6. It started with a thought

Notas inicias:

Eu tenho carinho demais por esse capítulo por alguns motivos: o primeiro, é claro, porque é a primeira interação direta do Draco e do Harry depois de um tempo e você pode perceber que a relação deles aqui é um pouco diferente. Não é um ódio obsessivo, mas os dois tem expectativas baixas sobre o que cada um é. E eles tem essas expectativas porque nunca pararam para conversar e serem amigáveis, tanto que talvez você, leitor, passe um pouco de raiva pelos pensamentos de Harry a cerca do Príncipe serem tão amáveis enquanto os para o Draco serem sempre esperando o pior, desconfiados. 

E eles são a mesma pessoa, então, risos

O segundo motivo é que esse capítulo tem várias menções a escritores e músicos. Eu vivo para referenciar, aparentemente. 

O terceiro e não menos importante: Potter é um grande boiola.

(Demorei um pouco mais para postar, fazer o que, ainda estou sem celular)

[💘]

Hogwarts era um tanto quanto diferente das outras escolas. 

Ao mesmo tempo em que era conhecida por todos pela sua excelência mediante qualquer outra instituição, em todas as áreas em que ela poderia ser colocada como a melhor, vez ou outra aconteciam algumas pérolas - lê-se péssimas ocorrências - das quais valem muito a pena ser lembradas. 

Um exemplo muito bom para demonstrar que a perfeição é um mito, é o antigo professor de literatura deles; Gilderoy Lockheart. O homem era tão narcicista, a ponto de acreditar que seria impossível alguém em sã consciência detesta-lo. Afinal, quem não amaria um escritor charmoso e viajado como ele? Conhecido nacionalmente pelos seus diários de viagem a países longínquos e conhecimento vasto sobre diversas culturas e tradições, tinha feito desde jornalistas reconhecidos até a brilhante aluna Hermione Granger se apaixonarem perdidamente por sua pessoa. A menina, durante seu primeiro ano, tinha marcado seus horários com ele usando de carimbos com desenho adoráveis de corações, e todos são testemunha de que não havia no mundo, chance alguma dela se submeter a isso para alguém que não fosse, de fato, muito brilhante. E os jornais, ouriçados, nunca paravam de falar sobre ele quando um lançamento estava prestes a se realizar. 

Acontece que até as pessoas mais inteligentes podem estar erradas. 

Em uma estatística hipotética, a qual nunca foi dita em voz alta, porém a qual todos tinham conhecimento; grande parte da parcela masculina daquele colégio achava insuportável aquele professor. Neville Longbottom, que era conhecido por ser tão calmo, desastrado e incapaz de fazer mal a uma mosquinha sequer, não tinha gaguejado uma única vez para dizer o quanto não suportava o Sr. Lockheart. E isso dizia muita coisa sobre a moralidade do sujeito. 

Ele era - para encurtar a história - um péssimo professor. 

No primeiro dia de aula, em vez de pedir para os alunos se apresentarem, ele entregou a todos um questionário de aproximadamente cinquenta questões sobre si mesmo, e por mais que seus livros e biografias publicadas fossem famosos, ninguém naquela sala até então o conhecia - ou se importava - tanto assim. Um bando de adolescentes de quinze e catorze anos não era o público alvo daquelas histórias. A única pessoa a se dar bem nesse teste fora Hermione, mas isso porque ela mais vivia na biblioteca do que em qualquer outro lugar, a garota já tinha visto os livros dele em algum momento. Mais do que isso, ela tinha se tornado fã dele. 

Harry Potter não era conhecido por ficar sentado de braços cruzados. Coragem era seu nome do meio e por não suportar a incompetência e o jeito irritante do homem, realizou a tarefa árdua de ler sobre sua vida por vontade própria. Ele estava na casa de Ronald Weasley e se encontrava em um estado de exaustão enorme, com seus olhos pesados e a tela do computador escurecendo lentamente. Então, nos últimos suspiros da sua energia, encontrou um blog e seu melhor amigo podia comprovar isso, o garoto quase gritou. 

"Espera, espera, espera... Deixa eu ver se eu entendi." Pode se dizer que Hermione Granger tinha sido praticamente sequestrada da sua aula opcional de literatura, lecionada por ninguém menos que o professor loiro, boa pinta e adorado escritor. Em pé e de frente a sala em que a aula acontecia, usava suas melhores roupas despojadas, ou seja, os all-stars que tinham a beirada branca ainda intocada e um par novo de jardineiras. Rony admitirá mais tarde que sentira um leve ciúmes irracional e bobo daquilo. "Você está me dizendo que existe um blog de pessoas que afirmam terem sido plagiadas pelo Gilderoy?" Seu queixo estava caído. "Isso é impossível!"

"Desde quando ele é Gilderoy e não Sr. Lockheart pra você?" O ruivo questionara, de braços cruzados e meio inquisidor. A cacheada estava toda vermelha e gaguejos como resposta. 

"Ele disse que queria que todos da aula especial se sentissem íntimos dele, mas, não íntimos demais... Vocês entenderam!" Seus melhores amigos trocaram olhares e ela apenas suspirou. "Me dá isso aqui." A garota puxou o celular com o site aberto da mão de Potter, seus olhos parecendo escaneadores de última geração por aquelas palavras. "...Isso é falso." 

Harry engasgou com a própria saliva. "O que?! Mi, são pessoas com provas!" Ele estava quase surtando, a garota surtava junto. 

"E daí, Harry? Por que elas não foram denunciar de uma vez para a polícia?! Já que estão tão certas de ele as plagiou!"

"Você é a dona dos neurônios do grupo! Sabe muito bem o porquê! Medo, Hermione. O Lockheart é uma celebridade, podia acabar ferrando a vida de todos eles." Ele pegou seu celular das mãos dela. "Devemos ao menos mostrar isso pro diretor Dumbledore." 

A cacheada fechou os olhos, respirando fundo. "Tá."

Os dois garotos possuíam um pouco de tensão e perguntaran em uníssono.  "Tá...?" 

"Eu disse que tá, porra!" Eles deram um passo para trás com o tom de voz dela. "Agora, se me derem licença, vou voltar para a minha aula com um suposto plagiador. E... E aí, minha nossa, vocês tem ideia do quão pesada é uma acusação dessas?" A mesma não deu tempo para os dois responderem, bufando e dando as costas para os dois, entrando na sala com o maldito professor. 

Enquanto assistia Hermione dar sorrisos meigos para o homem cujas aulas eram paradas com o único intuito de contar alguma história sobre seu dia, Harry conseguiu perceber pela janelinha da porta um aluno em especial. Um aluno que não fazia parte da gigante e majoritamente feminina parcela de alunos,  o qual não o encarava com tanta devoção. Em vez disso, parecia muito mais atento as páginas de uma edição de Romeu e Julieta em capa dura, de Shakespeare. Draco Malfoy tinha uma expressão centrada, com o cenho muito sutilmente franzido e a franja loira esbranquiçada caindo pelo seu rosto, emoldurando o mesmo. Ele vestia uma camisa branca folgada, um par de jeans escuros e a atenção de Potter. 

Por que ele estava lá se não era um fã de Gilderoy? Ele realmente esperava aprender algo sobre literatura? Será que estava lá apenas para continuar com seus notas excelentes e avançar naquele ranking? Ultrapassar sua melhor amiga? Ele se esforçava tanto a esse ponto? 

Harry nunca teria suas respostas, sendo roubado de seus pensamentos pelo ruivo o chamando no final do corredor, ele caminhou em direção a saída. 

 Lockheart, alguns meses depois foi processado por plágio e demitido de Hogwarts, para o alívio de alguns alunos e choque de outros. Harry bebeu suco de uva em taças com seus amigos para comemorar - embora parecesse mais que Hermione estava afogando suas tristezas, envolta em uma melancolia estranha. Não era pela saída de Gilderoy mas sim, por não ter conseguido perceber o quão estúpido o homem era, encantada por um charme inventado. 

Agora, quem dava aula de literatura era o muito mais capacitado, professor Remus Lupin. Não, não, Harry Potter não o elogiava apenas porque ele era seu padrinho. O profissional era demasiadamente bom no que fazia. Suas palavras, sua entonação, seu jeito revelava sem o mínimo de esforço o quanto ele amava o que fazia. 

E podiam ter se passado dois longos anos, só que Draco continuava com a mesmíssima expressão de quando se concetrava que a daquela época. A divergência estava nos detalhes; seu cabelo um pouco mais longo, jogado para o lado e em vez de calças e camiseta, vestia uma saia e uma camiseta preta, com um casaco de couro jogado por cima dos seus ombros, ornando com suas meias finas, quase transparentes na cor verde escura, as quais alcançavam os limites do seu joelho. Ele tinha um cinto da Gucci ao redor da cintura e se Harry observasse com ainda mais atenção, poderia perceber que os traços cansados em seu rosto não tinham sumido desde o primeiro dia de aula, na verdade, pareciam até mesmo piores.

Harry Potter se pegava pensando mais do que gostaria em Draco Malfoy. 

O garoto de pele pálida possuia uma longa linhagem de confusões em seu encalço e ele era tão mas tão arrogante no primeiro ano, não tinha como não detestar aquele nariz empinado dele. O jeito que o mesmo falava coisas grosseiras ou ignorava a todos. Ele nunca tinha sido gentil em toda sua vida e a maioria dos alunos o detestavam por isso. 

Mas então ele tinha colocado roupas consideradas femininas, deixando de ser um incômodo e passando a unicamente ignorar todos da sala que não fossem Pansy Parkinson e Blaise Zabini. Harry se lembra bem de que ele andava com outras pessoas no primeiro ano; o ex-jogador de vôlei Theodore Nott, a bonita e mais educada - o que é idêntico a ser o anão mais alto - Astória Greengrass, além dos dois garotos que tinham repetido de ano umas duas vezes e eram mais altos e desenvolvidos do que todos; Vincent Crabbe e Gregory Goyle. 

E as poucos eles foram indo embora, fazendo intercâmbios, mudando de cidade... Todos diziam que isso se devia ao fato de seus pais estarem fugindo. Políticos corruptos fazem isso todo o tempo, sem surpresas. 

A ignorância de Draco para o mundo esterior era tanta mas tanta, que você simplesmente esquecia que ele estava ali, às vezes. Claro, o primeiro mês tinha sido como se ele tivesse posto um grande holofote sob sua cabeça e, de fato, os jornais locais tinham feito isso, e por mais que todos ainda desviassem do caminho dele quando se aproximava, Malfoy não era mais o centro das atenções. Não todo o tempo. 

Draco nem ao menos tinha direcionado xingamentos sem precedência em direção as pessoas durante as últimas semanas, muito pelo contrário, as outras pessoas que vinham até ele. E seu comportamento padrão agora era fugir ou então, revidar de forma cortante para aí sim, em seguida, fugir.

Harry Potter não sabia o porquê de estar prestando mais atenção do que gostaria em Draco Malfoy e nossa, como ele gostaria de uma resposta. 

— Sr. Potter? — A voz firme de Severus Snape o tirou de todas as suas reflexões, e de repente, todos os olhos curiosos da turma estavam nele. — Você não me parece estar prestando atenção na aula. 

— ...Sim. Estou. — Ele piscou repetidas vezes, olhando a carranca e o cabelo ensebado de seu professor de química. O qual nunca tinha ido muito mesmo com sua cara, vai entender o porquê. 

— Bem, então, já que tenho sua atenção, poderia repetir a explicação do trabalho em dupla que eu acabei de passar? 

O moreno abriu a boca diversas vezes mas era o mesmo que tivesse desaprendido a falar. Na sua frente, o professor esperava por uma resposta de braços cruzados. Ele congelou no lugar com o olhar reprovador dele e Hermione Granger, que estava duas cadeiras a sua frente, respondeu por si: 

— O trabalho tem o objetivo de reconhecer a evolução da química orgânica em relação às 

propriedades do carbono, bem como classificar as cadeias carbônicas. Vamos dividir os tópicos do capítulo com nossa dupla e então preparar resumos bem detalhados. Isso vai valer uma grande parte da nota, também. 

Harry Potter quase deixou escapar um "desde quando estamos estudando isso?" mas sua amiga cacheada o conhecia suficiente para lhe lançar um olhar ameaçador depois de terminar sua explicação, o impedindo de assinar seu atestado de morte. 

— Acredito que a senhorita não seja o aluno para o qual eu perguntei, menos cinco pontos de nota para você, Sr. Potter. — O garoto de fios rebeldes cruzou os braços, indignado, a simples presença do professor Severus Snape era mais que suficiente para lhe causar um penca de sentimentos negativos. Sendo sua maioria todo o tipo de raiva existente na face da terra. E ele tinha certeza que o professor sentia as mesmas coisas. Ódio mútuo. — Entretanto, a recapitulação da Srta.Granger está, de fato, correta. Eu irei decidir quais duplas serão formadas por forma de sorteio e vocês não poderiam trocar. — Ele puxou um potinho de dentro da gaveta da sua mesa de madeira escura, sendo este um preto de acrílico transparente com vários papéis dentro. 

Ele poderia estar ouvindo coisas, mas tinha quase certeza de ter escutado toda a sala engolindo em seco. Deixar decisões como essa nas mãos de sorteios nunca dá certo. Veio a mente de Potter o primeiro passeio escolar que ele participara, durante seu segundo ano. Ele tinha dividido o banco do ônibus com ninguém menos que Pansy Parkinson e foi, realmente, uma experiência estranha. 

Ela era envolvida em uma série de rumores que a constataram como distante e pegadora, na realidade, essa imagem da menina era bem diferente da qual ele teve a honra - como ela mesma colocou - de testemunhar por alguns minutos. Pansy tinha o cabelo um pouco mais comprido, escuro como os suas íris, que miravam o próprio celular. Ela e Potter não trocaram nenhuma palavra durante todo aquele percurso, mas em algum momento, Parkinson começou a trocar mensagens com alguém, digitando de forma desesperada e ele podia ver sua expressão se tornando mais entristecida com clareza, a ponto de uma lágrima escorrer do canto do seu rosto. "Não fale nada. Absolutamente nada, Potter. Você não teve a honra de me ver. Você não sabe de nada. Você continua não se importando, você não irá fazer nada."

Ele queria dizer muitas coisas naquele dia, ele queria fazer diversas perguntas. Porém, ele não fez absolutamente nada. Exatamente como ela pediu. O menino simplesmente ficou parado e em choque. Era isso que aquelas pessoas, as quais não estavam seu círculo de amizade, pensavam em dele? Que ele não se importava? Bem, ele de fato não dava tanta importância assim para eles, afinal, eram pessoas meio maldosas. 

Os Dursley tinham dado a cota de maldade suficiente para toda a sua vida. Ele não iria atrás de pessoas que pudessem lhe dar mais. Harry Potter não era o errado da história. 

Harry deveria odiar Draco Malfoy, Pansy Parkinson e todo o resto de sua gangue ou seja lá o que fossem eles... Amigos? Porque era simplesmente tão fácil de se agarrar as suas ideias pré formadas do que eles eram, do significado daquelas provocações bobas, da rivalidade, do que quer que estivesse acontecendo. 

Potter lembrou do que o Príncipe lhe disse uma vez, eles estavam conversando sobre livros, porque o garoto era um leitor assíduo e mesmo que Harry preferisse muito mais filmes e séries, ele apreciava  muito mais o Príncipe mandando aquelas mensagens extensas a cerca do que tinha lido. Todas as suas reações eram sempre altas, chamativas e espirituosas. O Garoto de Ouro percebia tão facilmente todas as suas nuances de humor, quando estava mais quieto e mais triste ou mais animado ou mais provocador. 

O Príncipe era quase um fenômeno da natureza. Constante e avassalador. 

Enfim, o garoto dizia que ultimamente tinha deixado de apreciar os personagens mais preto no branco e tido como clássicos. O certo e o errado. Ele passara a acreditar que as pessoas criavam uma história para si mesmas, as quais elas deixavam expostas e em algum momento, elas tinham furos narrativos, então, as pessoas naturalmente deixavam pistas sobre quem elas realmente eram e passava a ser uma decisão das outras pessoas se permitir reconhece-las ou não. 

A questão era por que alguém esconderia quem realmente era por trás de uma história? De uma máscara? Por que Draco Malfoy tinha simplesmente decidido se revelar? Será que tinha sido um ato acidental, tal como as lágrimas de Pansy Parkinson? 

Um baque alto de livros contra a mesa o chamou a atenção. Do seu lado, o retentor de seus pensamentos conflitantes tinha puxado uma mesa e agora sentava-se graciosamente sobre a cadeira  Potter piscou, confuso. Então, olhou em direção a lousa e engoliu em seco quando viu o que estava anotado, em letras grandes e imponentes: 

DUPLAS SORTEADAS. 

E em algum canto abaixo: 

HARRY POTTER E DRACO MALFOY. 

O destino tinha um senso de humor muito maquiavélico. 

— Você tá chapado? — Harry arregalou os olhos com a pergunta, se virando para a figura loira do seu lado. 

— Que?! Por que você acha isso? 

— Wow, se acalma. — Os lábios de Malfoy estavam brilhantes contra a luz que irradiava da janela. Harry tinha quase certeza que já tinha visto algumas meninas com esse mesmo brilho. Quase certeza que deveria ser aquele negócio, ah, gloss. Era tão bonito nele. Misericórdia, ele nunca tinha pensado nisso. Não deveria pensar nisso. Esse pensamento nunca aconteceu. — Eu perguntei porque você parece que tá viajando. Sério, se você estivesse de olhos vermelhos, já teriam te mandado direto para a diretoria. — Ele ergueu o cantinho do lábio, em um sorrisinho zombador. — Ou o grande Harry Potter também tem passe livre para o uso de drogas? 

— Eu não estava viajando. E eu também não uso drogas, Malfoy. Isso é com você e o seu grupinho. — Revirou seus olhos verdes. — Esquece isso e vamos fazer o trabalho. 

— Então, tá, se você diz. — Draco se virou, abrindo o caderno e tirando uma caneta preta do estojo. Ele parou por um segundo. — Potter, você ao menos sabe quais são as páginas do assunto? 

— Ah, bem, são aquelas com química orgânica ou... É... — Ele gaguejou e foi a vez de Draco revirar os olhos.

— Você tem sorte de Snape estar avaliando o desempenho da dupla e não o individual. — Bufou. — Do contrário, te deixaria trabalhando sozinho. 

— Eu apenas estou muito distraído. Sei a matéria. — Ele se apressou para salvar seu resto de dignidade, contudo, Malfoy não tinha pena. O loiro ergueu uma de suas sobrancelhas na sua direção. 

— Potter, você só não está mais baixo no ranking de notas em química porque o Longbottom conseguiu a proeza de explodir o laboratório!

— Olha, eu não tenho culpa se essa é uma matéria meio... Estúpida. — Falou em uns três tons mais baixo, o suficiente para que ninguém além dos dois escutasse. Harry, com toda certeza, não precisava de mais problemas com Snape. 

O loiro fez uma careta tão azeda que foi o mesmo se o moreno tivesse xingado sua mãe. 

— Não é estúpida! Estúpida é essa sua cicatriz em forma de raio. Ou essa suas roupas. Ou o jeito que você joga basquete. Ou como você sempre parece que acabou de acordar com esse seu cabelo bagunçado e... Isso sim são coisas estúpidas! Química, não. — O loiro passou algumas páginas do caderno até achar uma em branco com uma certa agressividade, suas bochechas levemente coradas. — Abre o livro na página quarenta, vou marcar os tópicos que vamos precisar resumir. 

Potter pensou seriamente em retrucar a maneira nem um pouco sutil de Draco Malfoy em chamá-lo de estúpido repetidas vezes, mas em vez disso, sua atenção foi levada para outro lugar. 

— Você desenha na borda do caderno? Deixa eu v... — As bochechas do loiro ficaram vinte tons mais vermelhas e ele passou para uma outra folha, antes mesmo que Harry pudesse sequer tocar em seu material. 

— Eu desenho um pouco quando estou entediado. São só... Flores ou constelações que eu lembro na hora. — Murmurou baixinho, parecendo envergonhado. — Esqueça isso.

O moreno decidiu ser ousado e forçar um pouquinho mais, em outros tempos, o loiro teria simplesmente mandado ele se foder e cuidar da própria vida em vez de contar sobre seus desenhos - mais ou menos - secretos. 

— Mas... Também tinha uma frase escrita. 

— É de um livro. Orgulho e preconceito. — Ele abaixou o olhar, aquelas íris acinzentadas e cortantes em direção a mesa. — Eu gosto de anotar as frases dos livros que me marcam. Mas acho que você não é do tipo que aprecia Jane Austen ou Oscar Wilde. Ou ler, no geral. 

— Se serve de alguma coisa, tenho certeza que já vi algum filme baseado nos livros deles. 

Harry assistiu com uma emoção incompressível Draco lutar para esconder um sorriso. E ele maltratou a si mesmo, internamente e violentamente, por querer sorrir também simplesmente por esta razão. 

— Realmente, um senso ridículo, Potter. 

Ele não conseguiu negar o ridículo, rebater, mandá-lo ir catar coquinho na ladeira ou qualquer coisa. Nem por um único nstante. Admirado em como a luz estava batendo mais forte em si e de repente não era somente seus lábios que brilhavam. Era seu cabelo, seus brincos, seus olhos. Era tudo. 

Só que Draco nunca perceberia o jeito que ele estava o observando, apoiando-se em suas mãos, encarando as linhas do próprio caderno. Seu último ato foi um murmúrio: 

— Você vai abrir o livro ou não? 

[💘]

— Então, por que você me chamou? Ou melhor, por que você mandou um garoto assustado do primeiro ano me chamar? — Draco Malfoy, de braços cruzados, encarava o rosto tenso de Blaise Zabini. Mascarando sua preocupação com uma expressão fria. 

Eles estavam em um ponto meio afastado do restante dos alunos. Era um beco que ficava nas laterais de Hogwarts, bem onde se localizavam os basculantes dos banheiros. A memória deles jogando cigarros pelas janelinhas de banheiro no primeiro dia de aula o acertou em cheio, deu o seu melhor para continuar com a expressão intocada. Zabini estava com o ombro direito encostado na parede, mordendo a parte de dentro da bochecha - ele sempre fazia isso quando estava nervoso, Draco pensou. 

— Você tá usando a jaqueta. 

— Que jaqueta? — O loiro se fez de desentendido, seu amigo deu uma risada contida. 

— Você sabe qual. 

É, ele realmente sabia. Draco Malfoy cresceu ouvindo que deveria prezar pela sua estética. Sempre bem arrumado, sempre como se estivesse a minutos de um desfile. Ele também apreciava que a primeira ideia na mente de todos sobre ele fosse a de um garoto que sempre estava no controle, certo de duas decisões, frio, distante e vaidoso. Como se ele fosse uma bela estátua de gelo, a qual ninguém poderia tocar. Inalcançável. 

Portanto, a última coisa que ele admitiria era que aquela jaqueta de couro verde que estava usando, dada de presente por Blaise e Parkinson no seu aniversário - os quais, por sua vez também tinham suas respectivas jaqueta - era algo importante para ele. 

"Todos dizem que parecemos uma gangue, achei que seria legal entrar no personagem." Ela tinha dito, dando aquele sorriso emoldurado por batom matte avermelhado. "Não que a gente vá usar ao mesmo tempo, seria cafona demais. Só... Achei que poderíamos ter uma coisa só nossa."

Algumas pessoas compravam colares da amizade, eles, compravam roupas de grife de mais de mil dólares. 

— E daí, Blaise? Me chamou só para falar da minha roupa? — Ele tentou lançar seu olhar cortante, mas o garoto a sua frente parecia ser de ferro em relação a isso. Era o costume. 

— Só vim falar que quem te deu essa jaqueta, tá sentindo sua falta. 

— Claro que está, quem não sentiria minha falta?

— Draco... 

— Não, sem essa de "alguém está sentindo minha falta", Blaise. Se Parkinson quer me ver, ela que venha até mim e peça suas desculpas de forma apropriada. — Malfoy semicerrou os olhos, o garoto de olhos castanhos profundos parecia inquieto. Desviando o olhar, colocando as mãos no bolso. — Você está escondendo alguma coisa de mim? 

— A Pansy não sabe que eu vim aqui falar em nome dela. Ela acha que eu tô na fila da cantina para pegar lanche. — Ele soltou de uma vez, fechando os olhos e pronto para uma explosão. Esperou que seu amigo gritasse, zombasse, repetisse diversas vezes o quando ele estava sendo idiota em tentar reintegra-lo a seu grupo. Que ele reafirmasse o quanto era inútil que tentassem ter Malfoy de volta, porque ele estava magoado, porque ele não era alguém misericordioso. 

Em vez disso, quando ele abriu os olhos, apenas viu Draco encarando para os próprios pés. 

— Não complique as coisas, Zabini. Se Parkinson tem arrependimentos, ela vai conseguir superar os medos dela e vir até mim pedir desculpas. É simples. — Ele ergueu o rosto, ainda sem olha-lo diretamente. — Seja o amigo dela, agora, não o meu. 

— Por que... — O garoto na sua frente não sabia o jeito certo de arrumar suas palavras, ele simplesmente abria os lábios diversas vezes e os fechava em seguida. — Por que... Por que você está tão tranquilo? Por que não tá dizendo o quanto ela foi estúpida em falar como o seu pai ou qualquer coisa assim? Por que tá sendo gentil? Amigável? 

— Porque as pessoas escolhem o que elas querem ser. E eu não preciso de mais dramas na minha vida. Sei que para algumas pessoas eu posso não merecer, mas eu verdadeiramente gostaria de um pouco de paz. De aproveitar esse último ano. A vida é curta, você pisca e de repente, ela está se esvaindo pelos seus dedos. — Draco respirou fundo e Blaise franziu seu cenho. — Sei o que quer perguntar e eu não vou te responder. Não desperdice saliva. 

— Não responda ela quando for tarde demais, Draco. 

O loiro descruzou os braços, os deixando cair de um jeito naturalmente graciosidade ao lado do corpo, o retinto se afastou da parede. Eles se encaravam. 

— Apenas volte para ela, Zabini. Seja o amigo leal que você sempre é. E por um único momento, confie em mim. — Malfoy deu as costas, mas ele segurou seu pulso firmemente, um pedido silencioso para que parasse onde estava. 

— Você está mudando

Draco respondeu ainda de costas, puxando seu pulso para fora de seu aperto e apertando a barra de sua jaqueta, mordendo forte o seu lábio inferior até sentir o gosto amargo de um filete de sangue. 

— Como você espera que tudo permaneça o mesmo depois de tudo que aconteceu? 

Malfoy saiu andando pelo beco de forma rápida, sem um único som a mais saindo da boca de Blaise. Planejou caminhar em direção ao outro lado escola, na expectativa de que aquele caminho acabasse dando para algum canto dos jardins. Seus passos eram duros e em algum momento, ele sentiu algo abaixo dos seus pés. Franziu o cenho e ergueu um pouco o lado esquerdo, com a finalidade de observar o que tinha sido. 

Uma bituca de cigarro. Abaixou a sua bota louboutin e com uma certa apreensão, ele olhou com para trás, mirando já um pouco longe, virado de costas para si, ele pode ver a silhueta forte de Zabini. 

Um maço de cigarros na sua mão repousando na mão dele, a cabeça inquieta, como se procurasse um lugar. Como se estivesse averiguando o local, esperando estar sozinho. E isso inquietou Draco, tanto. 

Blaise Zabini nunca tinha fumado na escola. Não. Ele não era esse tipo de aluno. Fumar acontecia ocasionalmente em situações especiais, como festas ou qualquer outro tipo de evento. Ele não poderia estar se viciando, poderia? Não, não, não, não. Ele nunca se deixaria levar por algo assim. 

Draco Malfoy respirou fundo, negou com a cabeça e afastou seu pensamento. Voltando para o seu trajeto. 

Nada estava acontecendo. 

[💘]

— Harry, isso não vai funcionar. 

— Mi, nem todo o conhecimento do mundo está em livros. 

— É, e visivelmente também não está no seu cérebro. 

— Você só está com medo de isso dar certo e eu me tornar um gênio. 

— Para de sonhar alto. Desce logo de cima dessa árvore ou eu vou chamar a Ginny e o Rony pra te cutucarem e fazer você cair igualzinho uma jaca madura, seu tonto do caralho. 

Harry Potter tinha ouvido alguém dizer em algum momento, que se conseguisse subir até o alto do salgueiro que ficava nos arredores de Hogwarts, ele conseguiria ter uma visão suficientemente boa de alguns cantos próximos do colégio. A árvore era gigante, metros e mais metros, se assimilando a um prédio dos mais imponentes, porém, o garoto tinha um motivo que considerava muito bom para querer subir lá em cima. 

Ele queria tentar reconhecer o Príncipe no meio daquela multidão de alunos. 

Tudo tinha começado com uma mensagem - bem, quando não começava com uma? - na qual ele dizia que já que não estava andando com seus amigos, pois tinham brigado, logo, iria aproveitar para ficar em um canto, lendo ou rabiscando. Provavelmente onde tivesse menos aglomeração de alunos e fosse mais calmo. 

Harry Potter sabia que era uma tentativa praticamente inútil, pois ele nem sabia como era a aparência do Príncipe, lá em cima não dava para ver tanto de Hogwarts assim e um monte de outras falhas na sua ideia que seus amigos foram discutindo por todo o percurso quando a liberação para o intervalo chegou. 

Tinha contado para eles sobre a ligação inesperada do Príncipe, todavia, tentou ao máximo não se aprofundar nos problemas compartilhados naquele momento. Afinal, o Príncipe tinha confiado nele para fazer isso. Harry era o amigo dele, e não Hermione e Ronald. A notícia da ligação servira somente para reduzir de forma mínima a gigante preocupação de Hermione, a qual tinha listado mais outras oitentas possibilidades do que poderia dar errado com o moreno e o porquê ele deveria insistir para que mostrassem suas identidades o quanto antes. 

Potter podia não ter falado muito sobre o conteúdo da ligação e a voz da pessoa do outro lado poderia estar chiada, mas ele tinha notado uma característica ou outra. Era uma voz suave, elegante e com uma dicção perfeita. Todas as suas palavras, até mesmo em meio ao desespero e choro, eram todas pronunciadas de forma calma. 

Ele imaginou que deveria procurar por uma pessoa bem arrumada, porque o garoto passava a impressão ser alguém com dinheiro. Isso deixava as coisas mais difíceis, Hogwarts era um colégio com bolsas estudantis, porém, uma boa parcela dos alunos vinha de famílias bem abastadas. 

Eventualmente, Harry foi se distanciando da voz de Granger, ouvindo os seus gritos mandando ele descer de imediato quase como sussuros, quando realmente chegou no topo. E, minha nossa, era incrível. 

Ele finalmente entendeu o que Jack, do filme Titanic, quis dizer quando gritou com todos seus pulmões que era o rei do mundo, de cima daquele navio. 

Ali em cima, provavelmente uns vinte metros do chão, se não mais, firmado em um galho grosso e aparentemente resistente, onde uma queda poderia ser mortal, você esquecia completamente disso com o vento batendo igual uma carícia no seu cabelo. A sensação de liberdade lhe dava socos no rosto. 

O garito conseguia distinguir os alunos dali de cima, mas de tão amontoados, os comparou inconscientemente com uma colônia de formigas. 

 Lembrou-se de quem o havia falado sobre o topo só salgueiro. 

Remus Lupin. 

Remus apreciava os momentos de paz durante sua época de aluno em Hogwarts. O homem era amigo de James Potter e Sirius Black, os momentos de calmaria quando se andava com a dupla eram similares a menos zero. O professor e padrinho de Harry dizia que sentia uma constante vontade de fugir por um tempinho, como quando Sirius e James estavam por aí fazendo suas peripécias, unidos como dois irmãos gêmeos. Ele só queria ler um livro em paz, pensar consigo mesmo. 

Então, em vez de ir para a biblioteca, onde, eventualmente o encontrariam ou para a torre do observatório mais ao sul do colégio, onde a qualquer momento poderia entrar um grupo de alunos que o expulsaria de lá, ele começou a vagar pelos cantos do enorme colégio até se esbarrar com a majestosa árvore. 

E ele podia ser um nerd, o chame do que quiser, porém ele sabia como escalar uma árvore. Ele ainda era um maroto. Ainda tinha uma ou duas gotinhas de imprudência no mar de responsabilidade que era a sua personalidade. 

Lupin definitivamente passava tempo demais ao lado de Sirius Black. Nós jantares em família, quando contava essa história, sempre se lembrava de adicionar o detalhe de que toda a culpa dos seus momentos impulsivos estava na rebeldia natural de seu parceiro que o influenciava para o mal caminho. 

O Garoto de Ouro perguntou para si mesmo se o Príncipe largaria seus livros e sujaria suas roupas caras para subir um árvore de vinte metros com ele. Se ele o deixaria segurar sua mão, confiando na sua promessa de que valeria a pena. 

O menino respirou fundo, ele tinha uma mente fértil demais para o próprio bem. 

Além do refeitório ao ar livre, Harry conseguia ver a quadra de esportes - agora ocupada com uma partida amigável de basquete entre diversos alunos, de diversos gêneros e turmas. Facilmente reconheceu as cabeleiras cor de fogo ricocheteando no ar de Ginny e Ronald. Na arquibancada, teve certeza de que a garota usando um vestido longo e florido era Lovegood, ao seu lado, uma garota de cabelo escuro estava apoiando a bochecha na mão, um pouco encolhida. Deveria ser Cho Chang. 

Ela realmente não estava nem um pouco bem, os rumores ao seu redor diziam que ela estava usando como defesa de sua traição um suposto tempo que ela e Cedrico tinham dado. Agora, se os outros acreditavam em sua palavra, era outra história. 

Particularmente, Potter acreditava um pouco. Ele não era alguém que acreditava cem por cento em romances perfeitos. Não, as pessoas não tem toda essa sorte. Você sempre vai ter discussões, intrigas, diferenças. A questão é como você lida com esses problemas.

Mudando de pensamento, ele nunca tinha parado para perceber como a arquitetura do colégio era bem complicada. A quadra tinha as arquibancadas a sua lateral e era uma puta quadra, enorme a ponto de suportar refletores gigantes nas suas arestas. Então você tinha o refeitório não muito ao longe, apenas alguns pouquíssimos metros de distância e diversas árvores menores em comparação a que estava por todo o seu redor. Acoplado ao refeitório ao ar livre, tinha uma parte da escola onde ficavam as salas de algumas turmas primeranistas. Então, você tinha as instalações de laboratórios, a torre do observatório - porque Hogwarts era o tipo de colégio que dava todo o tipo de matéria extra, como astronomia - e você tinha também uma fileira com os banheiros geralmente mais usados nos dias dos jogos abertos ao público. Armários dispersados por todos os lugares - o edifício inteiro era coberto de janelas, se tornava muito fácil identificar as cores vibrantes deles das outras ali de cima. As instalações mais longínquas e que começavam a ficar fora de suas visão eram a estufa, para aulas de ciências, botânica e afins e o auditório, onde aconteciam reuniões, avisos e a equipe de debates se apresentava. 

Ele tinha certeza que havia também uma área com piscinas para aulas de natação em algum canto, mas devia ser longe demais e algumas partes do colégio eram  simplesmente muito desinteressantes para si, não estava muito interessado em se relembrar. 

Ele era um jogador de basquete com notas medianas, vamos lá, o dê um desconto. 

Em algum momento, seus olhos pararam em uma cabeleira loira se movimentando pelos jardins do local, forçou sua mente para se lembrar de onde era aquele a caminho. Ah, sim, era a área de artes. Onde se tinham aulas de desenho e um depósito para cavaletes, tintas e seja lá o que artistas usam.  

Harry apertou seus olhos naquela direção, só havia um único terceranista com aquele tom de loiro, novamente, sua atenção estava voltada para Draco Malfoy. Tal como a atenção de um mosquito está para a luz. 

— O que você está fazendo aí... — Murmurou para si mesmo, se arrastando com cuidado no galho em direção a sua direita, ansioso para alguma descoberta reveladora a respeito dele. Ali também era onde ficava o clube de fotografia do colégio, cujos membros não deveriam ser mais de uns quatro. Bem, talvez fosse mais popular, Harry nunca tinha prestado muita atenção nisso. 

Seria Draco Malfoy, o jovem de conduta duvidosa, a espalhar fotos reveladoras dos alunos? Potter seria um grande mentiroso se disesse que a teoria não passou pela sua cabeça. Faria tanto sentido, seu comportamento mais quieto em relação os outros anos poderia ser facilmente justificado como sendo somente um disfarce para a sua vida dupla de fofoqueiro anônimo. Era uma teoria meio absurda, se parasse para pensar em todos os detalhes, mas logo Harry se lembrava do quanto o garoto adorava um bom deboche e não tinha pena das pessoas ao seu redor. As coisas se tornavam mais aceitáveis. Minimamente aceitáveis. 

O loiro estava escondendo alguma coisa contra o seu peito, andando de forma furtiva assim que saiu de uma sala, observando de forma agitada todos os lados. Sozinho naquele corredor, parecia um animal indefeso. O que ele tanto temia?

Draco Malfoy nem percebeu que uma garota de cabelo castanho em trancinhas estava vindo em sua direção, percebeu apenas quando seu corpo se esbarrou ao dela, provavelmente distraído por mais olhar para as próprias costas do que para frente. E o que estava escondendo, saiu como uma explosão para todos lados. Harry arrumou os óculos para mais perto do rosto. Eram diversas folhas de papel, e o loiro resmungava alguma coisa, apontando o dedo - Potter supôs que deveria ser algo como "se você contar sobre isso para alguém, eu acabo com você." Ou "presta mais atenção por onde anda, infeliz." Com pressa, Malfoy reuniu todas as folhas sozinho e saiu correndo de lá. 

É, Harry Potter, você não encontrou seu garoto misterioso. Mas com toda certeza, encontrou um mistério novo. 

[💘]

— Ele tá respondendo bem a quimioterapia, o tumor no pulmão dele não é grande, então, meio que a medicação tem o objetivo de impedir o crescimento dele. A cirurgia que ele vai fazer é a... A... 

— Segmentectomia pulmonar, Ron. — Mione completou, o trio de ouro estava agora reunido e sentado na arquibancada. O ruivo no meio, sua namorada do seu lado e Harry no outro. Depois dele ter descido da árvore, sua melhor amiga decidiu o puxar sem nem ao menos poder falar sobre o que viu. Hermione estava ansiosa para poder apreciar o final da partida do namorado. 

Um pouco mais afastadas, mas ainda assim perto o suficiente para escutarem. Uma Ginny levemente suada fazia carinho nos fios platinados da sua namorada, Luna Lovegood, a qual repousava ali tranquilamente. Murmurando baixinho alguma coisa sobre como a lua estava entrando em câncer e isso significava a vinda de muitos rancores para as pessoas. 

— Sim, sim, sim, isso mesmo... Obrigado. — Ele deu um suspiro. — A mamãe tá regrando as minhas visitas, a pedido do próprio Fred. Porque ele não gosta que eu o veja assim... Ele tá bem impaciente pela chegada cirurgia e você sabe como ele odeia toda essa preocupação e tensão em cima dele. O seu humor às vezes fica péssimo. 

— Eu disse ao Ron que isso é porque, provavelmente, ele não sabe como reagir ao medo de que tudo pode dar errado...

— O que não vai acontecer. — Ginevra murmurou, mais para si mesma, do que para os outros. Mas como não estavam exatamente fazendo muito barulho, foi bem audível a todos. 

Ron pigarrerou, voltando a atenção a ele. 

— Mas é basicamente isso. Toda notícia nova sobre o caso dele me deixa ansioso e... — Granger

acariciou sua mão, em uma tentativa de deixá-lo mais calmo. — Ao menos, ele ainda tem Jorge do seu lado. Carlinhos tem falado com ele por Skype de  vez enquando e já tem passagens da Noruega para cá, para daqui umas duas semanas. Ele vai chegar uns poucos dias antes do começo do próximo mês, que é quando acontece a cirurgia. Percy e Guilherme...

— São dois pau no cu. — Ginny vociferou, sem encarar nenhum dos três. Quase rosnando. 

— Ginny! — Ronald a repreendeu. Ela revirou os olhos. 

— E eu tô mentindo? Eles não tão dando a mínima, porque ficam nesse cu doce de merda, ignorando a nossa família desde que você se assumiu. Se você não quer odia-los, tudo bem, pode deixar que eu pego as dores de todo mundo. 

— Você não precisa pegar as dores de ninguém. — Ron de repente sentiu a garganta secar. — Na verdade, eu acho que eles vão sim vir visitar o Jorge. Ouvi a mamãe conversando com o pai...

— Por que não me contou sobre isso? — Hermione deixou escapar, em tom apreensivo, o encarando de maneira preocupada. 

Harry se sentia no meio de um turbilhão. 

— Porque eu não sei se é verdade! E eu estou contando, agora. Eu ouvi isso ontem de madrugada, ia descer pra comer alguma coisa e ouvi meio sem querer eles na mesa da cozinha, conversando baixinho. 

— Talvez você tenha ouvido errado. Eles não iriam esconder uma coisa dessa de vocês, ou iriam? — A de Harry se fez presente. Um pouco tímida, mas ainda sim, ali. Hermione tinha um franzido no meio da testa, claramente tensa e pensativa. Ronald parecia vinte vezes mais cansado, vinte vezes mais velho. 

— Talvez. Quem sabe. — O ruivo deu uma risadinha sem graça. — A um tempo atrás eu achava que nada mais de ruim poderia acontecer, então, olhe só onde estou. 

A declaração de Weasley foi o suficiente para Harry tomar a decisão manter a informação sobre Draco Malfoy e seus papéis misteriosos somente para si, sentindo o coração apertado com a dor de seu melhor amigo. Hermione apoiou sua cabeça no ombro do namorado. Inteligente o suficiente para saber que não tinha nada que ela pudesse falar a ele que pudesse melhorar em alguma coisa, não ali, não agora. 

— Estou rezando aos deuses pela família de vocês. — Luna murmurou, com seus olhinhos fechados e encolhida no colo da namorada. Harry quase se arrepiou de susto, tinha esquecido por um momento dela. A menina era uma das pessoas mais diferentes do colégio. Ela era pagã e a prova concreta de que a imagem que as outras pessoas tinham sobre paganismo e afins era bastante errônea. A última coisa que a menina era envolvida seria a maldade. Luna se emocionava simplesmente por comprar canela no mercado e falava coisas para Ginny como "as runas disseram que você é o amor da minha vida" enquanto lhe dava beijinhos no rosto. Ela era um doce de pessoa. — Sei que eles vão abençoar vocês. São pessoas de energia boa. 

— Obrigada, minha linda. — Ginny sorriu, amorosa e voltando a acariciar cheia de ternura o cabelo dela. Ronald agradeceu também e por mais que Hermione fosse cética a um nível absurdo quando o assunto era religião, ela não conseguiu deixar de dar um sorriso tímido. Harry também estava sorrindo para o seu apoio. 

De repente, um grito fez Luna Lovegood arregalar os olhos e sair das graças de Hipnos. 

— EI, VOCÊS, AÍ! — Eles engoliram em seco. Apenas uma pessoa tinha uma voz tão poderosa, era Filch, o maldito zelador que tinha como único objetivo de vida distribuir o máximo de advertências que conseguisse. — O INTERVALO JÁ ACABOU! PARA A SALA! CHEGA SE VAGABUNDAGEM! — Eles se aliviaram quando viram que o grito não era direcionado a eles mas sim, para um outro grupo no canto da quadra. Harry sentiu pena quando viu que Simas e Neville faziam parte das pessoas para quem o aviso tinha sido direcionado. Potter e seus amigos aproveitaram a deixa para se afastar da quadra e sair de fininho em direção a sala de aula. Uma retirada estratégica para não dizer fuga, das garras de Filch. 

[💘]

Harry Potter passou a aula de literatura com a mão apoiada no rosto e um semblante avoado. Ele adorava Remus Lupin, só que definitivamente tinha algumas intrigas com a matéria que ele ensinava. Não era como se odiasse literatura, não, ele gostava sim de ouvir suas explicações e entendia até que bem o assunto. Ao menos, ele se sentia incentivado a se esforçar naquela aula. 

O lance era era que ele estava no último horário, com uma cabeça a mil por hora, fazia parecer que não havia mais espaço para um único grão de poeira dentro de sua mente. Era uma aula de revisão e como já tinha o conteúdo todo anotado, se permitiu deixar suas divagações alcançarem territórios desconhecidos - e muitas vezes aleatórios -. 

O professor estava falando algo sobre Emily Dickinson e o jeito dela de usar as palavras nos seus tão visionários poemas. Potter começou a revirar as páginas do caderno, e sorriu meio bobo quando enconfrou uma lista de músicas, as quais estava anotando para montar uma playlist no Spotify dedicada ao Príncipe. Ele deu uma olhada geral nas trinta músicas que já estavam ali e se segurou para não rir. Era algo completamente misturado e sem sentido. Sua intenção inicial era colocar uma junção do estilo que ele gostava e do estilo que o Príncipe gostava. O gosto musical de Harry se baseava em indies, aquela guitarra gostosinha de fundo e as famigeradas letras de gado, a do outro garoto era basicamente tudo que tivesse um toque mais calmo, um piano ao fundo, clássico. O Príncipe era do tipo que já tinha escutado todas as Gymnopédies e se duvidar, conhecia o repertório de Satie de có e salteado. Harry era do tipo que só sabia que as Gymnopédies se tratavam daquelas músicas de piano clássicas e chiques porque Remus falava sobre isso de vez enquando - e porque ele também tinha dito que Lily, sua falecida mãe, sabia tocar piano. E as vezes Harry gostava de ter um pouco mais dela dentro de si, além do olhos verdes.  

Potter entendeu que ele realmente não fazia parte do seleto grupo de pessoas cultas no mundo. Não, enquanto Sirius estava preso, Lupin colocava para tocar músicas de rock em um volume baixinho na caixinha de som deles logo de manhã cedo. Porque era como se ele estivesse cozinhando com Sirius ao seu lado, revelava. Enquanto morava com os Durlesys, Harry nunca pode ouvir uma única música sem ser a que eles deixavam tocando na rádio. As quais nem sempre eles aprovavam, algumas eram do demônio, segundo eles - por exemplo, suas favoritas, a com guitarra, bateria e letras obviamente não muito cristãs, eram as tais músicas do inferno. 

 Ignorou mais ainda Emily Dickinson - e seus para sempre compostos de agoras - e refletiu sobre como música era uma parte da alma das coisas. Ela sempre podia ditar o sentimento de um ambiente, relembrar, tocar. Também refletiu sobre que nome ele daria para a playlist, sobre o que Príncipe diria quando visse o link, se ele escutaria as músicas quando estivesse entediado e prestaria atenção nas letras ou se ele deixaria de fundo enquanto estava fazendo alguma coisa, se ele lembraria do Garoto de Ouro quando ouvisse Arctic Monkeys na rua do mesmo jeito que Remus lembrava de Sirius quando ouvia KISS

O sinal tocou, indicando o final da aula e Harry se cortou novamente dos seus pensamentos quando percebeu que todos ao seu redor arrumavam seus materiais para irem embora, movimentos que facilmente entrevam na categoria de desesperados.  Ele se levantou também, se martirizando um pouquinho por estar se tornando alguém com a cabeça vinte vezes mais nas nuvens do que o recomendado para alguém saudável. Ele queria ficar somente uns cinco minutos pensando e não uma hora. 

Uma silhueta esguia passou pela frente da sua mesa com pressa, como se quisesse sair na frente de todo mundo e isso fez Harry franzir levemente o cenho. Ele respirou fundo, colocando sua mochila nas costas e pronto para ir atrás de Draco Malfoy, questiona-lo sobre suas atuais descobertas. Teve de respirar fundo quando percebeu que teria de enfrentar o mar de alunos que estavam saindo das salas para chegar até ele. 

Como se soubesse que tinha alguém atrás de si, Draco começou a andar mais rápido e Harry, concentrado, tentou ao máximo não perde-lo de vista. Ele sabia que Hermione e Ronald iriam sentir sua falta e fazer perguntas - eles sempre iam embora juntos. Mas o moreno se convenceu de que conseguiria pensar em alguma resposta a tempo.  Em algum ponto no meio do caminho, Potter conseguiu alcançar o loiro, em um canto mais distante dos corredores. Ele tinha andado tanto, travou o maxilar, um pouco cansado e impaciente. 

— Malfoy! — Disse, então ergueu sua mão direita em direção a mochila da figura pálida a sua frente, a puxando levemente e tendo como resultado um Draco assustado, quase a fazendo quase cair no chão e ele quase ir junto. 

— Qual o seu problema, Potter?! — Soou quase como um rosnado agudo. O menino se virou para Harry, o encarando com suas esferas tempestuosas e irritadas. — Por que está me perseguindo?  

— Eu só... Só quero saber por que tava vindo da sala de fotografia hoje no intervalo. — Foi direto e Draco Malfoy fez uma careta de confusão. 

— Você realmente é míope, puta merda, eu tava na área de artes mas nem cheguei perto da área de fotografia e- — O loiro piscou, atordoado.  — Não acredito que aquela garota te contou sobre as ilustrações! Ah, eu sabia que aquela primeranista medrosa ia dar com a língua nos dentes. Olha, você não pode contar isso pra ninguém ou eu juro que corto as suas bol... 

— Que desgraça de ilustrações você tá falando? Eu achei que você podia tá envolvido com lance da foto da Chang. — Interrompeu, Draco pareceu vinte vezes mais atordoado, com suas bochechas pegando fogo de raiva. As vezes, ele remetia um dragão fervoroso. 

— Me diga, por que você acha que eu tenho algo a ver com essa foto idiota? Sinceramente, a última coisa que me importa agora é tentar colocar o nome de alguém no fogo. Aliás, se eu o fizesse, não seria o dela. Eu teria um plano muito mais elaborado, isso foi coisa de amador. — Revirou suas olhos, cruzando os braços e torcendo o nariz. — Eu fui pegar umas ilustrações na área de serigrafia para um trabalho com... — Ele parecia envergonhado, desviando o olhar. — A maluca da Sibila Trewlaney. 

— Por que você está fazendo isso pela professora de artes...? — O moreno ergueu uma sobrancelha, desconfiado. — Meio difícil de acreditar que você faria algo do tipo. 

— Pois pode perguntar pra ela, se duvida tanto. O porquê de eu estar fazendo isso, não vem ao caso. Não é da sua conta. Agora, se me dá licença, já acabou o interrogatório, garoto com complexo de herói do caralho? 

— ...Me deixa ver as ilustrações. 

— O que?!

— Você imprimiu ou serigrafou, sei lá, os desenhos dela e já que uma aluna já tem conhecimento disso, que mal faz mais um ter também? Ou você está mentindo?

— Eu não te devo nada... — Draco se aproximou lentamente do rosto de Potter, assumindo uma postura fria e venenosa. — Cicatriz

Se algum dia Harry se sentirá irritado com o apelido, hoje, ele não sentiu absolumente nada. Era, de fato, um olhar aterrorizante e a postura de Draco facilmente atormentaria qualquer um. Mas era quase como se Potter conseguisse enxergar além disso. 

— Por que você está escondendo isso? — Ele sussurrou, seu rosto a centímetros do loiro. Malfoy semicerrou seu olhar. 

— Não estou escondendo absolutamente nada. Você que está escondendo suas intenções com toda essa merda, gosta tanto da Chang, assim? Não consegue me deixar em paz nem por um momento? Isso é arquivo confidencial meu e da Trewlaney. — Sua voz era afiada e cortante. — Me diga, Potter, meu caro cicatriz, o fato de ter alguém espalhando segredos te deixa tenso, por quê? 

— Você parece absurdamente culpado, Malfoy. Só estou tentando... 

— Fazer justiça? Que bonitinho! Você não pensa, mesmo, não é? — Harry, apesar de corajoso, se sentia como se uma cobra encurralasse ele aos poucos. Draco deixou sua mochila deslizar pelos seus braços finos, a ergueu e a abriu, revelando seu interior, onde tinha um agrupado de desenhos, uma edição de a culpa é das estrelas, um estojo, uma carteira e o que parecia uma bolsinha estranha, ele tinha quase certeza que era uma daquelas bolsinhas de maquiagem.

— Viu? — Draco Malfoy ergueu um pouco mais os desenhos. A primeira folha, a qual estava na frente, possuía uma imagem do retrato de uma mulher. Ele logo guardou tudo. — Não precisa mais correr para os braços do Dumbledore e tentar me denunciar. Porque eu não fiz nada. Por incrível que pareça, eu gosto de artes. — O loiro se afastou, com o rosto sem expressão. — Vai me deixar em paz ou vai fazer que nem no primeiro ano? Preciso atualizar minha lista de xingamentos referentes a sua pessoa se vamos fazer um espetáculo decente. 

— Malfoy... Eu... 

— Não! — O loiro ergueu uma mão, interrompendo Harry e seu rosto de cachorrinho arrependido. — Sem desculpas, idiota. Só te mostrei isso porque eu quero paz. Só um pouquinho de paz. E para isso acontecer, preciso que você entenda que eu não sou um problema. — Draco bufou, se virando de forma rápida e saindo andando pelo corredor vazio, seus passos decididos e ágeis. 

 Harry Potter se sentia como se tivesse entrado em um universo alternativo. 

E Draco Malfoy se sentia torto e quebrado, contudo, esperançoso de que fosse em uma forma melhor. 

[💘]

Notas finais:

O final foi uma tradução livre e adaptada feita por mim de uma citação tirada de Great Expectations, do Charles Dickens: 

"I have been bent

 and broken, but -

I hope - into a

 better shape."

"Eu estive torto e quebrado, mas - eu espero - em uma forma melhor."

Bent pode ser tanto torto quanto dobrado, mas okay, vocês entenderam KKKK eu coloquei porque eu achei que tinha a haver com o Draco. Eu sou uma louca por escritores velhos e mortos, me julguem. 

E espero que tenham gostado do capítulo, no próximo, vocês vão conhecer o melhor personagem da fanfic inteirinha <3 sério, vocês vão se mijar de rir com ele muito provavelmente 

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