12. Then, he take me home

Notas da autora (breves, prometo)

OI, DESCULPA A DEMORA hahaha prometo que não sumo mais

Em minha defesa, eu entrei em uma semana difícil, de novo, não quero dar preocupações sem sentido pra vocês <3 mas eu tô bem

Enfim, eu queria saber se vocês podem me dar uma ajudinha...

Caso não saibam, eu planejo transformar essa fanfic "The Most Pretty Stars" EM UMA WEBCOMIC IHHHHHHH!!!!


Essa é uma das artes conceituais que eu fiz pra esse projeto ❤️ Só pra vocês terem uma noção hehehe, tá no meu Instagram (@/jamyart_) e eu acho que já dá pra ter uma ideia de quem tá olhando o celular nessa mini saia e de jaquetinha do lado dos armários... Cof Cof

Apesar de enredos praticamente iguais, com umas mudanças e adaptações aqui e acolá, a comic manterá a mesma essência da fanfic todavia, eu não vou manter o nome dos personagens de HP, eles se tornaram personagens originais meus - já que a história vai se tornar original também.

Por isso... Eu queria muito pedir a ajuda de vocês pra um nome e quando eu já tiver publicando capítulos, vocês puderem acessar o link e me dar o tanto de carinho que vocês são pra essa fanfic e compartilhar a WEBCOMIC ❤️ porque artista não vive só de likes, tá certo? 🥺

Eu estava pensando em trocar o título para "Adoravéis" ou "Constelações", o que vocês acham? Por favor me dêem sugestões!

Esse capítulo é bem longo e eu ainda vou postar um extra então, sem mais demoras, boa leitura e beijos.






[💘]

Draco Malfoy estava anestesiado.

Não no sentido literal da palavra, é claro, para isso, ele precisaria estar em um ambiente hospitalar. Provavelmente deitado em uma cama, em um quarto onde todas as paredes são brancas, e há vários aparelhos médicos cujos nomes provavelmente a maior parte das pessoas nunca nem tinha se questionado quais eram — talvez houvesse soro em suas veias, junto de todos os outros químicos provocando aquela sensação de exaustão em seu cérebro, de uma forma que nem sua mente e nem seu corpo pareceriam compartilhar do mesmo ambiente, do mesmo tempo. Ele simplesmente não sentia nada, ele era o vazio.

Será que, nesse exato momento, era assim que sua mãe estava? Por sua culpa? 

De certo que sim, ele pensa e repensa, preenchendo o vazio com o martírio e a dor.

Você tem que abrir os olhos, uma voz suave fala no fundo da sua mente. Você não pode se esconder como um garotinho assutado para sempre, ela dizia. Tudo que sua mãe aguentou teria sido em vão.

Tudo que sua mãe aguentou.

Draco Malfoy - o garoto rico, o garoto podre. Arrogante, orgulhoso, competitivo e tudo que uma vida trancada em quatro paredes, longe de tudo e escupido em um molde que nunca serviria para si, encarava a consequência de todos os seus erros. Não os cometidos no colégio, isso ele encarou tal como as antigas leis do olho por olho e dente por dente. Ele perdeu o direito de se vangloriar e se tornou aquele de quem se zomba e aponta os dedos. E ele engoliu em silêncio.

Seu erro foi ter se descuidado. Se tivesse mantido em segredo, se tudo que era honesto sobre si mesmo tivesse sido mantido a vinte metros abaixo do solo, sua mãe e seu pai nunca teriam brigado e eles nunca se encontrariam nessa realidade em que nunca poderão se reconciliar, afinal, Lucius Malfoy estava preso. Sua mãe nunca teria sentido falta dele, porque, a verdade é que nós não escolhemos que amamos, e ela nunca teria precisado se dopar para lidar com o fato de que o homem que ela tinha se casado nunca voltaria para ela - porque ele nunca tinha sequer existido.

Era esse o preço da liberdade? Temer ela?

Draco Malfoy tem sua lealdade em sua família. Ele tem lealdade em Narcisa Malfoy, sua mãe. Ele tem lealdade em todos os seus amigos. Ele queria ser leal a si mesmo. E ele foi - e veja onde ele chegou, no fundo do poço.

Ele queria estar sendo forte ao lado da cama de hospital de sua mãe, cuidando dela, sendo um bom filho.

Mas Draco Malfoy era apenas um garoto. Ele tinha apenas dezesseis anos. Sua mente ainda estava em um processo longo de auto descoberta e em busca das verdades das quais o privaram por muito tempo. Um adolescente perdido como qualquer outro - com muitos privilégios diante de outros, em contextos diferentes, reconhecia isso muito bem. E se sentindo inútil. Ele estava muito assustado. Com medo. Ele não sabia como se proteger sozinho.

Respirou fundo. Draco tentou voltar ao seu estado de consciência e sair daquela anestesia e quando o fez com sucesso, o choque logo já tinha tomado conta de si. O garoto abriu seus olhos e encontrou o teto.

Automaticamente, seu cenho se franziu. A cima de sua cabeça, uma versão do céu com todas - ou quase todas - as constelações estavam se fazendo presente em forma de pintura. E as estrelas brilhavam, talvez fosse tinta neon, ele não fazia ideia, mas era mágico. E o quarto estava completamente escuro, então, foi como se ele realmente tivesse as estrelas mais bonitas apenas para sua apreciação. E Harry quem as tinha proporcionado. Harry tinhas as estrelas mais bonitas para si. Ele estava no quarto de Harry.

Pensando nele, em Harry James Potter, sentiu uma onda estranha de nervosismo e constrangimento passar por todo o seu corpo, o enjoando e o deixando arrepiado tudo de uma vez. Uma coisa é você prometer que vai estar sempre ali e a outra é realmente cumprir suas promessas. Harry tinha lhe tirado da chuva, lhe dado um abrigo e - ele engoliu em seco - sua própria cama.

Draco quis chorar novamente. Pensando que não merecia tanto cuidado, afinal, o que ele tinha feito para merece-lo? Que tipo de beleza era essa que, vamos aos fatos, apenas Harry James Potter conseguia enxergar em si? Algo se comprimia no meio de seu peito, o tal coração apertado. Um dia, aquele garoto gentil que lhe recebeu de braços estendidos iria perceber que Draco não era merecedor de sua devoção, de seu carinho. Draco era apenas um garoto perdido e muito confuso - aprendendo aos poucos do que se tratava a vida.

Um dia, os dois garotos teriam um fim. Draco não era alguém para ser amado. Não era alguém de finais felizes.

Com a garganta seca e a língua amargurada, Draco se levantou da cama em que estava de um jeito lento. Ele aproveitou do brilho das falsas estrelas para se guiar pelo cômodo. O quarto era até que bastante confortável, nem muito pequeno mas nem tão grande como era o seu. Havia mobílias simples, todas em um tom claro, ele supôs que as paredes eram em um tom bastante agradável de vermelho e branco, poucos detalhes em preto e amarelo - tão Potter.

Caminhou até o espelho do guarda roupa, apenas para arregalar os olhos com o quão miserável mesmo na pouca luz ele parecia. Sua roupa, não estava mais molhada, mas ainda dava a impressão de que tinha sido arrastado sem dó por uma colina de cem metros de altura. Se sentiu tão triste, não queria aparecer para Harry daquela forma, que sempre o vira tão bem arrumado, agora, em um pijama branco e amarrotado, parecendo tão sem vida. Reparou que seus chinelos não estavam em lugar algum - talvez estivessem na entrada - ele respirou fundo e decidiu sair do quarto. Abrindo a porta devagar, com medo de acordar quem quer que estivesse lá - oh, merda, ele não tinha ideia de que horas eram.

Quão constrangedor seria encontrar os pais de Harry? Porque aquela era a casa deles. Eles iriam acabar se esbarrando!

Todos sabiam de Sirius Black e Remus Lupin, a vida de Harry Potter era uma história cheia de reviravoltas e com ícones locais, desde traição a morte... Não tinha como ninguém não saber. Não tinha como não ter sido capa de jornal.

Na verdade, Draco Malfoy não teria como saber da história deles, considerando toda sua vida fechada mas por alguma razão, Lucius Malfoy adorava praguejar contra o sobrenome Potter - uma família afortunada mas que não tem princípios ou tradições que se assemelhassem as deles, as ditas como "corretas". Ele acabou descobrindo, juntando as pecinhas aqui e ali, o que tinha acontecido com Harry - desde o acidente e a morada com os tios.

Ele não sabia do inferno que era morar com os Dursleys, até de fato conhecer o garoto.

Harry Potter realmente tinha um coração de ouro.

Draco não se surpreendeu com o caminho escuro, contudo, parou abruptamente já na entrada do corredor, no instante em que se deparou com a sala do apartamento pela primeira vez, de forma consciente.

Era bastante aconchegante, tinha um que de moderno mas não tão frio no lugar, um cinza, preto e branco com várias cores primárias em pontos estratégicos. De um lado, sentado na mesa da cozinha que fazia junção a sala, sendo os dois cômodos divididos unicamente por um balcão, seu professor de literatura e pai do seu amigo - chamado também de Remus Lupin - estava sentado na frente de um notebook, a coluna um pouco torta, um pijama azul tão simples quanto o de Malfoy, uma caneca quase vazia ao seu lado e pastas e mais pastas com diversos papéis.

Ah, então esse era o retrato de um professor em seus dias comuns.

Do outro lado, largado no sofá com a televisão ligada em algum filme já sem som nenhum, apenas a luz da tevê servindo de iluminação, Harry Potter parecia ter encontrado o caminho do sono, enrolado em um cobertor azul marinho com detalhes em branco. Draco se sentiu ainda mais culpado - ele tinha tirado a cama de seu amigo e o feito dormir no sofá da própria casa. Ele era mesmo uma pessoa horrível.

— Ele está acostumado a pegar no sono assistindo filmes, não se preocupe. A vontade dele era de que você estivesse confortável e aquecido... E eu acredito que isso tenha se realizado, certo? — A voz de Remus soou calma do outro lado, ele tinha uma expressão sem muitos traços, não parecendo nem feliz ou chateado. Draco demorou um pouco para responder, reagindo como um gatinho assustado e paralisando. — Sente-se aqui... — Remus afastou uma cadeira ao seu lado. — Como você está se sentindo?

Draco o obedeceu, começando a falar apenas quando se sentou na cadeira de madeira, de um jeito que exalava silêncio e cuidado a cada passo que dava. Não conseguia falar alto, muito menos encarar seus olhos.

Parecia constrangido, podendo até vomitar de tão nervoso.

— Bem melhor... Obrigado. Por tudo.

Os olhos de Remus pareceram curiosos por um momento. Não que Draco pudesse notar.

— Harry não me disse uma palavra do porquê eu e meu marido o encontramos no meio de uma chuva, com um garoto apagado nos braços e parecendo completamente desesperado no parque da cidade. — Remus continuava calmo. — Eu não estou te culpando, Draco, mas eu ainda sou um pai e temo pelo bem estar do meu filho.

— Eu... Eu... — O garoto tremeu um pouco, ele não conseguia encarar Remus. Suas mãos apertando os seus joelhos e tremendo. Teve que se conter para não chorar. — Sinto muito. Sinto muito, mesmo. Eu não quis deixar ninguém preocupado...

A mão de Remus pousou em cima da sua de um jeito suave. Ele parou de tremer tanto, respirando fundo. O adulto continuava tranquilo, como se pudesse passar um pouco disso para o adolescente ao seu lado.

— Sem culpa, sem acusações e muito menos medo. Apenas me conte o que aconteceu.

Draco respirou fundo, buscando as palavras certas.

Remus Lupin era um cuidador muito diferente de como era Lucius Malfoy.

Draco não conseguiu contar olhando nos seus olhos. Draco nem ao menos estava afim de contar alguma coisa a fundo, a princípio - porém ele estava tão fragilizado, as palavras escorriam da sua boca como uma torneira que não pode ser fechada. Embora estivesse assustado com os pensamentos sobre os julgamentos que Remus Lupin tivesse acerca de sua pessoa, ele fingiu ter coragem.

— A prisão do meu pai teve muitos impactos na minha casa. Principalmente na minha mãe. Nós tínhamos tido uma briga feia, meu pai me deu um tapa e... — O garoto fechou os olhos com força. — Nenhum de nós sabiamos como reagir. Eu ainda tinha esperanças de que nós pudéssemos nos perdoar e viver bem mas... Não é assim tão fácil. Nunca é fácil. Minha mãe começou a usar remédios para dormir, dor de cabeça... Foi uma intoxicação, segundo meu padrinho. Tudo que eu lembro é dela caída no chão, das ambulâncias e de como eu queria simplesmente fugir e correr dali. E foi o que eu fiz. Quando começou a chover e acabei perdido no parque, acho que devo ter caído em algum momento ou vários... Eu não conseguia respirar... Acho que deve ter sido um ataque de pânico ou coisa parecida. — Draco se encolheu na cadeira, os ombros para dentro, os braços cruzados sob o peito. — Harry é a única pessoa que eu confiei meus problemas e medos. Ele foi o primeiro nome que veio a minha cabeça. Eu estava desesperado! Não queria machucar ninguém. Eu juro que não. Não queria ser problema para ninguém! Não mais! — Seus olhos se abriram, tremendo. — E mesmo assim eu fui.

— Draco, você não é um problema. Seu pai tomou suas próprias decisões e paga as consequências disso. O fim de um casamento, sua relação conturbada, o adoecimento da sua mãe... Não sinta culpa por consequências que não foram feitas por causas que você nunca poderia controlar.

— Eu não consigo acreditar nisso. Se isso é verdade, por que meus ombros pesam tanto?! Como se toda a culpa do mundo estivesse sobre eles? Meu pai sempre disse que tudo que importava era que eu estivesse bem, foi por isso que eu nunca pude sair de casa, foi por isso que eu nunca sai da linha, nunca deixei de ser quem ele quis, até este momento. — Suas mãos tampavam seu rosto, seu corpo se encolhendo. — Por que minha mãe foi quem teve que pagar pelos nossos erros? Por quê? Ela nunca fez nada.

Draco não podia mais ver o rosto preocupado de Remus.

Ele não podia mais ver o rosto doente de sua mãe.

Draco apenas via o olhar de desprezo de seu pai.

O jeito que sua mão pesava no seu rosto, o som daquele tapa, como foi quando seu corpo caiu no chão, aos seus pés. Ele estava dançando tão feliz, envolvido em cores e música, e de repente, o gosto amargo do sangue em sua boca. Os gritos.

— Respire fundo, Draco, você consegue ouvir minha voz? Você não está sozinho. Vamos, tente respirar devagar. Está tudo bem. Você está seguro. — Algo apertou contra seus dedos, Malfoy arregalou os olhos. Remus estava falando com ele, mas ele ainda não conseguia sair da posição que se encontrava. Lutando contra sua respiração descompassada. Contra o seu pânico. — Eu não tenho todas as respostas. A vida é injusta mas... Existem coisas boas nela. A liberdade é um sentimento que assusta mas... — Remus o ajudou a descobrir o rosto, revelando sua face desesperada. — Não tem sido melhor ser quem você é? Uma hora ou outra, seu pai se descontrolaria, uma hora ou outra, tudo que ele fez viria a aparecer. — A respiração de Draco entrava em um ritmo mais suave. — Você tem que permanecer forte e e honesto consigo mesmo, com as suas decisões, Draco. Revisitar o que já passou como uma forma de castigo não é saudável. — Ele engoliu em seco, as palavras de Remus eram duras mas também eram gentis. — Quando estiver mais disposto, poderá visitar sua mãe.

— Você tem alguma notícia dela?

— Infelizmente não, acho que seu padrinho não faz ideia de onde você está, também. Se quiser ligar para ele e avisa-lo do ocorrido, o telefone da cozinha está sempre disponível. Quando te encontramos, seu celular estava descarregado e não ousamos invadir sua privacidade - então, talvez você tenha ligações perdidas. — Remus Lupin suspirou. — Acho difícil alguém atender, já são três da manhã. Você deveria continuar descansando... — Os olhos de Remus arregalaram um pouco. — Você gostaria de algo? Uma bebida quente? Harry saiu logo após a sobremesa, acho que você comeu nada por um longo tempo...

Draco sentiu suas bochechas corarem, envergonhado.

— Sinto muito. — Ele disse, apertando as mãos contra os joelhos. — Estou abusando da sua hospitalidade... Eu realmente esperava que a primeira vez que eu viesse aqui e conversasse com o senhor fosse de um jeito completamente diferente.

Remus deu um sorrisinho. Draco podia se martirizar o quanto quisesse, mas na mente de Lupin, ele apenas era uma criança com problemas demais. Não se tratava de um incômodo.

— São nos momentos de crises que nós conhecemos o verdadeiro caráter das pessoas. Você é um bom garoto, Draco. Só teve uma vida complicada. — Remus afastou suas mãos, as colocando no colo e Malfoy deixou de apertar tanto seus joelhos. — Eu já não estava esperando nenhuma apresentação de um namorado vinda de um jeito tradicional quando se tem um filho como o Harry de qualquer forma...

— Senhor...

— Me chame de Remus, Draco.

— Remus. — Draco engoliu em seco. Corando mais ainda. — Eu e Harry... Nós... Hã... Nós não namoramos nem nada... — O menino quis se enterrar, tentando tapar suas bochechas em chamas com as mãos, como se isso fosse útil de alguma forma. Olhando para Remus, de um jeito tímido ele perguntou, baixinho. Sua curiosade ainda maior que o constrangimento, se é que isso era possível: — Ele disse que nós estávamos? — Então seus olhos azuis acizentados se arregalaram, o pensamento indo diretamente para seus lábios ansiosos. — Ele fala de mim para vocês? Com que frequência?!

Lupin teve que se segurar para não rir. Agradecido de que tinha conseguido mudar um pouco o clima melancólico.

— Bem, ele não me falou que vocês namoravam. E apesar de discreto quanto aos detalhes, Harry parecia tão mais alegre nessas últimas semanas. Sabe, não precisa ser um gênio pra conectar as peças... Então, vocês estão... Como chamam mesmo os jovens de hoje? Ficando?

O cérebro de Malfoy explodiu em crise.

Ele havia chorado, tido pelo menos umas duas situações de desespero seguidas e sido abrigado na casa de Harry Potter, seu mais recente amigo e falado coisas com uma facilidade extrema para o pai dele - algo completamente inédito para si mesmo, como a pessoa reservada e que guardava tudo para si que ele era - e o professor de literatura dele, na mesa de sua cozinha e agora, com um rosto impassível, as três da manhã, estava casualmente perguntando algo que soava como: "Você e meu filho tem dado alguns amassos?"

Como se apaga sua inteira existência do universo? Foi o que passou na sua mente.

A verdade soou mais amarga do que deveria. E ele se surpreendeu com isso.

— Nós somos só amigos. Amigos... Próximos. Muito próximos.

O rosto de Draco parou de corar, se tornando surpreso quando ele ouviu uma risadinha escapar dos lábios de Remus. Soando como um "pfft". Ele se surpreendeu mais uma vez, erguendo uma das sobrancelhas em curiosade, uma indagação óbvia. Remus fez um gesto com a mão, como se estivesse dizendo que não era nada importante.

— Me perdoe, eu realmente não quis rir é só que... Isso me trouxe uma memória. — Ele estava sorrindo. — Eu nunca achei que eu ia fazer essa comparação na minha mente. Nossa, nunca.

— Que comparação? — Draco estava verdadeiramente curioso. Remus suspirou.

— Você sabe quem são Lily e James, não é?

— Sim, os pais de Harry. Ele me contou a história deles.

— Ele contou para você que no começo de tudo, Lily odiava James com todas as suas forças? — Malfoy apoiou a mão no rosto, negando com a cabeça.

— Muitas pessoas, quando descobriram de quem ele era filho, logo que ele chegou na escola, o encheram de perguntas sobre seus pais. Ele sempre me pareceu desconfortável com isso. No começo, eu não tinha percebido o desconforto, então, usava como uma forma de dispersar a gritaria. "O filho de Potter e Evan? O que tem de mais nisso". Quando eu comecei a entender mais, apenas deixei quieto. Ele que fale sobre as coisas quando estiver confortável. Se não gosto de ninguém me forçando, não vou forçar ele também. — Murmurou.

Remus sorriu.

— Isso é muito doce, Draco.

Se fosse outra pessoa, o garoto teria revidado na hora com algo no estilo "cale a boca" mas bem, aquele ao seu lado lado não era qualquer pessoa, então ele apenas se permitiu envergonhar com o elogio e aprecia-lo.

— Continuando, James era um garoto muito persistente e teimoso. Tinha colocado na cabeça que nunca, em hipótese alguma desistiria do amor de sua vida, Lily Evans. Eu sei, eu sei que ele parece um cara chato, mas não é pra tanto. James era mais um romântico incorrigível do que alguém tóxico. — O homem mantinha o sorriso enquanto falava. — Então, de repente, sabe se lá como, Lily Evans decidiu dar uma chance ao meu amigo. Não para namorarem, mas sim, para tentarem ter uma amizade. Já era um começo e James estava louco pelo mínimo que fosse, logo, aceitou.

— James... — Draco interrompeu sua história. Lembrando da firmeza que Potter se manteve em suas opiniões boas quando ele descobriu que o Príncipe não era um garoto qualquer. — Harry é mesmo uma cópia do pai. — Remus deu mais uma risada, em concordância.

— Eu já era amigo da Lily. Nós tínhamos o mesmo interesse por livros e por discutir fervorosamente sobre as coisas. Passou se algumas semanas e o convívio dos dois tinha se tornado absurdamente próximo. Lily não mais tinha aquela careta quando pensava no nome de James, ela tinha um sorriso. — Ele desviou o olhar, sendo absorvido pela lembrança. — Foi uma sexta chuvosa, ela entrou na biblioteca do colégio completamente encharcada e mil e um sorrisos. Eu perguntei "Você e James agora estão namorando?" e...

— Ela teve a mesma reação que eu? — Ele estava o encarando. Lupin concordou com a cabeça.

— Idêntica. Mas eu nunca achei que isso seria possível. Verdade seja dita, você não tem uma boa reputação pelos corredores de Hogwarts, Draco. Lily era... Lily era uma força a ser reconhecida. Não houvesse quem não gostasse dela. Quem não admirasse sua bravura. — Remus franziu o cenho. — Apenas algumas pessoas mas elas não contam. — Murmurou mais para si mesmo do que realmente para qualquer outra pessoa.

Draco Malfoy não ousou perguntar mais, não menos curioso sobre quem seriam essas outras pessoas e o que eles teriam contra ela. Todavia, não queria soar invasivo.

— É tão difícil acreditar que eu possa estar arrependido de quem eu era antes?

— Eu não acho difícil. Não depois de hoje. Mas eu acho ingênuo acreditar que as pessoas perdoam fácil. E exigir isso delas não é algo a se esperar. — Lupin o observou. — Você não me parece querer o perdão das pessoas que você possa ter ofendido, se me permite dizer.

Draco Malfoy respirou fundo e soltou, como se estivesse cansado.

— É porque eu não quero. Eu fui um garoto irritante. Me coloquei no centro do mundo. Acreditei estar lá. Mas eu não faço mais isso. Me perdoe quem quiser me perdoar, não irei implorar. Só quero uma vida tranquila e o perdão de todos exigiria um esforço que não quero me comprometer em fazer. Ver minha família em ruínas, minha reputação na lama e meus sinceros "sinto muito" já deveria ser o suficiente para meia dúzia de provocações.

Remus Lupin semicerrou os olhos em sua direção, o analisando. 

— Se você e Harry brigassem, agora, uma briga de verdade. Você engoliria seu orgulho, Draco?

O garoto não precisou pensar muito na resposta.

— Se eu percebesse que estava errado... — Draco suspirou. — Só imploro perdão para aqueles que eu não quero que saiam da minha vida. E apesar de culpado, ainda tenho minha dignidade.

Remus negou com a cabeça, rindo um pouco.

— Um garoto de bom coração mas ainda completamente imaturo e mimado. — Remus afastou a cadeira, se levantando da mesa e caminhando até a outra parte da cozinha, começando a mexer em algumas canecas. — Eu vou fazer chocolate quente para você.

— Eu fico muito agradecido, mas você não precisa se dar ao trabalh...

— Nada disso, mocinho. Não pense que eu não percebi você ignorando minha pergunta se tinha comido alguma coisa. Voltar a descansar de estômago vazio... — Ele tinha uma expressão de descontetamento. — Não quero você passando mal. Não debaixo do meu teto.

Foi a vez de Draco dar um sorriso pequeno.

— O senhor também não deveria estar descansando? Já que já passam das três da madrugada.

— Eu me acostumei a ficar acordado por longas horas durante a noite. — O som dos armários abrindo e fechando estranhamente animou o ambiente.

— O trabalho de professor é assim tão pesado?

— Não é só ele... — Remus pareceu parar seu ritmo, se questionando se deveria continuar o assunto, acabou por tomar uma decisão uns minutos em silêncio depois. — Imagino que saiba sobre o passado de Sirius Black? Ou, ao menos a versão mais dramática dos jornais. Creio que você seja um garoto inteligente o suficiente pra discernir a verdade e as mentiras.

— Sim... Eu acho que sim.

— Tanto ele quanto Harry sofriam de insônia. Harry foi por causa do trauma da antiga casa e Sirius foi devido o tempo que passou na cadeia. Essas experiências... Elas traumatizam. Deixam marcas. Eles estão bem, agora, mas eu me acostumei a ficar acordado até tarde quando nós começamos a viver todos juntos.

— Eu não sei muito sobre Sirius além dos jornais, mesmo que ele e minha mãe sejam parentes, ele foi quase que completamente apagado da família. E com toda certeza eu odeio com todas as minhas forças a antiga casa em que Harry viveu.

— Eu verdadeiramente não consigo nem entender o que levou os tios de Harry a serem daquele jeito. O sentimento de inveja de Petúnia quanto a Lily era tão grande que passou para Harry? É incompreensível. — Draco franziu o cenho. Ele sabia que Os Dursleys eram pessoas ignorantes e que acusavam os pais de Harry de serem o contrário do seus "bons costumes", por esse fato, trataram o menino tal como um bicho. Ele não sabia nada sobre a inveja de Petúnia. 

— Talvez algumas pessoas sejam cruéis e pronto. Ou existe algo a mais que nós não saibamos na história. — Draco deu de ombros. — Sabe... Quando... Eu falava algo como "eu sou melhor que você" para alguém, eu não sentia prazer nenhum nisso. E eu, verdadeiramente, quis sentir por um tempo. Eu dizia simplesmente porque achei que faria meus pais felizes. E, sabe, quando seus pais dão tudo que você pede, você sente quase como se fosse uma obrigação retribuir tudo. Eu era tão ignorante.

— Você sentiu isso por si mesmo ou eles te fizeram acreditar que você deveria retribuir?

— ...Acho que um pouco de ambos.

Uma xícara da bebida quente e adocicada foi posto na frente de Draco. Ele segurou e deixou o calor passar pela sua pele através de seus dedos. Estava delicioso.

— Beba e depois direto para o quarto. — Remus disse enquanto voltava a se sentar, tomando um gole da sua própria bebida.

Se sentindo como uma criancinha, Draco segurou uma risada.

— Você é diferente, Senh... Remus.

— Como assim, Draco?

— Seu filho está dormindo no sofá por minha causa e você em vez de me tratar com frieza, me fez chocolate quente e ouviu meus problemas. Você... Parece verdadeiramente curioso inclusive sobre tudo. Os pais de nenhum amigo meu é tão legal desse jeito. Na verdade... Eu quase não vejo eles pra você ter uma noção.

Lupin fez uma cara como quem dizia "prossiga", franzindo a testa e ainda lutando para entender o que Malfoy estava tentando dizer.

— É, por exemplo, os pais da Pansy só vêem ela por tipo, duas vezes por mês e por pouco mais de três horas. E só lembram o meu nome e do Blaise porque nossos pais são importantes e devem ter medo de causar alguma desavença ou algo do tipo que seja ruim para os negócios deles. Os pais de Blaise... Eles estão lá mais vezes, mas parece que não, sabe? Acho que Blaise só quer ouvir um "estou orgulhoso de você", de vez enquando. Ah, tem uma história engraçada, inclusive... — Draco sorriu. Um sorriso meio sem graça. — Era uma das reuniões de natal com todas as famílias, é tipo uma tradição, e sempre tem uma hora em que todo mundo vai brindar e tals. Nós, eu e meus amigos, sempre apostamos qual nome o orador vai errar mais. Só que... Como era o último ano antes da Astória, do Theo e você sabe... O grupinho ir embora. Nós resolvemos fazer uma das nossas brincadeirinhas e bagunçamos a ordem dos títulos. O pai do Theo demorou tipo uns dez minutos pra perceber que tinham trocado o nome do filho dele pra "Cleiton". — Draco começou a segurar o riso. — "Eu não coloquei em você o nome do seu avô pra você fazer uma vergonha dessas!" Ele dizia, apontando o dedo. Theo quase morreu de rir, ele ama quando o pai dele sai da pose de durão. Oh, e mais tarde... — Draco não aguentou, rindo de verdade. — Nossos pais se superam em presentes extravagantes! Não que os presentes sejam do nosso gosto, é só mais uma forma de demonstrarem poder entre si. Como uma competição entre eles. Contrataram um show particular de uma banda que a Astória odiava! Então, a gente conseguiu abrir as portas pras pessoas que sabiam que a banda ia fazer show naquele dia. Foi insano! Vários adultos e adolescentes revoltados, quebrando tudo que viam pela frente. Com certeza, a melhor despedida do mundo.

Remus Lupin tinha uma expressão vazia, pensando consigo mesmo sobre tudo que estava errado nessa situação e de maneira preocupante, o garoto sentado na sua frente não parecia entender a gravidade disso. Cuidadosamente escolheu suas próximas palavras.

— Draco, se os seus amigos não tinham e ainda não tem os pais presentes, quem toma conta deles?

— Ora, nossas empregadas e mordomos. Bem, a minha mãe nunca precisou trabalhar, então eu estava sempre com ela. Mas os pais dos meus amigos sempre estavam ocupados, logo, foi realmente até difícil para alguns deles não chamarem mais os empregados de pai e mãe enquanto cresciam. — Draco tomou um gole longo da sua bebida. — O mordomo da nossa casa se chama Dobby, ele já tem bastante idade, mas sempre foi alguém legal. Foi ele quem me ensinou a jogar xadrez. Meu pai teve que passar muito mais tempo fora quando eu fiz doze anos, por isso o contratou.

— Pais não deviam ser apenas provedores de bens materiais. Se fosse por isso, chamávamos cartões de créditos de pais. Me perdoe se ofendo, mas eles me parecem tão negligentes...

— Ah, não se incomode em praguejar. Isso é normal no nosso meio. Somos como mais um dos investimentos deles. — Draco sorriu pequeno. — Minha mãe é importante pra mim, eu fui sortudo em ser a exceção! Ela sempre me amou... — Seu sorriso foi lentamente morrendo. — Ela merecia poder ser feliz.

Malfoy bebeu mais do achocolatado, terminando seu conteúdo de uma vez.

— Eu achava que pais como o senhor só existiam nos filmes! — Ele sorriu. — Obrigado, de novo.

Remus suspirou, tentando não pensar muito sobre a situação, visto que o próprio Draco não levava isso a sério como ele.

— Eu... Eu acho que fui um pouco como vocês. Claro, eu não tinha todo o dinheiro. Então, só me sobrava a falta de uma família. Mas...

— Você tem uma família, agora, Remus! — O garoto sorria. — Sabe, depois de tanto tempo com meus amigos, a gente acabou aprendendo que família é algo relativo. Você não precisa de sangue. Eu e meu grupinho eramos como uma família, matavamos e vivíamos uns pelos outros... Acho... Que isso é uma das coisas que o Harry nunca vai precisar temer enquanto estiver comigo é que eu um dia simplesmente deixe ele sem razão nenhuma. Sabe, como alguns amigos fazem. Ele pode sempre contar comigo desde que eu sempre possa contar com ele.

— E você quer que eu acredite que vocês não namoram? — As bochechas de Malfoy voltaram a ficar vermelhas. — Estou brincando.

Algumas dúvidas pairaram na mente de Draco, ele pensou se deveria ignora-las ou aproveitar a situação e esclarecer com a própria fonte. No fim, depois de alguns debates, ele resolveu arriscar, sendo acometido por uma curiosidade sem limites.

— Remus... Eu não quero ser intrometido, mas eu verdadeiramente sei muito por cima sobre a história de vocês, não só os pais do Harry, mas o grupo de vocês, no geral. Eu sei sobre um acidente de carro, quando os protestos de vocês tinham um impacto muito negativo... Meu pai chamava vocês por nomes ruins que eu só entendi o que significavam anos depois. E eu não podia ter tevê em casa ou outro aparelho, então, eu realmente fiz uma pesquisa quando fiquei mais velho. Eu sei que vocês eram ativistas ou algo assim, mas qual a verdadeira história? Toda vez que eu penso sobre isso, tem coisas que não fazem sentido. E nem eu ou Harry tocamos nisso, então...

— Exatamente o que não faz sentido em sua mente, jovem?

— Bem, vocês eram um grupo de voz poderosa, vocês incomodavam o prefeito, os governadores, a polícia não podia parar vocês. Obviamente, haveria quem quisesse acabar com vocês com tanta publicidade negativa. Então, começar uma perseguição, os fazer se separar, levar James Potter que era o chefe de tudo para um lugar afastado, atirar nos pneus e provocar um acidente... É tudo tão cirúrgico. Tão frio. E apenas Harry sobrevive? Peter tinha exatas provas que acabavam com Sirius, de onde ele tirou provas assim? Remus, quem odiaria tanto vocês pra fazer algo nesse nível? Por que a história de vocês foi tão facilmente esquecida?

— Draco, se eu e Sirius corressemos atrás de quem foi o culpado, quem você acha que seria atingido? Nós ou Harry? — Draco sentiu um aperto no peito com a resposta que ouviu. — Na época, era comum que nossos protestos, que nossos ataques fossem direcionados a pessoas que não se defendiam sozinhas. Elas tinham acordos com quem pudesse defender elas. Uma encomenda de morte, quem você acha que pode ter sido?

Draco não precisou mais perguntar. Ele sabia muito bem a quem se encomendavam mortes naquela cidade. Os comensais. O garoto se sentia farto de ouvir desse nome. Uma organização criminosa já é ruim por si só, mas para eles, chegava a ser pessoal.

— Você se arrepende? De ter começado tudo isso?

— Meu único arrependimento foi de não ter descoberto sobre Pettigrew mais cedo. Mas sobre as coisas que eu lutei, que eu defendi? Aprendi a muito tempo e com a minha família, com James, Lily, Sirius... Me arrepender de ser eu mesmo é algo que eu nunca posso fazer.

— Qual foi a coisa mais louca e mais incrível que vocês fizeram na época de ativistas de vocês? — Pronto, Malfoy chutou o balde, aquilo tinha virado praticamente uma entrevista.

— Eu tenho minhas dúvidas quando penso sobre isso.

— Como assim?

— Foi especialmente divertido quando nós roubamos a guilhotina do museu e usamos pra decapitar uma representação de um dos governadores... Enfim, você deve ter visto mas... Tem uma coisa que era só nossa. Minha e dos meninos.

Os olhos de Draco brilhavam em curiosade: — O que?

O mais velho deu uma risadinha, bagunçando os fios loiros do menino em sua frente como quem bagunça os de uma criança adorável, afetuoso.

— Harry vai te contar um dia. Tenho certeza. — Ele pegou o copo agora vazio das mãos de Draco. — E agora que eu já te contei historinhas, volte a dormir.

De um jeitinho meio derrotado, ele concordou com a cabeça e se virou em direção ao quarto, pronto para voltar a dormir.

Draco Malfoy não sentia mais o frio da chuva.

[💘]

Nos seus sonhos, Harry Potter sentia que seu rosto estava sendo acariciado por diversas flores e seu corpo se banhava na luz do sol da primavera.  Quando ele abriu os olhos, acordando, a visão que teve podia se comparar a beleza dos jardins brilhantes de sua mente, sendo está superior: Draco Malfoy sentado no carpete de sua sala, o cabelo arrumado, vestindo uma camisa de banda e um par de jeans seus que visivelmente ficavam largos demais para ele - podendo ver sua clavícula completamente amostra. Seus lábios, um sorriso adorável repousando neles.

Ele parou o carinho. Harry achou que ele tinha cometido um crime ao fazer isso.

— O que você vai querer de café da manhã? — Sua voz saiu baixinha. — Pode continuar dormindo se quiser, ainda tá bem cedo, é só que o Remus vai na padaria e queria saber se vai querer algo novo.

Eu quero você. A mente sonolenta de Harry murmurou no fundo do seu consciente, mas ele não disse isso, na verdade, fingiu não ter escutado seu desejo.

— Diz pra ele que pode ser o de sempre... — Piscou fortemente, tentando se acostumar com as luzes ligadas. — Você... Você... Como você está?

— Mais tarde nós conversamos. — Os lábios de Draco tocaram sua testa, acariciando seus cachinhos, trazendo os conhecidos caranguejos lutadores para o seu estômago e com uma última carícia ele se levantou graciosamente do carpete. Deixando uma sensação agradável no rosto do garoto largado no sofá e a sua voz pelos corredores: "Remus ele disse que não quer nada novo!". Potter se perguntou se ainda estava em um sonho.

Se forçando a acordar de verdade, espreguiçando o corpo e ouvindo o som das suas juntas estalando. Ele também ouviu o som de risadas na cozinha e deu um pequeno sorriso, respirando fundo. Parecia que Remus e Draco estavam se dando bem. E Isso era incrível.

Coçando seus olhos, naquele estado em que se espera que sua alma volte para o corpo, ele sentiu mãos pesadas em seus ombros, se virando abruptamente para ver quem era, não se surpreendeu tanto ao se dar de cara com Sirius Black, já de cabelo molhado e usando uma camisa e um par de calças moletom ambos pretos, com o dedo indicador a frente dos lábios, pedindo por silêncio. Harry franziu o cenho, intrigado com a cara de extrema confusão mental dele e esperando por respostas.

— Me explica... — Black começou a sussurrar. — Por que meu marido e seu namorado, a cria dos Malfoy, estão agindo tão próximos? 

— Que diabos...

— Shhh! Tô falando sério. Harry, eu estou acordado a mais tempo e observando, inclusive, acho que eles tem até piadas internas. Eu estou me sentindo profundamente atacado. Primeiro, porque eu não te criei pra namorar alguém com a fama que ele tem, mas gosto é igual bunda, né, cada um tem a sua e Remus teve uma conversa comigo de como eu também tinha um passado meio "meh" quando a gente se conheceu, enfim... A questão é, por que eu não sou sogro favorito dele? Eu sou o mais divertido!

A careta de Harry não podia ser pior, ele tinha um lábio e testa retorcidos, muito cedo para lidar com drama, pensava. Ele respirou fundo, massageando suas têmporas. Só então processando a penúltima sentença.

— Por que você não é o que?!

— Shhhh, ô garoto pra falar alto, meu deus do céu. Não tá vendo que eles tão na porta, tu quer que eles nos ouçam?

— Sirius, o Draco não tem um sogro favorito, porque pra início de conversa ele não é nem meu namorad...

— Como assim ele não é seu namorado? — Black estava agora sussurrando e gritando ao mesmo tempo. —  Eu saí do quarto e me deparei com vocês a isso aqui de distância — Ele uniu o polegar e o indicador em um sinal de minúsculo. — De se beijarem, pelo amor de deus, na minha época as coisas eram muito mais diretas. Assim, diretas em um sentido gay, tinha todo o lance da homofobia grotesca mas você me entendeu! Se dois se gostam, dois namoram.

— Padfoot! Draco e eu somos amigos, nós não íamos nos beijar. — Harry começou a planejar sua rota de fuga, se levantando como um raio do sofá e fazendo seu caminho para o banheiro, Sirius estava em seu encalço, porque ele sabia como ser irritante.

— Como assim?! Mas você está planejando não está? Um garoto bonito te acorda vestindo suas roupas e te fazendo carinho? Deus, o que mais você precisa? Que ele venha embalado pra presente? — Harry estava com o rosto quente, Sirius bateu uma palma e depois apontou para o filho. — Ahá; Eu sabia! Eu sa-bia!

— Agora é você quem está gritando! — Harry resmungou, batendo com a porta do banheiro na cara de Sirius. Cuja única reação foi bufar.

Sirius Black estava uma espécie de confusão mental, mas ele estava acostumado a ter confusões mentais. Então, enquanto seu filho estava no banheiro, ele resolveu agir da forma mais Sirius possível.

Indo envergonhar seu, ainda não oficial e talvez meio longe de ser mas a esperança é a última que morre, genro.

Veja bem, Harry nunca tinha levado namorada, namorade ou namorado algum para o apartamento deles. Sempre eram seus amigos e isso uma vez ou outra, o garoto adorava passar um bom tempo na casa dos Weasleys para festas do pijama e afins e quem poderia culpa-lo? A lareira deles era a melhor no inverno e Molly cozinhava melhor do que muito chef de cozinha renomado e cinco estrelas por aí.

Mas alguém que Harry estivesse românticamente interessado? Que não fosse seu amigo a tempos? Alguém novo? Oh, Sirius estava tão animado! Ele tinha passado anos coletando fotos de infância e coisinhas assim e experiências apenas com intuito de envergonhar sua criança. Se Draco pedisse, ele tinha um arquivo apenas com fotos de Potter bebê que ele podia entregar de todos os jeitos possíveis, um dvd com música cafona e passando as fotos em formato de slide? Um arquivo com títulos em todas as fotos? Sirius tinha para pronta entrega!

E eis que o interesse não assumidamente amoroso - - mas isso são apenas rótulos - vulgo o garoto que estava agora em sua cozinha, distraidamente preparando o que deveria ser café, haveria de ser justamente o filho de uma das suas primas, vindo da família da qual ele tinha sido chutado e deserdado com grande estilo - ah, deus, isso tudo era tão precioso, tão dramático. Quase um episódio de suas novelas mexicanas favoritas. Ele tinha suas ressalvas contra a cabeça loira de sobrenome feio mas ao mesmo tempo, ele sabia que Harry estava feliz e ele confiava no julgamento de seu garoto.

Remus também tinha tido uma longa conversa com ele. Chamar Draco de "cria dos Malfoy" era algo terminantemente proibido - ou pelo menos na frente dele. O que fez ele ficar um pouco chateado, poxa, era o que ele era, não é?

Sirius Black sentou-se na mesa, tentando soar leve e distraído ao invés de alguém assustador.

— Esse café cheira bem. — Ele disse, dando um sorriso sem mostrar os dentes. Draco deu um pequeno pulo de susto mas logo se acalmou, dando um pequeno aceno com a cabeça.

— Obrigado, Sr. Black.

— Nah, deixei de ser Black a muito tempo atrás, me chame Sirius.

— Sirius. Tudo bem. — Draco sorriu.

— Você parece bem mais radiante do que ontem. Remus me contou um pouco do que aconteceu.

— Eu consegui falar com meu padrinho. — Draco manteve o pequeno sorriso. — Ele disse que minha mãe está bem. — O sorrisinho diminuiu. — Mas ele não quer me contar em que hospital ela está enquanto ela não estiver liberada para visitas. Eu sei que o tio Severus não mentiria para mim mas... — Respirou fundo e soltou. — Remus me disse para focar no importante. Eu estou tentando. Titio também me disse que era melhor que eu não ficasse sozinho em casa por enquanto, então, eu vou para a casa da minha amiga, mais tarde. Não vou ser mais dor de cabeça por aqui.

— Você não foi em nenhum momento. Uma informação sobre essa família, nós estamos super acostumados com situações estranhas. Sinta-se confortável para passar o tempo que precisar aqui também, tenho certeza que Harry vai adorar.

Sirius Black assistiu a cria dos Malfoy, alguém que ele sempre julgou como um garoto mesquinho e a cópia do pai, apoiar a mão na bochecha, o cotovelo no balcão e suspirar de maneira doce, passando o dedo na borda da xícara.

— Ele ia adorar, é?

Sirius bebeu um grande gole do seu próprio café.

— Oh, e como ele ia. — Então, ele parou por um instante, dando um pigarreio. — Espera, qual é mesmo o nome do seu padrinho?

— O senhor deve conhece-lo de alguma reunião de pais e mestres, Severus Snape. É o nosso professor de química.

— Conheço, conheço bastante. — Black teve que se segurar para não começar a morrer de rir e chorar ao mesmo tempo. Sua mente entrando em conflito, de novo. Filho e afilhado de gente escrota, aquele na sua frente era mesmo o resultado de uma criação dessas? Se bem que, de novo, quem era Sirius para falar alguma coisa sobre famílias problemáticas. — Severus já falou de mim, do Remus... Do pai do Harry em algum... — Sirius tentou gesticular.

— Hm, na verdade, não. Ele é bastante reservado quando se trata do passado dele. Por quê? — Draco o olhou, piscando seus longos cílios de um jeitinho quase inocente. — Vocês eram amigos ou algo assim?

— Eu não diria que amigos é a melhor palavra pra descrever o seb... Seu padrinho e nós. — Sirius engoliu em seco, deu uma tossidinha seca, como se quisesse mudar de assunto. — Então, você ainda vai pro colégio...?

— Ah, sim, eu não gosto muito de faltar. E não quero ficar a tarde inteira sem fazer nada. — Draco já estava nos estágios finais de preparo do café. — Meu tio disse que traria meus materiais para o colégio, então, eu vou precisar só de uma roupa emprestada do Harry. Ou melhor, mais uma...

— O que não é problema nenhum. — Mais uma voz se fez presente na cozinha, Black se virou automaticamente para vê-lo. Harry estava com uma toalha nos ombros, vestindo roupas leves. Ele tinha um sorriso largo e o cabelo úmido. Draco estava apenas bochechas vermelhas e sorrisos, logo endireitando a postura relaxada. Sirius se sentiu como uma vela, não, como um candelabro entre eles. Se fez de besta e fingiu que estava distraído com algo no celular, quando na verdade só ficava rodando de aplicativo em aplicativo, deixando eles terem o momento deles. — Fez café pra mim, também?

— Não que você deva ir se acostumando com esse tratamento. — O loiro saiu de detrás do balcão, se sentando na frente de Harry com o bule de café, servindo eles. Já perdendo o vermelho e deixando apenas sua expressão divertida.

— Ah, eu nunca abaixaria minha guarda em sua presença, vossa Alteza, príncipe Draco. — Mas ele logo a perdeu com a menção de seu apelido. Sirius se auto proibiu de perguntar e mordeu a língua de curiosidade sobre de onde esse apelido teria vindo, não se mantendo alheio de como Draco parecia completamente desarmado e mole com simples palavras.

— Um bom dia para você também, Harry. — Draco se segurou para não revirar os olhos, levando a xícara até às mãos de Harry, o moreno colocou as próprias mãos sob as dele, fazendo carinho em seus dedos no instante em que suas peles se tocaram, ainda segurando o item entre eles, o observando nos olhos, os garotos pararam no tempo.

— Você dormiu bem? — Draco sabia o que aquela pergunta significava. Ele decidiu falar a verdade.

— O melhor que eu poderia. Obrigado, Harry. — Ele pensou em falar mais alguma coisa, contudo o garoto a sua frente o impediu, ainda segurando suas mãos através da xícara.

— Não. Se você precisar de mais qualquer coisa, você apenas pede que eu realizarei. Estou feliz que você esteja melhor.

Draco foi quem fez o movimento de afastar suas mãos das de Harry, parecendo feliz. Ele mordeu um pouco seu lábio inferior, tentando controlar todas as palavras das quais queria dizer a Harry. Por enquanto, isso foi o suficiente.

Sirius Black precisou de toda sua maturidade para não fazer nada, não falar absolutamente nada sobre isso. E quando já não estava mais aguentando, seu marido passou pela porta o salvando. Como ele amava Remus Lupin!

— O pão acabou de sair do forno! — Remus caminhava até eles com um sorriso adorável. — Acho que o novo atendente da padaria gosta de deixar os melhores pra mim. Deve ser porque somos clientes assíduos. — Remus colocou as compras no balcão, Harry e Sirius começaram a se servir servir, colocando a comida na mesa. Haviam alguns bolos, pães, geléias, frios e frutas. Remus fez seu caminho para o banheiro, provavelmente indo lavar as mãos.

Draco Malfoy se sentia um tanto quanto perdido no meio dessa movimentação.

Não é que ele nunca tivesse tido um café da manhã de padaria, acontecia várias vezes quando ele e seus amigos iam para uma festa e já era cinco da manhã quando eles saiam dela, tendo aula no mesmo dia. Eles acabavam precisando comer na rua.

Só que Draco estava acostumado com uma mesa já arrumada, cheia de doces e salgados finos e com pessoas o servindo. Não importava a ocasião ou o lugar.

Então... Essa era a vida comum. Não era ruim. Não, não... Era apenas... Novidade.

Tentando fingir que não tinha acabado de passar por um choque de realidade, Draco tentou imitar o que Harry e Sirius estavam fazendo sem parecer um estranho. Pegou algumas torradas e, ignorando a voz de sua instrutora de etiqueta ressoando como uma sirene em sua mente sobre talheres e seus usos e postura correta sob a mesa, passou a geléia de morango com uma faquinha de serra sob elas.

— Já tinha esquecido como gente rica come pouco. — Sirius não controlou sua língua, observando Malfoy comer. Em suas mãos, um sanduíche com fatias de presunto suficientes para uma pequena família se alimentar por um ano, na visão de Draco, estava em suas mãos.

— Pare de incomodar o menino, Padfoot. — Remus apareceu na cozinha, arredando uma cadeira para se sentar ao lado de Harry. — Tenho até medo do que você andou falando para ele enquanto eu não estava.

— Sirius foi legal comigo... — Malfoy começou e Black sorriu largo.

— Tá vendo só, querido? Você não bota fé nenhuma em mim! — Harry deu uma risada abafada com o tom de voz acusatório de Sirius.

— E vai começar. — Ele disse, bebendo um pouco do seu café. Draco levantou uma sobrancelha, Harry não respondeu, como se estivesse dizendo "observe".

— Eu boto fé sim em você! Mas vamos ser honestos, se não foi com Draco, tenho certeza que foi com Harry. Você é super indelicado com qualquer assunto. — Remus rebateu, montando seu próprio café da manhã.

— Ué, eu não acho. Você que trata as coisas com seriedade demais.

— Você está realmente transformando isso em uma discussão? — Remus parecia que queria começar a rir, cortando pedaços de maçã.

— Não, você que está levando minhas palavras a sério de novo e transformando em uma discussão. — Sirius falava tão calmo e divertido. Como se estivesse achando graça. 

— Céus, não acredito que vou me casar com uma criatura dessas.

— Exatamente, querido, eu disse que uma vez que me trouxesse para casa, não teria devolução. Sou um problema completamente seu.

De repente, Malfoy se viu interessado na conversa.

— Espera, eu achei que vocês dois já estivessem casados...  — O loiro parecia curioso. — Vocês já moram juntos, já até se chamam de marido.

— Se eles já estivessem, pode acreditar que teria uma foto da cerimônia maior do que eu pendurada na sala. — Harry brincou, terminando de comer seu próprio pão.

— E qual é o problema nisso? Seria romântico! — Sirius indagou para o filho, que apenas ergueu as mãos em inocência.

— Nós vamos nos casar só daqui alguns meses. — Remus respondeu com um sorriso. — Seria muito bom ter você como um dos convidados de Harry.

— Se ele não tiver outra pessoa em mente... — Draco deu um pequeno sorriso na direção do menino em sua frente. Harry deu um maior e respondeu:

— Não tenho ninguém além de você.

Houve um pequeno momento de silêncio - quase que constrangedor - e mesmo que Lupin fosse um pai que gostava de apoiar o filho em seus relacionamentos, era impossível não se sentir desconfortável com o jeito que Draco e Harry se encaravam tão intensamente. Por sorte, seu marido era bem mais sem vergonha do que ele e não tinha problema algum em interromper momentos.

— Vocês dois aí não tem que se vestir pra escola, não? Bora, bora, que eu sei que vocês tão só enrolando aí. Não tô te criando pra ser vagabundo não, Harry. — Ele começou a se levantar, dando batidinhas nas costas de Harry, o fazendo quase se engasgar. Draco seu uma risadinha, escondendo a boca com uma das mãos e se levantando da mesa, trazendo junto consigo sua louça suja, Remus disse algo sobre ele não precisar lavar e Draco negou com a cabeça, dizendo que era o mínimo que poderia fazer. Harry gritou pela sua vida quando Padfoot começou a aperta-lo em um de seus abraços sem sentido. Moony não quis aparta-los.

Era um caos. Mas o sentido de que aquilo era um lar não saia deles.

[...]

— Eu realmente não sei como você consegue fazer isso.

— Isso o que?

Draco Malfoy, parado em frente a Harry Potter, aos seus olhos estava parecendo uma das sétimas maravilhas do mundo. Usando uma blusa de mangas e gola comprida na cor preta, colado ao seu torso, calças que tinham ficado largas em sua cintura, apertadas por um cinto de couro na cor também preta, apenas com a fivela dourada se destacando, seu pescoço com algumas correntes que Harry nem sabia que tinha. Até um par de coturnos ele tinha encontrado - os pés de Harry eram um pouco maiores que os seus, mas nada que camadas de meia não resolvessem. Draco parecia usar uma versão mais chique de suas roupas que ele nem ao menos sabia que existiam em seu armário.

— Ser tão bonito. — Harry simplesmente soltou, o devorando com suas orbes e Draco sentiu seu ego ir em direção as alturas. O loiro desfilou até o garoto sentado com seus mesmos jeans, camiseta e all-star de sempre em sua cama, dando até mesmo uma viradinha para ele.

— Você acha mesmo? — Draco ficou entre suas pernas, de maneira ousada, ele pôs suas mãos no ombros do garoto.

— Acho, mas sabe o que eu acho também? — Draco respondeu a pergunta de Harry com um "Hm?" murmurando, isso fez o sorriso se Harry crescer mais. — Que você é um garotinho muito atrevido que se perde muito fácil por uns elogios. — As mãos de Harry encontraram a carne dos quadris de Draco, começando a fazer cócegas ali e subindo, o loiro se contorceu em risadas.

— Harry... Hahahah... Harry... Para... Pffft.... Hahahahah... Por favor... HAHAHAH... — Malfoy se contorcia, sensível ao seu ataque, principalmente quando seus dedos subiram ao seu pescoço. Ele acabou de desequilibrando várias vezes, sendo derrubado no chão em algum ponto. Implorar não bastava, Potter nem ao menos se cansava - como ele poderia, se eram os sons da risada de Draco que ele estava ouvindo? - e parecia bastante confortável entre suas pernas, sorrindo como um idiota vendo o rosto de Malfoy se tornar vermelho e ainda mais bagunçado.

Em algum momento a brincadeira parou, com tanto Draco e Harry ofegantes e quando Harry percebeu que ele queria vingança, antes mesmo que pudesse, o mais forte segurou seus pulsos a cima da sua cabeça, com um sorriso vencedor, ele disse:

— Te peguei.

— Eu ainda vou me vingar, apenas espere. — Malfoy disse, ainda sorrindo e respirando fundo.

— E como planeja fazer isso?

O loiro estava prestes a contar, mas foi interrompido com o som da porta do quarto de Harry sendo aberta de uma maneira violenta por ninguém menos que Hermione Granger e Ronald Weasleys, vestindo roupas de colégio e que foram de uma expressão normal para uma uma mistura de choque e em seguida de incômodo em segundos.

Harry sentiu se rosto esquentar, era, bem, uma posição constrangedora, ele admitiu para si mesmo. Hermione tentou recobrar a compostura e a maçaneta da porta.

— Nós... Vamos esperar lá fora. Quando vocês... Acabarem o que quer que estivessem fazendo. Com você em cima do Malfoy... É, enfim, nós precisamos conversar. — Então ela apenas fechou a porta novamente.

Draco e Harry se encararam por um longo minuto em silêncio antes de se afastarem e se levantarem do chão, enchendo o quarto de risadas e suas vergonhas. Quando as risadas acabaram, o loiro abraçou a cintura do moreno, escondendo seu rosto na curva do seu pescoço. Harry o apertou em seus braços, sentindo a mistura do cheiro natural de Draco e seus próprios produtos exalando dele.

— Seus pais... Estavam falando sério sobre não se importarem de eu passar algum tempo aqui? Tipo, que você gostaria que eu ficasse com você? — Começou o assunto, anormalmente tímido.

— Eu sei que eu não moro em nenhuma mansão...

— É bom. — Draco interrompeu. — Acho que quando eu estiver na mansão Parkinson, não vai ser nem de longe como estar aqui com você.

— Então... O jovem Malfoy está se acostumando a plebe? — Harry continuou mantendo o bom humor. Draco revirou os olhos, mas deu risada.

— Ridículo. Eu ainda sou uma pessoa que precisa de luxo. — Ele bateu seus cílios de um jeitinho encantador que quase derreteu os sentidos de Harry. — É que... Sabe... Eu sinto que a minha presença melhora o ambiente. Agrega valor, sabe? — Ele ouviu Harry segurar uma risada. — E eu gosto das estrelas do seu teto.

— Hm, então, quer dizer que se você continuar dormindo aqui, você não vai querer sair do meu quarto? — Harry não aguentou, explodindo em risadas com a cara vermelha do seu amigo, que dando um tapinha em seu peito, se afastou de si, caminhando para longe.

— Você deseja, Harry Potter, você deseja.

Draco passou pela porta do quarto, não antes de dar uma olhadinha por cima do ombro, com aquele sorriso travesso, deixando para trás um garoto completamente perdido sem nem ao menos perceber. Bobo e besta por um loirinho que o tinha na palma de sua mão.

E deus, Harry pensou, Draco não estava nem flertando. Ele estava apenas existindo.

[💘]

Existem poucas coisas tão estranhas quanto Hermione Granger, Ronald Weasley, Harry Potter e Draco Malfoy pegando ônibus juntos. Ninguém estava surpreso quando Hermione passou na frente, sendo seguida por uma cabeça ruiva e depois uma cabeça cacheada. Mas uma cabeça loira...?

Os neurônios dos alunos de Hogwarts eram lentos, mas ainda funcionavam.

Aquele não era o ponto de Draco Malfoy. Aquele ponto não era de longe perto de onde a mansão requintada e antiga de sua família estava localizada.
E Draco não fez seu desfile até os bancos no fundo do veículo, ignorando tudo e a todos.

Ele estava indo para a frente. Sentando-se ao lado de Harry Potter. Como se ele fizesse isso todos os dias!

"Eles nem tem a decência de tentar esconder!" Podiam se ouvir entre os cochichos, "Bem, e o que é que tem pra esconder? Ele é a putinha do Harry, todo o jogador de futebol tem uma e o Harry achou a dele, você não viu a foto no Instagram? Líder de torcida é outro nome pra vagabunda barata", "Draco está tentando limpar a barra dele assim? Grudando no Potter?, "Pffft, não dou dois dias pro Harry ver a gentinha ruim que esse loiro azedo é..."

Draco sentiu alguma coisa ser colocada na sua orelha, Harry tinha colocado um dos lados do fone de ouvido conectado ao seu celular nela.

— Nossa playlist é bem melhor que a voz deles. — Harry murmurou. Draco deu um sorriso sem mostrar os dentes.

— Eu já me acostumei com eles. Mas obrigado... — O loiro se aproximou mais ainda dele. — A gente deveria ver uma banda nova.

— Mas eu gosto da sua voz em "Why'd you only call me when you're high..."

— Não era pra você reparar na minha voz! Eu nem canto alto! — Ele arregalou os olhos, unindo as sobrancelhas e fazendo beiço.

— Mas você faz o "High" tão fininho, é tão engraçado! — Draco inflou as bochechas, bufando enquanto Potter se segurava para não rir.

A bolha deles foi estourada com um "caham", uma tossida seca e forçada e dois pares de olhos os encarando do alto, parecendo julgadores. Quase podia enxergar a energia ruim vinda das duas pessoa.

— Vou ser direito, eu acho que nós merecemos uma explicação. — Ronald Weasley começou, sem aumentar a voz nem nada, parecendo quase com seu estado normal. Talvez mais apático. Ou passivo agressivo. — E quando eu digo nós, eu quero dizer eu, porque de certo a Hermione já criou toda uma teoria da conspiração na cabeça dela e aparentemente, eu sou o único que não precisa saber de nada!

— Diga Ron, o que quer saber. — Harry disse, nem um pouco preocupado.

— Primeiro de tudo, vocês não tem um mínimo de consideração, não é? Harry, como você foge no meio de um jantar e simplesmente não explica nada depois?! Você chamando Draco Malfoy de meu bem? O que tá acontecendo? E, sim, eu sei que o Malfoy passou por várias coisas e pipopopo, pra mim você não fede e nem cheira, garoto. O que significa que o que eu perdi nessa história inteira?! Vocês não eram apenas amigos? Quando você ia fazer uma apresentação formal, Harry? Antes ou depois de ignorar todas as nossas ligações? Porque, sério, os amiguinhos dele são des-pre-zí-veis e eu me recuso a ir atrás de informações com gente que não me trata bem. E eu não sou burro, sei que você e a Hermione estão confabulando, sim, eu sei o que essa palavra significa, pelas minhas costas pra fazer a gente se entender. Olha... — Ronald respirou fundo. — Eu tô tendo um ataque. Eu só preciso de explicações. Desde o princípio.

— Bem, em resumo... — Harry começou, mas Draco arrumou sua postura e o interrompeu.

— Eu resolvo isso. — Ele respirou fundo. — Harry e eu começamos sem saber quem nós éramos, suponho que você já deva saber disso.

— Sim, sim, sim...

— Eu e Harry não estamos namorando. Nós somos amigos, de verdade. E não, Ronald Weasley, eu não planejo nada contra você ou seu precioso melhor amigo. E quando se trata de eu e meu grupo, pode acreditar que não vai haver mais nada quanto a problemas ou acusações. Sim, eu estou sabendo sobre a Pansy acusando a sua namorada e eu vou conversar com ela. Você terá suas desculpas, Granger. Eu e Harry tínhamos também planejado um encontro completamente diferente para nos apresentamos e tentarmos agir de maneira civilizada. Mas tem algum ridículo e desocupado, tirando fotos e fazendo piadas de mal gosto comigo e com o Harry. Não, eu não tenho ideia de quem pode ser e eu não preciso dessa dor de cabeça. Eu tive um momento péssimo na minha vida ontem a noite que eu não tenho desde que eu vi meu pai entrando em um carro de viatura no meio da noite logo depois de vários políciais armados revistarem a minha casa, derrubando parede, gritando com a minha mãe. Eu estava desesperado e Harry cuidou de mim. É isso. Ponto. Não tinha como avisarmos nada. Não tinha como lidarmos com isso. E Harry nunca falaria nada sem a minha autorização, porque ele é uma das melhores pessoas do mundo, tendo dito isso, eu não planejo me explicar ou qualquer coisa do tipo só para ser agraciado por você, Weasley. Eu verdadeiramente não sou a mesma pessoa de antes e se você e sua namorada quiserem acreditar nas minhas desculpas, é pegar ou largar, porque você poder agir como o ser mais irritante da face da terra, eu não vou me afastar do Harry. Não te peço amizade, eu só te peço que enquanto eu estiver andando com Potter, você seja maduro o suficiente para me respeitar o mesmo que eu te respeito.  Obrigado.

Ronald o encarou e sua expressão fechada por um bom tempo e depois se virou para Potter, que estava com um sorrisinho sem dentes no canto da boca.

— Assino embaixo de tudo que ele falou. — Foi tudo que Harry disse.

O ruivo passou um tempinho encarando ambos, então, depois respirou fundo e desistiu, levantando as mãos para cima.

— Só vê se consegue lembrar de colocar esse seu dragão na coleira de vez enquando, Harry. Deus, parecia que ia cuspir fogo e eu só fiz umas perguntinhas. Tão sensível e dramático. — Ron gesticulou enquanto falou, voltando a se manter de costas a eles, sentado no seu banco.

— Você não deveria fazer isso. — Hermione se pronunciou, uma expressão mais fria.

— Não deveria fazer o que?

— Falar em nome da Parkinson. Como se você tivesse controle das ações dela ou pudesse prever alguma coisa.

— Ela já estava arrependida da última vez que eu vi ela. Não era sua culpa que parecia tanto que você era culpada por aqueles fotos. Sem um olho minimamente treinado para fotografia, era só somar um mais um.

Hermione parou um tempo e depois deu uma risada seca.

— Vocês realmente não mudaram nisso.

— Nisso o que?

— Nessa confiança cega. Vocês tem um perdão super seletivo. Se Parkinson cometesse um assassinato, eu tenho certeza que você estaria pronto para esconder o corpo. — Ela negou com a cabeça. — Não julgo mas... Honestamente, qualquer um na escola inteira poderia ter feito aquilo com você. Na verdade, não sei como não fizeram antes. — Ela tinha um tom sem emoções, como se estivesse aí mesmo tempo que irritada, muito séria para isso se intensificar. — Você nunca vai descobrir quem está te incomodando e a Harry.

— E por que você acha isso? Não acredita na minha capacidade? Eu não estou entendendo que rumo você está querendo tomar com isso, Granger. — Draco cruzou os braços, semicerrando os olhos.

— Estou querendo dizer que você pode ter mudado, mas enquanto você e seus amigos não pararem de serem orgulhosos e nunca reconhecerem verdadeiramente os erros que vocês fizeram no passado, cada merda que saiu da boca de vocês, nunca vai encontrar quem tirou sua foto e te odeia tanto. — Hermione piscou. — Eu respeito você, Draco. Mas você ainda consegue ser um porre de marca maior. — E com isso ela também voltou para encarar a frente do ônibus. Draco suspirou.

— Eu deveria me sentir ofendido? Porque honestamente, eu estou começando a me reconhecer nos xingamentos. — Ele murmurou, Harry deu uma risada abafada e passou um braço ao redor dele.

— Não dê abertura, Hermione tem xingamentos muito piores que porre de marca maior, ainda mais pra você.

— Preciso admitir que nunca imaginei ela sendo boca suja.

— Ela tem que aguentar adolescentes o dia inteiro e seus melhores amigos são dois garotos sem noção do perigo, é, ela é bem boca suja.

— Mas você tem que começar a ter noção de perigo, porque se um dia você se machucar e eu não conseguir te ajudar e você morrer, pode ter certeza que eu vou atrás de você só pra te matar de novo.

— Você diz as coisas mais doces, dragão.

— Só para você, idiota. — Draco deu um sorriso divertido, Harry retribuiu de bom humor.

[💘]

Quando eles chegaram na escola as coisas não foram nem um pouco como o previsto. Para início de conversa, Draco Malfoy foi praticamente arrancado com velocidade, violência e muito subitamente para qualquer reação de Potter por Pansy e Blaise, podendo essa ação ser quase classificada como um sequestro relâmpago e a julgar pelas feições super mal humoradas deles - não havia negociação de libertação.

E ele quis, como Harry quis no fundo do seu ser apenas correr, pegar ele de volta e ficar isolado de todos, cuidando e conversando com Draco. Porque ele sabia que o loiro, mesmo que muito melhor do que antes, ainda estava com um psicológico meio sensível. A situação com mãe dele era tensa e o que pudesse fazer para evitar preocupações no caminho dele, como um bom amigo, Harry faria.

Porém ele viu o olhar de negação de Hermione, quase uma ordem direta para que não movesse um único dedo na direção dos três doidos correndo pela entrada de Hogwarts e sumindo de seu campo de visão. E em uma engolida em seco, Potter pensou sobre isso e tirou uma conclusão.

Ele estava pensando demais. Protegendo demais.

E mesmo que ele devesse esquecer Draco, ele não conseguiu e a primeira coisa que saiu de sua boca, no mesmo instante foi:

— Vocês acham que ele vai ficar bem?

Demorou menos de um segundo e apenas uma olhada dos seus amigos para que ficasse evidente:

Ronald e Hermione não se importavam. Ambos não se importavam nenhum um grão sequer com o que acontecia na vida de Draco Malfoy. Ele não era seu amigo e eles estava fazendo o mínimo unicamente por Harry Potter.

— Por que você não pergunta como a gente tá, em vez disso? — Ronald vez sua voz presente. Harry parou por um segundo, pensando sobre isso - se sentindo um pouco culpado até. Ronald começou a mexer no seu próprio armário, desinteressado.

— Bem, eu disse que aquele jantar não era uma boa ideia...

— Até que não foi uma completa catástrofe. Depois que você saiu, as coisas ficaram constrangedoras o suficientes pra todo mundo sair. — O ruivo disse. — Bem, isso sem contar que Cedrico está meio que de mal com a gente.

Harry ergueu uma sobrancelha. — Vocês tiveram uma noite péssima e ele ainda deixa pior, wow.

— Não é que ele deixou pior. Cedrico acusou Hermione de ser egocêntrica. De estar levando as coisas pelo próprio umbigo dela e por isso ele desculpou a ela só depois e de um jeito meio... Sabe... Quando você não quer fazer tal coisa mas também não quer problema.

— O que é algo que eu não faço! — Hermione bufou, batendo a porta de seu armário com uma certa força, fazendo um "BAAM!". — Eu sou uma pessoa prática. Eu uni o útil ao agradável naquela noite e ponto. Eu estava pensando neles quando fiz tudo aquilo.

Harry franziu o cenho mas no instante em que ele ia falar, quem fechou o armário com força foi Ron Weasley. E foi ele quem falou, ele tinha uma expressão tão vazia quanto a de quando estavam no ônibus, apertando seu livro de física.

— Enquanto você não engolir o seu orgulho, você não vai resolver os seus problemas. — Ele ergueu uma sobrancelha em direção a Hermione. — Foi algo assim que você disse pro Malfoy, não foi? Por que você não segue seus próprios conselhos, já que não ouve mais ninguém ao seu redor.

— Ron...

— Não. — O ruivo respirou fundo. — Eu sei que você está tentando, se é isso que você queria dizer.

Harry mordeu o lábio. Se sentindo uma terceira roda no meio da situação, aparentemente, o relacionamento dos seus melhores amigos tinha se complicado. Não era a primeira vez que ele tinham seus altos e baixos, então, ele acreditou que dessa vez seria como as outras e logo as coisas voltariam aos trilhos novamente.

A verdade é que, Harry Potter se preocupava e muito com seus amigos. Mas ele já conhecia Granger e Weasley a tempo suficiente para saber que, primeiro, nada do que ele disesse seria um conselho bom o suficiente e segundo, se ele partisse para ação, mas atrapalharia do que ajudaria. Então, ele preferia se manter sempre em uma zona neutra.

— Deixar os outros te ajudarem não significa se fingir de surda para o que eles tem a dizer. — Ele se aproximou para abraçar ela. Ela correu para os seus braços. Ele bufou.  — Eu ainda estou chateado com você, só não gosto de ficar longe, okay? — Hermione respondeu com um "uhum". — Bom.

— Nenhum de vocês dois vai me explicar o motivo da briga? — Harry estava de braços cruzados, encarando eles.

— Depende, você vai explicar pra gente o que foi aquela cena hoje de manhã se você e Draco são apenas amigos? — Ronald soltou, ácido e Hermione comprimiu os lábios para não rir. Harry fez uma cara de choque.

— Quem é você e o que você fez com meu amigo, Ron?

— Posso ver que a resposta vai ser não.

— Não tem nada pra ser explicado.

— Enfim, eu vou precisar de toda a energia e ironia se eu quiser conseguir passar pelo que vai vir daqui algumas semanas. — O ruivo continuou. 

— Pode falar, cara. O que tá acontecendo? — A voz de Harry soava bem mais tranquila. Hermione também o olhava ansiosa por uma resposta.

— Eu espero muito que eu esteja enganado mas... Meus irmãos estão vindo aí. — Ele respirou fundo. — Não fiquem preocupados. Se tudo der certo e pelo que eu ouvi da minha mãe falando no telefone, eles vão direto para o hospital. Aparentemente, vão só acompanhar a cirurgia.

— Mas você também vai acompanhar a cirurgia... Acha que eles vão fazer algum escândalo no hospital quando te verem? — Hermione perguntou. — Porque você sabe, eu e Harry chutamos as bundas deles pra fora do hospital na hora.

— Acabei de falar que não é pra se preocuparem! Eu tenho tudo sob controle e quanto mais eu penso, mais eu surto então... — Ron deu um sorrisinho. — Só preciso de vocês sendo meus amigos como sempre. — Ele abriu os braços e os dois se aproximaram, o abraçando também.

— Tá certo, tá certo. — Harry se virou para olha-lo melhor. — Você também tem que tá relaxado pra outra coisa, ou já esqueceu dos jogos de basquete que vem aí?

— Tava só esperando o capitão dar o chamado, ué. — Ron deu uma risadinha. — Já tá pensando nas estratégias? Certeza que o Simas e o Dean já tão monopolizando a quadra pros treinos.

— Eles querem se destacar, deixa eles. — Harry deu um sorrisinho pequeno.

— Mal vejo a hora da escola inteira se tornar um inferno ao redor desses jogos. — Hermione revirou os olhos.

— Como se você não gostasse desse inferno. — O ruivo revidou. Hermione também deu um sorrisinho.

— Eu preciso manter a pose.

[💘]

Draco Malfoy foi, por falta de palavras melhores, arrastado e jogado sem dó nem piedade dentro de uma salinha de limpeza. Nesse exato instante, espremido entre prateleiras com produtos de limpeza e alguns baldes, iluminados por um lâmpada amarela quase falhando e agachados no chão - sabe se lá o porquê, ele meio que foi no instinto - Pansy e Blaise o encaravam.

— Eu posso saber o que diabos foi isso tudo? — Se pronunciou depois de longos cinco segundos muito estranhos.

— A gente precisava falar com você e tínhamos que ter certeza que o Potter e companhia não iam atrapalhar. Na verdade, que ninguém mais ia. — Blaise começou a falar, meio apressado. Ele parecia nervoso. — Mas vamos com calma, primeiro, Pansy. — Ele olhou pra ela, ela tirou a bolsa de couro que carregava de suas costas e jogou em direção a ele. — Seu material. Snape quem mandou a gente entregar.

— Espero que esteja tudo aí. — Ela disse e Draco começou a observar atentamente.

— Espera, cadê meu gloss? — Draco deu um olhar mortal para Pansy que apenas desviou, se fazendo de sonsa. — Se você não me devolver...

— Ela vai! Sem tempo agora pra briguinha. — Blaise já foi se metendo, massageando as têmporas como se estivesse buscando por paciência. — A gente já sabe o que aconteceu com a sua mãe, inclusive.

— Eu suspeitei pelas noventa e sete chamadas da Pansy e as trinta e oito suas. Eu já vou logo pedindo desculpa porque eu não consegui atender e eu também...

— Foi resgatado pelo Potter. É, também estamos sabendo disso. Na verdade, nós adivinhamos quando você chegou aqui com ele parecendo seu guarda costa, bem Whitney*. Nós passamos a noite em claro, também.

— A gente se preocupa com você, Draco. — Pansy suspirou, ela quem parecia mais cansada. Atentamente, ele conseguia perceber se observasse bastante para o rosto dela o corretivo acumulado logo abaixo dos seus olhos. Provavelmente com o objetivo de esconder suas olheiras. — Snape não cuidou só da tia Cissa ontem, nós estávamos quase mandando a polícia atrás de você quando não tivemos retorno de nenhuma ligação. Mas ele disse pra não fazermos nenhuma besteira, se não seriam três desaparecidos. Aí, né, você ligou pra ele hoje de manhã e disse que tava bem. Sem detalhes de onde, não é mesmo, porque você não tem consideração nenhum...

— Pansy! Nós conversamos sobre isso! — Blaise interrompeu e ela respirou fundo. — Nós te entendemos e por favor, Draco, agora que todas as verdades foram jogadas na mesa e da pior forma possível, não fica mais sem falar com a gente, tá certo?

Draco apenas concordou com a cabeça, se sentindo um tanto quanto culpado.

— Desculpa.

— Desculpas aceitas. — Pansy disse, um tom ríspido. — Como você entrou em pânico e foi embora, perdeu muita coisa que o Snape ia te contar.

Draco se tornou curioso. — Que coisas?

— Pois bem. — Ela respirou fundo. — É por isso que a gente tá longe de todo mundo, quanto menos pessoas souberem do que tá rolando, melhor e como você já sabe, a fofoca rola solta em Hogwarts. Snape já estava desconfiando que seu pai tava muito quieto, então, a merda realmente aconteceu...

— Dumbledore foi afastado do cargo de diretor. — Blaise falou logo de uma vez, Draco arregalou os olhos instantaneamente em choque. — Por zero motivos. Provavelmente mexeram os pauzinhos no ministério, seu pai deve tá envolvido, enfim.

— Como vocês tem tanta certeza de que foi meu pai que se envolveu nesse afastamento? Dumbledore já é meio velho, pode ser algo relacionado a saúde ou...

— É porque quem vai assumir o cargo dele temporariamente é que é a maior dica de que teu pai tá envolvido. — Draco ergueu uma sobrancelha com a informação de Zabini, que apenas disse: — Dolores Umbridge.

Um nome. Duas palavras. Foram suficientes.

Uma cascata de memórias desagradáveis correram em sua mente. Dolores Umbridge em todas as reuniões, todas as festas, um membro da elite que enchia a boca para menosprezar a família de Zabini por ser negra, por milhões de vezes tentar oferecer que Parkinson fosse levada para uma terapia de conversão da igreja por casa de seu "mal comportamento", todas as coisas ofensivas que ela tinha proferido, todas as tentativas dela enquanto ocupou diferentes cargos do governo de leis super sem sentido. Dolores era o tipo de pessoa que saia na capa de jornais dizendo frases como "Menino usa azul e Menina usa rosa" ou "Não vacinem suas crianças", Dolores era o tipo de pessoa que você não queria ver no controle de nada mas mais do que apenas preconceituosa - Dolores tinha a incrível habilidade de ser sorrateira e sair ilesa por qualquer coisa que fizesse.

Umbridge era o demônio vestido de rosa.

— Aquela vadia?! — Malfoy quase gritou. — Ela não tava o que, no ministério da mulher ou sei lá o que, o que porra ela tá fazendo como diretora do colégio? E o vice? Minerva?!

— Exatamente, Draco. De alguma forma todos que deveriam entrar no lugar do Dumbledore foram imediatamente proibidos de faze-lo. — Pansy continuou. — Eles queriam que fosse ela no lugar. E o Snape tem algumas teorias do porquê.

— Óbvio, essa desgraçada não deve ter vindo aqui com o único intuito de foder a gente.

— Hogwarts pode estar envolvida em algum esquema e precisam dela pra lavar dinheiro, o mais básico do básico, essa é a primeira teoria. A segunda teoria e a que mais temos medo é de que... — Blaise respirou fundo, como se buscasse forças para continuar falando. — Ela tá envolvida com o Voldemort. Como? Não sabemos.

— De que maneira ela pode tá envolvida com o Voldemort?

— Não tem comprovação mas o Snape acha que seu pai pode ter deixado de cumprir algum acordo com o Voldermort e a Umbridge resolveu terminar o serviço com ele. Ou ela fez um novo acordo. Enfim, essa história tem um monte de segredos e versões. O que é importante agora é que o Snape quer conversar com o Lucius na prisão. — Blaise disse, soando bastante sério em suas palavras.

— O que?! — Draco arregalou os olhos, passando as mãos nervosamente pelo cabelo. Irritado. — Lucius provavelmente não vai querer nem ver ele ou mesmo se ver, por que ele diria qualquer coisa?! Não apenas isso, tio Severus tá apenas se pondo em risco, seja lá o que a maluca da Umbdrige estiver pensando em fazer, o que nós temos a ver com isso? Como nós poderíamos sequer evitar? Ela tem a porra do governo do lado dela!

— Draco! Draco! Para e pensa um pouco. Por onde os comensais andam, a morte vem junto! E se a Umbdrige falhar, o Voldermort não vai vir atrás só do Lucius.

O coração de Draco pesou como se mil toneladas tivessem sido automaticamente adicionadas nele e um frio passou por toda sua espinha quando de repente se lembrou das palavras de Remus, ecooando forte em sua cabeça.

"Se eu fosse atrás de vingança, você acha que Voldermort iria atrás de mim ou de Harry?"

Draco Malfoy se sentiu desamparado, se sentiu chocado e muito, muito assustado.

Consequências de causas que ele não poderia controlar.

Graças ao seu pai, que o inferno o tenha, sua mãe estava enferma. Graças a seu pai, graças a Lucius Malfoy, ele poderia ser o próximo a entrar em uma ambulância de hospital no meio da madrugada. 

Ele não sabe em que ponto daquilo tudo ele acabou sendo abraçado por Blaise e Pansy, entre os três e encolhido ainda mais na salinha de limpeza, pálido, tremendo. O chão se tornando frio.

— Quanto tempo até ela chegar? — Ele sussurrou.

—... Amanhã ela já começa. — Pansy murmurou, parecendo ter dor em sua voz.

Draco fechou os olhos com força.

— Você não tá sozinho, Draco. A gente vai fazer de tudo por você, okay? Ninguém vai encostar um dedo em você. — Pansy murmurou, dando um beijinho no topo de sua cabeça.

— Obrigado, gente. Obrigado.

Eles eram mesmo a sua família.

[💘]

Todos os neurônios de Harry Potter estavam fritando. E mais ainda os de seus amigos.

Tudo começou quando as aulas acabaram, ele não tinha tido sinal algum de seu Príncipe o dia inteiro mas não se preocupou tanto, tinha passado o final de aula apenas discutindo com os Grifinórios sobre táticas e jogando uma partida de "teste", o que deixou sua mente bastante ocupada. Quando estavam a caminho do ponto de ônibus, ele recebeu subitamente a localização de uma casa vinda de um número aleatório acompanhada da legenda "cola aí, cara. A gente vai beber, chama teus amiguinhos. Bora tentar se dar bem mas não prometo nada. Minha casa é uma mansão e o último andar é aberto. Na dúvida todo mundo diz que foi queda e não que alguém empurrou. Beijosss."

Ele salvou o número apenas para ver a cara de Pansy Parkinson em uma foto em preto branco no ícone. Ele não se surpreendeu tanto quanto deveria. E a resposta de seus amigos quanto ao convite - isso poderia ser chamado de convite ? - deixou Harry ainda mais chocado.

— A gente vai com você. — Foi quase em unissono. Hermione e Ronald estavam o encarando. 

— Qual ônibus a gente pega pra chegar lá? — Ronald perguntou, parecendo sério.

— Eu me pergunto se sequer passa ônibus em um bairro desse. Talvez a gente tenha que pagar metrô ou rachar um Uber. Tá com dinheiro aí?

— Gente, gente, gente... — O moreno estava verdadeiramente atordoado. — Como assim vocês querem ir socializar com os amigos do Draco?

— Eu tô desesperado por qualquer coisa que me faça esquecer essa semana.

— Idem. — Hermione concordou com o namorado. — São eles, Harry. Bebidas caras de graça. E eu dúvido que algo vá acontecer com nosso corpo que seja muito grave.

Harry piscou surpreso várias vezes.

— Espera, deixa eu ver como a chega nesse endereço pelo GPS. — Ele começou a procurar mas uma mensagem nova do mesmo contato apareceu. Uma não, várias.

Todas eram fotos deles. Fotos de Draco tremidas. Fotos de Draco distraído com filtros de orelhas de bichinho. Incluindo gifs dele pulando pra tentar alcançar uma prateleira mais alta, ou apenas fazendo sinais com os dedos ou dele largado dentro do carrinho de compras segurando garrafas de vodca. Draco rindo, Draco dando um beijinho na bochecha de Pansy, segurando Blaise em suas costas e quase caindo por ser bem mais baixinho que ele. Todas tinham sido tiradas agora. Eles deviam estar em algum mercado próximo comprando mantimentos.

A legenda mexeu completamente com o coração de Harry.

"Salva meu contato como minha cunhadinha favorita, aí."

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