9. It started with a heart
Notas iniciais:
Eu vou surtar. Surtem aqui também. Genteee. AAAAA. É O FIM DE UM ARCO, SE PREPAREM PELO QUE VEM AÍ.
[💘]
[as mensagens de Príncipe para o Garoto de Ouro]
Uma vez, quando eu era muito pequeno, puxei o cabelo de uma garota porque ela me recusou a dar um pirulito. Tudo bem, péssima forma de começar uma conversa. É que eu tô lembrando de tanta coisa agora e isso tá me matando.
Você sabe pelas coisas das quais eu passei, ao menos de forma mais simples e generalizada. E tipo, isso é tão louco, você sabe tanto sobre mim porque eu decidi te contar. Você tem noção do quanto é difícil para mim ter que me abrir com as outras pessoas? O quanto é difícil o caminho que eu percorro até ter a capacidade de confiar em alguém a ponto dela ser a primeira pessoa para quem eu vou atrás quando preciso?
E tão assustador, Garoto de Ouro.
E sabe por que eu fiz isso com você? Porque eu te conheço, seu idiota desgraçado. Eu sei que você é um garoto bom. Com um coração gentil. Que nunca me machucaria, porque você trata as pessoas como joias. Muito mais bom do que eu um dia serei. Você nunca se abriu comigo sobre seu passado, mas eu sei que confia em mim a ponto de comer algo que eu comprei sem nem pestanejar. Você confia que eu não vá fazer mal algum a você. Isso me deixa estranhamente de coração aquecido, você sente isso também?
E você é muito inteligente, ao contrário do que pensa. Você tem ideias rápidas. Você consegue se virar tão bem. Isso é muito mais útil do que química ou qualquer coisa que ensinem na escola, e não, não conte a ninguém que eu te disse isso.
Além do mais, você também é divertido! Eu te odeio, você é muito divertido. Sempre me fazendo rir. Sabe como é difícil me fazer rir? Meus amigos estranham quando estou sorrindo para o telefone porque isso não é uma coisa usual quando se trata de mim. Você é tão corajoso, você não tem um complexo de herói, você é o próprio herói. Ou, sei lá.
Mas sabe, você também tem um monte de defeitos. Você é impulsivo, sabe como ser irritante, quando algo chama sua atenção você fica tão paranóico pensando sobre isso e sobre os seus objetivos, então? Quando uma coisa entra na sua cabeça, nada tira! Parece uma mula de tão teimoso. Tão, heróico e valente e teimoso, eu deveria te odiar.
Mas eu só consigo pensar em como deve ser a sua expressão quando você está prestes a fugir do colégio e cometer alguma loucura.
Eu acho que nunca poderia ir com você. Porém, eu sempre estaria esperando você chegar. Eu ia te dar aquele olhar de "Eu te falei como você ia acabar machucado, não falei?" e simplesmente começaria a cuidar dos seus machucados, mesmo que você fique repetindo que está bem, porque você se recusa a pedir ajuda - e somos tão parecidos nisso. Você me contou sobre como foi resgatar aqueles animais no canil e eu estava tipo "Você pulou uma cerca? Você se cortou?". Acho que sou muito cuidadoso. Iria enjoar de mim?
Eu não consigo querer que tudo que é sobre você saia da minha cabeça.
Não, eu quero o oposto, me sinto sedento por mais. Eu me odeio por isso. Eu quero dar um nome e um rosto para essa pessoa incrível que eu conheci. Eu quero me encontrar com você e simplesmente olhar no seus olhos. Quando eu me tornei tão fraco?
Eu sou muito meloso, mesmo. Eu quero me matar. AAAAAAAA.
Garoto de Ouro, acho que esse é pedido para fazer uma ligação de vídeo mais estranho do mundo.
Então, para que minha humilhação não tenha sido em vão, por favor, aceite.
[💘]
Harry Potter sabia que as coisas estavam tranquilas demais.
Aquela manhã absurdamente culpa e logo tão absurdamente atípica, ele tinha acordado depois da noite incrível com seus - sem surpresas - pais, e como Remus e Sirius eram pessoas extremamente emocionadas, os dois grudaram nele desde o primeiro momento que o garoto pisou no tapete da sala, com metade do cérebro desacordado e se guiando somente pelo cheiro do café até a mesa.
Harry era bastante grudento também, ele não estava reclamando. Ele amava os abraços, os beijos na testa, as mãos bagunçando seu cabelo — os "Bom dia, filho, você dormiu bem?" E todo aquele sentimento de estar em casa. Preparou torradas com geléia e comeu como se estivesse a anos vagando pelo deserto sem comida, para, logo em seguida, em algum momento, Moony simplesmente sair da sala.
— Eu acho que estamos esquecendo alguma coisa. — Ele murmurou em direção a Padfoot, o qual no momento devorava um sanduíche cheio de coisas que ele não saberia dizer o que era nem se gastasse todos os seus neurônios para isso. O mais velho semicerrou os olhos. Ele estava com o cabelo chegando aos ombros, uma camiseta do Queen e o rosto mais sonolento que alguém poderia ter. Era uma figura muito cômica.
— Hoje é domingo... Não há nada que se possa fazer no domingo. — E no mesmo instante um baque de algo contra o piso soou por todo o cômodo. — Porra.
— Exceto faxina. — Lupin completou, aos seus pés o responsável pelo som de baque: um balde cheio de produtos de limpeza. Ele parecia uma espécie de cavaleiro estranho segurando aquelas vassouras e rodos. — Acho que vocês já sabem como funciona.
— Eu fico com o meu quarto, os armários e responsável por levar as roupas para a lavandeira. Padfoot, o banheiro é todo seu. — Harry disse o mais rápido conseguiu, já se levantando e correndo como se tivessem formigas na sua cadeira, e Sirius tinha um xingamento entalado na garganta para a ação dele de o abandonar nesse momento de crise. Sem saída, o homem simplesmente usuou de sua última artimanha e olhou para o noivo com seus olhos de cachorro pidão, como se perguntasse: "Pode isso? Na minha própria casa?!" E Moony só conseguiu dar uma risada alta como resposta.
— E eu vou ficar com a sala e a cozinha. — Ele se aproximou e deu um beijo estalado na bochecha dele, sentindo os pelinhos de sua barba por fazer arranharem toda a extensão de seus lábios e queixo. — Veja bem, pelo menos você ficou com a parte mais rápida.
— Você vai acabar arrumando tudo depois mesmo, eu nunca lembro como você arruma seus livros ou os produtos do banheiro... — Sirius quis rir da sua desgraça, abraçando a cintura de seu homem e colocando a cabeça no seu peito. Remus deu mais uma risada agradável.
— É verdade. Mas você mesmo disse que eu fico lindo quando estou com raiva, não disse?
— Protesto, você não pode usar minhas próprias palavras contra mim.
— Posso sim. — Remus lhe deu um selinho rápido. — E eu vou.
— Por que a gente simplesmente não contrata uma equipe de limpeza ou outra pessoa pra cuidar disso? — O homem começou a se desprender dos braços de seu noivo, fechando a cara risonha.
— Você sabe que eu não confio muito em pessoas de fora entrando aqui em casa, não é? Já tivemos essa conversa... — Black continuou segurando sua mão, acariciando os seus dedos.
Remus Lupin tinha um certo problema em confiar nas pessoas. Ele tinha um melhor amigo que traiu seu grupo e fez o homem que mais amava ser jogado injustamente em uma cela de prisão. Ele tinha se acostumado com a eterna sensação de perseguição. E ninguém poderia culpa-lo, Remus era um ex-ativista. Ele e seus amigos iam dormir sabendo que líderes os odiavam quando mais jovens e isso não é algo fácil de se lidar.
— Tudo bem, tudo bem... Erro meu. — Sirius beijou a costa de suas mãos. — Quero o seu sorriso de volta pra mim. — Ele sussurou, igual se faz quando se conta um segredo e Remus se sentiu com dezesseis anos novamente. Ele jogou os braços ao redor do pescoço dele e deixou mais um beijo na sua bochecha. — E tudo de você e mais um pouco de volta para mim.
— Você já tem. — Ele deu uma risadinha. — Mas meu maior sorriso vai ser quando você parar de enrolar e deixar aquele banheiro brilhando.
— Meu noivo é um ditador, devo me preocupar?
— Achei que já tivesse deixado bem claro que sim, meu amor.
Sirius Black ainda enrolou por mais vinte minutos. Porque Remus estava agarrado a ele e o chamando de meu amor, logo seu noivo estava consciente de que essa seria sua única reação plausível.
[...]
— Harry, eu tenho certeza que você não usa essa blusa desde os treze. — A voz de Hermione através da saída de som do seu computador era um pouco ruim sem os fones de ouvido, contudo, ele ainda conseguia ouvir todos os seus esculachos como se ela estivesse mesmo ali.
Potter estava tentando arrumar seu guarda roupa. Quando morava com os Dursleys, ele não tinha muito o que vestir sem ser as roupas vinte vezes maiores do que as de seu próprio tamanho e cheia de furos ou desbotadas ao máximo, as quais eram herdadas do seu primo, Duda. Na verdade, ele nem ao menos tinha um armário, ele dormia em um.
Por consequência, quando ele começou a morar com Moony e Padfoot, ele precisou comprar roupas novas e Harry pegou gosto em fazer isso. Não em passar horas olhando roupas em específico, mas poder ter coisas que eram suas, no seu tamanho, novas e que ele gostava. As quais ele escolheu ter. Era tão satisfatório, fazia seu coração palpitar. Ele tinha sido reservado de todos os pequenos prazeres do mundo e tê-los agora o fazia se sentir no direito de extrapolar.
O que significava que Harry tinha todo o tipo de camiseta; jeans, de banda, de marca, de cartoon, feita a mão... Ele tinha muita coisa, seu armário as vezes nem fechava direito - mas isso era também porque ele tinha uma eterna preguiça em dobrar suas roupas.
Então, de vez enquando, ele separava algumas peças que ainda estavam em bom estado, e procurava algum brechó para que pudesse oferecer elas. Moony quem incentivara o hábito nele, o adulto tinha uma certa raiva de movimentos fast fashion - ou seja, lojas como Forever 21 ou H&M - e estava sempre procurando outras opções que não envolsse trabalho a base de mão escrava.
E ele particularmente gostava disso, os brechós que eles costumavam ir sempre tinham muita coisa nova e garimpar roupas era sempre uma atividade que os deixavam mais animados. Era engraçado, você nunca sabia o que poderia surgir daquele meio.
Harry lembra de quando foi com Hermione e Ronald e eles ficaram igual um bando de idiotas fazendo as combinações mais malucas que conseguiam pensar. Ele tem certeza que acabou com uma calça de lantejoulas e luvas brancas, em certo ponto.
Ele tinha começado a ligação para que Hermione o ajudasse a organizar as roupas que iriam para o brechó, as que precisavam de algum remendo ou as que não tinham mais salvação alguma, tudo de forma metódica - porque, se dependesse dele e de seu senso de organização, não chegaría a lugar nenhum. Também, porque Harry sabia que ela ia planejar passar a manhã inteira estudando como uma condenada sem ver ninguém ou a luz do sol. Ele queria fazer ela pelo menos soltar umas risadinhas nasais.
— Em minha defesa, eu cresci, sabe. É difícil fazer as roupas durarem nessas condições. — Ele ironizou e sua amiga revirou os olhos.
— Coloca ela naquela pilha da esquerda... É isso. — Ela estava com a mão apoiada na bochecha, um livro aberto e uma caneta esferográfica inquieta entre seus dedos.
Harry procurou ainda mais fundo no seu armário, soltando uma risada alta quando puxou de lá um terno preto com detalhes em verde muito bem conservado. Ele deixou a peça bem onde a cacheada poderia ver, dando um sorriso largo.
— Você lembra? Do terno que eu usei no nosso primeiro baile e que você escolheu pra mim? — Harry deu um sorriso doce com a memória. — Ele é lindo demais. Você não tem ideia do quanto ele é especial pra mim.
— Ah, claro, é, especial. — Hermione deu uma risada meio trêmula. Não conseguindo encarar os olhos dele depois, em vez disso, seus olhos miravam a página de seu livro em vez disso. Potter, que não era bobo, percebeu.
— Mione, tem algo que você quer falar? — Ele perguntou de forma calma, abaixando a peça de roupa e deixando seu rosto aparecer na câmera. Ela ficou olhando e desviando dele um por tempo até suspirar, sentindo-se derrotada.
— Promete que não vai ficar com raiva?
— Mi, não tem como eu ficar com raiva. Você matou alguém com esse terno por acaso? — Ele tentou amenizar a estranha tensão que tinha surgido, um pouco falho, ela respirou fundo e começou. Rápido como quando se tira um band-aid.
— Eu não escolhi o terno sozinha. Na verdade, eu provavelmente nem teria pego esse se estivesse sozinha. Você não pode atribuir o presente somente para mim.
Ela ainda não o encarava, Harry estava ficando confuso e um pouco impaciente.
— Me explica isso direito...
— Olha, eu não te contei nada porque você estava tão feliz quando recebeu o presente. Eu não queria que nada tivesse a mínima chance de estragar isso. — Ele suspirou. — Foi o Malfoy, okay? Eu tava completamente perdida nesse lance de baile e ele chegou lá com aquele jeitão esnobe dele e disse qual vestido poderia dar certo pra mim. E me deu um norte para chegar até o seu terno. Disse que você ia ficar... Legal...? Não me lembro ao certo, com essas cores. Por causa dos seus olhos.
Harry parou um momento antes de responder qualquer coisa, para a infelicidade de Hermione, a qual se deixava levar pela inquietação.
Por que Draco Malfoy sempre acabava voltando para ele?
Não, sério, chegava a ser um absurdo.
Harry não estava falando em Malfoy, ele não estava mais sequer com ele em seus pensamentos. Todavia, era como se sua amiga pudesse enxergar ele se banhando no meio de seus olhos, de uma maneira completamente inconsciente e sentiu se obrigada a puxa-lo dali e enfiar o garoto na conversa apenas para a torturar Harry. Era como se Malfoy não fosse uma pessoa, e sim, um perfume, um sentimento. Algo que você vai simplesmente perceber pairando no ar, impossibilitado de ignorar e será obrigado a coloca-lo de volta na vida de Potter. Como uma ventania, como uma tempestade - destruindo todas as suas resistências.
— Eu não estou com raiva de você. — Ele disse, enfim, sua melhorar amiga relaxou os ombros. — Mas, por favor, não esconde mais nada de mim. Você sempre faz isso achando que vai ser a melhor a ser tomada, mas eu não sou mais uma criança assustada. Eu prefiro a verdade a cima da tudo. E, sério, me tortura saber que o Malfoy tem a haver com uma coisa tão importante e especial na minha vida, mas ao mesmo tempo... Ainda é algo vindo de você. Então, acho que tudo bem.
— Isso... Isso foi muito maduro vindo de você. — Ela murmurou, processando as informações. Com certeza não esperava uma reação tão tranquila. — Obrigada, eu acho.
— Tudo bem. — Ele deu um sorrisinho contido. — Vou guardar o terno.
Harry deveria supostamente desgostar do terno mas, ele não conseguiu. A tortura mencionada não era porque ele suportava o garoto, era porque só o fazia perceber quem ele realmente era - o alimento de suas paranóias, alguém com um lado bom.
[💘]
O quarto de Harry estava um brinco. Não havia um único resquício de poeira em qualquer um dos móveis ali. Os armários estavam todos limpos e organizados também, faltava só a sua ida na lavanderia. O que ele provavelmente faria só mais tarde. Agora, ele aproveitava sua cama com lençóis novos e cheirando a lavanda, depois de um banho e um almoço reforçado. Ele estava assistindo um filme no RAVE - um aplicativo que permitia várias pessoas assistirem qualquer tipo de coisa, seja com amigos ou desconhecidos - juntamente de Hermione, Ronald e Ginny. Bem, na verdade, Ginny estava de penetra no microfone do irmão, não que Harry estivesse reclamando, é claro.
Eles estavam em dúvida sobre o que assistir e só os céus sabem como eles terminaram em H2O Meninas Sereias. Hermione falava alguma coisa sobre como não aguentava mais ver garota branca sofrer por homem, então Ginny rebatia dizendo que não sabia como garotas bonitas de biquíne não entravam em pânico perto de outras garotas bonitas de biquíne, Ron dizia coisas como "Trabalhar pra ter um tanquinho desses" e Hermione rebatia imediatamente com "Eu gosto da sua barriguinha!" e Harry estava apaixonado por todos os personagens, porque, bem, homens e mulheres de corpos sarados recém saídos da água o deixavam assim.
Potter pensou em algum momento na possibilidade de tirar uma foto da sua tela e mandar para o Príncipe, mas a gritaria em seus ouvidos o deixou completamente distraído da ideia.
— GINNY, VOCÊ NÃO PODE GOSTAR DE UMA SÉRIE SÓ PORQUE ACHOU A ATRIZ BONITA!
— GENTE, GENTE, GENTE, A ÁGUA TÁ BORBULHANDO, ELA VAI VIRAR SEREIA?!
— Não, né, ela vai virar um pombo, Ron. É claro que é uma sereia!
— Mi, ela não tá em errada, sabe. Você mesma disse que a gente tem que apoiar o trabalho dos atores e tudo mais.
— Tanquinho começa com T de Talento mas não é a mesma coisa, Harry. — A garota respondeu, de forma rápida e em seguida a risada dos irmãos se fez presente no áudio, junto de muitos "OHHHHH".
— Vocês falam demais, porra, agora a gente perdeu metade da série! — Ginny reclamou.
— Mas não é esse o ponto de assistir com amigos? Debater as questões apresentadas?
— O PONTO É SÓ ASSISTIR, CARA.
— NÃO GRITA COM A MINHA NAMORADA, GINEVRA.
— É GINNY, CARALHO! É GINNNNNNNY!
— Eu acho que tô surdo. — Harry Potter declarou, fazendo algum dos três dar uma risada alta. — Acho que a gente deveria trocar de série.
— Só não ICarly. — Hermione se pronunciou, rindo. — A gente já assistiu tanto... Eu sei a abertura INTEIRA, graças a vocês.
— A gente tem que apoiar a cultura, não tem?
E assim se iniciou mais um longo debate sobre o que eles deveriam assistir em seguida. Harry particularmente apoiava muito mais a decisão de Ginny em assistir algum programa completamente aleatório apenas pelo humor, porém, sua melhor amiga era o completo oposto dessa ideia, porque ela não estava afim de perder seu tempo com coisas que não agregavam em nada. Ron já tinha desistido e só estava concordando com a namorada - talvez uma parte dele estivesse apenas de afim de contrariar a irmã, quem sabe.
— Espera! Espera! Espera! CALA A BOCA! — Ginny se pronunciou, aumentando o tom de voz. Todos pararam. — Obrigada. Olha, eu vou perguntar pra Luna qual a decisão dela.
— Isso é muito injusto. É óbvio que ela vai te apoiar. — Granger interviu, Harry conseguia imaginar a expressão que ela estaria fazendo por detrás do monitor, sombrancelhas para baixo, lábios para baixo, o nariz franzido, prestes a matar alguém. Era uma visão realmente assustadora.
— Eu tenho que discordar. — Ele começou, porque coragem significava enfrentar feras mesmo morrendo de medo. — Você já teve uma conversa com a Luna? Já prestou atenção em como ela nunca se prende em algo?
— Exatamente! Luna é fascinante, ela sim vai conseguir escolher por nós. — Ginny disse, provavelmente enquanto digitava para ela, visto que em seu áudio podia se ouvir vários "taptaptaptap" muito rápidos. — Acho que ela tá alimentando os coelhos dela, agora. Vamos esperar um pouquinho.
Harry Potter era alguém um tanto quanto impaciente, ele pegou o próprio celular e começou a observar de forma descompromissada suas redes sociais no intuito de se distrair, pronto para se perder em algum deles e sua habilidade quase mágica de fazer uma hora se resumir em dois minutos.
Em algum momento, ele ouviu o barulho de notificação, significando que alguém tinha mandado uma mensagem, ele sorriu quando viu o user brilhando na tela, apenas para em seguida seu sorriso mal durar um minuto antes de começar a se esvair. Começaram a vir várias notificações uma atrás da outra e ele sentiu um aperto no peito - do que o Príncipe estava falando?
— Ô, Harry, postou o que pra tá recebendo tanta notificação? Seminude? — Ronald falou e Harry revirou os olhos.
— Nada a haver. São só umas mensagens.
— E não precisamos nem nos esforçar para saber de quem são. — Hermione falou mais para si do que para os outros.
— Gente, eu tô perdida, ele tá saindo com alguém?! — A voz animada de Gina se vez presente, parecendo completamente chocada. — Quem?
— Ah, irmãzinha, você nem sabe o quanto a gente gostaria de saber...
— Como assim? Me expliquem.
— Harry não tá saindo nem nada. Ele encontrou um número no primeiro dia de aula, preso no banheiro feminino e de primeira nós íamos só mandar mensagens zuando a pessoa. Porque achávamos que poderia ser de algum garoto pervertido e estranho.
— Bem, você achava. — Harry murmurou, xingando sua internet que se recusava a abrir as mensagens. Ele vibrou internamente quando conseguiu. — Eu sempre disse que podia não ser. E eu estava certo.
— Enfim, como o Harry fez questão de ressaltar, eu estava errada. O número era pra ser da amiga dele, uma garota que nem sabemos o nome mas ela tinha a letra muito redonda e acabamos colocando o número errado. Ou seja, o dele. E acabou que ele é garoto gay e que rouba roda a atenção do nosso querido amigo, Harry Potter.
— ...Vocês não estão me enganando, não é? Isso parece tão clichê e ao mesmo tempo tão mas tão impossível de acontecer. — Gina se pronunciou, parecendo divertida com a história.
— Clichê mesmo é o fato de até agora eles não terem conversado sobre o relacionamento deles com a Molly... — Harry sussurou meio distraído, ácido. Seu olhar passando por todas aquelas palavras recém chegadas na tela de seu celular, seu ritmo cardíaco mudando mais rápido que uma montanha russa.
— Espera, espera, espera... Vocês iam fazer isso quando?! Já se passaram meses desde o começo das aulas, não vai me dizer que... Oh...
— Sim, Ginny. Oh. — Ronald foi quem respondeu, soando um pouquinho amargo.
— Puta merda, puta merda, puta merda... — Harry achou que poderia pular de um prédio com tamanha ansiedade que consumiu seu estômago, seus pulmões e todo o seu corpo. Ele queria sair correndo nu na rua, gritar para que todos ouvissem sua voz, ele queria surtar. No minuto em que leu a última palavra, nada além de euforia corria pela sua cabeça.
— O que foi, cara?! — Ronald perguntou, de imediato. — Ele revelou que é o Superman ou algo assim?
— Isso, aí, atualiza a fanfic pra gente. — Ginny resmungou. Hermione apenas respirou fundo e pesado, claramente preocupada.
— Ele... Ele quer fazer uma web-chamada comigo! Gente, ele... Eu nem sei por que tô surtando? Talvez seja por que ele fez uma espécie de declaração fofa? E eu me sinto tão lisonjeado? Eu quero gritar?
— Isso é incrível, cara! — Ronald falou e vários "AAAAAHHH" de Ginny foram escutados ao fundo. — Responde ele logo! Responde ele!
Harry deu um sorriso largo. Eu já estou indo, ele dissera. Como se estivesse em um sonho, se apressou a digitar para o seu garoto. Finalmente saberia quem o Príncipe era e todas as paranóias que serpenteavam em sua cabeça, sumiriam. Não tinha como ele estar mais feliz.
Ronald também digitou uma mensagem.
[As mensagens de Garoto de Ouro para O Príncipe]
Você não precisava nem pedir! É claro que eu aceito. Sim. Sim. Sim. Sim. Sim. Sim. Você consegue ouvir meu coração saindo pela boca, daí?
Quando você atender, vou falar todas as coisas que não tive capacidade de digitar. Porque eu estou tremendo.
[As mensagens de Ronald Weasley para Hermione Granger]
Você está bem?
Por que não comemorou comigo e a Ginny?
Você era quem estava animada com esse assunto, o incentivando e tudo mais... O que mudou? Ou melhor, o que mudou de novo?
É porque eu sabia que ele estava começando a gostar desse garoto. Mas eu não sabia que seria a esse nível. E... E eu acho que essa história não vai acabar bem.
Você fala até mesmo como se soubesse quem é.
Eu sou muito boa em quebra cabeças, Ronald. E cada vez que o Harry falava sobre ele, eu ia montando um pouquinho. E eu tenho medo do que seja a imagem final.
É só mais um garoto como nós, Mione. Relaxa. Harry sabe julgar as pessoas.
Não estou dizendo que o garoto seja o problema mas talvez, a vida dele seja, consegue me entender?
Estou tentando...
Apenas vamos continuar apoiando Harry. Apenas isso.
Tudo bem, Mi. Tudo bem.
[💘]
O Príncipe demorou cerca de meia hora para responder de novo. A esse ponto, Luna já tinha aparecido e terminou a discussão com nenhuma das opções apresentadas. Eles terminaram em algum musical da Brodway e bem, foi a mesma coisa de H2O Meninas Sereias. Granger estava apreciando o show mas fez questão de repetir diversas vezes que não apoiava o elitismo da Brodway, Ronald e Ginny se calaram com um balde de pipoca que era, muito provavelmente, do tamanho de uma caixa d'água para durar por tanto tempo nas mãos dos dois esfomeados.
Harry estava cantarolando as músicas e fazendo observações engraçadas. Ele só estava fingindo estar calmo.
Quando o Príncipe respondeu com um "Desculpa. Eu vou ligar, agora." Ele deu um grito esganiçado e rapidamente tentou parecer o mais arrumado possível, mandando todos os seus amigos calarem a boca - o que eles somente obedeceram quando a música de toque de seu celular se fez muito presente. Era um Indie muito tranquilo mas que para Harry, teve o mesmo efeito de um samba enredo.
Ele apoiou o celular no computador, na expectativa de que seu rosto não ficasse tão ruim quando aparecesse na tela. E enquanto seus amigos mandavam inúmeras mensagens surtando e tendo ataques e milhares de letras A surgiam no chat, ele atendeu.
A reação foi simultânea, imediata e pronunciada como sussurro muito alto.
— Potter?!
— Malfoy?!
CARALHO, EU SABIA. Hermione mandou no chat. Só para em seguida os surtos dos irmãos Wealsey ocuparem toda a tela novamente. Sua melhor amiga encerrou a chamada no RAVE, com o intuito de que eles pudessem ter um pouco de privacidade. Aquilo não seria nenhum um pouco fácil. Talvez Ronald tivesse desmaiado.
— Eu... Eu... Eu vou desligar. — Malfoy disse muito rápido, ainda muito baixo, completamente assustado pelo que viria a seguir. Potter interviu na hora.
— Não! — E de repente aqueles olhos cinzas estavam nele. Não? — Não...
Harry Potter nunca tinha visto Draco Malfoy assim, tão frágil, ele não conseguia se esconder com uma máscara de indiferença, agora. Porque ele já tinha mostrado tudo de si para o outro garoto, não havia mais para onde correr. Parecia que ele estava a ponto de chorar.
— Eu... Eu sou o mesmo o Príncipe.
— É, eu sei...
— E eu sei que não sou o que você estava esperando, muito pelo contrário, você agora só deve me odiar mais e eu sinto muito. Eu não sabia que era você, eu nunca fiz isso com o intuito de ser uma brincadeira ou coisa assim, se é o que você pensa. Eu verdadeiramente sinto muito, de todas as pessoas do mundo, você terminou comigo e eu sei que você deve estar irritado.
— Eu não estou...
— E sabe, eu vou entender se quiser parar de falar comigo, agora...
— Draco, eu não vou!
Harry o observou levantar aqueles olhos cinzas para sua direção mais uma vez. Ele abraçava seu próprio corpo, se agarrando na sua última chance de se sentir protegido.
— Você me chamou de Draco.
— É o seu nome, não é? — Sua voz era tão sutil, como se pudesse acariciar o rosto do menino atrás da tela.
— Potter, eu juro que se você estiver brincando comigo...
— Eu não estou! — E foi a vez de Draco se assustar com o quão verdes aqueles olhos podiam ser, mesmo que ele provavelmente, no fundo, já soubesse disso. — Me deixa falar, por favor.
— ...Você pode. — Sussurou. Harry estava pronto, ele ia dizer tudo que ele tinha para dizer. Ele respirou fundo e abriu a boca:
— O seu cabelo tá lindo.
— Potter! — Draco quase gritou, Harry assistiu suas maçãs do rosto ganharem um tom forte de vermelho. — Fala sério...
— Espera, eu estou. Seu cabelo tá mesmo bonito. — E agora ele sabia que ele mesmo estava começando a corar. — Espera, tem mais, calma. Eu só tô nervoso. — Ele respirou fundo e sabia que Draco estava pensando seriamente em sair correndo dali. — Eu... Suspeitava que pudesse ser você. Mas assim, muito pouco. E é por isso que eu tô calmo, mesmo que... Mesmo que a gente não tenha um passado tão bom. — Ele assistiu Draco se encolher. — Eu posso viver com isso. Você é a pessoa que você mostrou ser pra mim, entende? E é isso que conta.
— Mas eu não sei se eu posso viver desse jeito. Você vai parar um dia e vai perceber que eu não sou uma pessoa incrível. Eu ainda sou... Malfoy.
— Você é o Príncipe. Você é o Draco. Draco Malfoy. E ainda quero você do meu lado.
— ...Você é um louco ou um idiota por querer isso. — Ele suspirou e Harry deu um sorriso. — Seus amigos... Eles...
— Acho que podemos passar esse tópico para depois. Mas eles vão te aceitar sim. Talvez demore um pouquinho, mas com certeza irão.
— Como você tem tanta certeza?
— Você mesmo disse que nós pareciamos um bando de pinguins andando em bando, um anos atrás. Eu conheço eles. E eles querem a minha felicidade.
— A sua felicidade está em lugares muito estranhos.
— E as suas estão em lugares melhores, Draco?
— Talvez, Harry. Talvez.
— Na companhia de um certo garoto negro de cabelo rebelde e olhos verdes e uma cicatriz na testa? Talvez?
— Você decidiu ficar, vai acabar descobrindo. — Harry sorriu ainda mais.
— Acho que a gente devia começar a falar sobre isso tudo... Por que Príncipe?
— Porque você me veio com Garoto de Ouro, eu precisava de algo a altura! E meus amigos usavam esse apelido para debochar um pouquinho de mim, às vezes. Quando eu estava sendo especialmente chato em uns momentos. — Ele apoiou a mão na bochecha. — Por que Garoto de Ouro?
— Quando a Grifinória jogou contra aquele outro colégio, Durmstrang, algum alunos me apelidaram assim por causa das minhas habilidades. Se você não fosse de Hogwarts e estivesse mentindo, eu saberia porque você ia reconhecer na hora o apelido.
— Isso... Isso foi bastante esperto. Parabéns, Garoto de Ouro. — Foi a vez de Draco dar um sorrisinho, parecendo voltar ao seu estado de espírito de sempre. O estado que era a definição de Príncipe e que Harry conhecia muito bem, intenso, ácido, desbocado e incrivelmente hipnotizante.
— Espera, espera, eu acabei de notar uma coisa. A história do parto do cigarro, foi com a Pansy Parkinson? — Harry estava se segurando ao máximo para não rir e Draco já tinha chutado o balde, gargalhando como um louco.
— Sim! Aí, porra, de todas as pessoas do mundo eu não acredito que contei isso para Harry Potter. Ela vai me matar e dar de comer para tubarões.
— Bem, de todas as pessoas do mundo, eu não acredito que contei histórias dos meus amigos para Draco Malfoy. Nós dois vamos morrer para tubarões. — Harry disse e o loiro recém rosa e também verde, ergueu uma sobrancelha.
— Eu sei muito bem como guardar segredos. E... — Ele parou um segundo, pronto parar rir de novo. — Todas aquelas histórias, foram com o Weasley e a Granger?
— A Ginny e a Luna também estavam em várias.
— Aí, puta que pariu, eu vou chorar de tanto rir. — Draco afundou o rosto nos braços em algum momento. Harry não se esquivou do pensamento de que esse som, ecoando em seus ouvidos até sua mente, através do fone, era um de seus preferidos.
— Ei, agora que nós sabemos quem somos, o que vamos fazer?
— O que você quer dizer com isso? — Draco perguntou, parando aos poucos de rir.
— É que nós não precisamos mais ficar só nas mensagens. Nós podemos sair juntos...
— Você está me chamando para sair? — O garoto em sua tela balbuciou, parecendo até mesmo tímido e muito surpreso. — Tipo, você quer se visto comigo do seu lado?
— Claro que sim, Draco! Você não sabe o quanto eu imaginei a gente conversando lado a lado. Nós podíamos lanchar juntos no colégio ou então sair pra ir no cinema ou na livraria comprar um daqueles livros clássicos velhos que você tanto ama.
— É porque... Você imaginou fazer essas coisas com O Príncipe.
— Que eu saiba, você é o Príncipe. Eu quero fazer essas coisas com você.
— Eu adoraria sair com você, Harry. — Draco sorriu, e o coração dele falhou várias batidas. — Mas... Ainda tem mais um assunto que temos que tratar.
— O que foi?
— Eu falei sobre a minha família pra você. Bem generalizado mas... Ainda assim, eu me abri para você. E agora, você sabe detalhes do meu passado, da minha relação com o meu pai. Por favor, não use nada disso contra mim. Eu estou confiando em você.
— Você pode confiar todos os seus segredos a mim, Draco. Eu vou cuidar de todos eles.
— Obrigado. — O loiro falou baixo. — Você também pode confiar tudo sobre você pra mim! Eu sei como é se sentir traído e você está depositando tanta esperança em mim. Eu vou fazer de tudo pra não estragar essa nossa... Nossa... O que nós temos?
— Amizade? Eu acho. — Harry pensou um pouco. — Uma amizade íntima?
— Parceiros de crime? — O cacheado deu uma gargalhada.
— Você também tá sentindo uma vontade muito louca de se ver pessoalmente, tipo, agora, nesse exato momento?
— Sim. E eu odeio isso. Eu nem estou arrumado! — Draco se afastou da câmera, mostrando a roupa que usava; um pijama de cetim branco. Harry corou mais um pouco. — Se você tirar print da tela, eu nunca mais olho na sua cara! — Ele se abaixou de novo, voltando a ficar deitado com as canelas erguidas, brincando com os pés. Os pensamentos sobre Draco Malfoy como alguém muito atraente o atingiram em cheio, como um soco na cara. — Você sabe que eu nem ia ligar pra você hoje?
— O que? — Harry franziu o cenho, ficando curioso. — Me explica o que te fez mudar de ideia.
— Álcool. Pansy e eu estávamos brigados, lembra? E aí ela veio pedir desculpas e eu acabei bebendo horrores na casa dela. Quando acordei, fiquei desesperado mas ela me acalmou. Agora, eu já estou em casa e torcendo para que minha mãe não reclame do meu cabelo.
— O seu cabelo realmente tá lindo assim, eu gostaria de te ver na escola com ele. Parece um doce... Uma mistura de chiclete de morango e menta. — Harry não conseguiu controlar sua língua, ele deu um pigarreio em seguida, como se pudesse fingir que não estava agindo como um bobo. — Então, você se arrepende de ter ligado?
— Honestamente, acho que essa é a decisão que eu tomei bêbado da qual eu menos me arrependo.
— Você me faz muito feliz falando assim.
— Eu espero que essa felicidade nunca acabe, então. — Draco continuou sorrindo. Harry se sentiu ainda mais bobo. — Se não for pedir muito, eu gostaria mesmo de ouvir as coisas que você disse... As coisas que você disse que não conseguiria digitar e queria me falar pessoalmente.
Harry achou que seu rosto fosse explodir de tanto calor. Ele agradeceu imensamente o tom de sua pele não ser pálido como o de Draco, assim, sua vergonha passava quase que de forma imperceptível.
— Bem... Ah... — Ele engoliu em seco. Ele tinha que falar isso. — Vai ser um pouco adaptado, agora que eu sei quem você é. Porque, sabe, a pouco tempo atrás você estava dizendo para que eu ficasse longe de você. Porque você queria paz. — Ele molhou os lábios, se sentindo inquieto.
— Não esperava que você levasse esse pedido a risca...
— E não vou mesmo, agora que eu tenho noção de quem eu sou para você. Eu não ocupo mais o lugar de seu inimigo ou problema ou coisa parecida, assim você não ocupa esse lugar na minha vida. Nós somos confidentes. Eu sei o porquê de você só querer paz. Eu sei muitas coisas sobre você. — Harry respirou fundo. — Mas eu tenho a sensação de que nunca vai ser o suficiente. Quando se trata de você, eu... Eu sempre quero mais. É por isso que agora que sabemos quem somos, isso não significa que vamos parar, que vamos diminuir toda essa proximidade. Eu quero que ela cresça até onde você me permitir.
— Harry?
— O que...? — Seu peito subia e descia, ele queria gritar. Ele sabia que seu Príncipe estava do mesmo jeito. Eles queriam gritar. E a prova disso foi como Draco o olhou intensamente e criou uma furações no seu estômago, o arrepiando só com aquele olhar.
— Se é para você, eu permito até o infinito.
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