25
Quando acordei, Lalisa não estava mais ali. Receio que ela tenha ido trabalha ou algo do tipo.
Peguei meu celular para me atualizar do que rolou enquanto eu dormia, e vi que Jisoo tinha me mandado trinta milhões de fotos.
Abri as mensagens e tinha várias fotos minhas com Lalisa. Estávamos dormindo agarradas, como se fossemos um casal.
Provavelmente a minha irmã tirou estas fotos antes de ir trabalhar.
Sooya🖕❤️: Que bonitinho vocês dormindo agarradinhas. 🥰🥰🥰🥰
Sooya🖕❤️: So cute!!!!!
Eu: Vá a merda, Kim Jisoo!!!!!!
Sooya🖕❤️: Admite que você gostou de dormir com ela. Eu sei que gostou.
Eu: Não irei te responder isso.
Depois de conversar um pouco com Jisoo, resolvi tentar me levantar para ir lavar meu rosto.
Lalisa provavelmente não está em casa, então vou fazer o que eu sempre fiz, sozinha.
Joguei todo o meu peso para os meus braços que estavam apoiados no sofá.
Avistei a cadeira muito longe do sofá, ela estava perto da escada. Já até sei quem foi que colocou ela lá.
— LALISAAAAAAA!!!!!!
Não demorou muito para que ela aparecesse lá na sala, com um roupão, indicando que havia acabado de sair do banho.
— Por que tirou minha cadeira daqui?
— Pra você não tentar sair daí. A Jisoo me contou sobre o incidente que houve sábado.
— Vocês duas não têm nada melhor pra fazer, a não ser, falar da minha vida, né? — semi-cerrei os olhos e a encarei enquanto mantinha minha expressão indignada.
— Exatamente.
— Vai ficar aí parada ou vai me ajudar?
— Ah, claro. Eu tinha esquecido que a bebê aqui não sabe andar — ela disse enquanto se aproximava de mim.
— Para de fazer bullying comigo, sua idiota! — fiz uma cara triste e decepcionada. — Eu esperava isso de qualquer pessoa, menos de você.
— Você sabe que eu faço na brincadeira. Não leve a sério tudo que eu falo.
Ela também é brincalhona.
Engraçada, gentil, me irrita, encapetada e é brincalhona... Você está se encaixando direitinho no meu tipo de garota, Lalisa Manoban.
Começamos a subir as escadas. Agarrei seu pescoço, para caso ela me derrubar, eu levar ela junto.
Ela é bem forte, provavelmente faz academia.
— Você tem fisioterapia hoje. Irei te levar depois das dez. De lá a gente sai pra almoçar em algum lugar.
— Você tá muito carvalheira pro meu gosto — franzi o cenho.
— Eu já cansei de dizer que eu só estou cuidando de você — entramos no quarto onde eu e Jisoo estávamos ficando. — É tão difícil aceitar que alguém realmente goste de você: você, e não de você: seu corpo? — ela parou no meio do local e me encarou.
— Aah, sim!?
— Eu esqueci do seu trabalho — comecei a sentir ela andar até o banheiro. — Falando nele...
— Lisa, agora, mais do que nunca eu preciso de um trabalho. Em breve terei que cuidar do meu filho.
— Eu posso te ajudar com isso — ela me colocou sentada na privada que estava com a tampa fechada.
— Como? — encarei-a enquanto a garota pegava algumas coisas para preparar a banheira.
— Eu estou precisando de modelos. Você se encaixaria perfeitamente no padrão da minha empresa. Receio que também atrairia muitos clientes.
— Eu? Modelo? — ela assentiu. — Você só pode estar zoando. Olha pra mim — eu ri enquanto passeava as mãos pelas laterais do meu corpo, sem deixar com que elas o tocassem.
Lisa riu e veio até mim. Ela me encarou por cinco segundos. Eu posso jurar que algo em mim disse: é só beijar. Ela está tão perto. Beije ela, Jennie Kim!
Porém, eu me segurei e não agi por impulso. Lisa tem um coração de ouro, não quero machuca-la com o meu jeito de ser.
A verdade é que eu tenho medo de amar.
Eu tenho medo de me apaixonar e acabar me machucando.
Eu tenho medo de fazer algo de errado e acabar machucando alguém que eu amo.
O amor é algo que me apavora e me alivia; que me enloquece e me domina; que me machuca e me cura... e que me mata por dentro por estar guardando um sentimento não correspondido...
Me perdi em meus pensamentos e nem percebi quando Lisa me levou até perto do balcão da pia. Ela fez eu apoiar meu corpo no balcão, fazendo-me ficar de frente para o espelho.
— Levante a cabeça — ela ordenou e eu obedeci, levando meu olhar ao seu. — Não olhe pra mim, olhe pra você.
Encarei meu próprio reflexo.
— Está vendo?
— O quê?
— O tamanho da sua beleza — ela foi um pouco para trás e se escorou na parede coberta por azulejos brancos. — O quanto você foi bem desenhada. Nenhuma modelo minha consegue chegar aos seus pés, Ruby. Acima de você, só a coroa.
— Por que está dizendo isso? Não vai achando que irá me convencer com simples palavras.
Ela sorriu maliciosamente e se aproximou de mim com os braços cruzados. A garota parou um atrás do meu corpo, ficando a centímetros de distância.
Me surpreendi quando Lisa descruzou os braços e levou suas mãos até a parte larga da camiseta que estava em meu corpo. Eu sempre dormia com ela. A roupa era confortável para mim. Ela era duas vezes o meu tamanho, portanto, a camiseta ficava bem larga no meu corpo, fazendo com que não deixasse as minhas curvas a mostra.
Lisa puxou o que sobrou de minha camiseta, para trás do meu corpo, apertando um pouco a peça de roupa, para assim, conseguir deixa-la colada em meu corpo.
— Já parou na frente do espelho e se admirou? — neguei com a cabeça, sem desviar o meu olhar do espelho.
A garota que estava um pouco atrás de mim, ficou me encarando com um olhar necessitado, demonstrando que queria algo que eu já sabia bem o que era.
— Eu vou sair desse banheiro e você vai se admirar nua na frente deste espelho — a encarei com dúvida.
— Pra quê? Eu nem consigo tirar a minha roupa sem cair no chão.
— Eu te ajudo. Mas você vai fazer o que eu estou mandando — ela colocou as mãos por baixo da minha blusa, apertando firme minha cintura, fazendo com que eu me arrepiasse com seu toque macio e sensual.
Percebi que Lalisa tinha fechado o olho.
Ela estava séria demais para ser verdade.
— Lalisa, você já me viu nua — a lembrei enquanto ria.
— Não quero te deixar desconfortável.
Parei o que eu estava fazendo e encarei a garota que permanecia de olhos fechados.
Percebi que Lisa era a mulher perfeita. Ela era aquele mulher. A mulher dos sonhos de todas as garotas que gostam de garotas.
O jeito seduzente que ela transmitia em sí quando queria algo a mais do que um simples abraço, não passava despercebido por mim. Nunca passou, na verdade.
Comecei a me despir lentamente enquanto sentia o toque suave que Lisa me disponibilizava na região do meu quadril. Com um toque inesperado, eu senti ela começando a acariciar minha barriga e sorri.
Este ato já estava se tornando um hábito para a garota. Ela não conseguia ficar sem acariciar minha barriga por um segundo.
Ontem, eu dormi com o carinho que Lisa fazia em meu abdômen. Ela ficou acariciando com seu polegar, lentamente. Óbvio que aquele toque repentino me fez arrepiar por inteira.
Quem não iria se arrepiar?
Após me despir por inteira, apoiei minhas mãos no mármore bege, e joguei todo o meu peso para ele.
— Pronto...
— Agora se admire. Eu vou sair para te deixar mais a vontade — ela soltou meu quadril com cuidado, ainda com medo de eu cair. Porém, quando percebeu que eu estava segura, ela tirou suas mãos e foi se afastando, de olhos fechados.
Eu estava séria, até ver Lisa trombando no suporte onde ficava os papéis higiênicos reservas.
— Sai do meio, porra! Essas merdas ficam no meio do banheiro — ela saiu do banheiro murmurando xingamentos, os quais eu não entendi muito bem.
Fiz o que Lisa disse.
Me encarei profundamente até o fundo da minha alma. Encarei meus olhos; encarei minhas manchas que alguns caras faziam questões de deixar; encarei a minha barriga que começava a crescer; encarei o meu rosto inchado, pois havia acabado de acordar; encarei meus peitos, onde possuía grandes marcas de hematoma.
Tanto homens pegaram alí...
Encarei minha intimidade... Encarei aquilo que não pertencia mais a mim.
Encarei meu pescoço, que, por sorte, já havia saído as marcas de chupões que aqueles asquerosos faziam questão de fazer, sem se importarem com o que eu sentiria, porque todos eles são um bando de vagabundos, desocupados e infiéis.
Comecei a chorar e a passar a mão por todo o meu corpo. Cada curva; cada hematoma; cada marca; cada arranhão que eu insistia em fazer quando minha ansiedade atacava, cada detalhe mínimo que só o meu corpo possuía...
Por exemplo: a minha cicatriz...
Aquela cicatriz.
Eu comecei a chorar mais alto quando releí no lugar onde eu havia levado onze pontos, o lugar onde eu insisti em machucar por conta de uns imbecis que consumiam a minha mente à todo tempo, à todo momento, à todo segundo.
Eu insisti em tocar a parte do meu corpo que representava o momento em que eu mais sofri na vida... o momento em que eu mais me machuquei em toda a minha bendita vida.
Lágrimas começaram a caírem do meu rosto. Algumas iam à caminho do piso branco e brilhante, outras iam em direção ao mármore bem higienizado e bonito, mas a maioria resolviam ficar em meus olhos... ou pelo menos, tentarem ficar em meus olhos.
Soluços podiam ser ouvidos ecoando pelo o banheiro médio e chique que ficava no quarto de hóspedes.
Ouvi três batidas da porta e uma voz suave e preocupada perguntando:
— Está tudo bem?
— Não...
Sem ter que esperar por muito tempo, a porta do banheiro foi aberta pela garota loira, alta e charmosa. Ela ainda estava de roupão, ou seja, ela estava sem roupa por baixo do tecido grosso e grande.
— Perdão! — ela levou as mãos até os olhos, os tapando enquanto se aproximava.
— Pode olhar... Eu deixo você olhar, Lisa.
— Certeza?
— Sim... Vá em frente e me chame de idiota.
Ela finalmente tirou suas mãos de seus lindos e atraentes olhos perfeitamente desenhados, e me encarou pelo espelho.
— Pode falar. Eu sei que você quer...
Eu pensei que sairia comentários assediadores de sua boca.
Mas...
Pelo visto, eu preciso conhecer a garota com quem vou conviver por um bom tempo.
— O que você enxergou nele? — ela fechou a porta e se encostou nela.
— Marcas.
— Vou melhorar a pergunta — a garota se distanciou da porta e se aproximou de mim com as mãos para trás, fixando seus olhos nos meus pelo o reflexo do espelho. — O que você enxerga no seu olhar?
— Eu enxergo alguém que se perdeu no meio do caminho e acabou seguindo a vida que ela mais tinha medo de ter... Eu enxergo alguém totalmente cansada, exausta de sua vida... de sua carreira. Eu enxergo alguém que se arrepende de tudo o que fez no passado, que se arrepende de tentar se matar quando o que mais precisava era de um abraço que a confortasse...
Minhas lágrimas voltaram a cair cheias de dor e rancor da pessoa que virei. Lisa estava segurando o choro, eu pude perceber isso.
— Você se sente satisfeita em ter seu corpo vendido toda noite pra um cara diferente — neguei com a cabeça. — Responda em voz alta para sí mesma! — ela aumentou um pouco o tom.
— Eu não me sinto confortável vendendo meu corpo pra um qualquer nojento — eu fechei meus olhos e gritei enquanto deixava minhas lágrimas caírem.
— Diga isso olhando nos seus próprios olhos, Ruby Jane!!! — ela gritou.
— EU NÃO QUERO MAIS VENDER O MEU CORPO PRA PORRA DE UM QUALQUER NOJENTO, IDIOTA E TARADO DO CARALHO, PORRA!!! — gritei me encarando pelo o reflexo do espelho, em meio ao choro forte que veio junto com as inúmeras lágrimas que insistiram em cair no chão assim que eu fechei os meus olhos.
Perdi as forças dos meus braços e acabei me desequilibrado. Por sorte, Lalisa foi ágil e me segurou.
Logo ela virou meu corpo para o seu e me forçou a encostar a cabeça em seu peito, enquanto a acariciava meus fios negros.
— Eu posso ser um belo abraço confortável se você quiser...
— Eu quero. Eu quero muito, Lili — minha voz saiu meio abafada por conta da situação em que eu me encontrava.
— Apelido novo?
— Sim...
— Ruby — encarei ela —, me promete que vai fazer o que você sentir que tem que fazer?
— Prometo.
— E o que você sente que tem que fazer?
— Ser sua modelo e sair do meu emprego — um sorriso apareceu em seus lábios e ela me abraçou novamente.
— Você não sabe o quanto isso vai melhorar a sua vida. Agora, você tem eu aqui pra te confortar. A qualquer hora, a qualquer momento, Lalisa está disponível 24 horas por dia — me afastei dela e a encarei sorrindo.
— Palhaça — eu ri e ela sorriu para mim. Um sorriso que eu nunca tinha visto antes.
Um sorriso e um olhar apaixonado...
Tenho certeza que eu não me encontrava diferente dela.
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