26

— Vou preparar seu banho, ok? — ela assentiu. — O que acha de irmos no parque mais tarde?

— Pode ser.

Comecei a preparar seu banho com todo amor e carinho. Ela observava com atenção cada movimento que eu fazia. Seus olhos em mim estavam me deixando nervosa.

— Obrigada por estar cuidando de mim... Nunca tive alguém que me desse tanta atenção e carinho.

— Sua família não te dava atenção?

— Sim, mas a atenção era mais voltada pra Jisoo. Acho que por ela ser mais velha e outras coisas. A Jisoo também nunca foi tão próxima de mim, ela sempre estava ocupada quando eu precisava dela.

— Vocês se aproximaram mais agora?

— Sim. Mas, foi porque só temos uma a outra.

— Você também tem a mim agora — me aproximei dela. — Pode falar comigo como se eu fosse uma psicóloga ou terapeuta.

— Você não vai prestar atenção.

— Tudo o que você fala eu presto atenção.

— O que eu falei quando eu te vi pela primeira vez?

— Tinha esquecido?

— Eu lembro, eu quero saber se você lembra.

— Você disse: tinha esquecido? — ela me encarou e se lembrou do que eu estava falando.

— Ah, verdade. Você lembra. O que você tinha esquecido?

— Onde eu tinha colocado as minhas chaves.

— Meu Deus! — ela bateu em sua própria testa. — Você ama esquecer onde colocou suas chaves, né?

— Não é que eu esqueço...

— É o que então?

— Elas que se escondem de mim — ela deu uma risada sarcástica.

— Me ajuda a entrar na banheira — encarei ela e a mesma pareceu ter entendido o que eu ia dizer. — Lalisa, você tirou a minha roupa e me deu banho, pode muito bem me ajudar a entrar numa banheira.

— Ok...

Peguei ela no colo, sem jeito, com medo de relar aonde eu não devia. Ela riu de mim e deu um tapinha em meu ombro.

— Pronto. Quando terminar, me chama, vou trazer sua cadeira de rodas.

— Tá bom — ela sorriu e eu saí do banheiro, indo em direção ao meu quarto para eu me trocar.

Coloquei uma calça um pouco larga e preta, para disfarçar o volume do meu membro, uma camiseta branca e larga, e, logo por cima da mesma, coloquei um suéter preto. Provavelmente colocarei um boné, pois estou com preguiça de arrumar meu cabelo e minha franja.

Fui até a cozinha para beber um pouco de água, e escutei o som da campainha ecoar pela casa.

Fui atender para ver quem era.

— O que você tá fazendo aqui?

— A mamãe me mandou vir aqui — encarei meu irmão que estava em minha frente.

— Por quê?

— Posso entrar?

— Não. Você não pode.

— Lisa, você sabe que eu não tenho preconceito com você. Eu nem tinha nascido quando você veio pra Coreia.

— Kunpimook, eu não quero falar com você. Não me interessa se você tem ou não preconceito com quem eu sou, você não falou comigo porque sempre seguiu o exemplo da mamãe e do papai.

— Mas, Lisa — um grito o atrapalhou. Jennie estava me chamando. — Quem é a escandalosa?

— Não te interessa — fechei a porta e fui levar a cadeira de rodas para a Jennie.

Kunpimook é meu irmão mais novo. Meus pais fizeram ele na intenção de ter um filho "normal". A última vez que nos vimos, foi quando eu fui para Tailândia fazer meu ensino médio.

Ele prefere ser chamado de Bambam, porém, eu não gosto de chamar pessoas que eu não tenho contato, por apelidos.

— Aqui está. Jisoo disse que você consegue se trocar sozinha, então eu já vou indo.

— Obrigada por isso.

— Pelo o quê?

— Por me respeitar e conter seus desejos enquanto eu estou completamente nua em sua frente.

— Não quero invadir seu espaço pessoal sem sua permissão.

— Então você sente um desejo sexual por mim — fiquei sem reação.

— Eu? Não, não. Que isso — disfarcei. Seus olhos de gato me encararam como se eu fosse a pessoa mais mentirosa do mundo. — Tá. Talvez eu tenha um pouquinho.

— Sabia — ela sorriu e eu corei com sua reação animada. — Me espera lá fora. Irei me trocar e você vai me ajudar a descer as escadas.

— Quem disse?

— Eu. Você sempre quer me ajudar com coisas que eu consigo fazer. Tipo: descer do sofá pro colchão. Ou sentar na minha cadeira de rodas e andar pela a casa — arqueei as sobrancelhas. — Agora eu preciso da sua ajuda pra fazer algo que eu não consigo. No caso, descer as escadas.

— Senti um desabafo nessa frase.

— É porque foi um desabafo. Não sou uma recém-nascida que precisa de ajuda até pra comer comida.

— Ok, senhorita. Estarei te esperando na porta do seu quarto.

Me retirei.

Eu estou conseguindo controlar a minha necessidade. Meu membro deu sinais de que começaria a ficar ereto, porém, eu me controlei por respeito a Jennie.

Não sou igual alguns caras que não pode ver uma mulher de decote que fica duro. Eu não sou uma tarada. Estou respeitando o espaço pessoal da Jennie, assim como estou tendo o máximo de cuidado para não deixá-la desconfortável com a minha presença.

A Jennie é uma garota cheia de inseguranças. Uma garota que não consegue aceitar que possa existir alguém que não queira só o seu corpo. Eu acho que estou conseguindo mudar seus pensamentos. Eu espero que eu esteja conseguindo mudar seus pensamentos.

Hoje levarei ela a um parque onde tem bastante capivaras. Quero fazer ela se sentir importante. Quero fazer ela perceber que pode sim amar alguém, e que pode formar uma família feliz.

— Lili?! — olhei para a porta do quarto de hóspedes, e Jennie se encontrava me encarando com curiosidade em seu olhar. — Tava pensando no quê?

— Na morte da bizerra — ela mostrou língua e eu ri.

— Idiota!

Fomos em direção a escada, logo nos preparando para descer-la.

Peguei Jennie no colo e a levei até o sofá, podendo assim, voltar lá em cima para pegar sua cadeira de rodas.

Assim que coloquei a cadeira de rodas perto de onde Jennie estava, me segurei para não ajudá-la a se sentar na cadeira.

— Viu?! Não foi tão difícil deixar eu me virar sozinha — ela disse enquanto sorria.

— Lisa — olhei para a mesa de jantar e vi Kunpimook —, quem é ela?

— Não é da sua conta. Eu já falei que não quero sabe nada da sua mãe.

— NOSSA mãe.

— Se ela fosse minha mãe, não teria me abandonada por um motivo besta.

— Eu sei que ela te abandonou, mas ela está arrependida, Lali — ele se aproximou de mim.

— Só quem é próximo de mim pode me chamar assim. É Lalisa pra você, Kunpimook.

— Eu sou seu irmão.

— Se fosse meu irmão, pelo menos teria ligado pra me dar parabéns.

— Eu esqueci.

— Por 20 anos? Você nunca me mandou nenhuma mensagem me parabenizando. Nunca me ligou falando que sentia a minha falta. Quando eu estava na Tailândia, você também não se lembrou do meu aniversário. Ninguém se lembrou.

— Você nunca me falou quando nasceu.

— O Facebook avisa. Você tinha Facebook e estava na minha lista de amigos. Você recebeu a porra da notificação e mesmo assim não me parabenizou.

— Desculpa!

— Agora você pede desculpas, né? Mas nem parece que estava me chamando de aberração junto com seus amiguinhos de merda — ele me encarou, percebendo a merda que fez. — Eu lembro muito bem. Eu ouvi muito bem.

— Lisa, não vamos discutir sobre o passado — ele mantinha seu tom calmo e baixo. — A mamãe está prestes a morrer e quer te pedir perdão.

— Nem se minha vida estivesse em jogo, eu falaria com quem me abandonou e dizia na minha cara que eu sou o maior desgosto da vida dela — meus olhos começaram a lacrimejar, porém eu não queria demonstrar fraqueza, então eu segurei o choro.

— Quer saber — ele aumentou o tom de voz e se aproximou de mim, totalmente furioso. — VOCÊ É A PORRA DE UMA ABERRAÇÃO, LALISA MANOBAN! OU MELHOR, LALISO MANOBAN! VOCÊ TEM UM PAU SENDO UMA GAROTA, CARALHO! VOCÊ É O VERDADEIRO DEMÔNIO, PORRA!

— EU NÃO VOU PERMITIR QUE VOCÊ ENTRE NA MINHA CASA PRA GRITAR COMIGO, KUNPIMOOK MANOBAN! SAÍA DAQUI AGORA!

— EU VIM AQUI NA MAIOR PAZ PENSANDO QUE VOCÊ TIVESSE DEIXADO DE SER CABEÇA DURA E PERCEBIDO QUE SUA FAMÍLIA TE AMA.

— CALA A BOCA!!! — minha voz saiu rouca e o choro tomou conta de mim. Eu gritei tão alto que todos os funcionários foram ver se eu estava bem. Jennie começou a se aproximar da gente. — VOCÊS NÃO ME AMAM, PORRA!! A MINHA ÚNICA FAMÍLIA, É O VOVÔ.

— ELE MORREU, LALISA! — suas veias do pescoço começaram a ficar bem mais aparentes do que o normal. — SE VOCÊ NÃO VIR COMIGO, VOCÊ VAI FICAR SOZINHA PRA SEMPRE — ele olhou para Jennie que segurou minha mão, tentando me acalmar para que eu não agisse por impulso. — VOCÊ NÃO ACHA QUE UMA PARAPLÉGICA VAI TE DAR TUDO O QUE VOCÊ QUISER, NÉ? OLHA PRA ELA. NEM ANDAR CONSEGUE — ele riu.

O sangue subiu a cabeça nessa hora, eu acabei não me controlando e acertei em cheio seu nariz. Eu machuquei meus dedos quando soquei, provavelmente quebrei o nariz do meu irmão.

— VOCÊ LIMPA A BOCA PRA FALAR DELA, SEU PORRA! SAI DA MINHA CASA AGORA, KUNPIMOOK MANOBAN!!!!!! — ele me encarou.

— EU VOU TE MATAR, LALISA. PODE TER CERTEZA QUE VOCÊ NÃO VAI VIVER POR MUITO TEMPO, sua aberração — ele murmurou o final, olhando no fundo dos meus olhos.

Ele foi até entrada e saiu da minha casa, batendo a porta muito forte em seguida.

Estou imóvel até agora, de costas para a entrada da minha casa. Jennie está segurando a minha mão, fazendo carinho com seu polegar.

Eu me ajoelhei no chão, chorando e perdendo as forças das minhas pernas. Virei todo o meu corpo para Jennie e encarei seu semblante preocupado. Preocupado e surpreso.

Ela sabe que eu tenho um pênis agora.

— Posso? — ela assentiu e eu deitei minha cabeça em suas pernas. Comecei a chorar muito alto.

Eu não imaginei que veria meu irmão de novo. Eu não imaginei que veria alguém da minha família de novo.

Jennie começou a alisar meu rosto e meu cabelo, me confortando totalmente naquele momento.

Eu estava ali para ela e ela para mim.

Somos o porto seguro uma da outra.

Seremos para sempre, se depender de mim.

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