A Bolsa
"Vá em frente, e chore garotinha
Ninguém faz isso como você
Eu sei o quanto isso importa para você
Eu sei que você tem problemas com o papai
Papai ficou por perto, mas ele não estava presente".
- Daddy Issues – The Neighbourhood
Seok Kyung estava esperando sua tutora chegar, as aulas ocorreriam no seu próprio quarto, ela tinha uma enorme mesa onde costumava fazer suas atividades escolares, a garota estava sentada na cadeira, trocando mensagens com Eun Byeol, que era uma de suas colegas de classe, Eun Byeol também vivia naquela cobertura, seu apartamento ficava um andar abaixo o dela.
"Estou esperando minha tutora chegar"
"Oh... você gostou dela?"
"Não sei muito sobre ela, mas o pouco que vi não parece ser ruim... ela só é pobre, deu para perceber por suas roupas".
"Espero que ela não seja uma sanguessuga".
"Acho que não, ela parece ser do tipo boazinha, minha mãe gostou muito dela, mas minha mãe gosta de todos... ela não tem maldade."
"hahahaha, sim, você vai tornar as coisas difíceis para ela?"
"Hum, não sei, acho que não, eu pedi por uma tutora, agora preciso valer a pena, só espero que ela se comporte, ela tem 20 anos, mas parece ter a nossa idade".
"Ohhh, sério? Tadinha! Deve ser péssimo ser maior de idade e ser confundida com uma adolescente de 15".
"Hahaha, em algumas situações pode ser bom, Eun Byeol, ela chegou, nos falamos depois".
Seok Kyung se levantou ao ver sua tutora entrar em seu quarto, a porta estava aberta, ela havia pedido licença antes, as duas se curvaram rapidamente, Seol Ah se aproximou e colocou seu material em cima da mesa.
- Sua mãe me contou sobre sua dificuldade na matéria de língua coreana e de matemática.
- Sim... você acha que eu seja burra?
- Claro que não, é comum ter dificuldades na escola, ninguém é perfeito – respondeu Min Seol Ah.
- De acordo com o meu pai, o meu irmão gêmeo é perfeito, ele sempre foi melhor que eu no colégio.
- Seu pai está errado, ninguém é perfeito, tirar notas altas não é sinônimo de perfeição.
- Você só está querendo me agradar... não precisa me defender, mas gostei da sua resposta, tutora – falou Seok Kyung, confiante.
- Não falei para te agradar, só estou sendo sincera em relação a minha opinião, mas vamos começar?
- Claro, vamos.
Seok Kyung gostou da forma como Da – Mi explicou as matérias para ela, em nenhum momento ela suspirou cansada, e quando ela não entendia algo, a jovem explicava com calma novamente, ela não notou nenhum deboche de Da- Mi, algumas pessoas costumavam se achar por saber mais que a outra, mas não foi o caso de Da- Mi.
- Terminamos por hoje, o que achou? Conseguiu entender o que eu expliquei?
- Sim, eu entendi, apesar de ter demorado a entender... gostei bastante da forma como você me explicou, você é boa no que faz.
Seol Ah sorriu satisfeita, era bom ouvir de uma adolescente rica que você era boa em explicar. – Obrigada, mas você é uma boa garota.
Seok Kyung sorriu, foi engraçado ouvir isso, se Da – Mi soubesse as coisas que a aluna fazia jamais falaria isso novamente, foi o que Seok Kyung pensou.
- Não sou uma boa garota – respondeu Seok Kyung em um tom tímido e tentou se controlar para não rir.
A garota praticava bullying com outras alunas mais "fracas", ela e seu grupinho eram os valentões do colégio, mas sua tutora não sabia disso e era melhor que não soubesse, nem mesmo sua amada mãe sabia sobre os atos terríveis que a filha praticava, não só ela, Seok Hoon fazia o mesmo, mas com os garotos.
Seok Kyung analisou Da – Mi, a jovem tinha um rosto bonito, mas aquele óculos feio em seu rosto escondia um pouco de sua beleza, as roupas folgadas e velhas não valorizavam seu corpo e aquele cabelo escuro com metade das mexas vermelhas a deixava com um ar de "adolescente rebelde", ela se sentiu tentada a melhorar a aparência da tutora, mas ainda era cedo para isso, não queria assustar a jovem, Seok Kyung quando ia com a cara de alguém era um verdadeiro anjo, mas quando não ia, fazia da vida da pessoa um verdadeiro inferno, até o momento Da- Mi havia conquistado-a, mas resolveu esperar um pouco mais.
As duas caminharam juntas até a sala, a mãe e o irmão estavam sentados no sofá, quando as viram chegar, se levantaram e se aproximaram.
- E aí, filha? Gostou da aula? – perguntou Su Ryeon, olhando com expectativa para as duas.
Seok Kyung esboçou um sorriso de anjo e assentiu com a cabeça. – Sim, eu gostei muito, Da-Mi é uma boa professora – elogiou a garota.
- Ah, que bom! Fico feliz que tenha gostado dela, eu sabia que vocês duas iriam se dar bem – Su Ryeon comentou, satisfeita ao perceber que a filha havia aprovado sua tutora.
Elas se despediram e observou sua mãe acompanhar a tutora até a saída, Seok Hoon se aproximou da irmã. – Você realmente gostou de Da-Mi?
- Sim, não acredita que eu possa ter gostado dela, maninho? – pergunta a garota, olhando para o irmão de forma divertida.
Seok Kyung e Seok Hoon eram muito próximos, sempre foram grudados desde a infância, os dois dividiam segredos e traumas, coisas que nunca haviam contado para a mãe, tinham medo de contar e algo pior acontecer com Shim Su Ryeon. Seok Hoon era muito protetor em relação a sua irmã, ele a via como uma boneca de porcelana que poderia se quebrar a qualquer instante, ele sabia que a irmã era durona por fora, mas por dentro era toda quebrada.
- Achei estranho você ter gostado dela... – admitiu o irmão, o olhar preocupado.
- Por quê? Por ela ser pobre?
Seok Hoon assentiu com a cabeça, os dois eram valentões no colégio, faziam bullying com alunos do colégio sem se importarem com a classe social, rico ou pobre, se a pessoa de alguma forma os irritassem, estavam sofrendo as consequências depois.
- Ah, irmãozinho... ela é pobre sim, mas é a minha professora particular, eu que pedi para ser tutorada, então é minha obrigação fazer o dinheiro gasto da mamãe valer a pena, e até o momento, Da- Mi se comportou, ela me tratou bem, me ensinou bem, então não vejo porque fazer algo contra ela – confessou a garota em um tom divertido.
- Menos mal, então...
Seok Kyung riu. – Não se preocupe, está tudo sob o controle.
... ... ...
Na manhã seguinte, os gêmeos foram para sua renomada escola, o motorista particular os levou de carro, quando entraram pela portão principal do colégio, alguns alunos fugiram deles, quase todo o colégio tinha medo dos valentões, ninguém queria ser a próxima vítima, por isso evitavam olhar para eles ou ficar perto deles, alguns eram simpáticos apenas para não sofrerem no futuro, mas esse não era o caso de Minho, um garoto novo que havia entrado na escola há dois dias, Minho parecia ser o famoso "Bady Boy", quase sempre andava de preto, tinha alguns piercings na orelha, cabelo escuro, um rosto sempre fechado, dificilmente andava sorrindo, ninguém sabia muito sobre ele, nem mesmo os valentões sabiam sobre ele, por isso não haviam feito nada ainda.
Minho não estava nem aí para os valentões, enquanto Seok Kyung e Seok Hoon caminhavam, Minho esbarrou de propósito em Seok Kyung.
- Ei! – gritou ela, furiosa com a ousadia do rapaz, que esbarrou e nem se desculpou.
Ele se virou sorrindo, era a primeira vez nestes dois dias que ela o via sorrir, aquilo a irritou profundamente. – Quem você pensa que é? Não me viu ali? Novato... – ela disse de forma ameaçadora, chegando perto dele, Seok Hoon foi com a irmã.
Minho não desviou o olhar e nem abaixou a cabeça como muitos ali faziam, ele olhou no fundo dos olhos de Seok Kyung, com um sorriso convencido no rosto.
- Não te vi menina – respondeu ele.
- Você não sabe com quem está mexendo – os olhos da garota estavam furiosos.
- Sei sim, com uma mimadinha valentona que acha que o mundo gira em torno dela, mas sabe de uma coisa... eu não tenho medo de você e muito menos do seu irmão gêmeo que faz tudo o que você manda... – falou, olhando de forma divertida para Seok Hoon.
- Meça suas palavras, ninguém fala assim com a minha comigo e com a minha irmã – Seok Hoon se intrometeu, olhando com fúria para Minho.
- Sério? Me sinto honrado em ser o primeiro então – Minho não perdeu a pose, olhava com diversão para Seok Hoon, que estava muito furioso com a ousadia do rapaz.
- Você vai se arrepender por isso, novato – Seok Hoon o ameaçou.
- Eu não tenho medo de vocês – respondeu Minho, dando as costas para os irmãos.
Minho se afastou, deixando Seok Kyung e Seok Hoon furiosos. – Quem ele pensa que é? Será que ele não sabe com quem está se metendo? – resmungou a garota, cruzando os braços, furiosa.
- Ele vai aprender com o tempo... – falou Seok Hoon.
- Você vai dar uma lição nele, não é?
- Sim.
Seok Kyung sorriu vitoriosa. – Que bom, ele merece mesmo essa lição, agora vai pensar bem antes de passar por cima de nós.
Os irmãos estavam juntos sentados em um banco no pátio, quando seus amigos chegaram, Eun Byeol, Yoo Jenny e Min Hyeok faziam parte do grupo de valentões, eles sempre estavam juntos quando praticavam o bullying.
- Ficamos sabendo do atrevimento do novato... – comentou Eun Byeol, olhando travessa para Seok Hoon, o garoto suspirou ao se lembrar de Minho o desafiando.
- Seok Hoon vai ensinar uma lição a ele – Seok Kyung falou.
- Quando for fazer me avise – falou Min Hyeok.
Seok Hoon assentiu, Yoo Jenny sorriu e se sentou ao lado de Seok Kyung, e Eun Byeol colocou os braços ao redor do pescoço de Seok Hoon, a garota tinha uma queda enorme por Seok Hoon, os dois ficavam juntos de vez em quando, era um rolo sem compromisso, o garoto não gostava tanto dela como ela gostava dele, mas não via problema nisso, ele gostava de se divertir com ela.
- O que vamos fazer hoje à tarde? – perguntou ela, o olhando a fundo.
- Não sei...
Ela sorriu e beijou a ponta do nariz dele. – Vamos nos divertir na piscina da cobertura, pode ser? – sugeriu com a voz manhosa.
Ele assentiu, Seok Kyung revirou os olhos e se levantou. – Eca... parem de se pegar na nossa frente – pediu ela em um tom autoritário.
Os outros riram e Eun Byeol se soltou de Seok Hoon, o sinal tocou e eles foram para a sala, todos eram da mesma turma.
... ... ...
Durante a tarde, Seok Kyung esperava sua tutora para mais uma aula, mas Da-Mi se adiantou em questões de minutos e entrou no quarto da garota em um momento importuno, Seok Kyung estava se trocando, estava de sutiã, virada de costas e não viu Da-Mi, mas a jovem estava com os olhos esbugalhados, olhando fixamente para as costas de sua aluna.
Seok Kyung se virou e se assustou com a presença da professora, ela pegou a blusa rapidamente e a vestiu, o rosto queimava de vergonha e uma súbita raiva cresceu dentro dela. – Por que não bateu na porta? – perguntou em um tom alterado.
- Desculpa, estava aberto... eu pedi licença, mas você não escutou, se eu tivesse te visto se trocando eu não teria entrado, mil desculpas! – a jovem pediu ainda confusa e assustada com o que vira.
- Aberto? Devo ter esquecido de fechar... Você viu?
- As marcas?
- Então você viu...
- Desculpa. Quem te bateu? – Da-Mi perguntou, quando percebeu o olhar da garota, se arrependeu logo em seguida.
- Não seja xereta, você está aqui apenas para me dar aulas particulares, não é para se meter na minha vida – respondeu Seok Kyung com raiva.
- Desculpa... você tem razão.
Seok Kyung suspirou, algo no olhar de Da-Mi fez com que ela se sentisse culpada por ter falado assim, ela não entendeu porque sentiu isso, ela nunca havia sentido pena ou se sentido culpada por nenhum de seus atos, ela praticava bullying e nunca sentiu pena de nenhuma vítima que perseguia, por que ela estava sentindo pena de Da-Mi?
- Está bem, eu me descontrolei um pouco, não conta para a minha mãe, está bem?
- Por quê? Desculpa se estou parecendo intrometida, mas por que sua mãe não pode saber? Quem te bateu? Isso é grave, você precisa contar para alguém – a voz de Da-Mi denunciavam uma preocupação, e Seok Kyung notou isso, talvez por isso não tenha conseguido ficar tão brava.
Seok Kyung riu, era engraçado ver alguém que não a conhecia preocupado, se ela soubesse das coisas que faz com os outros, ela acharia isso bem feito e nem se importaria com ela.
- Não se preocupe, foi o meu pai, ele me bate ás vezes, é normal, ele é rígido demais, só que minha mãe não sabe disso, ele sempre nos bate quando ela não está em casa, não é sempre, só quando fazemos algo que o irrita... daqui a pouco as marcas somem, não é nada demais – disse a garota, como se apanhar daquela forma fosse algo comum.
- Isso é sério, Seok Kyung... seu pai não pode bater em vocês assim só porque ele é pai, você está com marcas roxas e vermelhas nas costas e tem até as marcas... ele por um acaso bate com um chicote? Ele não pode abusar assim de vocês.
Seok Kyung ficou assustada com o rumo da conversa, estava preocupada de que a tutora pudesse contar a mãe.
- Por favor, não conte a minha mãe.
- Você não entende a gravidade da situação?
- Se você contar algo, eu juro que nunca vou te perdoar, vou fazer da sua vida um inferno e você será demitida – ela ameaçou Da-Mi, a jovem ficou com medo, sentia pena por Seok Kyung sofrer agressões físicas daquele nível, mas pela forma como ela falava, parecia que ela não era uma garota tão inocente como pensava que era, algo a travou, ela estava ali para trabalhar, não para se preocupar com uma pirralha rica e mimada.
- Tudo bem, se é assim que você quer... eu não vou falar nada, eu não concordo, acho besteira você esconder isso da sua mãe, mas como você mesma disse, é a sua vida, não a minha, vamos iniciar nossa aula – falou Da-Mi, colocando suas coisas na mesa.
Seok Kyung observou a garota tirar suas coisas da bolsa, e suspirou, ela viu que a parte de trás da bolsa de Da-Mi estava com um furo, pela primeira vez na vida sentiu pena por alguém não ter tanto dinheiro.
Ela se sentou e deram inicio na aula, quando a aula chegou ao fim, Seok Kyung se levantou e foi até seu armário, ela voltou com uma bolsa grande rosa clara, de marca, como tudo o que ela tinha ali, e entregou a Da-Mi.
- O que é isso? – perguntou Da-Mi sem entender.
- Uma bolsa, não está vendo? É sua, pegue.
- Eu não posso aceitar essa bolsa, ela é linda e chique, não combina com o meu visual pobre. Eu estou aqui para te ensinar, recebo por isso, não preciso ganhar uma bolsa de presente da minha tutorada.
- Aceite a bolsa, não estou te dando ela por pena, eu nunca a usei, me arrependi de ter comprado, você mal me conhece, mas se preocupou comigo, isso me tocou, aceite a bolsa, ela não vai fazer falta a mim – a garota falou, estendendo a bolsa na direção de Da-Mi.
Seol Ah suspirou, ela queria aceitar, mas não se sentia bem com isso e tinha medo de que os pais dela pudessem não gostar. – Sua mãe pode não gostar...
- Minha mãe não é o problema, ela é a alma mais generosa dessa casa, se você não pegar, serei obrigada a jogar a bolsa fora.
- Está bem, Seok Kyung, como quiser... obrigada – agradeceu ela, pegando a bolsa da mão da jovem.
Seok Kyung sorriu satisfeita, a verdade era que aquela bolsa havia sido um presente de sua mãe em seu aniversário de 13 anos, na época a garota ficou muito feliz com o presente, havia usado algumas vezes, mas estava nova em folha, como se nunca tivesse usado antes, era uma bolsa especial para ela, porque foi um presente de sua amada mãe, tudo o que a mãe lhe dava, ela amava, ela nem conseguiu acreditar que havia dado aquela bolsa para uma estranha, e que havia ficado feliz em ajudar, afastou os pensamentos confusos e acompanhou a tutora até a saída.
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