17. Discípulos determinados (parte 5)
— Para onde foi Dashixiong? — Ning Yingying perguntou prestes a chorar. Luo Binghe não tinha uma expressão boa também.
— Eu não sei. — Liu Mingyan respondeu sem saber o que fazer.
— Meu espelho! Meu espelho! — Senhorita Wu gritava desesperada tentando juntar os estilhaços e cortando as mãos no processo. Luo Binghe a segurou para parar.
Lágrimas escorreram pelas bochechas de Ning Yingying:
— Eu não pude fazer nada!
— Não é sua culpa, shimei. — Liu Mingyan tentou tranquilizá-la, mas não deu certo. Os ombros da menina tremiam com os soluços.
— E se Dashixiong morrer?
— Isso não vai acontecer, shimei. — Liu Mingyan assegurou. — Nós não permitiremos.
A menininha engoliu o soluço e limpou as lágrimas do rosto. Encheu-se de determinação ao dizer:
— Sim.
A discípula mais velha acenou concordando.
— Luo Binghe e A-Ying vigiem a Senhorita Wu e família. Irei investigar lá fora. — Os dois menearam em confirmação e Liu Mingyan foi para a rua atrás de alguma pista.
— Você não encontrará nada aqui, garota. — Meng Mo falou na sua mente.
— Ora, ora. — Liu Mingyan avistou a demônio sagrada encostada no muro externo da mansão Wu. — Será que o seu shixiong morreu?
— Você sabia o que era o tempo todo.
Sha Hualing deu de ombros e os sinetes tilintaram suaves.
— Demônios da vaidade são raros, mas existem, apesar de fracos.
— Para onde ele levou Dashixiong?
A demônio sagrada sorriu e disse:
— Como esta Ling-er saberia? Não seria um preconceito achar que todos os demônios se conhecem? Esta Ling-er não acredita que a tão honrada discípula-chefe do Pico Xian Shu conhece todos os humanos.
Liu Mingyan se retraiu um pouco com a reflexão, mas logo voltou à postura combativa:
— Ming Fan está vivo?
— Quem sabe? — Sha Hualing segurou no poste da lanterna e deu a volta ao redor dele. — Demônios da vaidade vivem em espelhos ou superfícies lustrosas, mas o principal é que comem vaidade. — Os sinetes tilintavam em cada volta. — O Dashixiong dessa nobre discípula é vaidoso?
Ela não sabia responder, não conviveu o suficiente com Ming Fan para tirar uma conclusão.
— Humanos engordam porcos para depois comê-los. O demônio do espelho teve seu porco roubado por vocês, sabe-se-lá o que ele fará com o leitão magro.
— Então Dashixiong ainda pode estar vivo! — Liu Mingyan apertou o cabo da espada. Meng Mo dentro da sua mente grunhiu em aprovação.
— Por que se preocupar com esse humano? — Sha Hualing inclinou a cabeça deixando as tranças caírem. — Com certeza há discípulos melhores na sua nobre seita.
— Somos irmãos-marciais. — Era motivo suficiente.
— É uma demonstração da nobreza da cultivação? Isso não passa de hipocrisia idiota?
— Vidas estão em jogo!
— E a vida do demônio dos espelhos, não? Ele precisa se alimentar tanto quanto os humanos.
— Você não se importa com a vida do demônio dos espelhos.
Sha Hualing deu um passo tão leve que parecia flutuar e os outros foram tão rápidos que a discípula mal conseguiu acompanhar. Ela parou a centímetros do seu rosto e sentiu o hálito doce nas suas bochechas:
— Liu Mingyan gostaria de saber com o que esta Santa Demoníaca se importa?
Liu Mingyan continuou com o olhar fixo nos grandes olhos vermelhos de Sha Hualing tão límpidos quanto cristais.
— Para onde o demônio dos espelhos foi. — Exigiu.
Sha Hualing sorriu mostrando as presas afiadas e questionou:
— Para onde um demônio dos espelhos iria?
Passos apressados surgiram pela rua, Liu Mingyan piscou e Sha Hualing havia sumido.
— Shijie! — Ning Yingying apareceu correndo em alta velocidade e quando parou não ficou ofegante. — Shijie!
— O que houve?
— A-Jie precisa ver isso!
As duas retornaram à Mansão Wu e encontraram a Senhorita Wu amarrada a uma das colunas da casa. Ela não parava de gritar para o espelho em estilhaços. Luo Binghe tentava acalmá-la inutilmente.
— Olha, Shijie! — Ning Yingying apontou para os grandes pedaços afiados no chão. Todos se transformaram em superfícies foscas.
— Precisamos encontrar os outros espelhos.
***
Ming Fan foi puxado para outra dimensão onde tudo era o contrário e as imagens ao redor esticavam e contraíam.
As garras espelhadas perfuravam sua cintura prendendo o aperto e ele era incapaz de ver o rosto de quem lhe sequestrava. O discípulo-chefe se debatia rasgando a pele e conseguiu tirar de dentro da bolsa qiankun um amuleto, ele brilhou quente contra o demônio que soltou um grito grutural e o lançou para longe.
O discípulo-chefe sentiu como se fosse jogado de uma espada voadora em alta velocidade, atravessou algo quase transparente e quando deu por si estava flutuando no ar, ao menos foi essa a sensação, Ming Fan estava em queda livre, seu corpo girou e caiu de barriga no espelho d'água fazendo um grande estrondo.
A dor dos ferimentos foi amenizada pela dor do baque e pela água entrando nos olhos e narinas, conseguiu emergir arfando e nadou para a margem mais próxima.
Assim que chegou em terra-firme viu que estava em uma caverna escura com um grande lago no meio e bem no centro dele crescia em um pedaço de terra vários cogumelos gordos e brancos sendo atingidos diretamente pelo luar que entrava por um grande buraco no teto rochoso da caverna.
Ming Fan encostou-se na parede e apertou o ferimento nas costelas, sua mão ficou manchada de vermelho e sua respiração começou a pesar e aumentou mais ao quase entrar em pânico. Ele apoiou-se na parede e pegou da bolsa qiankun uma pílula refinada de cura.
— Você! — Os olhos de Ming esbugalharam ao ver o demônio em pé na superfície oposta do lago.
O demônio tinha olhos quase transparentes, um longo cabelo cinza, o rosto mais bonito que Ming Fan já viu e no centro da testa a marca demoníaca em uma tinta espelhada.
— Vocês estragaram tudo! — o demônio gritou furioso. Ele tinha um longo corte na barriga onde foi atingido por Liu Mingyan e suas roupas estavam queimadas junto com a pele no ombro direito devido ao amuleto que Ming Fan lançou. — Estragaram a minha refeição! Mas não vão estragar a minha teia!
As garras espelhadas do demônio cresceram afiadas, Ming Fan desembainhou a espada, os cabelos sedosos flutuaram como fumaça quando ele correu em sua direção.
Ming Fan conseguiu desviar do primeiro golpe, mas no processo sua pílula de cura se perdeu. Ele tirou outro amuleto da bolsa e jogou contra o demônio que grunhiu com ódio ao escapar. Ele o segurou pelo pescoço e o ergueu no ar.
— Não posso comer você. — falou. — Mas farei com que sua morte seja bem demorada. — Jogou o discípulo-chefe no lago e ele quicou como uma pedra lançada no ângulo certo.
Seus braços e pernas o levaram de volta para a superfície, o demônio deliciando-se em como o mataria caminhava tranquilamente sobre o lago, Ming Fan nadou para longe e se agarrou àquele pequeno pedaço de terra no centro repleto de cogumelos que cintilavam a luz da lua.
— Diga suas últimas palavras, cultivador… — O demônio pisou no pequeno pedaço de terra esmagando alguns cogumelos quando algo extremamente pálido o jogou com força para a parede da caverna.
Ming Fan ficou boquiaberto surpreso.
— O que foi isso?! — o demônio dos espelhos perguntou se levantando dos detritos.
Uma forma pálida e horrorosa saltou sobre ele com uma bocarra aberta de dentes afiados e densos. O demônio conseguiu se desviar ainda enojado com aquele cobra feita de cartilagem e cabelos que caíam como algas molhadas sobre o rosto inchado. A cara do demônio se contorceu em puro asco.
A cobra mutante atacou novamente e o demônio se desviou, ele percebeu então que onde o luar havia tocado, a pele havia queimado. Cresceu uma das suas garras e com ela refletiu a luz da lua direto nos olhos da cobra que sibilou de dor.
Manejando os reflexos da luz conseguiu encurralá-la e assim a queimaria até que estivesse fraca para poder dar o golpe final. A cobra se enrolava em agonia no próprio corpo para se proteger da luz, mas era impossível. Quando uma parte era coberta, a que a cobria era queimada.
— Bicho horroroso! — O demônio dos espelhos falava como quem tentava matar uma barata com golpes seguidos e a cada dado percebia que ela continuava a se contorcer. — Que existência horrível!
A cobra sibilava em agonia presa a um canto da caverna.
— Morra! Morra, coisa horrorosa! — O demônio gritava.
— Morra você, demônio! — Ming Fan gritou ao atingir o demônio por trás com a espada.
O demônio dos espelhos uivou de dor e quando Ming Fan desceu a espada ela se chocou com as garras espelhadas quebrando-as em mil pedacinhos. Um truque que o demônio dos espelhos usou para fugir para o lago e mergulhar no reflexo da água desaparecendo sem deixar uma gota.
Ming Fan caiu de bunda no chão apoiado na espada fincada, arfava pela adrenalina e perda de sangue que encharcava suas roupas junto com a água que escorria do corpo.
A cobra branca olhou para o discípulo que ficou aterrorizado com a imagem do monstro e por pouco não vomitou. Mas foi aquele monstro que salvou a sua vida.
Ele tirou da bolsa qiankun duas pílulas refinadas de cura.
— Você me entende? — perguntou e o monstro não respondeu, mas Ming Fan viu os pequenos olhos claros como orvalhos e para ele pareciam cheios de inteligência.
Reorganizando a antiga biblioteca do Pico Qing Jing, leu histórias sobre criaturas mágicas que ajudavam heróis guerreiros na sua jornada. Talvez essa coisa… coisa não, esse ser fosse uma delas. Ming Fan sabia que tinha que retribuir:
— Se você tomar uma dessas ficará curado, eu acho, não sei muito bem. — Colocou a pílula no chão e tomou a outra. — Obrigado por me salvar.
Ming Fan olhou ao redor da caverna enquanto a pílula fazia efeito no seu corpo, também sentiu os efeitos da água na qual foi jogado. Nem fria, nem quente, pronta para enxarcar diretamente seu coração. Era óbvio que esse lago cavernoso tinha propriedades especiais e se ele tinha, aqueles cogumelos que se alimentavam dele também.
Talvez a criatura morasse ali e bebesse daquela água nutritiva por isso seus olhos fossem claros como orvalho. Os cogumelos no centro eram quase fluorescentes pela luz da lua e pareciam ter grandes propriedades, deve ter sido por isso que a cobra atacou o demônio quando ele pisou em alguns. Tudo ali vivia em conjunto, os cogumelos se alimentavam da água e vice-versa, a cobra não conseguia comê-los porque a luz a queimava, Ming Fan concluiu.
Ela não havia tocado na pílula de cura. Não servia para ela?
Ming Fan pensou nas palavras de Shizun sobre não delegar as próprias tarefas e pagar uma dívida era dever de um grande guerreiro.
— Vou ajudar você. — Ele ficou de pé já sentindo-se bem melhor e desprendeu a espada do chão. Montou-a.
Em poucos segundos já estava no centro do lago, esticou a mão pronto para puxar todos, mas aquele equilíbrio era um milagre da natureza e seus ensinamentos diziam que não devia fazer nada tão imoral quanto destruir algo precioso. Colheu apenas alguns e deixou-os perto da pílula. Queria levar um para o Pico Qing Jing, mas seu inconsciente disse que não seria algo justo sem saber o porquê. Deixou todos para a cobra pálida que permanecia parada contra a parede cavernosa.
— Eu não pretendo lhe fazer nenhum mal. — Ming Fan falou porque sentiu a necessidade de falar. — Meu nome é Ming Fan, discípulo-chefe do Pico Qing Jing. Obrigado novamente por me salvar. Ah, e isso é um mantou recheado com carne deliciosa! — Tirou da bolsa e deixou sobre os cogumelos.
Assim, Ming Fan curvou a cabeça e subiu na espada para sair da caverna pelo grande buraco no teto.
O homem-cobra ficou atordado vendo o jovem discípulo partir sem tentar lhe matar ou gritar de horror e ainda ter lhe deixado os cogumelos Lunissolares sem destruir o equilíbrio do Lago do Orvalho.
Zhuzhi Lang jamais tinha visto alguém agir assim, olhou para o cogumelo Lunissolar e com ele conseguiria futuramente pagar o tal discípulo-chefe.
Outro ship está nascendo? Será?
O que acharam do capítulo? Deixem seus comentários, críticas, teorias e elogios.
Bjinhus!
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