Uma casa para chamar de lar
[...]
Charlie estava evitando Vaggie. Acreditava que tinham resolvido as coisas, mas ainda estava desconfortável pela noite anterior. Durante o dia, tentou disfarçar e agir normalmente, porém sem sucesso.
Decidiu temporariamente deixar esse problema de lado e focar em um pequeno contratempo que surgiu à sua porta. O bebe era ágil e adorava brincar o tempo todo, o que ajudava muito na hora de dormir. A equipe do hotel não conseguia lidar com a energia caótica da criança. Charlie estava exausta, e se já achava ruim de gritado com Vaggie, ficou ainda pior quando começou a discutir com outros hóspedes. Ela se via pedindo desculpas repetidamente.
Vaggie chamou por Charlie, que não estava presente. Após procurá-la por todo o hotel sem sucesso, lembrou-se do terraço.
— Charlie! Que bom que te encontrei! — Ela disse ao abrir a porta e se deparar com a loira brincando com o bebê.
— Ele estava agitado e precisava de espaço... — Ela comentou, porém Vaggie sabia que não se tratava do bebê. Vaggie respirou fundo, aproximando-se e sentando ao lado da loira.
— Você está melhor? — O anjo perguntou. Charlie balançou a cabeça, forçando um sorriso, mas seus olhos clamavam por um abraço. E foi isso que ela fez, se aproximou mais dela e a envolveu em seus braços. — Lembra que sempre compartilhamos segredos? Me desculpe por esconder quem eu era, mas assim como você não sabia dessa parte sobre mim, há coisas que eu também não sei sobre você. Mas eu quero saber. Eu não estou chateada ou com medo por você gritar comigo, eu grito o tempo inteiro e ainda estamos juntas, hehe! — disse, fazendo-a rir, enxugando as lágrimas.
— Eu não estava fugindo, só... precisava pensar. Alguns demônios questionam sobre muitas coisas e, às vezes, querem me colocar como a vilã, mesmo quando estou tentando ser o oposto! — ela se encolheu, abraçando as próprias pernas e abaixando a cabeça. — Por que é tão difícil para eles entenderem...?
Vaggie encolheu os ombros, sem encontrar palavras para prosseguir. Apenas deu um suspiro profundo, acompanhada por Charlie, com quem trocou olhares em um silêncio reconfortante. O anjo sorriu levemente, seus olhos úmidos refletindo os da outra. Vaggie se aproximou, apoiando a cabeça em seu ombro, enquanto Charlie fez o mesmo, observando o bebê brincar.
— Charlie... — Vaggie sussurrou, fazendo-a encará-la novamente. Trocaram olhares até Charlie selar seus lábios. O beijo foi se intensificando até a falta de ar separá-las. Se encararam ofegantes, sem hesitação Vaggie selou seus lábios novamente, assumindo posição no colo da loira, que a envolveu pela cintura. Descendo para seu pescoço, Charlie apertou suas coxas.
Charlie deixou várias marcas em seu pescoço, subindo sua saia, sem notar Vaggie começando a se mexer. Charlie subiu a mão para o peito do anjo, selou seus lábios mais uma vez. A tensão estava aumentando e Charlie sentia a urgência de ter o anjo, mas o clima acabou quando o bebê berrou. As duas se afastaram rapidamente, assustadas, encarando o pequeno demônio sorridente que mastigava um brinquedo.
— Uau...! Isso foi... — Charlie disse, ofegante. O anjo se afastou, com o rosto ruborizado.
— Acho melhor entrarmos... Vamos? — Disse, oferecendo a mão para a loira. Charlie pegou o pequeno no colo, enquanto Vaggie recolhia os brinquedos, retornando para dentro.
...
Passaram-se algumas semanas e Charlie não conseguia tirar da cabeça o que havia ocorrido no terraço. Mesmo após três anos de relacionamento, eles nunca chegaram de fato a ter relações sexuais. Ficavam apenas nos amassos e beijos em determinadas partes do corpo, mas sempre que pareciam estar prestes a seguir em frente, algo acontecia para estregar momento. Agora, Charlie evitava Vaggie novamente, mas por um motivo diferente.
— Você o quê? — Angel perguntou. Charlie pediu para conversarem em particular, visto que Vaggie estava ocupada cuidando do bebê.
— Toda vez que nos aproximamos, sinto vontade de beijá-la... — explicou, mexendo nos dedos.
— Ué, mas ela é sua namorada. Isso é normal.
— Sim! Mas agora eu quero algo a mais. Eu quero... — interrompeu-se, corando e cobrindo-o o rosto com as mãos.
— Você quer meter os dedos nela. Já saquei! — Angel falou, e Charlie se atirou no sofá, totalmente envergonhada. — Ela é sua namorada. Se quer transar com ela, então vai fundo.
— Por favor, pare de usar essas palavras! — ela pediu, levantando-se e esfregando os olhos com força, suspirando profundamente. — Eu quero ter um momento especial com ela... mas não sei se ela quer isso. — disse, abaixando a cabeça.
— Bem, acho que a única opção é conversar com ela. — Ele sugeriu enquanto observava Vaggie descendo as escadas com o pequeno demônio no colo. Charlie sentiu seu coração acelerar; não entendia exatamente o motivo, já que Vaggie estava usando sua roupa habitual, mas algo nela parecia mais deslumbrante e sedutora. Seus pensamentos começaram a se confundir e ele passou a contemplar como seria agradável beijá-la, tocá-la... Entretanto, subitamente surgiu um fogo ao seu lado e seu pai apareceu.
— Charlie! — Ele exclamou, estendendo os braços e abraçando Charlie com firmeza. — Que bom te ver! — disse levantando Charlie e soltando quando ela mencionou que estava sem ar, dando tapinhas nas costas do pai.
— P-Pai... O que está fazendo aqui? — Perguntou ainda se recuperando do abraço.
— Ah, estive em uma reunião com os seis e estava entediado! Resolvi vir ver como minha princesa estava e... Eita, diabo! O que é aquilo?! — exclamou, apontando na direção do bebê nos braços de Vaggie. — Charlie... por favor, sei que vocês se amam, mas não estou pronto para ser avô...
— O quê?! — Charlie disse confusa. — Não, pai! Ele não é meu nem da Vaggie! — esclareceu, e seu pai suspirou aliviado com a mão sobre o peito.
— Então o que essa coisa está fazendo aqui?
— O deixaram na nossa porta à algumas semanas. Mas não se preocupe, pai. Vou encontrar um lar para ele! — afirmou determinada, e Lúcifer soltou uma risadinha, balançando a cabeça.
— Lar? Charlie... aqui é o inferno. Aberto para todos os tipos de pecadores, dos menores aos piores. Querida, é preciso achar mais do que uma casa para chamar de lar. Sinceramente, não vejo isso acontecendo. Este pequeno está condenado...
— Não! Isso não é verdade! — Charlie exclamou indignada, avançando determinadamente na direção de Vaggie e amparando o pequeno nos braços, ignorando seu pai. — Vou encontrar um lar para ele. Mesmo que precise revirar o inferno do avesso! — gritou enquanto se afastava. Vaggie se aproximou do rei e ambos compartilharam olhares preocupados.
Dias se passaram e Charlie e Vaggie estavam com dificuldade de achar um lar para o pequeno. Charlie sugeriu a busca pelos pais do pequeno, mas tal ideia foi descartada. Charlie continuava agitada, e sem querer, acabava gritando com alguém do hotel, desencadeando sua metamorfose demoníaca e amedrontando os clientes, que agora questionavam a verdadeira finalidade do hotel.
Enquanto isso, com a ajuda de Angel, Vaggie iniciava o processo de entrevistar demônios pacíficos interessados em adotar uma criança. Porém, sem perceber, a cada dia que passava a loira ficava cada vez mais apegada, o que dificultava o trabalho de Angel e Vaggie.
— Amor, eu conversei pessoalmente com eles. São um bom casal e vão dar um bom lar para ele...! — Vaggie tentou argumentar novamente.
— Checou onde eles moram, huh? Pois eu chequei! Eles moram perto de um grande lago, Vaggie! E se decidirem atirar o bebê no lago? — Indagou, ansiosa, concebendo diversas possibilidades em sua mente.
— Querida, eles não vão fazer isso! — respondeu, levantando-se e dirigindo-se à loira que estava sentando no sofá em frente à janela, segurando o bebê adormecido nos braços. Vaggie sentou-se tranquilamente para não acordar o bebê. Charlie estava extremamente protetora, impedindo que alguém se aproximasse do bebê. — Charlie... — chamou, mas a loira não a olhou, apenas fechou os olhos e balançou a cabeça. — Charlie, já se passaram semanas e ficar com ele aqui atrapalha as coisas no hotel. Todos estão estressados, nervosos, com dúvidas, e alguns já até vieram falar comigo sobre desistir... — disse, finalmente conseguindo capturar a atenção da loira.
— Desistir...? Por que iriam fazer isso? O hotel está aqui para ajudá-los a encontrarem a salvação... — murmurou baixinho, falando para si mesma, sem prestar atenção na presença do anjo. Vaggie suspirou profundamente, tentando se aproximar da loira, mas ela encolheu ainda mais ao abraçar o pequeno.
— Amor... — começou, levantando-se. — Eu te apoio em tudo o que precisar... Mas tem que decidir. — disse com seriedade, fazendo Charlie suspirar ao encarar a paisagem lá fora. Vaggie saiu do quarto, deixando a loira sozinha com seus pensamentos.
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