19

Neste exato momento, estou na beira do fogão, mexendo o arroz e o feijão. Lalisa está me segurando com suas mãos em minha cintura.

— Então... Você não disse nada sobre a posição em que acordou. Eu só quero deixar claro que eu não faço ideia de como você foi parar em cima de mim.

— Eu achei aquela posição mais confortável pra mim.

Ela ficou em silêncio, mas tenho certeza que está sorrindo de orelha a orelha.

— Lalisa, me segura direito que eu tô sentindo a sua mão soltar da minha cintura — ela rapidamente apertou mais meu quadril com suas mãos.

— Desculpe!

***

Depois de um tempo jogando conversa a fora e conhecendo melhor a Lalisa, percebi que ela até que é um pouco engraçada. Não que isso seja a melhor coisa do mundo, mas ela me fez rir bastante.

— Sabe de uma coisa, eu vou deixar no ar mesmo. Eu amo quando eu te faço rir — encarei ela e tivemos uma rápida troca de olhar até a Air Fryer apitar, indicando que a batata frita estava pronta.

— Vai pegar a batata — ela assentiu e levantou.

Lalisa Manoban...

Para de ser tão legal comigo.

— Me ajuda aqui. Eu preciso ver a carne — ela me ajudou a levantar e ficou me segurando enquanto eu mexia a carne.

Caiu outro raio perto de casa. Eu me assustei com o barulho e acabei mexendo a panela cheia de óleo, o que me fez queimar a mão que estava com a colher.

— Ruby! — Lisa me tirou de perto do fogão.

Eu comecei a chorar de dor, o choro aumentou ainda mais quando deu um trovão muito alto e a luz acabou.

Meu corpo começou a tremer, Lisa percebendo isso e não querendo arriscar me levar até a minha cadeira no escuro, parou no meio da cozinha, me colocou no chão e me abraçou por trás. Ela colou bem seu corpo no meu, descansou seu queixo em meu ombro e começou a acariciar minha barriga.

— Vai ficar tudo bem, Ruby. Eu estou aqui. Não precisa chorar. Iremos cuidar desse ferimento, ok? — assenti tentando controlar meu corpo.

— Lisa, meu remédio pra ansiedade tá na minha bolsa.

— Melhor não, Ruby. Não sabemos se pode fazer mal para o seu bebê.

— O bebê é de quem?

— Por favor, deixe-me te ajudar. Seja gentil uma vez na vida.

— AAHHH — me assustei com outro trovão e Lisa me abraçou mais forte.

— Está com o celular? — assenti chorando e tremendo. — Ilumine o caminho. Te deixarei no sofá.

Eu liguei a lanterna do meu telefone e iluminei o caminho até a sala. Lisa me pegou no colo, fez com que eu agarrasse o pescoço dela e me levou até a sala, me colocando no sofá com o maior cuidado do mundo.

— Vou pegar um copo d'água pra você — ela saiu e me deixou sozinha.

O medo começou a consumir meu corpo. Os trovões lá fora, não me deixavam tranquila. Minhas mãos começaram a tremer, levei-as até minha barriga e acariciei-a enquanto tentava me controlar.

Minha garganta trancou, eu não estava conseguindo respirar direito. Eu fiquei desesperada, como sempre, mas dessa vez, é porquê eu tenho mais uma vida para cuidar.

— Ruby! — comecei a respirar fundo.  — Beba água!

Bebi um gole d'água.

— Beba mais. Você precisa se hidratar. Não vi você bebendo água hoje.

— Você não é minha mãe.

— Mas eu me preocupo igual a uma. Agora bebe logo! — bufei e bebi a água, conseguindo parar um pouco com a minha respiração descontrolada.

Minhas mãos e meu corpo continuaram tremendo. Lalisa percebendo isso, sentou ao meu lado e me abraçou.

A garota à minha direita fez com que eu jogasse todo o peso do meu corpo para o corpo dela.

— Quer deitar? — assenti e deitei em suas coxas, devagar.

Não demorou muito para que eu recebesse um cafuné macio, fofo, aconchegante, confortável e especial em meu cabelo.

Ninguém nunca cuidou de mim desse jeito. Eu estou amando ter uma pessoa tão preocupada comigo a ponto de ter paciência de lidar com a minha forma ignorante de responder qualquer coisa.

— Se a luz não voltar, vocês podem dormir na minha casa. Lá tem gerador — fiquei quieta, tentando parar de soluçar. — Será perigoso vocês ficarem aqui sozinhas no escuro. Principalmente com você numa situação dessas.

— Vou conversar com Jisoo. Mas eu não preciso de caridade e nem da sua pena.

— Não sei como eu ainda não desisti de você — ela murmurou, pensando que eu não iria escutar.

Ignorei o que ela falou e voltei a me concentrar na minha respiração e no meu choro.

— Você quer ir agora ou esperar sua irmã?

— Vamos esperar ela sair.

— Ok. Vamos arrumar suas coisas então — ela tentou levantar, porém eu segurei seu braço antes que ela me tirasse de seu colo.

— Eu preciso do seu colo por mais 5 minutos, até eu me acalmar por completo.

— Ok, então, chefe! Você que manda — ela encostou as costas no sofá e voltou a fazer cafuné no meu cabelo.

Depois de um bom tempo no sofá, apenas na presença uma da outra, sem trocar uma palavra, eu resolvi ir arrumar minhas coisas com a ajuda da Lalisa.

— A Jisoo me ligou e disse que já saiu e está esperando a gente — Lisa disse.

— Tá bom. A gente já pode ir. Peguei tudo que precisaremos.

— Beleza. Você me espera aqui?

— Por quê?

— Tá chovendo e o carro tá do outro lado da rua. Vou trazer ele aqui na entrada.

— Tá bom. Não demora — ela riu e assentiu antes de sair. 

Eu tenho muito medo de trovão, raio, essas coisas. Eu amo chuva, mas quando está chovendo sem trovão ou relâmpago.

É tão bom dormir enquanto a chuva cai do lado de fora.

Coloquei a mão na minha barriga e comecei a acaricia-la enquanto olhava para a janela. Não demorou muito para eu ver Lalisa do outro lado da rua. Eu ri quando ela tentou abrir o carro de outra pessoa, pois era um carro parecido com o seu. Ela bateu na própria cara depois disso.

— Ela é idiota?

Assim que Lalisa entrou no carro e o ligou, ela fez o carro morrer três vezes antes de colocar ele na frente do prédio onde eu moro.

— É, meu filho, se a gente morrer, mate aquela maluca, não a mamãe — disse olhando para a minha barriga.

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