17. Discípulos determinados (parte 4)

— Está bem, shijie? — Ning Yingying perguntou saltitando para o seu lado. — Parece que não dormiu bem.

— Uma leve insônia.

— Ficou pensando na solução do mistério também?

— Aaaaaah! — Ming Fan bocejou e tirou um bolinho quente ao vapor da manga. — Todos nós pensamentos bastante no mistério. — Mordeu o bolinho. — O que Shizun faria? Oh, nossa primeira testemunha está vindo.

Os quatro discípulos ajeitaram a postura para receber o caçador que concordou falar com eles sobre o amigo desaparecido. Estavam nas margens da Floresta Bai Lu onde havia uma pequena vila não muito distante da cidade se fossem de espadas. Sem dúvidas foi a mesma floresta que Sha Hualing atraiu Liu Mingyan que perguntou-se se havia algo relacionado.

O caçador era um homem de meia-idade franzino e já calvo com uma barba em formato de lâmina.

— Jovens mestres. — o caçador cumprimentou-os.

Os discípulos saudaram de volta. Ming Fan como o líder do grupo agradeceu pela iniciativa do caçador e logo começou o questionário:

— Zie Tian está sumido há quanto tempo?

— Mais de dois meses. Um dia ele entrou na mata com aquele espelho e desapareceu. — o caçador falou apoiado no arco.

— Qual o comportamento dele?

— Ele sempre foi um pouco orgulhoso porque era o bom partido da vila, mas nada insuportável ou arrogante. Era um bom homem.

— Era? — Liu Mingyan questionou o tempo.

O caçador deu de ombros e concordou:

— Era. Porque é muito difícil alguém entrar no coração profundo da Floresta Bai Lu e sair vivo. Nem mesmo os caçadores mais experientes da vila ousam, Zie Tian sempre foi cabeça dura e gostava de chegar perto.

Ming Fan e Liu Mingyan refletiram sobre o que o homem disse, então Luo Binghe perguntou:

— Mas ele entrava no coração da floresta?

— Ele dizia que entrar ele não entrava, que as caças lá perto eram maiores e abundantes.

— Ele encontrou algo incomum por lá? — Luo Binghe continuou o questionário pelos outros discípulos.

— Ah, sim! Ele voltou com um espelho uma vez! Desse tamanho — dimensionou um pequeno espaço com os as mãos.

— Como era esse espelho? — Ning Yingying ficou curiosa.

— Ele era de prata, eu acho. Tinha um cabo bonito desgastado e atrás um desenho.

— Desenho? — Ming Fan tornou a ficar focado.

— É, acho que um símbolo.

O discípulo-líder tirou um papel da sua manga e mostrou-o para o caçador:

— Parecido com esse?

— É, sim, acho que sim.

A gravura no papel era uma das marcas que os demônios levavam na testa, poderia até não serem iguais umas às outras, mas a espécie seguia um padrão. Liu Mingyan sabia pois a de Sha Hualing era diferente, mas não totalmente estranha a desenhada.

— Como Zie Tian agia antes de desaparecer? — a nobre cultivadora questionou já elaborando os rascunhos de uma tese na mente.

— Ele não parava de se olhar no espelho, dizer o quanto era bonito e levava o espelho para todo lugar. Disse pra ele vender porque conseguiria um bom dinheiro, fomos até a cidade, mas ele não quis e aí uns dias depois ele entrou na floresta e sumiu.

Ming Fan, Luo Binghe e Ning Yingying fizeram mais algumas perguntas, porém Liu Mingyan estava satisfeita. Sem dúvidas era um demônio relacionado a espelhos. Mas se ele estava no próprio espelho como ele foi para outros?

— Para quem vocês pretendiam vender o espelho? — Liu Mingyan tentava juntar os pontos.

— Para os Wen, mas ele desistiu assim que a gente entrou na loja deles.

— Wen?

— Eles são artesãos de espelhos, não sabia? Vivem competindo com os Wu.

Liu Mingyan ponderou sobre aquilo, descartou a hipótese de uma rivalidade assassina entre as famílias artesãs pois pessoas não relacionadas também sumiram.

O quarteto agradeceu ao caçador e foram colher informações sobre as outras vítimas.

Todas as testemunhas diziam a mesma coisa que o caçador, as vítimas ficavam obcecadas com a própria imagem em espelhos ou superfícies espelhadas e então desapareciam misteriosamente.

— Com certeza é um demônio. — Ming Fan falou.

Liu Mingyan ouviu o ancião sorrir no fundo da sua mente.

— Temos que encontrar um padrão. — ela falou.

— Isso, shijie! — Ning Yingying deu um pulinho determinado.

— As vítimas devem ter algo em comum além da obsessão com espelhos. — Liu Mingyan murmurou para si mesma atrás do véu.

— Verdade!

— Precisamos investigar mais. — Luo Binghe disse.

— Shidi tem razão. — Ming Fan ponderou segurando o queixo e logo depois tirando um pãozinho de milho da manga e mordendo um pedaço. — Nós devemos voltar para a loja da Família Wu por mais pistas. O que acha, Liu-shizi?

— Vamos voltar. — ela concordou.

Durante todo o caminho, Liu Mingyan refletiu sobre os desaparecidos e seus comportamentos. O acadêmico era um jovem muito inteligente e promissor com uma beleza suave e um espelho de mão, o velho rico joalheiro era alguém orgulhoso do seu status e do sangue nobre que tinha sempre servindo banquetes nas bandejas polidas para causar inveja aos convidados e a dama viúva era alguém tão bela que causou conflito entre os homens mais poderosos da cidade pela sua mão em casamento.

Mas não eram somente esses pensamentos que pululavam a sua mente, as palavras doces, porém afiadas de Sha Hualing deixaram marcas. Enquanto andavam pela cidade de volta para a loja da Família Wu, seus olhos dardejaram para alguns pedintes nas ruas que não havia reparado antes, tentou lembrar de quantas pessoas pobres sua Seita ajudou e constatou que os problemas só chegavam a eles depois que atingiam os mais afortunados. Se somente aquele caçador tivesse desaparecido na floresta, duvidaria muito que alguém se incomodaria a ir até a Seita da Montanha Cang Qiong.

Chegaram à loja da Família Wu no fim do dia, a própria Madame Wu veio cumprimentá-los:

— Os jovens mestres já têm alguma solução?

— Precisamos investigar mais a fundo, Madame Wu. — Ming Fan respondeu.

Ela não fez uma expressão satisfeita, a noite caía e todos foram para o quarto do espelho da Senhorita Wu que ainda se admirava.

— O que a senhora sabe sobre o Sênior Yui? — Liu Mingyan decidiu que perguntar não custava nada.

Madame Wu ergueu o queixo em desprezo:

— Um homem sovina, apesar de toda a riqueza. Deixou de ser nosso cliente assim que paramos de nos render aos descontos absurdos que pedia.

— Ele virou cliente dos Wen? — Ning Yingying entrou na conversa.

— Sim! — Madame Wu respondeu. — Trouxe uma das bandejas polidas que fizemos e disse que queria novas de graça porque eram de péssima qualidade! Como aquele velho ousou?! Péssima qualidade é o trabalho dos Wen!

— O espelho — Liu Mingyan apontou — já estava pronto nessa época?

— Não, ainda em construção.

As peças começavam a se juntar na sua cabeça.

— Ele deixou as bandejas aqui e disse que no final da tarde voltaria para pegar as novas. Deixei esperando! Era um homem terrível, sempre achando-se o dono da razão. — Madame Wu reclamava.

— A loja vendeu um espelho para a Viúva Lao?

— Sim, vendemos, ela sempre…

O servo entrou no aposentou carregando uma lanterna de papel:

— Madame Wu! — Todos se viraram para ele, menos a Senhorita Wu.

— Por que entrou assim? Não sabe que temos visitas importantes?!

— Perdão, Madame Wu!

— O que houve? — Ela ergueu uma sobrancelha.

— O Jovem Mestre Wen desapareceu hoje.

— O Pequeno Pavão? — Madame Wu perguntou e o servo acenou concordando. Ela revirou os olhos indiferente.

— Pequeno Pavão? — Liu Mingyan e Ming Fan ficaram curiosos.

— O Pequeno Pavão Wen. — ela explicava. — É o filho único dos Wen, veste-se sempre como se fosse para uma festa chega a ser ridículo como ele anda por aí.

— Como ele desapareceu? — Liu Mingyan perguntou para o servo.

— Ele estava em casa e simplesmente sumiu.

— Hum. — Madame Wu franziu as lindas sobrancelhas. — Realmente, faz tempo que não o vejo fora da Residência Wen, ele adora se exibir pela cidade.

— Shijie… — Ning Yingying se aproximou apreensiva, ambas chegavam a mesma conclusão.

Uma brisa fria tremulou todas as velas do aposento, mas não as apagou.

Os discípulos levaram as mãos às espadas, uma energia estranha preenchia o lugar.

— O que está acontecendo? — Madame Wu perguntou preocupada olhando para todos os lados.

— Iremos protegê-los. — Ming Fan tentou acalmá-la. — Fiquem atrás de nós.

— Mas vocês são só crianças…

— Sou linda. — Senhorita Wu disse sem tirar os olhos do espelho.

— Sem dúvidas vamos protegê-los. — Ming Fan repetiu.

O ar pesou de repente e o espelho enorme cintilava com a luz das velas. Liu Mingyan viu o próprio reflexo temeroso e então lembrou das palavras:

“Cuidado com o que diz, Liu Mingyan. Não sabe que a vaidade de um cultivador é um monstro que pode o devorar?”

Era isso!

Liu Mingyan viu pelo reflexo que uma figura saiu de trás do seu ombro e correu para o reflexo da Senhorita Wu. Então a superfície lisa do espelho esticou, a discípula correu para puxar a Senhorita Wu para longe, porém Ming Fan foi mais rápido e quando empurrou a moça foi pego no lugar dela.

— Dashixiong! — Ning Yingying gritou.

Liu Mingyan desembainhou a espada e deu um golpe no espelho retorcido, ouviu um grito grutural de agonia. A superfície se partiu em milhares de pedaços brilhantes. Luo Binghe protegeu a Senhorita Wu com o próprio corpo dos estilhaços.

— O que aconteceu?! — Madame Wu perguntou aterrorizada.

O peito da discípula subia e descia pela adrenalina, ainda empunhava a espada e sentia os cortes sangrando nos braços e na parte superior do rosto:

— Espelhos comem vaidade. — respondeu atônita.

A resposta era óbvia, era tudo o que unia todas aquelas vítimas e Sha Hualing disse bem na sua cara.

Ming Fan havia sumido.

É isso aí, gente! Voltei! As atualizações ficarão mais frequentes agora!
O que acharam do capítulo? Deixem seus comentários e votem!
Bjinhus!

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