CAPÍTULO 1: Origem do plano.
Eu tinha costume em observar as estações do ano, outono era a minha preferida apesar da aparência carunchosa e efêmera, entretanto conseguia ver os arabescos da janelas acessas retocadas pela luz cinzenta da manhã, as folhas cordiformes secas e âmbares eram bailarinas envolvidas ao vento e mesmo no frio as 7 da manhã eu estava acordado suspirando o ar gelado e aproveitando que o dia de um ladrão ainda não havia começado. Eram em dias assim que eu me sentia pequeno e melancólico todas as vezes que lembrava de um certo passado e um certo alguém que não deu certo e que hoje em dia, vive sendo manipulado; Eu.
E mesmo com a minha situação precária, não conseguia de fato colocar um fim naquilo sem... Usar técnicas indignas que envolvia invasão domiciliar e desaparecimento de bens materiais importantes e de valores. Vivia assim, pensar que não somente eu estava envolvido nisso tudo era no mínimo reconfortante, pra não dizer palavra pior.
E quando me dei por vencido o parquinho parecia melhor e estava cedo perambulando pela cidade, com uma câmera fotográfica cobrindo meus olhos ao mesmo tempo em que me davam uma visão mais ampla e filtrada da cidade ao meu redor. Gostava disso, de caminhar sem rumo e apenas observar as pessoas de longe, todas envolvidas na própria bolha, com seus próprios problemas vivendo a vida que o destino lhes deu, eu ainda tinha o dom de achar cada movimento da predestinação injusto com dias dos quais eu duvidava da minha própria crença, querendo ou não, um ódio cresceu no meu peito, manchou minha alma e eu sequer podia fazer alguma coisa contra, o destino não foi bom comigo.
A medida que caminhava despreocupado em direção ao parque minha cabeça latejava devido a noite anterior, mais a frente conseguia uma visão ampla do qual precisava e usando minha câmera como distração, apontei a lente estrategicamente direcionada a empresa esperando que de alguma forma podesse ampliar minha vista dali. Era o alvo do dia, Hyumbim queria o dinheiro da empresa Kim e eu tinha de entrar lá e simplesmente roubar.
Deixei a câmera descansar sobre minha barriga e soltei o ar por pura frustração, seria difícil tentar roubar aquele sedimento, o prédio era grande demais, câmeras e sem contar os guardas fiscalizando a entrada, e foi em vão, as fotos que tirei a pesquisa de campo que fiz, oque fez também a minha bagagem inútil.
Voltei para casa com as mãos abanando e com uma carranca feia no rosto, porque sabia a bronca que levaria dali até o dia de minha morte, assim fiz, esperei até ter coragem e entrar na casa barra mansão de meu... Amigo, assim diríamos. Eu não era alguém que deixaria minha vida ser manipulada por alguém da mesma classe, mesmo que como alfa isso ferisse muito meu orgulho, mas as circunstâncias acabaram me levando a esse fim, apesar de odiar isso, era meu convívio diário, e eu suportava tudo pelo fato de... Não ter um lugar para aquietar a bunda, Hyunbim foi o cara que me "ajudou" a viver e mediante a isso, devo minha vida a ele, mesmo que ela não valha nada.
Ouvi os sons da madeira rangindo sob as solas dos sapatos de notas, eu já sabia quem era, mesmo queimando em odio por dentro, baixei a cabeça.
— Retornou cedo Jeongguk, cedo demais eu diria. Não vejo nada nas suas mãos. — foi oque ele disse assim que entrou na sala do qual mal pus os pés.
Engoli saliva, que de repente acabou ficando densa demais. Eu não tinha medo daquele homem, mas era alguém com bastante influência, temia na verdade oque ele poderia fazer comigo, poderia facilmente arrancar meu coração enquanto eu estivesse submerso em sonhos. Ou ele mesmo o faria, ou mandaria seus bandos de delinquentes, correria risco se caso pensasse em traí—lo.
— Ah é que... — mais uma dose de saliva que quase não desceu. — Fui até a empresa Kim, mas eu sozinho e a luz do dia não conseguiria sequer colocar um pé no saguão.
Ele me olhou, odiava quando usava aquele tom.
— Você foi até lá com um propósito apenas. — a voz carregada de ranho vociferou, eu não queria parecer covarde diante a trilha de pessoas que o seguiam e que tinham um avançado sistema de roubo.
Não que eu fosse um Zé ninguém mas eles eram quase ninjas. Todos eles, e eu sequer entendia o porque de tantas pessoas seguirem esse homem, por mais incrível que fosse, por muitos roubos que tenhamos feito, nunca, em circunstância alguma éramos alvo de investigação da polícia, tínhamos que fugir é claro, mas nunca procurados, Hyunbim tinha um poder até neste ponto importante. Poderia não compara—los a mim, mas eu possuía algo, Hyumbim sabia disso e se aproveitava, a trilha era como um corpo e eu era o cérebro, Hyumbim era o crânio que me cobria e manipulava.
Além de roubar por benefício próprio, também fazia por Hyumbim como uma dívida que eu tinha a anos, não sabia se ela poderia pelo menos ser paga. Mas eu não gostava apesar de tudo, e ser obrigado só me deixava mais enfurecido.
— Mas Hyun-
— Eu estou cansado de ouvir essas descupas Jeongguk, todos os dias me vem com uma história diferente e se me permite dizer sinto que está esquecendo do favor que me deve. — as carrancas que eram para mim, eram gracejadas e gritantes, cortando o ar com raiva e eu escolhi os ombros.
— Sinto muito. — foi tudo oque falei e depois de uma silêncio quase palpável ele disse:
— Este seria o momento em que você perguntaria oque deveria fazer para compensar esses deslizes. — mas me mantive calado. E mediante a isso, ele continuou não antes de me dirigir uma expressão maldosa. — Bom, então devo dizer que, andei pesquisando sobre a família Kim, e não muito longe daqui, em uma mansão gigantesca vive uma parte da família, em Seul, mas todos estão em viagens sobretudo o proprietário da mansão. Oque significa?
Ele me olhou e eu o imitei, filtrando aqueles olhos de palpebras velhas, pele enrugada e cheia de imperfeições. Com o olhar e um aceno com a mão, ele me incentivou a terminar sua linha de raciocínio.
— Oque significa que a mansão está vazia. — falei, a voz não passando de um sussurro.
— Touché. — usando o dedo do meio e o polegar ele estalou-os, reverberando o som dentro da minha cabeça. — Oque é um bom momento para você infiltrar-se, não acha? Você é um bom homem, se impõe sobre os outros alfas Jeongguk, acredito que passar por alguns funcionários não vai ser difícil, correto?
Engoli em seco, em anos o velho Bim vem tentando furtar o dinheiro dos Kim's, a família era literalmente a primeira potência mundial em rendas económicas, grande parte da cidade vive sob as empresas e oportunidades de trabalho que a família Kim fornecia, parte de todos eles vivem na França e a linhagem de alfas puros era quase lenda naquela região, ômegas e alfas desta família quase nunca eram vistos, poucas pessoas de fato bateram de frente com eles, e eu já imaginava o porque.
A família Kim era quase nobre.
Hyunbim apenas queria o dinheiro dos Kim's mesmo que os roubos lhe rendessem bastante, para ele não era o bastante, armar um roubo grande por incrível que pareça ainda era arriscado demais, Hyunbim tinha o controle de oito porcento quando os Kim's tinham todo o resto.
— Sim, irei tentar. — foi tudo oque eu falei depois de um tempo em silêncio, precisava pensar o quão fodido eu estava.
Hyunbim tinha capangas para isso, se saísse do seu controle, pegariamos todo o problema sozinho.
— Tsc Tsc, você vai trazer o dinheiro pra mim. — ele disse e eu concordei.
— Trarei o dinheiro.
— Bom menino. — levantei, pronto para deixar aquele ambiente pesado e com gosto salgado na boca. Porém, ouvi sua voz quando estava a cinco passos de distância, e parei. — Jeongguk, não me decepcione.
— Sim, senhor. — pisquei o olhando por cima do ombro antes de continuar o caminho.
Eu sabia oque aquela frase significava e era um caminho perigoso para todos que já puderam ouvir, o tom usado, o olhar e até mesmo a postura indicava uma ameaça.
Eu teria de fazer algo grandioso, e aquela noite no quarto, mesmo não tendo crença alguma, pedi aos céus clemência e talvez um anjo guia.
♧
Achei que depois de uma noite frutuosa de sono dentro da minha rede quente agarradinho aos meus lençóis poderia finalmente me sentir um por cento mais revigorado que dia anterior, ou ao menos me livrado de um peso descomunal nas costas, me sentia sólido feito muitas sacas de cimento, mas incrivelmente conseguiu ficar pior.
Mas eu não sabia diferenciar se a sensação era decorrente do medo, raiva, ou simplesmente cansaço emocional e físico, talvez todos de uma vez.
Durante o pouco tempo do meu convívio, nunca tive muitas ambições pelo menos não ruins, nem sequer foram grandiosas e tudo oque eu mais quis nesta vida foi uma casinha de frente para o sol, uma lareira quente e uma cama de colchões macios para dormir, travesseiros e talvez um bom parceiro para passar a vida, eram ambições distantes e que agora não faziam sentido algum, já que... Bom... Eu não era um bom alfa, não um que poderia oferecer uma boa vida para um bom Ômega, eu teria muito de pagar ainda com Hyunbim já que ele sentia-se na liberdade de simplesmente controlar minha vida por ser... Um salvador medíocre.
Talvez, a muito tempo atrás, eu não me importasse com isso e que eu acreditasse que Bim era realmente meu amigo e salvador, mas com o tempo entendi quais eram suas intervenções sobre mim e sobre oque eu poderia fazer neste meio que na época apenas ele era envolvido, me senti na obrigação de aceitar tudo que vinha dele visto que o próprio acabou me salvando de uma possível morte, me sentia devoto e banhado em admiração, mas estava me afogando em um redemoinho de mentiras e desilusões, Hyunbim fechou meus olhos com uma fita e guiou-me erroneamente para os caminhos mais desleal e indigno que qualquer ser humano podesse tocar com as solas dos pés.
E de qualquer forma, eu não tinha caminho algum, não um que podesse me favorecer e isso sempre foi um impasse, depois que Bim apareceu, tudo mudou, e eu não me sinto orgulhosa com a "evolução". Além disso, eu conseguia sobreviver de algum modo e por hora, era oque me bastava.
O dia não estava disposto a colaborar comigo e de qualquer forma tive que sair do conforto do meu sono sabendo que minha trajetória durante as horas seguintes seriam tediosas e repetitivas, saltei da rede com gosto pulando duas vezes sobre os dedos dos pés, esperando que de alguma forma aqueles movimentos bruscos e abruptos despertasse meu corpo ou aliviasse as dores recorrentes, mas como resposta logo em seguida resmunguei, não serviria, este era um dos motivos para desejar tanto uma cama macia, um homem precisa de uma boa noite de sono e por muitas noites eu não as tive ainda, talvez meu mal-humor viesse daí, uma noite mal aproveitada e uma rede de pano áspera e irregularmente desconfortável nas costas.
E nem mesmo o banho foi capaz de aliviar aquele peso sólido dos ombros, a água fria tocou-me a pele sem pena e eu odiava a sensação de estar sendo arrancado do mundo dos sonhos como um peixe capturado pelo anzol, arfei com o frio da brisa que escapava da janela e rapidamente tratei de vesti algo que me protegesse daquele contato de dedos frios e cruéis e embora eu tenha passado algumas horas lamúriando e batendo os dentes sentado na rede fui capaz de finalmente sair.
O frio era impiedoso do lado de fora, não havia sinal de neve, mas o cinza era a tintura perene dentre o verde mórbido e as ruas taciturnas, minha cidade combinava bem com aquele clima, além de apagada e muito pobre era também um local de sobreviventes da fome e pedintes com trabalhos abusivos diários, era uma situação delicada e que infelizmente eu não podia mudar. Minhas roupas muito surradas mal me protegiam do frio e fui obrigado a caminhar encolhido dentro da minha própria casca, meu lobo recusando ajuda e igualmente insatisfeito com a situação que eu sequer tinha controle, limitei os espasmos de frio e os dentes trincados, meus dedos perderam a cor e enquanto não conseguia chegar no metrô, permanecia vergado dentro das roupas soprando ar quente no meio das mãos em concha.
Esperei até que meu corpo se acostumasse e agradeci pelo som irritante do trem estar a menos de cinco metros de mim e com as portas escancaras me chamando para o interior quentinho, corri até lá agradecendo uma segunda vez pela pouca movimentação e pessoas perto de mim, minha mochila nas costas serviu de travesseiro e pelas horas seguintes aproveitei o gerador de ar quente, a movimentação satisfatória dos assentos e a maciez da minha mão sob minha bochecha.
»»—————⍟————-««
Obrigado por chegar até aqui. 😁
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