmente cheia mas, ao mesmo tempo, vazia.

Depois que Eva matou Hazel, Aurora não soube o que fazer, mas seu lado racional a fez fugir ao invés de avançar sobre os dois carreiristas. Porém, ela apenas ficou escondida, chorando baixinho. Passado algum tempo, Aurora voltou ao corpo de Hazel, limpando o sangue e arrumando seus cabelos.

Aurora não perdeu apenas uma aliada. Ela perdeu uma parceira, uma amiga, una irmã. Sabia que era burrice criar laços na arena, mas Hazel sempre esteve ao seu lado, inclusive no plano suicida em que as duas quase morreram.

E era isso que mais irritava a garota. Hazel jamais mataria aquele garoto, ela não faria isso. Talvez o ferisse, mas tirar vidas não estava no catálogo da garota. E mesmo assim Eva nem exitou ao cravar a faca.

Agora Aurora estava ali, totalmente sozinha, sem rumo e sem objetivo. Ela não queria ganhar as custas das vidas inocentes. E também, não queria que a ira tomasse o controle de seu corpo novamente. Aurora amava seu pai, mas jamais seria como ele.

Então, decidida a mudar um pouco de lugar, a garota entrou na floresta de eucaliptos.

Enquanto caminhava, sua mente se voltou aos Jogos Vorazes de seu pai. Christian se voluntáriou como o tributo masculino daquela edição depois que tanto o pai quanto a mãe de Aurora foram sorteados. A mãe da garotinha era irmã de Christian e ele estava decidido a salva-la e não deixar a pequena recém nascida órfã.

Porém, o destino não foi bondoso com Christian. Depois de ver a irmã morrendo na sua frente pelas mãos de uma garota do Distrito 4, a ira tomou conta do homem. Ele socou até a morte todos que entraram em seu caminho, e assim venceu dia edição, acumulando nada mais, nada menos, que dez baixas. Ele matou dez pessoas, um dos maiores assassinos da história dos Jogos.

Aurora assistiu a fita dos Jogos Vorazes de Christian dezenas de vezes, apenas para ver as imagens de sua mãe.

Depois de voltar ao Distrito 5, Christian descobriu que o pai biológico de Aurora se suicidou após a morte de sua amada. Com a pequena garotinha órfã, Chris adotou sua sobrinha, a tornando sua filha.

Era isso que Aurora mais adimirava em seu pai. Apesar de toda a dor que ele passou durante sua vida, Chris nunca deixou que seu problema de controle de raiva transparecesse e sempre deu amor e carinho e Aurora.

Ela suspirou, lembrando de Hazel. A garota não teve o amor de seus pais assim como Aurora teve. Hazel era a filha do meio, vivendo a sombra da primogênita e ofuscada pela caçula. Hazel deseja mostrar aos pais que podia ser independente.

De repente, arrancando Aurora de seus pensamentos, ela escutou vozes. Eram três e elas pareciam estar discutindo. Se aproximando aos poucos, Aurora avistou três pessoas. Jonathan, do Distrito 2, Castiel, do 7, e Kaya, do 8.

ㅡ Nós precisamos resgata Willow! ㅡ Exclamava Kaya enquanto pisava forte. Castiel e Jonathan estavam sentados no chão. ㅡ E precisamos ir rápido.

ㅡ Para de neura. ㅡ Jonathan bocejou. ㅡ A pirralha é só um peso morto. Não precisamos dela.

ㅡ Se você não for nos ajudar a salvar Willow, nossa aliança acaba aqui. ㅡ Exclamou Castiel se pondo em pé.

ㅡ Ah, eu duvido, meu caro. ㅡ Jonathan riu debochando. ㅡ Vocês precisam de mim para enfrentar os carreiristas. Sabem disso, não são páreos. Eles são sete, e vocês dois.

ㅡ E você também precisa de nós se quiser ataca-los. ㅡ Retrucou Kaya.

ㅡ Eu sei. Mas, ao contrário de vocês, não estou reclamando nem querendo dar o fora. ㅡ Jonathan sorriu. ㅡ Tudo no seu tempo, meus amigos. Precisamos de reforços para atacar os carreiristas. Não sei se sabem, mas eles são fortes. Só em três não dá.

Então, tomada por um súbito sentimento de vingança, Aurora saiu de trás das árvores, atraindo a atenção dos três.

ㅡ Eu ajudo! ㅡ Castiel levantou seu machado e Kaya pegou seu facão, mas Jonathan permaneceu imóvel. ㅡ Eu ajudo vocês a atacar os carreiristas. Só preciso que me prometam uma coisa: me deixem matar Eva e Doug.

Um sorriso sádico se abriu no rosto de Jonathan.

ㅡ Seja bem vinda ao clube.

Rey estava sentada com os pés no riacho. Não tinha nada para fazer. Desde a morte de Catheryne ela se sentia vazia, como se uma parte de si também morreu.

E mais uma coisa estava estranha: Rey sentiu gosto e matar uma de suas inimigas, se sentiu viva, enquanto a adrenalina percorria seu corpo, ao lado da alegria.

Após a batalha, Rey não se permitiu chorar, ela apenas escalou a árvore que dormiam e ficou lá em cima, observando Bradshaw ajoelhado ao corpo de Cath, com os olhos inexpressivos e sem reação, até que o aerodeslizador veio buscar os corpos das mortas. Depois disso, Rey percebeu como estava cansada.

Com o primeiro raiar de sol, ela acordou, percebendo que deixou Brad acordado a noite inteira. O sentimento de culpa a atingiu, então ela desceu da árvore imediatamente.

Bradshaw estava deitado no chão, todo esticado parecendo uma estrela, o facão na mão direita e o olhar fixo nas nuvens.

ㅡ Desculpa, esqueci-me de caçar o café. ㅡ Dissera Brad.

ㅡ Não tem problema. Ainda temos os pedaços do cervo de ontem. ㅡ Respondeu Rey.

ㅡ Não, não temos. Uma garota desnutrida apareceu aqui durante a noite. Ela tava faminta, então entreguei nossa comida.

Rey arregalou seus olhos. Bradshaw havia se livrado de toda a comida que eles tinham. E era muita!

ㅡ Cê tá louco? Não podemos ajudar o inimigo!

ㅡ Eu tô me fodendo pra isso, Rey. ㅡ Brad levantou do chão, entregou seu facão pra Rey e começou a subir na árvore. ㅡ Não importa o lado, eu me recuso a deixar alguém morrer de fome se posso salva-lo. Agora me faz um favor e caça nossa comida, já que a única coisa que você fez desde que os Jogos começou foi comer nossos suprimentos.

Bradshaw se ajeitou na árvore e fechou os olhos. Enquanto isso, Rey tentava discernir o que acabara de acontecer. A raiva tomou conta de seu corpo, seus dedos apertaram o cabo do facão.

Ela gostava de Bradshaw, o garoto sempre fora legal e gentil com ela. Talvez a morte de Catheryne mexeu com ele. Não só com o garoto, mas com a própria Rey.

Saindo a caça, Rey achou um esquilo, mas suas habilidades eram péssimas. Improvisando uma armadilha, Rey voltou rapidamente até o acampamento e pegou o último pedaço de maçã que ainda restava, o pedaço que Catheryne deveria ter comido na noite anterior. Ela voltou até onde viu o esquilo e colocou a fruta no chão, se escondendo atrás de um pinheiro.

O animal foi atraído pela maçã, e, no momento que iria pegá-la, Rey atirou o facão nele. A lâmina cravou na pata esquerda do animal. Rey saiu de seu esconderijo, agarrou o animal pelo pescoço e tirou a faca de sua pata, cravando a lentamente em seu peito.

Os grunhidos emitidos pelo esquilo faziam que toda a tensão que Rey sentia se esvaisse. Ela se sentia bem, matando devagar o animal. Por fim, a faca se fincou no coração e o esquilo morreu, sangue escorrendo pela mão de Rey.

Agora, sentada na beirada do riacho, Rey apertava o pingente colar em seu pescoço. A jóia de prata era o bem mais precioso que Rey possuía, pertencera a sua falecida mãe, era a única coisa que confortava Rey nos momentos difíceis. Saber que alguém a amou alguma vez na vida era uma sensação incrível, já que nem mesmo seu pai ligava pra ela.

Atrás de Rey, Brad devorava sua parte do esquilo. A garota já tinha almoçado. O sol começava a descer, indicando que estava no meio da tarde.

ㅡ Preciso de um controle. ㅡ Falou Rey, quebrando o gelo.

ㅡ Por que quer isso? ㅡ Brad mordeu uma das coxas do esquilo.

ㅡ Talvez eu consiga manipular algum bestante a nosso favor, mas preciso do controle remoto. Todo robô emite uma onda que pode ser controlada por um controle, isso inclui os bestantes.

ㅡ Mas eles são animais modificados, não? Como poderiam ser robôs?

Rey tirou as pernas da água e virou o corpo, olhando nos olhos de Bradshaw.

ㅡ Realmente, são modificados. Mas possuem um chip e uma placa mãe, mesmo que pequenos, em suas cabeças, por onde são controlados via ondas eletrônicas pelos idealizadores. ㅡ Rey sorriu, se gabando de seu próprio conhecimento. ㅡ Eu me especializei em bestantes durante os três dias de treinamento, além de armadilhas.

ㅡ Saquei... ㅡ Bradshaw jogou o osso que restou em sua mão no mato, lambeu os dedos e os limpou na calça. ㅡ Não da pra eletrocutar os bestantes com o aparelho que consegui na Cornucopia? Talvez de pre abrir a cabeça, achar o chip e a placa mãe, e ligar eles aos fios do aparelho, transformando eles num tipo de controle.

ㅡ Pensei nisso também, mas o chip e a placa mãe devem ser muito pequenos. Não tenho coordenação motora o suficiente pra mexer em objetos tão pequenos só com as mãos.

Bradshaw sorriu vitorioso, agora era a vez dele de se gabar de suas habilidades.

ㅡ Não tem problema. Eu consigo! ㅡ O garoto sorriu atrevido. ㅡ Trabalhei nas fábricas durantes anos, e montei todo tipo de painéis de controle e placas mães que o povo da Capital usa. Vai ser fichinha tomar o controle dos bichos. Só temos um problema.

ㅡ É, e ele é o maior ㅡ Rey e Brad suspiraram. A garota olhou para o céu, com a mão no colar. ㅡ Nunca achei que ia pedir isso mas... ㅡ Rey limpou a garganta. ㅡ Idealizadores, se possível, poderiam mandar alguns bestantes pra nós?

ㅡ Você é louca. ㅡ Brad apertou o machado nas mãos, ele pegou a arma depois da morte das gêmeas, deixando Rey com o facão e uma faca.

ㅡ Você é mais por continuar aqui. ㅡ Os dois sorriram um para o outro depois que escutaram o barulho de passos.

Não demorou muito e dois lobos apareceram, um vindo da savana e o outro pelos pinheiros. A pelagem cinza era curta, mas seus caninos pareciam ser maiores que a faca de Rey. Ambos rosnavam.

ㅡ Um pra cada. ㅡ Bradshaw levantou seu machado no segundo que ambos os lobos atacaram.

Os idealizadores não estavam sendo bondosos. Muito pelo contrário, estavam botando fogo no parquinho. Os tributos do Distrito 3 não tiveram muita ação durante todo o campeonato, como exceção da noite anterior. Uma luta contra bestantes era um ótimo entretenimento aos espectadores, mas, caso Rey e Bradshaw conseguissem matar os lobos e tomassem seu controle, eles iriam proporcionar mais ação contra outros tributos.

Por mais que odiasse os idealizadores e suas mentes que pensavam em toda a arena, suas armadilhas e seus bestantes, Rey agradeceu pelos bestantes.

Sem muita dificuldade, Rey desviava das garrafas e se defendia com o facão. Ela tinha que acertar o cérebro. Mesmo com o órgão ferido, o animal ainda oroa ficar vivo se o controle da placa mae permitisse.

Obviamente os bestantes estavam mais fracos, indicando que os idealizadores queriam que Bradshaw e Rey conseguissem vencer. Mas, apesar de todas as aberturas dos lobos, ferir apenas o cérebro era uma tarefa difícil.

Finalmente, depois de cair no riacho, de costas nas pedras, Rey viu sua chance. O lobo, com a boca aberta, atacou. Usando o facão, Rey perfurou o céu da boca do bestante, chegando até o cérebro.

Sangue escorreu no rosto de Rey. Sua vontade era perfurar todo o corpo do animal, mas precisava preservá-lo.

Saindo de baixo do animal caído, Rey viu o instante que o outro bestante cravou seus caninos na perna esquerda de Bradshaw. Seguindo um reflexo puro, Brad fincou o machado na cabeça do lobo.

ㅡ Tá bem? ㅡ Perguntou Rey se aproximando e tirando o animal de cima do garoto.

ㅡ Poderia estar pior. ㅡ Respondeu Brad cortando a calça do joelho para baixo. Sua perna possuía dois buracos iguais, que jorravam sangue, mas não pareciam profundos. ㅡ Não dói tanto, o problema é a hemorragia.

ㅡ Vamos usar o pedaço que você cortou pra estancar, por enquanto. Depois a gente limpa e vê o que faz.

Bradshaw assentiu com a cabeça e passou a amarrar o tecido na perna, soltando gemidos. Rey até pensou em ajudar, mas sua atenção foi atraída por outra coisa. Um apito suave vindo dos céus.

Descendo tranquilo, um paraquedas vermelho trazia uma caixinha metálica. A certa altura, Rey saltou para pegar o paraquedas mais rápido.

Ela abriu a caixa e viu um objeto de plástico, cheio de botões, preto e em formato de retângulo. Era um controle de televisão.

ㅡ O que tem aí? ㅡ Indagou Brad curioso. Rey se virou pra ele e mostrando o conteúdo da caixa e sorriu.

ㅡ Cada um vai poder provar sua teoria agora.

Delilah ainda não entendia como se meteu na maior furada de toda sua vida.

Depois que a avalanche causada por Aniel varreu ela, o garoto e mais três tributos do Distrito 9, dois canhões soaram simultaneamente pela arena. Ela temeu que fosse seu aliado, mas, depois de caírem todos os cinco num enorme buraco, constatou que Aniel não estava morto e, infelizmente, ninguém do Distrito 9 também.

Porém, estavam com problemas. Enquanto Zachary tava com a perna queimada, resultado da explosão, e Everlee com o pé cortado, Delilah acabou torcendo o tornozelo na queda no buraco. Era karma, obviamente, já que ela foi quem arremessou a faca em Everlee e jogou o dinamite que explodiu e incendiou a perna de Zachary.

Sobrando apenas Artemisia e Aniel e bom estado, eles decidiram que iriam fazer uma trégua. Enquanto estivessem dentro daquele buraco, não iriam lutar uns contra os outros. O objetivo principal do grupo agora era sair dali.

O dia passou devagar nas primeiras horas da manhã, até que Aniel decidiu sacrificar sua outra meia e improvisou uma tocha com uma das flechas de Everlee. Mais uma vez Delilah agradeceu por terem conseguido o isqueiro no banho de sangue.

O buraco estava frio, então, juntando as meias de Artemisia e mais duas flechas de Everlee, Aniel fez uma fogueira.

Agora a arqueira possuía apenas doze flechas, enquanto o isqueiro do Distrito 12 começava a falhar.

ㅡ Nós vamos explorar um pouco. ㅡ Dissera Aniel segurando a tocha nas mãos. Ele e Artemisia eram os únicos em pé, feito que só os dois conseguiam no momento.

ㅡ Isso aqui tá parecendo uma caverna, então vamos andar até achar uma saída. ㅡ Artemisia estava com o arco e a aljava de Everlee. ㅡ Vamos levar as armas, assim vocês não se matam.

ㅡ Estamos levando algumas frutas. Vocês ficam com o esquilo de hoje. Não precisam deixar para nós, não vamos voltar cedo. ㅡ Aniel falava alto e sério, a voz firme. Delilah sorriu enquanto seu timbre ficava grave e depois voltava a voz de uma criança. O garoto tinha apenas doze anos e ainda estava crescendo, mas já era maduro suficiente para um adulto. As ruas obrigaram ele a crescer.

E lá se foram os únicos que conseguiam lutar, descobrindo que o buraco na verdade era uma enorme caverna em formato de túnel. E lá ficaram Delilah, Zachary e Everlee, os três mancos, xoxos e capengas.

A única faca que Aniel e Artemisia deixaram era para limpar esquilo e cortar sua carne, e ela deveria ficar ao lado da fogueira enquanto não estava sendo usada, para evitar que alguém atacasse o outro.

Depois de comerem, decidiram que iriam fazer vigias para poder dormir. Delilah obviamente não conseguiu pegar no sono, já que não tinha alguém para a cobrir.

Se deitando próxima a fogueira para manter seu corpo aquecido, a ruiva voltou seu olhar para o céu, escuro e limpo. Seus pensamentos insistiam em lembrar lhe que seu pai estava em casa, ainda doente, e que seu irmão mais velho não conseguria sustentar os dois sozinhos. Porém, se Delilah ganhasse, poderia tratar o pai nos hospitais da Capital, e daria uma casa e uma vida melhor para ela e para seu irmão.

De repente, assustando Delilah, a insígnia da Capital apareceu no céu, juntamente do hino de Panem. Era meia noite, hora de mostrar os mortos do sexto dia.

O primeiro rosto a aparecer foi o de Attlas, o carreirista do Distrito 1, seguido por Kira, do Distrito 2. Depois as duas garotas do Distrito 10 estamparam o céu. Os dois canhões que Delilah escutou enquanto era arrastada pela avalanche pertenciam a alguns daqueles quatros.

O céu se apagou depois que o hino parou de tocar, e Delilah percebeu o quão estava cansada. Ela não dormia direito desde a morte de Lucy.

ㅡ Eu sei que não vai te convencer, mas pode dormir. ㅡ Zachary disse. ㅡ Não pretendo quebrar o acordo e tenho certeza que aquele pirralho poderia matar nós três se quisesse.

Delilah riu um pouco pensando em um Aniel possesso de raiva e atacando o trio.

Ela continuou olhando o céu. O calor da fogueira era aconchegante. Seus olhos começaram a pesar e, por fim, Delilah adormeceu.

001. ㅡ CINCO MIL PALAVRAS. CINCO MIL. Eu estou chocado com mim mesmo. Mas consegui escrever tudo o que queria para esse capítulo, sem deixar nada de essencial de fora

002. ㅡ Anteriormente eu disse que a apply iria até o capítulo 18, sendo os Jogos Vorazes do 6 até o 15. Porém, como no meu planejamento o capítulo final iria ficar muito corrido, decidir aumentar um capítulo a mais com os personagens dentro da arena, aproveitando pra mudar os destinos de alguns tributos. Então, a partir de agora, o tributo vencedor vai ser revelado no capítulo 16, ou o décimo primeiro dia

003. ㅡ Gente, eu gostava tanto do Attlas e da Kira, eles estão tão piticos. Sei que não mostrei, mas no capítulo doze vai ter a ração da Sophia depois de descobrir sobre a morte do melhor amigo. E também a do Jonathan, mesmo sendo um babaca ele ainda amava a irmã

004. ㅡ VOTA E COMENTA NA MERDA DO CAPÍTULO, O TANTO QUE EU ME ESFORCEI PRA TRAZER ALGO LEGAL. EU AMO COMENTÁRIOS

005. ㅡ Comente VITORIOSO nos nomes dos seus três tributos favoritos:

Sophia, D1

Moon, D2

Jonathan, D2

Rey, D3

Bradshaw, D3

Sarah, D4

Eva, D4

Doug, D4

Aurora, D5

Castiel, D7

Kaya, D8

Everlee, D9

Artemisia, D9

Zachary, D9

Willow, D11

Delilah, D12

Aniel, D12

006. ㅡ Perdão pelo atraso na postagem, eu estava num retiro desde quinta feira. Apesar do capítulo estar pronto, a internet na chácara não era tão boa e fiquei com medo de bugar o aplicativo e sumir as imagens ou o capítulo completo. Próximo sábado tem capítulo 12!

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