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Desculpem o atraso, não estava nos meus planos sair de casa hj
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Eu e Jennie estamos sentadas em um banco no parque. Estamos perto de um rio onde tem bastante capivaras, porém elas não estão aqui.
Estou olhando para os lados desde que chegamos, a procura do animal preferido da Jennie.
— Tá procurando o quê?
— Nada — mirei meu olhar do rio para ela, que estava concentrada comendo seu sorvete.
Sim, estava frio, porém ela me obrigou a comprar sorvete para ela.
— Sabe, você até que é legal. Eu pensei que você iria desistir de mim quando eu disse pra você me esquecer.
— Nunca — eu ri. — Você acha que eu seria burra o bastante pra desistir de você tão fácil assim?
— Sim.
— Verdade, eu sou — rimos. — Mas eu quero que saiba que, essa foi a primeira vez que eu insisti tanto em alguém.
Ela sorriu e olhou para a água. Seus olhos começaram a brilhar por algum motivo, percebi ela baixando a cabeça e suspirando devagar.
— Meu nome completo é Jennie Ruby Jane Kim — ela disse rápido. Encarei a garota, surpresa e fingindo que eu já não sabia.
— Jennie? — ela assentiu. — Por isso todos te chamam assim — a garota se virou para mim e eu me segurei para não rir. — Nome bonito. Posso te chamar de Jennie, então?
— Sim...
— Isso quer dizer que você confia em mim?
— Sim...
Sorri e encarei o outro lado do rio, onde estavam as capivaras.
— Sabe o motivo de eu ter te trazido aqui hoje?
— Não.
— Olha pra lá — apontei meu indicador.
Virei minha cabeça para ver a reação da garota. Seus olhos brilharam e ela me encarou novamente, sorrindo, e... Chorando?
— Por que está chorando? Eu fiz alguma coisa?
— É porque você tá me fazendo sentir especial — ela me olhou enquanto seu rosto começava a ficar avermelhado por conta do choro.
— Não chore — limpei suas lágrimas. — Você é especial pra mim desde que eu te conheci. Eu enxerguei em você uma pessoa que ninguém nunca tinha enxergado. Eu enxerguei a minha Nini...
— Sua Nini?
— Sim. Minha Nini — ela encarou meus olhos, logo guiando seu olhar para a minha boca. — Você sabe que eu gosto de você desde que eu te conheci. Não tem motivos pra você não ser especial pra mim.
— Lisa, estamos falando do apelido que você deu pra mim — ela não desviou o olhar da minha boca e isso estava me deixando nervosa.
— Estamos? — ela assentiu se aproximando de mim. — Eu achei legal esse apelido. Parece com Lili. Então eu acho que — ela ficou a um centímetro de mim e eu já não estava conseguindo respirar direito.
— Tá sujo aqui — ela limpou o canto da minha boca com o polegar. — Continue o que você estava falando.
— O que eu tava falando? — gaguejei.
— Te deixei nervosa? — ela perguntou num sussurro. Eu me arrepiei com aquilo e engoli seco. Ela sorriu intercalando o olhar dos meus olhos para a minha boca. — Você é tão idiota — ela riu e voltou a tomar o seu precioso sorvete.
Aí como eu queria ser aquele sorvete...
Não sei porquê, mas sentí um alívio quando ela se afastou. Eu nunca beijei de verdade antes. Eram sempre selinhos. Sem língua, sem mão na cintura, e muito menos sexo.
Isso me preocupa bastante. Não quero que minha primeira vez seja com a Jennie. Ela já é experiente nisso, eu não.
— Eu tava pensando aqui — ela disse, quebrando o silêncio que estava ao nosso redor. — Eu te disse meu nome, certo?
— Sim. Você me disse seu nome inteiro.
— Me diga seu trauma.
— Que trauma? — olhei para ela.
— Da dança. Por que você não dança mais?
— É uma longa história.
— Eu tenho tempo.
— Melhor não.
— Lisa — ela me encarou e segurou a minha mão —, eu quero te conhecer melhor. Você sabe muito sobre mim, mas eu não sei nada sobre você. Hoje eu descobri que você tem um irmão e uma família de merda.
— Também descobriu o motivo de eu morar aqui.
— Sim.
— Você não tem nojo de mim?
— Por que eu teria? Fodasse o que você tem entre as pernas. O importante é o que você é, como você é. Eu tô pouco me fudendo pro seu pau. Eu quero conhecer você, não seu pênis. O que ele tem aver com o meu interesse em você?
— Você realmente quer me conhecer melhor?
— Óbvio que sim — sorri.
— Tem tempo mesmo?
— Pra você eu tenho o tempo que precisar.
— Ok, então. Vamos lá — suspirei e olhei para o rio. Já estava anoitecendo, portanto, o som das cigarras cantarolando, já podia ser ouvido junto com alguns sapos e grilos. — Tudo começou quando eu tinha 5 anos, eu tinha acabado de me mudar pra Seul, antes eu morava em Busan, mas meu avô teve que vir pra cá para me dar uma vida melhor
— suspirei novamente, criando forças para continuar contando a história. — Quando eu cheguei aqui, eu não tinha amigos e nem conseguia me enturmar. Meu avô ficou preocupado comigo, por isso, ele decidiu me colocar na aula de dança. Eu fiz amigos lá, ou melhor, eu fiz um amigo lá — Jennie estava me encarando com atenção, sem desviar o olhar por um segundo. — O meu professor era meu amigo. O nome dele era Daniel. Eu chamava ele de professor Dani quando os outros alunos estavam por perto. Quando estávamos só nós dois, era só Dani. Ele era o meu melhor amigo. Foi ele que me ensinou os passos que eu sei até hoje. Quando eu ia pro estúdio, eu ficava feliz. Lá eu me sentia em casa. Eu ia triste e voltava feliz. O Dani me ensinou meus primeiros passos de dança e tudo que eu sei hoje, mas eu parei de dançar faz um tempinho já — disse com os olhos cheios de lágrimas.
Falar sobre esse assunto, era algo que me doía bastante.
— E por que parou de dançar?
— Aconteceu um desastre. Um desastre daqueles, tipo, foi o que causou o trauma que eu tenho até hoje — uma lágrima escorreu pela a minha bochecha, trilhando um caminho para o chão. — A gente tava treinando pra uma competição de dança. Eu tava muito animada. Naquele dia, ele tinha levado o cachorrinho dele, o Bob — sorri ao lembrar do pequeno cachorro. — A gente tava tão feliz e rindo — eu ri um pouco para tentar conter o choro. — Eu me lembro até o horário e o dia. 3 de dezembro, exatamente às 20:40 da noite, eu era pequena, tinha uns 7 anos, mas eu já sabia ler relógios.
— Com sete anos eu não sabia nem escrever meu nome — ela me fez rir e isso me deixou um pouco melhor em relação ao que eu estava sentindo no momento. — Continua.
— Eu estava lá dançando e me divertindo. Cada vez que eu errava e caía, o Dani ria de mim e depois me ajudava e me incentivava a tentar de novo.
— Eu queria ver você caindo — ela fez beicinho e isso me desconcentrou.
— Para de me fazer rir. Isso que eu vou contar é triste — eu disse rindo e ela assentiu, ficando séria logo em seguida.
— A gente tava quase terminando de ensaiar, quando parou dois caras de moto e encapuzados na frente do estúdio, e eles estavam com armas — solucei. — Assim que o Dani viu, ele me pegou no colo e me escondeu atrás de uma lixeira azul com listras brancas, ela era maior que eu na época. Depois ele escondeu o Bob junto comigo, mas — parei de falar e abaixei a cabeça para chorar. — Desculpa! — Jennie afagou minhas costas e se aproximou de mim. — Mas, quando ele foi se esconder, não deu tempo de ele chegar até o lugar e, ele acabou... Ele levou 4 tiros, a apenas alguns passos de mim, bem na minha frente. Dois tiros em cada peito, ele levou dois tiros em cada peito. Aquilo não foi o suficiente para que ele morresse na hora, mas minutos antes de ele morrer, ele me disse assim: Cuida do Bob para mim. Cuide dele como se fosse seu filho. Eu te amo, minha pequena Lisa. A gente se encontra em outra vida. Adeus, minha pequena! — meus olhos encharcaram de lágrimas, Jennie começou a massagear a minha mão, tentado me tranquilizar. — Ele disse isso com as lágrimas escorrendo, molhando seu rosto inteiro. Eu nunca pensei que poderia chorar daquele jeito. Eu chorei como eu nunca tinha chorado antes. Até o Bob chorou. Eu olhei pra ele e os olhinhos dele estavam cheios de lágrimas. Então... Eu o abracei... e chorei junto com ele.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, admirando o sol que estava partindo devagar, ouvindo o cantarolar dos insetos, o barulho do vento batendo nas folhas, e a movimentação agitada da água.
— No dia seguinte, foi o enterro dele. Eu só sabia chorar. Eu chorei no caixão dele, e o Bob estava lá comigo, a todo momento. Quando enterraram o corpo dele, ficou somente eu e o Bob. Eu estava ajoelhada com flores na mão e o Bob estava sentado ao meu lado, na frente do túmulo. Naquele, tava chovendo, chovendo bastante. As gostas de chuva se misturava com as lágrimas do meu rosto, e com a lágrimas do Bob. Naquele momento, pra mim, o mundo havia acabado ali.
Olhei para Jennie e ela estava chorando, porém, eu estava pior do que ela. Eu não conseguia falar sobre isso com ninguém. Eu nem sei como eu consegui falar para ela.
— E, o Bob? Aonde ele tá?
— Infelizmente, ele já estava meio velhinho. 3 anos depois, quando eu tinha apenas 10 anos, ele me deixou e foi de encontro com o seu verdadeiro dono.
— Você quer palavras que te confortem ou um abraço?
— Um abraço.
Ela não esperou muito para me abraçar de lado. Escorei minha cabeça em seu ombro e comecei a me deixar levar pelo o momento, pelo os meus sentimentos.
Larguei meu braço sob coxa, fazendo com que ela me abraçasse mais ainda.
— Lili, eu sou seu abraço quentinho a qualquer momento, ok? — ela sussurrou enquanto fazia cafuné em meus cabelos.
Levantei minha cabeça e encarei sua boca.
Meus olhos com certeza estavam transmitindo desejo e necessidade.
— Nini... eu posso te beijar? — perguntei, sem desviar meu olhar de seus lábios avermelhados e lindos.
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