18. Visitas profissionais

[Eles conseguiram!]

Shen Jiu continuou tentando passar o pincel no papel para fazer uma simples árvore ignorando Aberração.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos e então:

[Não quer saber como foi?]

— Luo Binghe morreu?

[Não?]

— Então não me interessa.

[Mas Ning Yingying foi tão bem!]

— Não quero saber dessa traidora.
Shen Jiu largou o pincel frustrado. Não conseguia fazer uma linha reta. Sua cabeça doía.

[Não desista, catzun! Você estava indo muito bem.]

Para quem Aberração estava mentindo?

— Chega por hoje. Não aguento mais olhar para esse papel.

[Tudo bem, ShenShen.  Descanse e lembre de um passo por vez.]

— Pare com esses apelidos.

[Ah, mas eu gosto tanto, Catjiu! Amo tanto você que quero dar apelidos que combinam.]

O papel foi enrolado e os pincéis voltaram ao lugar graças à Aberração. O imortal tentou ocupar sua manhã com outras atividades em que sempre falhava e Aberração não parava de falar em como deveria descansar e se preocupar com isso depois. Ele finalmente sentou mais irritado e frustrado. Por quanto tempo continuaria assim? Seu corpo seria mais falho ainda mesmo depois de morrer e voltar?

Shen Jiu olhava suas mãos trêmulas quando foi avisado:

[Qi-ge está vindo aí e ele trás visitas.]

— Não o chame de Qi-ge! Só eu posso chamá-lo assim.

A Aberração ficou surpreendentemente em um silêncio que deixou Shen Jiu desconfiado.

— O que foi?

[HIhihihi!]

— Ora, sua…

Yue Qingyuan entrou no cômodo com seu sorriso cordial acompanhado de Shang Qinghua. Estava mesmo demorando para aquela ratazana aparecer. Ele carregava uma sacola com as receitas para o Pico Qing Jing e vários pergaminhos com relatórios e formulários.

Shang Qinghua vestia o branco e o amarelo mostarda nas roupas simples do seu pico, uma fita amarrava seu cabelo castanho claro em um coque lhe dando a impressão de ser um servo e os grandes olhos cor de avelã cercados por longos e curvados cílios foram até Shen Jiu fingindo contentamento ao vê-lo. Ele deu um sorriso cortês e bochechas rechonchudas que lhe faziam ter um rosto eternamente juvenil apertaram o canto dos olhos, elas eram salpicadas de pequenas sardas por causa do verão.

[Click! Click! Click!]

Shang Qinghua poderia ser confundido com um jovem discípulo se não fossem as enormes olheiras que carregava e o cansaço sobre seus ombros.

[Click! Click! Click!]

O que está fazendo? Shen Jiu perguntou.

[Click! Click! Click! Nada. Click! Click!]

Os três se cumprimentaram respeitosamente.

— É bom ver que Shen-shixiong está se recuperando rápido. — Shang Qinghua era o exemplo de humildade e cordialidade. Qualquer um diria que ele realmente estava preocupado.

Ratazana.

— Este shidi gostaria de ter vindo antes, mas soube que shixiong não queria receber visitas e decidiu respeitar a decisão. Mas agora que está melhorando, não seria problema. Seria?

Duas vezes ratazana.

— Shang-shidi tem assuntos importantes sobre o Pico Qing Jing para tratar. — Yue Qingyuan explicou. — Mas se Shen-shidi estiver indisposto, pode ser outro dia.

— Este shidi pode tratá-los enquanto shixiong se recupera. Mas devo fazer a distribuição de recursos financeiros para o Pico Qing Jing.

— Não se incomode, shidi. — Shen Jiu usou sua máscara de educação. — Podem sentar.

Shang Qinghua e Yue Qingyuan se acomodaram na mesa. Shen Jiu não sentiu o olhar de Shang Qinghua pairar mais do que o necessário em si, mas sabia que a ratazana percebeu que não carregava o leque costumeiro.

O Lorde do Pico An Ding mostrou os formulários assim como discriminou os gastos e os lucros de modo perfeito. Depois repartiu as receitas do Pico Qing Jing.

— Está tudo de acordo. — Shang Qinghua anunciou com um sorriso humilde.

Shen Jiu sempre achou Shang Qinghua patético e fraco como uma coisa molenga sendo jogada de um lado para outro pelos outros discípulos, e mesmo depois dele ter se tornado um Lorde de Pico, nada mudou. Na verdade, parecia ter piorado porque ninguém respeitava An Ding, zombavam alto do Pico da logística, os tratavam como servos sem valor e implicavam com os seus discípulos chegando a questionar para que um pico tão insignificante existia na mais poderosa guilda de cultivação do mundo.

E Shang Qinghua não fazia nada para se defender ou defender sua reputação, aceitava tudo com um sorriso cordial no rosto se encolhendo no menor sinal de violência e com a língua pronta para lamber as botas de alguém. Shen Jiu o desprezava. E seu desprezo somente aumentou quando Shang Qinghua chegou ao estágio de formação de núcleo dourado primeiro e se tornou um imortal primeiro que ele.

Contudo, Shen Jiu sempre teve um sentimento de desconfiança quanto ao seu medíocre e esquecível shidi.

— É bom ver Shen-shixiong se recuperando. O Pico An Ding mandará algumas deliciosas receitas para melhorar a saúde de Shixiong.

— Shang-shidi não precisa se preocupar. — Shen Jiu respondeu com a mesma educação.

— Nós, irmãos-marciais, devemos ajudar uns aos outros. Não é, Zhangmen-Shixiong?

— Não custará nada aceitar algumas refeições, não é, shidi? — Yue Qingyuan perguntou para Shen Jiu.

— Volto a dizer que Shang-shidi não deve se preocupar e perder seu precioso tempo.

— Não é perda de tempo, Shixiong. Todos estão torcendo pela sua recuperação.

Shen Jiu irritou-se, ninguém da Montanha Cang Qiong estava preocupado com ele além de Qi-ge e Aberração.

[Aaaaawnnn! Você lembrou de mim!]

Cale a boca!

[<3]

Sabia que Shang Qinghua falou aquilo só para o irritar.

— Todos se preocupam com você, Shidi. — Yue Qingyuan disse e Shen Jiu o fuzilou com o olhar.

— Agradeço. — Shen Jiu mentiu. — Também me preocupo com os meus irmãos-marciais. — mentiu de novo.

O olhar de Yue Qingyuan ficou levemente triste. Shang Qinghua observava a conversa dos dois.

— Shen-shidi precisa de alguma coisa? — Yue Qingyuan perguntou atencioso.

— Preciso de novos papéis, tinta e folhas de chá que não sejam essas horríveis que aquele brutamontes trouxe.

— Shixiong trará assim que terminar os afazeres de hoje. Mais alguma coisa?

— Incenso seria bom também.

— Reciprocidade e respeito é o que mantém a Seita unida, não? — Shang Qinghua interrompeu a conversa.

— Claro, Shang-shidi. — Shen Qingqiu falou. — Seria terrível alguém não querer a Seita unida e forte.

— Por isso nós, Lordes de Pico, devemos sempre trabalhar em conjunto e nunca deixar assuntos egoístas sobreporem os interesses da seita por conta de ego e vaidade. — Shang Qinghua deu um sorriso humilde. Ratazana. — Estou correto, Zhangmen-Shixiong? — perguntou para Yue Qingyuan.

— Shidi está.

— Este humilde se sente honrado por ouvir tais palavras de tão nobre líder. É um prazer servir à Seita da Montanha Cang Qiong com irmãos-marciais tão excepcionais.

Shen Jiu tinha a expressão insigne, mas por dentro queria cuspir na cara de Shang Qinghua. Sempre soube o que ele era.

— Shang-shidi é muito gentil. — Yue Qingyuan agradeceu com o sorriso formal acostumado com as palavras bajuladoras e querendo que acabassem logo.

— Sim, Shang-shidi realmente é muito gentil.

[Hehehe]

— Diga, shidi — Shen Jiu continuou —, dizem que o Pico An Ding é um lugar desocupado, mas Shen-shixiong não acredita nessa inverdade. O que Shang-shidi faz no seu pouco tempo livre? Visita algum amigo? Soube que faz muitas viagens.

Shang Qinghua sorriu, a máscara que usava era muito mais grossa que a de Shen Jiu.

— A Seita da Montanha Cang Qiong tem muitos negócios por todo o reino humano e devemos sempre ir aos lugares em que ela for necessária.

— Curioso, mas o que o Pico da logística tem a ver com combater o mal onde for necessário?

— Ah, Shen-shixiong me superestima. — Ele acenou lisonjeado. — O Pico An Ding apenas busca os itens necessários onde for para a Seita. Devemos deixar os assuntos de combate para os verdadeiros guerreiros.

— Realmente, Shang-shidi não parece ser do tipo de combater demônios.

— Como todo o cultivador é meu dever manter o caminho justo, mas Shen-shixiong tem razão. Sou muito fraco para lutar contra demônios. — Shang Qing Hua encarou-lhe bem nos olhos e disse: — Os mais fracos devem saber seu lugar.

Shen Jiu trincou os dentes, mas escondeu fingindo interesse na discussão.

— Não seria covardia?

Shang Qinghua riu tão modesto como antes.

— Há muitas formas de lutar, Shen-shixiong. O que parece coragem e bravura para alguns, para outros é apenas estupidez e mesquinharia. Nem todas as batalhas são vencidas com espadas.

— E nem todas as discussões com palavras. — Mobei Jun matou-o a sangue frio depois que soube da traição despudorada. Shen Jiu lembrava de Luo Binghe lhe falando algo relacionado enquanto ria da destruição total da Seita. Mas não lembrava exatamente quando, achava ser depois do assassinato de Qi-ge, viu o reflexo da Besta nos estilhaços da espada, mas não entendia nada do que ele falava…

[É melhor não pensar nisso, ShenShen. Não fará bem.]

— Força e poder sempre vencerão no fim. — Na vida toda de Shen Jiu foi assim, com o verme Qiu Jianluo, com o bruto Liu Qingge e com a Pequena Besta.

— Será? — Shang Qinghua perguntou curioso.

— É óbvio. Os que tentarem de forma diferente perecerão.

— O Lorde do Pico dos Acadêmicos dizendo algo assim é uma surpresa. — Shang Qinghua disse. — Mas acho que tem razão, afinal Shen-shixiong é um grande pensador e guerreiro enquanto este shidi é apenas um mestre da logística.

— Creio que Shang-shidi é muito mais o que os olhos podem ver.

— Já este shidi crê que Shen-shixiong é Zhangmen-Shixiong são exatamente o que seus olhos veem. — Baixou a cabeça humildemente.

Shen Jiu não tinha mais nada para falar além de alertar Qi-ge sobre esse traidor. Queria que ele partisse da sua frente de imediato.

Yue Qingyuan finalmente voltou para a conversa ao perceber o silêncio de Xiao Jiu:

— Devemos ir, shidi.

— Claro, vamos deixar Shen-shixiong descansar.

Ambos se levantaram, despediram-se e partiram.

Shen Jiu ficou um bom tempo parado e então se levantou com Xiu Ya desembainhada pronta para combate.

[Onde você vai, Catjiu?!] Aberração perguntou surpresa.

— Matar Shang Qinghua.
Ele saía da Casa de Bambu caminhando pela floresta para que ninguém o visse.

[Você não pode matar Shang Qinghua, Catzun!]

— Ninguém vai descobrir. — Conhecia um atalho perfeito para o Pico An Ding.
 
[E as marcas de espada?! Vão saber!]

Shen Jiu refletiu e realmente Aberração tinha razão. Guardou Xiu Ya.

[Ufa! Que bom.]

— Vou quebrar o pescoço dele. — Voltou a andar.

[O quê?!]

— Ele é um traidor. Espião. Se juntará com Luo Binghe e matará Qi-ge na armadilha. Quebro o pescoço dele, jogo o corpo de uma escada e todos pensarão que ele caiu. Todos nessa seita são burros e vão acreditar que aconteceu porque pensam que Shang Qinghua é um idiota.

[Você não pode fazer isso!]

— Tenho um plano.

[Ah, é???]

— Você fica vigiando a ratazana até que ela esteja sozinha e preferencialmente no topo de uma escada. Depois volta para me avisar, eu apareço sem ele perceber por trás, quebro o pescoço e o chuto escadaria abaixo. Resolvido o problema.

[Hã?! Você não pode matar Shang Qinghua, Catzun!]

— Não pode matar Luo Binghe, não pode matar Shang Qinghua. Você por acaso se importa com ele?

Aberração não respondeu.

— O QUÊ?!

[Você ainda é o meu preferido, ShenShen! Mas é que…]

— Você!

[Eu gosto de você 1.000.000/100, mas eu gosto dele 98/100!]

Shen Jiu cuspiu no chão revoltado.

— Que gosto horrível para pessoas você tem!

Primeiro ela dizia que adorava uma criatura como Shen Jiu, agora dizia que gostava de Shang Qinghua! O que se passa na cabeça desse ser cósmico além de estupidez?!

[Eu gosto de confusão…]

Shen Jiu passou a andar em círculos na grama.

— Só falta você me dizer que está ajudando ele também!

[...]

Ele parou de andar.

— O QUÊ?!

[Não é o que você está pensando! Ele não sabe da minha existência! Nem sobre você! Eu estou apenas mandando sonhos do que aconteceu na vida passada para ele… e checando ele quando não estou com você… sussurrando alguns pensamentos… e alertando alguns instintos… é só! Eu juro!]

— Por que está fazendo isso?!

[Bom, eu pretendia fazer a mesma coisa que fiz com você em outro universo, mas aí pensei: por que não resolver tudo de uma vez? E aqui estamos. Mas é claro que você é a minha prioridade n⁰1! Nada pode competir com o meu Catjiu!]

— Não foi essa a pergunta!

[Eh… você não vai gostar da resposta.]

— Diga!

[... não vai gostar…]

— DIGA!

[Tá bom! …Shang Qinghua está certo.]

— O quê? — Shen Jiu ficou realmente confuso.

[Shang Qinghua está certo. Yue Qingyuan não é exatamente um bom líder. Não é isso que está pensando, Shang Qinghua não odeia ele, mas Yue Qingyuan deixa muito a desejar, por exemplo: quando Liu Qingge morreu ao invés de fazer uma investigação minuciosa que comprovaria a sua inocência, A-Jiu, ele resolveu deixar como está sem nem mesmo fazer perguntas para não o chatear, isso abalou a confiança dos outros Picos nele, a confiança e respeito de outras seitas e pôs Liu Mingyan contra a Montanha e do lado de Luo Binghe. Você sabe que foi burrice, apesar das melhores intenções dele. E isso só foi uma entre inúmeras outras.]

Shen Jiu refletia muito sobre e odiava admitir que Aberração tinha um, senão, vários pontos.

— Shang Qinghua não pode viver. — Nada daquilo mudava sua opinião.

[Pense bem, ShenShen. Shang Qinghua só quer a Montanha Cang Qiong. Você conseguiu salvar Liu Qingge, as peças agora são outras.]

O imortal refletia concentrado e um plano começou a ser elaborado na sua mente amarga. Ele suspirou irritado.

— Vamos voltar para a Casa de Bambu.

***

— Olha só quem voltou. — Yao Meng e Xue Yao vieram andando em sua direção enquanto os discípulos de An Ding recolhiam a lenha que cortava.

— O que vocês estão fazendo aqui? — Ning Yingying cruzou os braços e ergueu o queixo de forma solene, mas nela dava um ar muito infantil. — O Pico Bai Zhan é tão desocupado assim?

— Esqueceu que estamos de castigo por sua culpa? — Xue Yao que tinha a pele bronzeada perguntou. — Estamos fazendo tarefas inúteis do Pico An Ding ao invés de treinar.

— Minha culpa? Vocês que começaram falando mal de Shizun! E não falem  informalmente comigo, é "shijie" para vocês. Humpf.

— E quem vai nos obrigar? — Yao Meng riu.

— Vou contar tudo para Yue-Shibo e vamos ver se continuarão com essa atitude desrespeitosa.

Eles empalideceram no exato momento.

— Agora, xô. Tenho coisas importantes para fazer e não posso perder tempo com desocupados do Pico Bai Zhan. Shidi precisa de mais lenha? — Ning Yingying perguntou com delicadeza para o discípulo de An Ding.

— Desocupados?! Todo mundo sabe que você só foi nessa missão para evitar o castigo por uns dias!

— Que mentira! — Ning Yingying parou de bater na árvore com o machado e apontou para eles. — Era uma missão que trogloditas como vocês não seriam capazes de cumprir.

— Pare de inventar palavras! Missão difícil! Difícil é ter que ficar no mesmo nível que os discípulos do Pico An Ding.

— Não fale assim do Pico An Ding!

— Não se incomode conosco, Shijie. — um deles falou.

— Viu só? — Yao Meng gesticulou enquanto Xue Yao concordava. — Até eles sabem que não são grande coisa. Por que se incomodar?

— Trogloditas e mentecaptos. — Ning Yingying cruzou os braços e mostrou a língua.

— Pare de inventar palavras! Ei, não é seu shizun doido ali?

— É… — Ning Yingying viu seu mestre andando determinado com Xiu Ya desembainhada, o cabelo bem penteado e os pés descalços. — Meu Shizun não é doido! — Deu um pulinho raivoso.

— Onde ele vai? — Yao Meng perguntou para a menina. Como ela poderia saber?

— Para algum lugar que não interessa nenhum dos dois enxeridos!

De repente, Shizun guardou a espada com a tranquilidade da superfície de um espelho d'água. Ning Yingying pensou que o Lorde era o retrato da nobreza. Uma verdadeira beleza distante.

Ning Yingying realmente queria ver seu Shizun de novo, controlou-se para não correr até ele e abraçá-lo. Sabia que Shizun estava bravo e decepcionado com o seu comportamento e vê-la discutindo com aqueles trogloditas só pioraria a situação. Ela se escondeu atrás de uma pedra.

Os discípulos do Pico Bai Zhan e An Ding a acompanharam no impulso.

O imortal mexia a boca, mas os discípulos estavam distantes demais para ouvir.

— O que ele está fazendo?

— Recitando algum texto. — Ning Yingying disse. — Grandes acadêmicos fazem-no o tempo todo. É claro que não tem como pessoas do Pico Bai Zhan saberem disso.

— Está insinuando algo? — Yao Meng perguntou.

O rosto de Shen Qingqiu, a refinada espada Xiu Ya do Pico Qing Jing, se contorceu em amargor e nojo.

— Que texto é esse? — Xue Yao ficou curioso.

— Deve ser um texto emocional.

— Vocês são um Pico de atores agora? — Xue Yao rebateu.

— Claro. — Yao Meng respondeu. — Esqueceu que todos são cobras?

— Vocês dois são…!

Shen Qingqiu fez algo que Ning Yingying jamais imaginou que ele faria. Deu uma bela cusparada no chão. Todos os discípulos ficaram surpresos. 

— Ah, então Shen Qingqiu não é tão alto e nobre assim.

— É Shen-shibo para você! E meu Shizun é alto e nobre sim!

— Cuspindo como um bêbado? — Xue Yao falou e depois cuspiu.

— Ele está falando sozinho. — Yao Meng disse.

O imortal começou a andar em círculos com a revolta estampada em todo seu ser. A própria imagem da injustiça. Parou e gritou furioso.

— Ih, ele é doido.

— Muito doido. — Shen Qingqiu continuava gritando.

Então parou com se ouvisse algo com máxima atenção.  Os discípulos recolheram as cabeças assustados e grudaram-se contra a pedra.
Ning Yingying pensava profundamente sobre o que viu — será que era uma sequela do desvio de qi? — que não percebeu que os dois discípulos se arrastavam para longe como se estivessem em um campo de guerra.

— Covardes! — sussurrou revoltada.
Eles acenaram ignorando-a e quando estavam longe o suficiente se levantaram e saíram correndo como se suas vidas dependessem disso.

Ning Yingying xingou-os mentalmente de novo. Espiou sobre a pedra e Shizun tinha sumido.

— Shen-shibo voltou para a Casa de Bambu, shijie. — um dos discípulos de An Ding disse. — Acho que está bem.

Ning Yingying não sabia dizer, porém sabia que aqueles dois espalhariam boatos ruins sobre seu Shizun.

Os discípulos do Pico An Ding continuaram calados e voltaram para suas tarefas junto com ela sem falar qualquer palavra do assunto. Achava que assim que deveriam ser todos os irmãos-marciais.

***

Shang Qinghua praticava inédia, mas nem ela era capaz de tirar as grandes olheiras do rosto.

E nas poucas vezes que dormia, seus sonhos era muito… vividos. Uma figura escura sentado em um trono escuro no alto do mundo enquanto seus sonhos se estilhaçavam no chão.

Uma grande mão gélida apertando o seu pescoço, devia sentir medo, mas ria, ria, ria…

Ele checava os formulários do Pico Bai Zhan pela terceira vez enquanto fazia o inventário do Pico Xian Shu e contava os juros da dívida que um rico comerciante tinha com a Seita. Quando acabou, uma hora depois, pegou as cartas que seus discípulos externos lhe mandavam das outras seitas.

Molhou o pincel na tinta e respondia a cada um dos seus discípulos com cuidado.

Mas, na verdade, essas cartas contando suas rotinas, aprendizados e os conselhos que Shang Qinghua dava em resposta eram códigos que só eles podiam entender a respeito de informações de outras seitas.

Claro que nem todos os seus ratinhos sabiam o que faziam, mas isso não importava.

Manter olhos vigilantes em todos os lugares do mundo da cultivação era necessário, assim como sobre o mundo demoníaco.

Shang Qinghua terminou as cartas e pegou o papel especial que guardava na sua bolsa qiankun. Trocou o pincel, a tinta e a caligrafia.

Shen-shibo estava errado, muita coisa é possível resolver apenas com palavras bem colocadas. Talvez tenha sido isso que aconteceu entre Shen Qingqiu e Yue Qingyuan, ele percebeu na hora e seus ratinhos no Pico Qing Jing vinham lhe contar imediatamente o que acontecia.

A relação dos dois mudou… assim como a relação com Liu Qingge.

Francamente, à essa altura, tinha certeza que Liu-shidi já teria morrido de algum desvio de qi, era óbvio que aconteceria mais cedo ou mais tarde e Shang Qinghua tiraria todas as vantagens da situação. Mas graças a Shen-shibo não aconteceu.

Não era nenhum problema, sempre tinha um plano estepe para cada ideograma do alfabeto. O Pico Bai Zhan já estava em suas mãos de qualquer jeito.

Tal qual essa pequena revolta que morreria antes de nascer no Deserto do Norte. Algumas palavras e os rebeldes se voltariam uns contra os outros.

Assim que deu as últimas pinceladas sentiu as sombras se unirem em um vortex de escuridão que fez a temperatura do quarto despencar.

Shang Qinghua virou-se da sua mesa de trabalho e disse:

— Olá, meu rei.

Um homem alto surgiu da escuridão que se desfez, seus cabelos eram mais negros que a noite e seus olhos azuis eram mais glaciais que o núcleo do iceberg mais antigo.

Mobei Jun caminhou para fora das sombras deixando seu longo cabelo liso balançar suavemente como uma flâmula ao vento enquanto seu rosto esculpido permanecia imóvel no desprezo frio, seu manto pesado emoldurava os largos ombros com a pele de algum animal mostrando parte do peito exposto firme como rochas cobertas por gelo de alguma era esquecida. Mobei Jun ergueu a mão de garras escuras e ela desceu como um vulto.

SLAP! SLAP!

O humano caiu da cadeira segurando o rosto machucado. Mobei Jun bateu-lhe primeiro na bochecha direita com a palma da mão e depois na bochecha esquerda com as costas.

Sangue vermelho pingava no chão entre os dedos de Shang Qinghua. Mobei Jun havia aberto o canto do seu lábio e atingido o nariz.

— Este humilde servo está honrado em servi-lo. — As bochechas já inchavam e logo ficariam roxas. Encarou Mobei Jun.

O demônio glacial nem lhe deu um segundo olhar, passou a prestar atenção na mesa cheia de documentos. Então se virou para ele:

— Sumiu por dois meses.

— Estava trabalhando para você, meu rei. — Shang Qinghua pensou em se curar usando a cultivação, mas com Mobei Jun aqui isso era terminantemente proibido. Só ganharia ferimentos maiores.

Shang Qinghua explicava enquanto Mobei Jun pegou um dos papéis:

— A revolta ao sul do seu reino será esmagada e metade dos rebeldes presos por outros rebeldes que os entregarão no ponto combinado. Nesse momento, esmagaremos os dois.

Mobei Jun pareceu cansado de ler o papel e pegou outro.

— Sua Seita chamou, então você só voltou.

— O que eu poderia fazer? Não posso perder minha credibilidade com a Montanha Cang Qiong tão cedo. Devo ser seu espião, meu rei. Aliás, há novidades… — Shang Qinghua contou tudo… o que lhe interessava contar para o demônio.

— Apenas? — Mobei Jun não parecia interessado.

— Apenas.

O cultivador não falaria mais, havia na pergunta potencial para uma surra. O rei olhou para a cadeira e Shang Qinghua se prontificou de imediato a colocá-la de pé para Mobei Jun sentar.

O demônio continuou de pé.

— Não vai me perguntar nada sobre o que aconteceu com aqueles cultivadores do Palácio Huan Hua que tentaram me atacar?

Shang Qinghua nervoso balançou a cabeça em sinal negativo. Ah, não tinha jeito.

— Meu rei sempre tem escolhas e planos sábios…

Mobei Jun apontou para um ponto ordenando que se aproximasse.

Shang Qinghua engoliu em seco e foi.

****Atenção! Atenção! Lembram que eu falei que era uma fic problemática? E então, aqui está. Aviso de DUBCON à frente. Leia por próprio discernimento lembrando que é uma fic para maiores com temas pesados e que tudo aqui é ficção! Ficção! Caso, você não queira ler a cena é só ir passando que vai ter um aviso dizendo quando acabou. Não me xinguem porque desde o começo eu avisei todo mundo aqui e lembrem que a ficção também serve para explorar temas polêmicos e nos fazer refletir sobre. É isso boa leitura. ****

Foi atingindo novamente nas bochechas, seu corpo rodou com a força, Mobei Jun pegou-o pela nuca e jogou-o contra a mesa. Os papéis foram espalhados e saíram voando.

O sangue do nariz de Shang Qinghua manchou os documentos, ele tentou se levantar nos cotovelos, porém Mobei Jun virou-o com força e quando tentou novamente se erguer no impulso foi empurrado sem compaixão de volta. A cabeça fez um baque contra a madeira.

Mobei Jun puxou-o pelas pernas se alinhando entre elas e a bunda de Shang Qinghua bateu em seus quadris.

Suas mãos levantaram os robes amarelos e tiraram as calças brancas de Shang Qinghua, as garras rasgaram a roupa íntima revelando uma coisinha rosa que o cultivador chamava de pênis. Mobei Jun deu um risinho de escárnio e o torceu.

Shang Qinghua gemeu e seu irmãozinho ficou totalmente ereto.

Mobei Jun pôs o próprio para fora, grande demais para padrões humanos e demoníacos, alinhou-o na entrada rosada de Shang Qinghua, aliás a única boca que achava do cultivador que não contava mentiras.

Entrou de uma vez até a base e Shang Qinghua gritou arqueando as costas, sua mão bateu na pedra de tinta manchando toda a parede enquanto lágrimas manchavam suas bochechas.

Mobei Jun envolveu seu pescoço com uma mão e a outra segurou sua cintura. As garras entravam na pele tirando pequenas gotas vermelhas. Mobei Jun começou a se mover.

A voz de Shang Qinghua foi silenciada dando lugar aos gemidos sufocados, ele umedeceu a boca para se livrar do sangue que escorreu do seu nariz. Mobei Jun se aproximou e lambeu seus lábios provando do sangue ferroso.

— Engula tudo. — ordenou e então mordeu a própria língua.

Encostou os lábios nos de Shang Qinghua e deixou o sangue demoníaco divino passar de uma língua para outra.
Até o sangue de Mobei Jun era gelado. Shang Qinghua bebeu tudo. Como sempre fazia.

E assim que o fez, Mobei Jun desgrudou a boca da sua. Se encararam no fundo dos olhos até o demônio cortar o contato de repente e se afastar batendo a carne contra a sua sem qualquer piedade.

Toda a extensão entrava e saía com força, as mãos de Shang Qinghua amassavam os papéis e sujavam as letras tornando as palavras ilegíveis. Suas digitais carimbavam as cartas assim como Mobei Jun carimbava seu corpo.

Então as arremetidas aumentaramade de intensidade e velocidade, Mobei Jun agarrou um punhado de cabelos da nuca de Shang Qinghua puxando a cabeça para trás e deixando o pescoço exposto. Cravou os dentes na pele tenra enquanto gozava dentro.

Shang Qinghua cobriu o próprio com um documento para que o sêmen não manchasse as roupas de Mobei Jun, senão teria que as lavar ele mesmo com as próprias mãos.

Mobei Jun finalmente parou de gozar, seus jatos eram mais longos e Shang Qinghua o sentia se derramar em si. O demônio se afastou e o cultivador olhou para todo trabalho que teria que refazer.

Ele se preparou para reorganizar os papéis e ver o que daria para salvar quando Mobei Jun pegou-o pela cintura e virou-o feito uma panqueca. Em um tom nem alto e nem baixo disse:

— Continuaremos até amanhã.

**** Fim da cena explícita.****

O amanhã chegou e Shang Qinghua levantou-se nu do tapete perto da cabeceira, Mobei Jun sempre o expulsava da cama com um chute assim que terminavam e não tinha autorização para se mexer até que o demônio dormisse por completo.

Mas a verdade é que mesmo mergulhado no sono, Mobei Jun estava alerto e testando-o. Shang Qinghua sabia. O rei do norte apenas esperava um indício mínimo de traição para matá-lo. Achava que o cultivador pegaria uma lâmina e passaria no seu pescoço.

Recolhia os papéis do chão organizando-os nos braços, ao se agachar sentiu toda a porra de Mobei Jun escorrer e deslizar entre suas pernas.

Mais uma mancha para limpar no fim das contas. Manchas nas paredes, no chão e na sua pele.

Shang Qinghua percebeu sua imagem refletida no espelho ao recolher os papéis, uma figura nua e franzina, agachada com os cabelos bagunçados em um coque, grandes olheiras, pintado de roxo, vermelho e preto. Em algum momento, Mobei Jun decidiu brincar com a tinta em si.

Era como se fosse a tela de Mobei Jun, poderia pintá-lo com todas as cores que quisesse, afinal havia jurado lealdade e dito que pertenceria ao demônio por toda sua vida. Por isso, não podia deitar na cama, os bens de um escravo são bens do dono tal qual ele próprio.
E há muito tempo já havia bebido o sangue demoníaco divino de Mobei Jun para provar sua lealdade.

Shang Qinghua encontrou no chão o seu abridor de cartas de ponta afiada, passou o dedo e se cortou. Olhou para Mobei Jun e seu lindo pescoço pálido cheio de sangue azul, deu um leve sorriso imaginando como seria…

Mobei Jun perguntou se ele não queria saber sobre o que fez com aqueles discípulos do Palácio Huan Hua que tentaram o assassinar. Shang Qinghua já sabia de tudo muito antes. Não foram seus discípulos externos e nem os que infiltrou na seita do Palácio como internos. Sabia seus nomes, idades, filiações, habilidades e o que inflava seus corações orgulhosos e sedentos por renome.

Bastou algumas palavras.

Foram uns tolos, mas graças as tolices deles, Shang Qinghua conseguiu a arma capaz de ferir gravemente um demônio da família real do Clã do Deserto do Norte.

Shang Qinghua recolheu o abridor junto com os papéis nos braços. Não seria essa lâmina que encontraria o pescoço de um nobre.

Mas não ainda...

É, gente, o Mano Avião não transmigrou.

Pensei seriamente em colocar ele, mas eu já tinha uma ideia na cabeça e decidi seguir. Afinal, a gente sabe tão pouco sobre o Qinghua original, apenas que ele era um espião, traidor e que Mobei Jun matou ele após descobrir uma traição bem descarada depois que toda a Montanha Cang Qiong já tinha sido limpa do mapa e Luo Binghe era imperador. O que aconteceu? Quais eram as verdadeiras intenções dele? Isso me intriga de verdade. Amo um twink do mal.

O que vocês acham? O que acharam dessa minha versão dele? E do capítulo? Deixem seus comentários, é sempre bom ler eles porque me inspiram muito a escrever mais e gosto de saber a opinião de vocês.

Obrigado por lerem!

Até semana que vem!

Bjinhus!


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