Me joguei em minha cama assim que cheguei em casa.

Essa noite foi maravilhosa, tirando o imprevisto com o Kim Jongin.

Depois de comermos, caminhamos pelo o parque onde estávamos e também nos conhecemos melhor.

Descobri que ela tem uma irmã e ama preto.

Isso é loucura. Eu sei que não deveria insistir em alguém que vende seu corpo, mas, ela... ela transmite tristeza em seu olhar toda vez que alguém toca no assunto: prostituição.

Eu acho que posso fazer ela mudar, mas preciso que ela confie em mim. O primeiro passo é descobrir seu nome completo.

Peguei meu celular assim que foi emitido um som de notificação.

— Ruby Jane...

Ruby: Amei nossa noite.

Eu: Eu também amei nossa noite, Ruby!

Eu: Será que essa noite poderia se repetir mais vezes?

Ela visualizou a 12 minutos e não respondeu...

Bufei e fui me banhar. Eu espero que ela não tenha decidido ficar longe de mim. Eu sei que ela disse que não repetia seus clientes, mas eu não quero ser só uma cliente. Eu acredito que ela possa mudar, que ela possa conseguir um emprego honesto.

Será que amanhã vai chover de novo? Eu amo chuva, mas só quando eu não tenho que sair de casa. Amanhã é terça, eu tenho que trabalhar. E acabei de me lembrar que amanhã tem concursos para novas modelos.

Puta merda!

Eu odeio quando tenho que avaliar modelos para a minha empresa.

Eu tenho que socializar. Não que eu não goste de conversar com as pessoas, mas tem algumas excessões. Tipo, as modelos costumam serem bem debochadas. Eu tenho pavor de gente debochada.

Rosé é debochada, mas não tanto quanto minhas modelos.

Eu também tenho alguns modelos que são homens. Não conheço nenhum. Quem os escolheu foi o Jimin, eu não tenho nada aver com eles.

Logo após me banhar, me preparei para deitar em minha cama, afundar meu corpo em meus lençóis, me cobrir com meu edredom, ligar o ar e dormir.

Fiz tudo isso, mas fui interrompida quando estava quase pegando no sono, por um som de notificação.

Ruby: Me esquece, Lalisa!

Ruby te bloqueou

Por quê?

O que eu fiz?

Será que ela percebeu que eu tenho TDAH e desistiu de mim como todas as outras?

Será que ela me achou feia ou não me quis por eu ser uma mulher?

Será que ela descobriu que eu sou intersexual e ficou com nojo?

Sem perceber, lágrimas tomou conta do meu travesseiro. O sentimento que eu nunca gostei e nem desejei sentir. Meu coração se apertou ao ler aquela mensagem, meus olhos lacrimejaram, meu sorriso murchou, tudo em mim mudou. Eu, que estava feliz, fiquei triste, sem vontade de viver.

Sou muito emocionada?

Como pude pensar que alguém iria me querer? Eu sou tão ingênua a esse ponto?

Por que a Ruby não me quer? O que eu fiz de errado? Eu falei de mais?

Puta merda!

Me ajuda, Deus, por favor!!! Eu coloco ela em minhas orações, eu faço tudo, só me ajuda a conquista-la.

***

— Bom dia, Lali! — desejou Jimin que estava todo sorridente. Me acomodei em uma cadeira onde avaliaremos as nossas futuras modelos, e respondi o loiro. — Tá tudo bem? — ele se sentou ao meu lado. — Você viu aquele site que eu te mostrei?

— Nem me fala dessa porra — cruzei meus braços e fechei a minha cara.

— Oxi!!! Tá doida, garota? O que deu em você?

— Em mim? — perguntei cínica com o meu indicador em meu peito. — Não aconteceu nada — forcei um sorriso.

Por mais que eu realmente tenha ficado chateada, não posso fazer nada. Nos conhecemos não faz nem dois dias direito e eu já me apaixonei.

Mas que merda!

— Se eu não fosse seu amigo, eu ignoraria, mas infelizmente eu sou. O que aconteceu? Me conta.

— Eu saí com uma garota do site — ele arregalou os olhos e ficou boquiaberto. Sei que Jimin não é um dos melhores para me aconselhar sobre amor, mas eu preciso falar com alguém sobre isso.

— Você o quê?

Por que ele ficou tão chocado?

— Eu saí com uma garota.

— E aí? O que rolou?

— Ela me deu um fora. Ela é uma prostituta.

— Amiga, esse xingamento é muito forte. Dependendo da pessoa, pode atingir no emocional — ele é muito falso. Fala como se ele se importasse com os sentimentos dos outros.

— Não é um xingamento. Ela realmente é uma prostituta — ele arqueou as sobrancelhas e sorriu.

— UAU! No seu primeiro date, você já foi pra cama com uma gostosa — ele riu.

— A gente não foi pra cama. Inclusive, eu acho que rola algo entre ela e o Kim Jongin.

— Aquele gostosão que quer investir na sua empresa? — ele arqueou um pouco a coluna e fez uma cara de deboche.

— Exatamente ele.

— Coitado — Jimin disse e logo começou a prestar atenção nas luzes que se apagarão. — Vai começar.

Eu lembro muito bem do que ela me falou sobre o Kim Jongin, mas quem garante que ela não estava mentindo? Quem garante que aquilo não era uma armação para eu passar a minha empresa para o nome dela, e depois, ela passar a empresa para o nome do Jongin?

Quem garante que ela não é uma golpista prostituta?

Quem garante?

Ninguém garante. Ninguém.

— Lisa?! — acordei dos meus pensamentos quando Jimin me chamou. — Tá na hora do almoço. Vai almoçar aqui ou vamos naquele restaurante?

— Em que momento chegou a hora do almoço e como eu vim parar aqui no meu escritório?

— Você veio parar aqui andando!? — ele disse como se já não fosse óbvio.

Acho que eu me perdi tanto em meus pensamentos, que nem vi o tempo passar. A culpada disso é a Ruby Jane.

Ela realmente mexeu com o meu coração.

— Cê tá foda hoje, hein, Manoban — ele riu um pouco. — Você almoçar aqui ou no restaurante de sempre?

— Vamos em um novo. Um que tem aqui por perto. Não quero voltar naquele restaurante tão cedo.

Ele achou estranho, porém assentiu.

***

— O que você vai fazer nesse final de semana?

— Por quê? — perguntei após tomar um pouco de Coca-Cola.

— Eu vou ir a um encontro duplo. Daí eu pensei: será que aquela gay não vai querer conhecer uma garota nova?

— Ah, pode ser — dei de ombros.

Eu só aceitei porque quero esquecer a Ruby o mais rápido possível.

Sentí que estava sendo observada, mas não liguei. Sempre quando sinto isso, é só impressão mesmo. O Jimin me chama de louca, esquisita, drogada e vários outros xingamentos pesados.

— Eu não sabia que tinha esse restaurante brasileiro perto da empresa.

— Eu também não. Podemos vir aqui mais vezes. O que acha, Jimin? — ele semi cerrou os olhos e fez um bico engraçado.

— O que você tem, Lalisa?

— Nada. Só quero mudar um pouco. Querer comer comida da América do Sul é pecado agora?

— Não. Claro que não. Perdão, perdão — ele olhou para trás de mim e piscou. Não me atrevi em ver quem era. Até porque, na minha cabeça só se passava uma coisa...