2. It started with a joke


- Draco, por que você me odeia tanto? - Pansy Parkinson resmungou, usando seu tom choroso mais falso. - Eu te comprei uma saia nova, paguei o nosso jantar e você não quer fazer um único favor pra mim?

- É porque eu tenho bom senso! Isso vai dar muito errado. Garota, coloca isso na sua cabeça. Não vai dar certo. Você fazer essas coisas está na sua obrigação de melhor amiga, agora, o seu pedido é mais do que eu posso fazer.

- Draco, por favor. Encare isso como uma forma de ficarmos mais íntimos. Um teste de confiança feito pelo destino.

- Não, não, não, não, não e não. Eu não vou fazer isso. Nós já temos um nível de intimidade perfeito.

- Mas Dracooooooo... - Blaise interrompeu os choramingos da menina.

- Com licença, Astória, querida. - Ele virou o corpo, colocando a mão de leve em cima da saída de som do celular. - Eu juro que acabo com a raça dos dois se não fizerem silêncio. Faz logo o que a Pansy tá pedindo, Draco! - O loiro iria fazer mais um protesto, mas Blaise simplesmente se virou graciosamente, girando a cadeira de escritório em que estava sentado, colocou os pés sobre a escrivaninha vazia de Pansy e continuou a falar no telefone. - Sim, linda, continue falando sobre o garoto de Nova York. Os americanos realmente não sabem geografia como dizem?

- Então...? - Pansy deu um sorriso na direção de Draco, aquele cuja paciência já tinha se esvairado completamente.

- Está bem, sua chata. Eu faço a porra das suas unhas decoradas. Sabe como isso é difícil?

- Ah, você bem que podia aproveitar e tirar a minha sobr-

- Você não vai querer me ver com uma pinça na sua frente, querida.

Apesar da ameaça, a garota de fios escuros estava muito feliz com a conquista. Se levantou da cama de casal em que estava deitada ao lado do loiro. Sorridente, ela caminhou até um dos móveis planejados do seu quarto imenso e pegou uma caixinha pequena de plástico enfeitada com vários adesivos. No seu interior estavam vários itens de manicure, os quais se encontravam bastante conservados pela falta de uso. Voltou para a cama macia, sentando-se com as pernas em borboleta.

Os dois ficaram sentados um de frente para o outro. Pansy esticando as mãos e as relaxando em cima das de Draco. Ambos tinham mãos pálidas com pequenas manchas avermelhadas aqui e ali, delicadas, macias e com dedos compridos e finos. A diferença estava nas unhas, enquanto as dela tinham começado a crescer e eram bem retas, as dele eram muito mais ovais e reluziam sob a luz devido o esmalte prata. Ele também tinha um toque muito mais suave do que ela.

- Você tem dinheiro suficiente para pagar um dia de beleza completo no melhor salão de Londres. Por que resolveu me fazer de manicure? - Malfoy, apesar de agora ser a versão mais parcamente mimada que ela conhecia dele, ainda era um ser que possuía uma forte aversão a prestar quaisquer favores aos outros. Ele era a prova que educação não era sinônimo de gentileza.

Não que ele não fosse alguém capaz de ser gentil. O garoto apenas preferia não ser na maioria das situações. Quase como uma reação de defesa. Parkinson apenas não sabia o que tinha levado ele a ser assim, também, não quesitonava diretamente.

Tinha coisas que Draco simplesmente trancava a sete chaves e jogava em uma saleta escura no fundo de sua mente.

Entretanto, voltando para a pergunta, a garota respondeu de forma honesta, encarando o rosto concentrado do menino em sua tarefa de limpar as suas unhas.

- Porque eu sempre quis ter uma noite do pijama. Como nos filme das Patricinhas De Beverly Hills!

- Elas têm uma noite do pijama nesse filme? Eu não me lembro disso. - O garoto ergueu uma de suas sobrancelhas, passando a trabalhar com a serrinha.

- Não exatamente. Mas você entendeu o que eu quis dizer. - Ela suspirou. - Depois que a Astória e a Daphne se mudaram, eu comecei a sentir falta de poder fazer essas coisas mais... Mais... Leves, sabe? Eu sempre vou nas festas de música eletrônica que o Blaise empurra a gente. Sempre vou assistir os jogos de basquete com você. Eu queria ter o meu momento, também.

- Eu achei que você gostasse disso, das programações que escolhemos. Mas se você quer fazer outras coisas... - Draco respirou fundo, parando por um segundo o que estava fazendo apenas para erguer seu olhar até ela, dando ênfase a sinceridade de suas palavras. - Podemos aceitar isso. Não é, Blaise? - Ele retorceu o corpo para trás, chamando atenção do garoto tão ocupado com a fofoca, que a única resposta dada foi uma concordância com a cabeça e um gesto agitado com mão em direção ao aparelho indicando que estava ocupado.

- Isso me deixa muito feliz. - Ela mordeu um dos lábios, parecendo nervosa. Porém, Draco não notará, sua atenção já estava voltada para as pinceladas rápidas com esmalte preto que ele dava nas unhas dela. - Aí, cara, desculpa o papo de boiola.

- Eu sou bem boiola, então, acho que tá liberado. - Ele deu um sorrisinho pequeno. - Agora continua quieta porque se eu borrar, juro que não vou consertar e ainda vou passar esmalte nessa tua testa aí de amolar faca.

- Ih, ala, desde quando viadinho tem voz? Mais respeito com quem te ensinou a dar os primeiros passinhos de salto quinze, garotinho. - Draco ia rebater ela de bom humor mas Zabini se jogou em cima de uma pilha de travesseiros em tons de roxo que estavam amontoados na cama, roubando toda a atenção.

- Se viadinho não tem voz, sapatão também está sendo oficialmente silenciada. - Ele estava bem humorado. - Apenas o pan-tastico aqui tem opinião, vadias. - Draco e Pansy não sabiam se davam risada ou apenas reviravam os olhos. Ele se arrumou em uma posição mais agradável, ficando deitado de lado e apoiando a cabeça com a mão. - Qual é o assunto?

- Me diz você. Qual a nova aventura das irmãs Greengrass? - Pansy ergueu a sobrancelha, olhando para o garoto deitado em sua cama, parecendo uma garota pin-up. Blaise era conhecido por todos como um garoto de poucas palavras e frio, entre seus amigos, ele parecia mais uma daquelas vizinhas que não saem de cima da janela, observando a vida alheia e espalhando boatos de honestidade questionável.

- Ah, menina! A Astória se enrolou com um americano lá que ela conheceu no colégio dela, parecia até coisa de novela. Tava toda boba. O cara pela descrição dela parecia com um galã de novela.

- Hm, por que eu sinto que não vai sair coisa boa dessa história...? - Draco murmurou, venenoso, já terminando de passar o esmalte e começando a limpar os cantinhos com um palitinho.

- É porque você é pessimista. Eu te indico terapia.

- Então, tá tudo certo? A Astória tá namorando ele? - Parkinson perguntou, curiosa.

- Não, né, se não eu nem tinha ficado tanto tempo ouvindo a conversa. - A garota revirou suas orbes castanhas como resposta. - Continuando, ela começou a achar que o marmanjo estava traindo ela. Porque ele não respondia mais as ligações, as mensagens eram mais secas que um deserto... A história de sempre. Clássico. - O garoto enrolou um dos fios crespos de seu cabelo, meio distraído. - Então a bonita mexeu no celular dele. Uma violação do espaço, eu diria. Se não confiava nele não tinha o porquê de ter se envolvido. - Ele largou o a mecha de cabelo. - Mas quem sou pra julgar, né?

- Conta logo se ele traiu ela ou não! - Pansy resmungou. Malfoy parecia levemente alheio a situação, fazendo pequenos detalhes com um pincel fino na unha da amiga. De todos, o loiro era o menos fofoqueiro. Ele ainda era um, mas só quando o assunto era de fato muito interessante. Se não, do que adiantava sua atenção?

- Calma. Aí, tá, a garota achou uma tal de "neném" - ele fez aspas com os dedos. - No celular dele. Desconfiada, foi e começou a conversar com ela como se fosse o garoto e menina, elas começaram a flertar e aí até que a Astória manda "aqui é a namorada dele, na verdade". Detalhes da conversa é coisa minha e dela, confidencial.

- Não me diz que ela terminou com ele.

- Pior, Pans. - Draco começou dar olhares de canto para Blaise quando a última coisa que faltava era passar a base. - A "neném" disse que sabia desde o princípio, porque o cara nunca teria uma gramática tão certinha quanto a dela. E que se a Astória quisesse, ela tava livre. Para os dois.

- Mentira! - Draco foi quem teve a primeira reação, parecendo chocado e com a boca aberta.

- Tô te falando! E digo mais, a Astória tá pra aceitar isso com o carinha lá. Eu tenho certeza que essa história não acabou por aqui.

- Enquanto uns tem tão pouco, outros tem tanto... - Pansy murmurou. Draco tinha acabado o trabalho dele com as unhas dela. Eles trocaram uns olhares animados quando ela viu o resultado final, ela tinha voltado a sorrir. Todas as unhas estavam com um preto bem polido e uma linha branca fina na ponta, trazendo um único coração no dedo do meio. Ela ficou com as mãos quietas ao máximo para não borrar a obra do amigo.

Blaise a encarava com um olhar zombeteiro, um sorrisinho debochado no canto da boca.

- E aquele papel que você grudou no espelho do banheiro? Rendeu nada? - A garota respondeu com um suspiro longo, se jogando na cama com as mãos sobre a barriga. Malfoy terminou de arrumar os itens na caixinha e trocando um olhar com Blaise, eles já sabiam o que tinha de ser feito. Os dois deitaram um de cada lado. Blaise a esquerda, como era o maior entre os três, ficou de ladinho. Draco, que já era bem menor que ele, ficou deitado em uma posição parecida com a dela. Mas enquanto a garota encarava o lustre do quarto, ele encarava o rosto frustrado dela.

Eles sempre ficavam assim quando um deles tinha algo para contar ou... Simplesmente o dia tinha sido muito ruim. Os três não eram bons em lidar com as coisas que os machucavam profundamente, então apenas ficavam deitados um do lado do outro, segurando as mãos e se sustentando na promessa silenciosa de que não estavam sozinhos.

Uma cena até meio estranha de ver era eles assim, tão casuais. Draco vestia um dos pijamas de seda com rendas brancas, compostos por um shortinho e uma camiseta da cor cinza que Pansy ganhava e socava no fundo de seu armário. Ela, por sua vez, estava enfiada em um pijama parecido com o de Blaise: calças longas e regata. A diferença estava no fato dela ser frienta o suficiente para nunca tirar suas meias com estampa de buldogues.

- Acho que não nasci para o amor. A única menina que me mandou uma mensagem achava que eu era um garoto. - Ela passou as mãos no rosto. - Vou morrer sozinha. Meu cupido deve ter a pior mira do mundo!

- Você ainda nem fez dezoito. Se acalma, garota. - Foi Blaise quem disse. - Para de ser carente e dramática por um segundo.

- Ele tá certo. - Draco falou. - Deve ter alguma garota no mundo com capacidade de te aguentar. Você vai encontrar ela e vão ser muito boiolas juntas.

- Awn, obrigada, garotos. - Ela voltou a ser a figura sorridente de poucos minutos atrás.

Batidas calmas foram ouvidas contra a porta demasiadamente grande do quarto. Malfoy foi quem havia sido instruído, para não dizer obrigado, pelos olhares intensos de seus amigos para se levantar da grande cama confortável e ir atender. Ele simplesmente suspirou, calçou suas pantufas e começou a conversar com a empregada por uma brecha na porta.

Enquanto isso, a menina de fios negros se virou rapidamente na direção de Blaise e sussurrou o mais baixo que suas cordas vocais permitiam:

- Eu acho que aconteceu alguma coisa com a tia.

- Que tia? - Zabini usava o mesmo tom, sem tirar os olhos da porta.

- A tia Narcisa. Não sou burra. Sei que você tá planejando ir atrás do Snape pra descobrir o que aconteceu depois da merda do mês passado. Eu sei que você tá tão preocupado quanto eu com o loirinho. - Ela deixou transparecer uma tristeza escondida pelos seus grandes olhos. - Só saiba que pode contar comigo. Sempre. - Então se virou, sem nem ao menos esperar por uma resposta. Ao mesmo tempo, Draco se virou com algumas sacolas na mão.

- A comida chegou. Será que podem me ajudar a colocar as coisas na mesa? Ou as queridinhas aí vão continuar de preguiça?

Eles se levantaram, fingindo que nunca tinham conversado e bastante preguiçosos.

[💘]

Hermione Granger ia acabar cometendo um homicídio. Na realidade, ela estava apenas sentindo como se fosse comete-lo. Ela valorizava muito a vida humana para matar alguém, talvez algum presidente... Não. Mas quem sabem uma facada bem dada. Ela tinha mesmo vontade as vezes de dar um nocaute em muito líderes por aí. Principalmente quando estava em alguma protesto, com todo aquele fervor e adrenalina. Ela se sentia tão confiante. O completo oposto de agora, prestes a ter um surto.

Toda aquela situação estava a deixando tensa demais. A ponto de suas glândulas estarem produzindo suor suficiente para preencher uma piscina olímpica. Ela já tinha tentado de tudo para se acalmar. Pesquisado sobre todos os sites possíveis e estava quase cedendo e procurando por mensagens positivas naqueles sites de signos. Hermione odiava signos.

No final, ela resolveu arriscar uma outra opção. Granger entrou nos contatos e apertou em um contato cuja a foto era um meme de pato, o que ela achava tão ridículo que chegava a ser engraçado. Nem esperou a pessoa dizer "oi", já falando por cima dela:

- Harry, eu estou desesperada.

- Já tentou respirar fundo? - Ela podia perceber ele prendendo o riso por chamada, se sentiu irritada. - Não me bate! Calma, olha, o que foi? Por que você está assim?

Ela se encolheu um pouco, se encontrava sentada no chão, em cima de um tapete felpudo e com as costas contra a cama de solteiro do quarto de Ronald Weasley. Abraçava fortemente seus joelhos. Mesmo sendo uma garota alta, ali ela parecia tão pequena.

- Eu tô na toca. O Ron tá tomando banho e... E a gente vai conversar com os pais dele. Já que agora, eu sou a namorada dele. E eu tô nervosa. Eu não quero que a Molly e o Arthur comecem a me odiar.

- Mi, eles te amam. Não é porque vocês agora se beijam que eles vão mudar de opinião!

- Mas e se mudarem? Harry, você sabe o quanto eu gosto dele. Eu não suporto e não quero nem pensar o que eu vou fazer se eles foram contra nós dois. A gente passou por tanta coisa juntos...

- Os pais do Ron são incríveis. Nada vai dar errado. É uma preocupação boba. Você é inteligente e sabe disso. Além do mais, posso sempre dar meu melhor pra vocês se encontrarem escondidos se precisar, o que, eu duvido muito que aconteça.

- ...Você me acha idiota?

- Eu acabei de te chamar de inteligente!

- Não, eu sei! É que, eu posso ser uma garota inteligente e tudo mais só que... Eu não me sinto nada disso agora. Eu... - Ela engoliu em seco. - Preciso me distrair. O Ron já deve ter acabado o banho e eu deixei ele pensar que eu estava tranquila com tudo isso. Só que eu nunca vou estar, então... Por favor, só me ajuda. Me manda uns daquelas suas piadas ruins. Não sei.

- Eu tenho uma ideia bem melhor. A gente vai mandar mensagem pra aquele número que você praticamente me obrigou a salvar. Vai, muda aí pra vídeo chamada.

- Aí, eu não acredito que você tá mesmo fazendo isso. - Hermione viu um sorriso nascer novamente nos seus lábios. Sempre tinha a chance da pessoa estar ocupada demais para vizualizar a mensagem, daquilo nem ser tão engraçado no final. Mas ela não ligava muito, qualquer coisa servia para se distrair.

- Também não acredito. Mas já vi que você tá feliz, então tô feliz também. - Eles já estavam se vendo pela webcam. Hermione assistiu Harry sendo... Bem, Harry. Usando calças de moletom vermelho escuras e uma regata branca, casual e bagunçado. Ele estava na sua melhor forma física desde que ela tinha conhecido ele. O cabelo ondulado e escuro parecia vinte e vezes mais rebelde, deixando apenas uma amostra da sua cicatriz na testa, o que significava que ele provavelmente tinha passado um bom tempo deitado. O garoto estava com os seus olhos verdes semicerrados, procurando alguma coisa - provavelmente o tal número do banheiro. Enquanto ele estava tão casual e bagunçado, Hermione tinha tentado se manter o mais apresentável possível sem ter que se arrumar muito. Seus cachos estavam amarrados bem no alto da cabeça, caindo como uma moldura em seu rosto. Ela vestia roupas leves; um suéter cor de rosa e calças que imitavam jeans pretos. Ainda estava sorrindo um pouco, então Harry provavelmente conseguia ver o espacinho no meio de seus dentes.

Ronald sempre dizia o quanto achava fofo sua diastema e ela, apesar de todo o bullying que passara por causa dos seus dentes na infância, também tinha muito carinho por eles. Porque Hermione tinha percebido bem cedo que as pessoas sempre iriam reclamar da sua aparência, dos seus cachos, dos seus dentes, da sua pele... Então, se em algum momento ela iria mudar algo em si, era simplesmente e unicamente por desejo próprio. Nunca por outras pessoas.

- Aí, tá aqui, achei! Estranhe do banheiro. Porque eu não saio determinando gênero nas pessoas que nem você, Mione. Que jura que é um garoto. - Harry deu aquele sorrisinho divertido dele.

- Bom saber que você está usando mais frequentemente a linguagem neutra.

- É o certo, não é? Além de que, com toda certeza, você e seu namorado me encheriam de porrada se não começasse a normalizar isso. - Hermione deu risada, porque, bem, era verdade. - O que será que a gente manda?

- Tá falando com quem? - Hermione ergueu o rosto suficientemente para ver a figura ruiva encostada na parede. Ele já estava vestido - também de forma tão casual quanto ela -, estava usando uma outra blusa por cima da camisa, tinha a cor vermelho vibrante e borda em detalhes amarelo e uma bermuda escura. Porque essas eram as cores do time de basquete do colégio, a Grifinória. Assim como azul e bronze para os Corvinais - o time de debates. Verde e prata para a Sonserina - o time de vôlei. E amarelo e preto para o time de futebol, os Lufa-Lufa. Eles não teriam muito tempo para se preparar para o torneio contra as outras escolas e por Hogwarts ser uma campeã quase invicta em todas suas áreas, Ron demonstrava suas cores com orgulho.

Hermione simplesmente virou o celular na direção dele. - Dá oi, Harry.

- Fala, Patrão. - O garoto de trás da tela acenou. Muito confortável em meio a seus travesseiros. Weasley apostava que ele estava dormindo.

- E aí, cara. - Então Ron sentou ao lado de Granger, sem dar muita atenção ao Potter. - A mãe disse que tem que esperar um pouco mais pro jantar ser servido. Ela ainda não terminou o assado. - Seu semblante mudou para um preocupado. - Você está bem?

- Cara, ela tá ótima! - Harry interviu, porque ele conhecia Hermione o suficiente para saber que ela estava prestes a desmoronar. E ele não queria isso. - Liguei pra ela porque não sabia o que mandar de mensagem pra aquele número lá.

- O do banheiro? - Ron prendeu uma risada. - Manda um oi, ué. Ou um meme, você tem vários bons.

- Vou mandar gif de gatinho com luzes neon e um "oi".

- Perfeito. - Hermione deu sua benção e assim Harry fez.

Em um outro bairro, não tão longe dali mas também não tão perto, onde todas as casas ostentavam suas riquezas não apenas na porta de entrada. Draco Malfoy sentiu seu celular vibrar ao seu lado, com uma notificação de mensagem nova, vinda de um número desconhecido. E como pouquíssimas pessoas tinham seu número, ainda mais depois de alguns acontecimentos recentes em sua vida - praticamente todos envolvendo seu pai -, ele tinha que ver quem era.

- Legal, um estranho com foto de perfil de um pato me mandou um gif de gatinho... E um oi. - Draco resmungou baixinho. Eles tinham acabado de terminar o jantar - uma macarronada cara com ingredientes estranhos de um restaurante chique da rua de cima - e agora estavam assistindo a um filme na sala de cinema da mansão Parkinson.

Malfoy detestava filmes de super herói. Principalmente porque ele não entendia o que estava acontecendo. Pansy sempre colocava um filme aleatório do que parecia ser uma grande franquia e ele, que não acompanhava, não entendia o porquê de toda a emoção dos seus companheiros. Por que vocês estão achando tão empolgante esses personagens? O que eu perdi? Eles são burros?, pensava. Além de que ele definitivamente não se parecia com o Loki, apesar da opinião de seus amigos. Não mesmo.

- Ué, será que alguém do grupo trocou de número? Talvez o Crabbe... Ou, você sabe, o Theo trocando de número de novo porque esqueceu de colocar crédito.

- Não. Eu de vez enquando converso com eles pelo Instagram, teriam avisado e nós três receberiamos mensagem.

- Astória vai te convidar pro trisal dela, é isso! - Zabini se virou para ver a tela do celular dele. Draco estava no meio dos dois, então ambos tinham o perfeito acesso para a sua tela. A primeira reação deles foi dar risadinhas e depois, Blaise continuou: - Ou não, também. Vai, manda um "Oi? Desculpa, mas quem é?".

- Eu íria mandar isso de qualquer forma. - Ele digitou rapidamente, logo apertando para enviar. A foto de contato dele era um meme também: a do pintinho com uma faquinha. Porque Pansy tinha dito que era a cara dele, e ela estava certa.

O filme deixou de ser interessante, sendo prontamente ignorado.

Ao contrário da resposta do cara desconhecido.

- A minha amiga encontrou seu número em um post it no banheiro feminino do colégio. Porra, Pansy! - Draco se virou na direção dela com faíscas saindo dos seus olhos. No momento presente, mais do que nunca, suas íris pareciam tempestades. - Você deve ter escrito um dos números errados. Eu não acredito nisso. Puta merda.

- Me desculpa, loirinho. Foi sem querer... - Ela arregalou os olhos, talvez tivesse sido isso que teria acarretado a falta de mensagens na sua caixa de entrada - ou apenas o fato de ser muito bobo.

- "Desculpa, loirinho." O meu pau de asa! - Blaise já estava jogado no chão, rindo e dando tapinhas no joelho. - Para de rir, Blaise, isso é muito sério.

Malfoy bufou, indignadissimo e pronto para colocar fogo em uma casa ou cometer uma chacina, o que fosse mais fácil. Todavia, ele apenas respondeu o mais rápido possível a mensagem.

- A PALHAÇA DA MINHA AMIGA QUE QUERIA COLOCAR O NÚMERO DELA, COLOCOU O MEU EM VEZ DISSO! - Harry Potter leu a mensagem como se estivesse gritando e furioso - porque tinha sido mandada em capslock. Se perdendo em uma risada longa depois. Ele continuou lendo: - Eu sou um garoto, a propósito e não tenho o mínimo interesse em meninas. Caso esteja atrás dela também não vou te mandar o número dessa corna.

- Eu não acredito que não era um dos babacas da sala C. - Hermione tinha suas sobrancelhas para baixo. - Até passei por eles dando meu olhar de aviso e tudo mais. - Ronald ria quase que na mesma intensidade de Potter.

- Eu sabia! - Harry disse, se sentindo orgulhoso. - Desde o princípio, essa história estava bem estranha pra mim. Nenhum desenho de pinto no papel, com certeza não podia ser deles.

- Tá, tá, o que você vai responder? - Hermione perguntou.

Com uma voz bem tranquila, Draco leu a mensagem de resposta do garoto desconhecido:

- Não estou atrás da sua amiga. Eu sou um garoto também.... Bissexual, no caso. A minha amiga e o namorado dela que acharam que seria divertido zoar quem tinha colocado o número. Ela achava que podia ser algum babaca. - Draco abriu a boca e arregalou os olhos, como se fosse rir. - Eu amei essa menina!

- Gente, é só um número! Eu não matei ninguém. Draco, para de dar moral pra esse garoto. - Pansy começou a torcer o nariz. Mas Draco já estava sorrindo pequeno e digitando sua próxima mensagem. Pansy leu o que ele enviou: - Acho que precisamos trocar de melhores amigas. Malfoy!

- O que? Você espalhou meu número. Mesmo sem querer, tenho meus direitos de brincar um pouco.

- Ele tá certo. Você também já zoou ele algumas vezes, Pans. - Blaise tinha um sorrisinho malicioso, típico. A garota suspirou, no fundo, também achando bastante engraçado tudo aquilo. Ainda mais quando viu que a resposta do garoto tinha sido um gif do Bob Esponja dançando de forma estranha, completamente pixelado. E um: - Não posso confirmar se não ela me mata. Mas tá certíssimo.

Draco digitou em seguida, depois de ter salvado a imagem dançante em sua galeria:

- Se você me disser seu nome e me mandar seus memes, eu posso te dar a honra de ser meu amigo. Aceita? - Harry estava com um sorrisinho de canto de boca estampado na cara. - Eu acho que gostei desse garoto.

- Para de ser gay, Harry. - Ron estava rindo, mas sua namorada tinha uma cara um pouco mais séria.

- Ué, eu não sou, eu sou Bi. Tenha mais respeito. - Respondeu ao ruivo, usando um tom zombeteiro.

- Acho melhor você não dar tantas informações sobre si, Harry. Sabe, segurança. Mesmo que eu não duvide desse garoto ser mesmo um adolescente e tudo mais... É o melhor a fazer. Omite por um tempo e depois você decide. - Hermione, agindo como a voz da razão que ela era, dizia isso de forma séria.

- Pode deixar, senhora. - Harry voltou a olhar para a tela do seu celular.

- Eu nem tenho certeza que você estuda mesmo em Hogwarts. Pode me chamar de Garoto De Ouro. E pra ter meus memes, apenas conversando comigo. Emoji de piscadinha e... Como eu te chamo, garoto engraçado? - A essa altura, Pansy e Blaise já estavam colocando suas mentes para funcionar.

- Garoto de ouro? Que merda de apelido. Esse daí se acha, hein? - Parkinson cruzou os braços. - Você devia usar um apelido tão tosco quanto esse. Tipo os nicknames que o Blaise acha no Grindr.

- Ainda nem entendi o porquê de estarmos investindo nessa conversa. - Blaise murmurou, e Draco deu um suspiro.

- Nem eu. Mas... - Ele mordeu o seu lábio, sentindo o gostinho do hidrante lábial de cereja. - Acho que vai ser engraçado. E é assim que eu sei que ele não vai espalhar meu número, também.

- Você pode me chamar de príncipe, então, seu exibido. - Potter deu uma risada alta. Hermione fez uma careta, mas estava rindo tambem. - E é claro que eu estudo em Hogwarts. Quer uma prova além de ser o óbvio? Ontem a gente teve aula de história com o Binns e metade da turma dormiu. E como todo bom aluno, amaldiçoei o nome do Filch pelo menos umas três vezes. Você tem quantos anos?

- Eu realmente não entendo como vocês conseguem dormir em uma aula tão rica quanto história. - Granger parecia indignada, ela não dava mais risada.

- Aquela voz dele é tão calma que funciona de sonífero! - Potter protestou. - Acho que vou responder isso para o príncipe.

Hermione ia responder alguma coisa, mas logo uma voz alta se fez presente, vinda diretamente da cozinha: - HERMIONE, RON, GINNY! O JANTAR ESTÁ SERVIDO!

- Ah, então, temos que ir. Agora. - Hermione disse, voltando a seu estado mental de pura ansiedade. Ela buscou a mão do namorado, entrelaçando seus dedos.

- Boa sorte, casal. - Ele tentou passar o seu melhor olhar tranquilizador para ambos. Ronald, embora parecesse bem menos nervoso que Hermione, parecia bastante tenso também.

Harry desligou a ligação, focando na conversa com o garoto que tinha acabado de conhecer. Naquela outra rua, já longe da sala de cinema, deitado sozinho na cama da melhor amiga enquanto sua dupla de amigos terminava o filme, Draco Malfoy gargalhava sem inibições das mensagens do Garoto de Ouro. Que depois, jurou de pé junto nunca espalhar o número do dito como Príncipe.

Talvez o apelido tivesse algum fundamento, afinal.

[💘]

O jantar estava saindo como o esperado.

Isso porque a casa dos Weasley orgulhava o apelido Toca. Ela não era tão grande, muito menos cheia de aparelhos luxuosos, em vez disso, era repleta de algo muito mais valioso. Amor. Um sentindo de acolhimento se infestava por todos os cantos da casa. Não tinha como não sentir todo aquele calor agradável irradiando das paredes no instante em que pisava no lugar. No lar.

Molly e Arthur Weasley tinham sete filhos: Ginny, a caçula. Ronald, o já apresentado. Carlinhos, que já tinha saído de casa, cuidador de espécies exóticas na Romênia. Guilherme, que já tinha a vida feita e trabalhava como banqueiro. Jorge e Fred, os gêmeos e por fim, Percy, que estava fazendo faculdade em outro país.

Então, era para ter ao redor daquela mesa somente Ronald, Hermione, Ginny e o seus pais. Tudo certo, eles iriam comer o assado delicioso e bem temperaso da Sra. Weasley e na hora da sobremesa, Hermione e Ronald iam apenas tirar o peso de suas costas e contar a notícia. Prontos para, no melhor dos casos, ver um sorriso nascer nos lábios de todos.

Mas a vida não é do jeito que você espera. Ela não segue programações, roteiros ou expectativas. Hermione estava na sua segunda garfada, se permitindo ao menos transparecer uma imagem calma. Ginny estava no mundo da lua, como se nada estivesse acontecendo, se deliciando de um prato bem servido enquanto Arthur contava alguma história interessante sobre o seu trabalho.

Então, o celular de Molly tocou. As paredes calorosas ecooaram aquele som estridente. A mulher se levantou da mesa e pela sua reação alta e feliz, era um dos gêmeos falando. Eles sempre ligavam nos horários mais aleatórios. As vezes, fazendo brincadeiras em que fingiam que um era o outro. Também eram os filhos que mais iam ver a mãe pessoalmente, mesmo com todo o trabalho de se ter uma loja própria e muito bem sucedida. A dupla era jovem, mas os garotos trabalhavam duro e sonhavam alto. Tinham investido toda sua criatividade na Geminialidades Weasley, uma marca que inovava no setor de brinquedos e itens especiais. Ali estavam seu tempo e seu talento. Os frutos tinham vindo cedo, possuíam um apartamento muito bem localizado e conseguiam se sustentar sem nenhuma ajuda dos pais.

Mesmo que os dois trouxessem alegria por onde passassem, não houve risos por parte de Molly. Ela largou o celular e correu para a porta da frente, o semblante demonstrando preocupação. Ela abriu a porta e viu Jorge parado, mirando os próprios pés. O cabelo ruivo e marca registrada da família estava completamente bagunçado. A primeira reação do homem foi se jogar para os braços da mãe.

Ele estava sozinho, o que era muito raro. Quando se soltaram do aperto, Jorge caminhou em direção a sala de jantar em que todos estavam. Os olhos vermelhos como quem tinha acabado de chorar, vestindo um casaco preto todo amarrotado, ele encarou todos os olhares assustados ali com coragem. - Mãe, pai... Irmãos... Eu... Eu...

Ele nunca ficava sem palavras. Sua mãe estava servindo de apoio, como sempre fazia, acariciava seu ombro e perguntava o que estava acontecendo repetidas vezes. Havia dor em cada palavra que saia da boca dele e pânico no rosto de Molly. Foi seu pai quem pediu para que ela que parasse por um minuto e desse espaço para o filho respirar.

- Ele... Ele estava se sentindo mal, tonto e nós fomos correndo para o hospital. - O garoto fungou, os olhos se enchendo de lágrimas de novo. - Fred nunca passa mal, você sabe como ele tem a saúde de um touro. - Ele tentou sorrir, como sempre fazia nos maus momentos. Porém, tudo que ela fazia se remetia a um grande grito de socorro. - Fizemos os exames e tudo mais e pensamos mesmo que podia ter sido só uma queda de pressão. Então, aí veio a médica e ela disse... Que ela tinha uma péssima notícia. - Ele respirou fundo, olhando para os próprios pés. - O Fred tem câncer, mãe. Ele tá no hospital enquanto eu tô aqui. - O coração de Molly Weasley quebrou em vários pedaços. - Mas vai ficar tudo bem, mamãe. Tá no início. Vai ficar tudo bem, segundo ela. Vai ficar tudo bem.

Foi um momento de abraços, onde tudo parou e nada mais era ouvido. Não havia mais fome, não havia mais nada a ser dito. Toda aquela família tinha desabado em lágrimas, inclusive, Hermione que era tão da família quanto qualquer um dali. O último ato dela naquela noite, foi avisar seus pais que voltaria apenas de manhã bem cedo, que não deviam se preocupar. Nada estava bem, nada estava tranquilo.

Foi a primeira vez que se sentiu frio naquela casa.

Existem males em todos os cantos. Existem os momentos em cima e lá embaixo. Havia Ronald e Ginny ansiosos para o melhor momento da vida deles no ensino médio. E havia dois irmãos, chorosos e abraçados, desesperados por apoio. Havia Molly Weasley, se preocupando se seu assado seria tão bom quanto os outros e havia uma mãe. Abraçando um filho inconsolável, um irmão sentindo como se uma parte de si tivesse sido arrancada. Desesperado para ter ela de volta. Havia Arthur, cujas promessas para sua esposa consistiam unicamente em tornar todos os momentos da vida dela os mais felizes possíveis.

Tudo vai ficar bem, eles repetiram. De novo. De novo. E de novo.

[💘]

Notas finais:

Não me matem, no final das contas essa não é deathfic... Ninguém vai morrer! Essa situação é importante para o enredo, porque, sério, todo mundo tem problemas na família e eu queria trazer isso nessa fanfic. No geral ela é bem fluffy e amorzinho cheia de Drarry, não se preocupem.

Alguns detalhes importantes: pronome neutro é válido! Eu recomendo até mesmo vocês darem uma pesquisada bem mais a fundo em lugares confiáveis, certo?

Segundo, pode ser que passe pela cabeça de vocês que a Hermione ficar nervosa sobre falar seu status de relacionamento perante a família seja algo bobo mas não é! Mesmo que seja uma família acolhedora, fazer isso é um grande passo (ainda mais em uma que ela admira tanto)

Terceiro, CUIDADO com quem vocês conversam nessa internet, aí. Draco e Harry estão conversando bem de boa porquem bem, eles estão dando um voto de confiança em alguns fatos. Enfim, vai ser desenvolvido mais futuramente. Se preservem bbs.

Bebam água e comentários sobre como estou indo são bem vindos 🥺❤️

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