"Perder um dos pais pode ser encarado como falta de sorte. Perder os dois parece descuido!"

Oscar Wilde.

Dez de outubro de 1888, quarta–feira. (madrugada). "...?" Inglaterra.

A vela brilha em um bolo confeitado precariamente com glacê azul...

"Parabéns pra você..."

Suas mãos delicadas me abraçam enquanto me inclino para apagar a misteriosa luz sobre o mar de glacê...

"Muitas felicidades..."

A luz se apaga, mas não consigo conter uma gargalhada devido à cara da garotinha de tranças negras ao ver a luz se extinguir.

"Muitos anos de vida..."

XXX

- NÃO! – Ergo-me da cama arfando.

- Cala a boca Cain! – Recebo um travesseiro voador. – Ainda são cinco da manhã!

Foi um sonho, apenas um sonho... Arfo e me jogo contra o travesseiro, mas não vou conseguir mais dormir. Levanto-me e saio sorrateiramente do quarto. Hn... Preciso conversar, mas não pode ser a Barbie, Lilith está dormindo. É só me resta Jared.

Caminho até seu quarto e bato na porta, como não obtenho resposta a escancaro, Jared se levanta sonolento me encarando assustado.

- Cain...? – Ele coça seus olhos. – São cinco da matina, e eu não estou mais no circo...

- Bom dia pra você também. – Caminho até sua cama e me sento.

- O que houve? – Ele sussurra preocupado.

- Hoje... – Suspiro, eu nunca disse isso para ninguém, com exceção da Lilith. – Hoje é meu aniversário... E eu...

Minha frase é cortada quando ele me envolve em um abraço sufocante. O quê...?

- Feliz aniversário!!! – Ele grita me soltando.

- NÃO! – Cubro meu rosto, para afastar o rubor. – Não é "feliz"...

- Claro que é! Hoje é o dia em que você nasceu e está ficando mais velho! Quantos anos? – Ele sorri.

- Quatorze... – Abaixo meu rosto. – Mas... Hoje também é aniversário dele. E isso não tem nada de bom.

Dessa vez ele desvia o olhar, finalmente percebeu. Eu nunca vi necessidade em dizer isso para ninguém e nunca senti falta disso, mas hoje, senti que se não contasse morreria. Apoio meu rosto em minhas mãos e suspiro. Jared se senta ao meu lado e vejo seus olhos verdes brilharem junto com seu sorriso.

- Eu acho que temos a mesma idade. Se eu soubesse quantos anos tenho poderia lhe dizer.

- Hu... – Sorrio encarando o chão. – Você é maior, deve ser mais velho.

- Ah não! Não, não! – Ele sorri. – Tenho quatorze anos e só farei quinze no dia trinta de setembro. Sabe por quê?

- Cremorne Garden... – Encaro-o. – Foi o dia em que te tirei do circo.

- Sim, por isso mesmo! Foi o dia em que me senti vivo pela primeira vez, então eu nasci! – Ele ri. – Mas ainda sou mais velho. E vou usar calças primeiro que você!

Esboço um sorriso, usar calças. Encaro meu short preto. Eu não sei se quero me tornar adulto. E nem sei se vou me tornar adulto...

- Jared...

- Sim...?

- Estou... Vazio. O que é isso?

- Vazio? – Ele me encara. – Mas como você consegue se sentir "vazio?" você não quer dizer triste?

Triste...? Sento-me ereto na cama e olho pela janela enevoada. Por que eu estaria triste? Eu... Eu saí da public school. Eu tenho um gêmeo maldito que odeio, meus pais foram assassinados e esquartejados. Eu sou a reencarnação de um dragão e há uma organização louca me caçando. Por que eu estaria triste?

Jared gargalha e o fuzilo com o olhar, ora aberração está rindo do que? Espero-o parar de rir. E quando vou insultá-lo ele puxa minha mão.

- Vou fazer algo para você! – Ele salta da cama e me puxa consigo.

- Algo para mim? Pare com isso!

- É um presente, você já ganhou algo de aniversário?

- Não... – Minto corando.

- Nem eu! – Ele gargalha mais alto e continua me guiando. – Vi Chevonne fazendo um bolo, não parece difícil! – Ele para em uma porta e a escancara. – LILITH!

- Jared...? – Ela sussurra sonolenta. – Isso é um motim?

- Lilith você sabe que dia é hoje...? – Ele cantarola.

- Dez de... – Ela arregala seus olhos azuis. – Cain é seu aniversário!

Coro e desvio o olhar resmungando, ela se lembra? Que droga. Jared cantarola alguma melodia enquanto ela encara o chão, e eu o guarda-roupa. O que estamos esperando?

- Parabéns pra você... – Jared tilinta. – Parabéns pra você...

- NÃO!!! NÃO CANTE ISSO! – Tapo-lhe a boca e ele me encara assustado. – Pare, por favor?

- Tudo bem... Eu paro. – Ele me afasta e encara Lilith sorrindo. – Little Lady a senhorita quer me ajudar a preparar um bolo para o conde?

- Sim, mas me deixe colocar algo decente! Saiam do quarto!

Obedecemos e a esperamos do lado de fora. Jared fica quieto por um tempo e depois indaga:

- Por que você não gosta da música?

- Por quê? – Encaro o chão. – Ela me lembra a minha mãe...

Ele fica em silêncio, suspiro e deixo-me ser arrastado por minhas turbulentas memórias.

XXX

Quatro anos... Exibo isso para quem me pergunta. Assim que acordo salto da cama e corro em direção ao quarto de meus pais. Escancaro a porta e me jogo sobre a cama, mas ela está um pouco vazia.

- Cain...? – Sorrio ao ouvir sua voz. – É você, meu bebê?

- MAMÃE!!! – Pulo nela e a abraço. – Mamãe! É hoje!

- Sim é hoje. – Seus lábios tocam minha testa. – Meu precioso menininho. O que você quer?

- Um bolo!!! – Gargalho. – Um bolo com glacê azul!!! Como os da padaria.

- Tudo bem, mandarei Nina comprar um e... Cain?

- Não! – Puxo a manga de sua camisola. – Eu quero que a mamãe faça!

- Ah meu bebê... – Ela encara a porta assustada. – Bem, hoje seu pai vai voltar tarde e estou me sentindo um pouco melhor. Farei o bolo para você, tá bom?

Gargalho e pulo da cama correndo, eu não gosto dela, mas tenho que lhe falar. Abro a porta do quartinho rosa e me equilibro em cima do berço branco, puxando seus cabelos.

- Lilith hoje é meu aniversário. – Digo apoiado na grade.

- Deixe-a dormir Cain. – Ela entra no quarto e cobre Lilith impedindo-a de chorar. – Lilith não entende muito bem o que é isso.

- Ah, mas mamãe...? – Porém seu sorriso me faz ficar quieto.

Ela é a mulher mais bonita do mundo! Seus cabelos negros e longos, sua pele branquinha, seus olhos azuis... Parece uma fada! Se fadas existissem. Lilith teima com isso, burrinha...

Ela me guia até a cozinha e prepara o bolo azul bem toscamente, cozinhar nunca foi seu forte. Mas mesmo assim, sua voz cantando a melodia, seus braços delicados me envolvendo, e o gosto horrível do bolo azul, me persegue até hoje.

Mas... Quem diria que ela morreria uma semana depois dessa festa?

XXX

- Cain...? – Lilith surge à porta e percebo que estou sentado abraçando meus joelhos, enquanto Jared também me encara. – O que houve?

- Nada... – Levanto-me e a encaro. – Por que vocês estão fazendo isso?

- É uma festa. – Ela caminha decidida e Jared a acompanha. – Não vai lhe custar nada. Vamos?

Vai sim... Um monstro sussurra em minha orelha. Alguém vai partir. Todo ano é assim.

- Lilith...! – Puxo seu braço. – Não...! Não faça isso.

- Cain?! Solte-me... – Ela puxa seu braço de volta.

- Não! Não! Não! – Estou vazio... Tenho medo, mas medo do que? – Eu te imploro, não!!! – Tenho medo. Medo de festas, medo de alegria...

Ela me abraça fazendo com que eu estanque em meu lugar. O que estou fazendo? Não devo sentir medo, é isso que me difere de tantos, o medo é algo criado por nossa mente, mas eu não posso me dar o luxo a isso, eu não posso sentir medo. Sorrio e a abraço sentindo seu coração bater contra meu peito.

Não devo sentir medo de que todos os corações ao meu redor parem... Devo desejar isso.

- Lilith... Desculpe. – Sussurro.

- Tudo bem. – Ela me empurra e continua andando. – É pra isso que eu sirvo te deixar amedrontado.

Encaro os dois enquanto eles descem as escadas, minhas pobres presas, não deviam festejar... Não por mim.

XXX

Sento-me a mesa e logo meu segredo é espalhado pela casa, os únicos que não vem ao meu encontro são a Raposa, Marcel, a insana da Meredianna, e a Doll, mas tudo bem, se pudesse não veria nenhum dos outros que vieram me parabenizar, principalmente as duas loiras malditas que tenho que aturar. Barbie me abraça até que sinto vontade de enxotá-la. E Chevonne chora como se eu realmente tivesse nascido dela. Será que elas não podem se controlar?

Ao fim de tudo Chevonne acabou fazendo o bolo, e os dois panacas apenas me serviram, e a meu pedido não cantaram parabéns. Até que esse aniversário não está sendo ruim...

XXX

Quando consigo fugir e estou subindo as escadas me deparo com Yue... Recuo, mas não tenho muito para onde correr.

- Não corra conde! – Ela sorri. – Tenho um presente, idiota!

- Não quero nada que venha da senhorita... – Tento subir as escadas, mas ela já está me bloqueando.

Contenho o grito quando suas garras deslizam por meus ombros, ela me empurra contra a parede. Seus olhos amarelos brilham, por que hoje ela tinha que estar transformada? Encosto-me mais a parede. E ela gargalha.

- Está com medo... De mim? O gato o envenenou, não foi?

Encaro-a sem demonstrar nenhum sentimento ou medo, vazio, é isso que sou, e é isso que estou lhe transmitindo.

- Talvez. – Digo. – Mas o que me diz?

- Te digo sobre o que?

- A senhorita é digna de minha confiança?

- Talvez... – Ela sorri. Suas garras seguram meu queixo, erguendo meu rosto. – Mas não esqueça seu presente.

Arregalo meus olhos e lhe empurro.

- Cadela maldita! – Resmungo segurando seus braços longes de mim.

- Ora, pra que ficar encabulado, foi só um beijo.

Um beijo?! Como ela ousa. Limpo meus lábios e a encaro com nojo.

- Obrigado. – Digo enojado.

- Se quiser mais te darei, só diga que está ao meu lado que...

- CAIN...? – Jared grita ao pé da escada. – Cain você está aí?

- Ora, uma deixa... – Desencosto da parede.

- Tudo bem. Cain... Feliz aniversário.

Desço as escadas e assim que ela desaparece retiro qualquer vestígio dela de meus lábios esfregando a barra de minha camisa neles. Ao chegar ao fim da escada sou recebido por Jared sorrindo.

Entre uma lua e um pendurado, prefiro um pendurado.

XXX

Ao final do dia alguns me arrastam para sala, entre eles: Chevonne, Barbie, Lilith, Jared, Scorpio, Rebecka e Cheshire.

- Cain... – Arrepio-me. – Eu não sabia que hoje era um dia tão especial, eu... Ah Cain, eu... – Suas lágrimas já estão rolando.

- Que noiva não sabe o dia do aniversário do marido? – Lilith diz sarcasticamente.

- Lilith... – Ela rosna e lembro-me do ataque do outro dia.

- Senhorita Barbary, agradeço por sua consideração, mas não necessito de nada, obrigado.

- Mas Cain... – Ela suspira voltando sua atenção para mim.

- Beije sua noiva conde... – Chess diz rindo.

- Ora! Calado gato. – Disparo me virando de costas. Não diga "beijo".

- Gatinho de Cheshire. – Lilith puxa sua manga e ele sorri largamente. – Aceita uma dança?

- Ora, mas não há música. – Ele lança uma piscadela em direção a Jared.

- Posso cantar! – Ele sorri. – Alguém pode me acompanhar no piano?

- Eu irei... – Scorpio estrala seus dedos e se senta ao piano. – Afinal eu sempre quis ouvir sua voz.

Jared cora e desvia o olhar. Mas quando vou me sentar Chevonne puxa meu braço.

- Valsarrrr!!! – Ela rodopia. – Vamos valsarr?

- Se me concede essa honra. – Curvo-me e depois apoio minhas mãos em sua cintura.

Como ela é alta! Bankotsu deve achar problemas em valsar com ela.

Scorpio libera algumas notas e é logo seguido por Jared, aqueles que nunca o ouviram cantar o encaram pasmados, sorrio enquanto conduzo Chevonne suavemente. Apesar do tamanho ela é extremamente leve e sutil.

- Ei... – Escuto alguém dizer a porta. – Já tem uma noiva e quer roubar a minha? – Bankotsu surge sorrindo e Chevonne me solta, ora!

- Valsarr Difficile? – Logo Bankotsu está a conduzindo e minhas suspeitas são confirmadas, ele é muito menor que ela.

- Cain... – Viro-me, argh... – Valse comigo?

- Sim, milady... – Curvo-me e depois a conduzo.

Após um pouco a sala da casa Nonsense está mais animada do que nunca esteve, Scorpio e Rebecka tocam juntos, enquanto Jared canta incansavelmente. E Bankotsu e Chevonne dançam com extrema beleza, e bem, com a Barbie estou conseguindo. Quando cruzo com Chess e Lilith ele a rodopia e puxa Barbie.

- Hora de inverter... – Barbie gargalha quando ele some.

- Isso é divertido não? – Lilith diz sorrindo e se apoiando em mim. – Até parece um sonho... Não um pesadelo.

- Sim... – Giro-a e ela sorri mais. – Esse é meu segundo melhor aniversário.

- Ah é? – Seus olhos brilham. – E qual foi o primeiro?

Puxo seu cabelo e ela me encara irritada.

- Você não se lembra. Era muito pequena.

- Hn... E por que você puxou meu cabelo?

- Porque hoje é meu aniversário. – Digo sorrindo.

---------------------------------------------------------------------------------------------------------

Um capítulo curtinho e meio filler rs, digam o que estão achando, pois muitas coisas virão à tona nos próximos capítulos. ;) amo todos vocês, bjss >3<