12.5. Oh, he makes me dizzy!
Notas do autor
Esse capítulo é ponto cinco pois ele pertence ao capítulo doze mas se eu deixasse ele lá ficaria muito comprido e enfim, maçante de se ler.
Perdoem minha demora. Eu me cobro muito quando estou escrevendo. :(
Deixando um pequeno aviso que, eu não romantizo o uso de drogas entre adolescentes ou incentivo. Isso faz parte da realidade e seria idiota acreditar que alguém com fácil acesso e tantos problemas como os nossos personagens aqui não acabariam normalizando isso entre si.
Espero que gostem! Esse capítulo é bem tranquilo porque um, ele não é individual e dois, é mais para finalizar mesmo.
Ah, eu estou muito feliz com todes que estão chegando aqui na fic e apreciando ela! :D amo seus comentários e mesmo não respondendo de imediato, eu leio todinhos quando estou ignorando a EAD.
E eu estou ficando com dó do tanto que vocês xingaram o pobrezinho do Harry por demorar a perceber que o Príncipe era o Draco. Aí, vão me dizer que no lugar dele vocês perceberiam imediatamente?
Enfim, chega de tagarelice. Boa leitura!
[💘]
No final das contas, eles racharam um uber. Não deu tão caro assim e um alívio silencioso percorreu entre eles quando viram que o motorista na verdade era a motorista. E ainda mais quando ela foi super educada com eles. Existe um certo medo quando você é uma pessoa negra ou trans ou ainda uma mulher cis na hora de requerer qualquer tipo de serviço, realizar qualquer ação - algo que você não deveria ter mas, o mundo não é um lugar seguro, infelizmente.
— É bastante incomum receber pedidos de uber para onde vocês estão indo, geralmente os residentes de lá possuem seus próprios motoristas. Alguns deles são amigos meus. — Ela disse em algum ponto do caminho, seu cabelo estava preso em um coque e seus olhos focados no trânsito. Ao seu lado, um chaveiro de sapo e um terço estavam pendurados no espelho. O carro inteiro tinha uma mistura da estética carro tradicional de taxista - até mesmo os chicletes baratos no porta copos estavam lá e aquela capa de bolinha de madeira estranha no banco - e garota alternativa dos anos 2000 com uma música baixinha da Avril Lavigne tocando na rádio e o ambiente inteiro tinha cheiro daqueles perfumadores de ambiente de tutti-frutti. Era melhor do que cigarro, pelo menos.
Harry Potter foi quem começou a conversar com a moça:
— Estamos indo visitar alguns amigos, é a primeira vez que vamos para esse lado.
E Ronald Weasley continuou, humorado.
— Correção, ele é o amigo, nós somos os agregados.
— Ih, olha já, vocês que quiseram vir, não tava colocando faca na garganta de ninguém. — Harry rebateu, segurando um sorriso, tentando parecer desinteressado. Ele estava muito ocupado organizando pastas no seu celular só para colocar as fotos dele com Draco e apenas as de Draco e as dos memes que ele queria mandar para o Draco, e as fotos dele que ele mandaria depois.
Harry estava fazendo um serviço importantíssimo. Ninguém poderia interrompê-lo.
E não, ele resolveu não salvar o contato de Pansy Parkinson como sua cunhadinha favorita. Ele colocou como "e-girl franjudinha" porque "lésbica futurista" e "sapatão convicta" já estavam sendo usados com Luna Lovegood e Ginny Weasley, respectivamente.
Pensando nelas, Harry fez uma anotação mental para marcar de sair com ambas em algum dia, ainda desse mês. Fazia tempo que não conversavam e mesmo não admitindo no momento, ele gostava de seus debates sobre esportes sem sentido com a ruiva e de ter Luna analisando sua aura ou mapa astral ou qual fosse o processo diferente que ela estivesse passando naquela semana.
A verdade é que Harry estava mesmo precisando de uma pausa. Ele amava seus melhores amigos, mas ultimamente, parecia que o mundo inteiro tinha o colocado em uma mira de dramas desnecessários. Custava tanto assim para que estes dois grupos de amizade se dessem bem? O trio de ouro e o de prata? Seria tão mais fácil. Mais do que ele, Malfoy também era outro que somente precisava de um bom descanso.
As coisas iam melhorar a partir de hoje. Ele tinha certeza disso. Algo dentro de si dizia isso a ele.
"Você está voltando para casa ou vai para algum lugar com seus amigos?"
A notificação veio e Potter se xingou mentalmente. Era Remus. Hermione e Ron já tinham avisado seus pais que iam sair a algum tempo atrás. Mas, infelizmente, esse era um hábito que tinha impregnado na pele de Harry e era muito difícil de largar - não avisar para onde ia, não avisar que horas ia chegar ou sequer lembrar dessas coisas.
Porque ele cresceu sem ter alguém para avisar, alguém que se preocupasse com ele ou fizesse essas perguntas toda vez que saísse de casa ou estivesse saindo da escola.
Mesmo com os últimos anos sob os cuidados de pessoas incríveis como Remus e Sirius, ele ainda tinha dificuldades em ser um filho - tanto quanto os dois ainda tinham seus tropeços nessa história de serem pais.
Mas eles davam seu jeitinho. Ambos estavam tentando.
"Eu estou indo na casa da Pansy. Ela é amiga do Draco, acho que é lá também que ele vai passar um tempo..."
"Você está pensando em voltar muito tarde ou dormir por lá? Sirius também está perguntando se você vai beber."
"Eu estava pensando em não beber. Estou com a Mi e o Ron e eu vou precisar cuidar deles se eles exagerarem, ou seja, o sofá vai ficar ocupado."
"Tudo bem, se você acabar bebendo e passando a noite na casa dos seus amigos, tente lembrar de me avisar! E me mande o endereço da casa, qualquer emergência quero ser o primeiro a ficar sabendo."
"Eu vou te mandar o endereço. Não precisa se preocupar. Vai ficar só nós seis. Eu, a Mi, o Ron, o Draco, a Pansy e mais um amigo deles, o Blaise." E ele aproveitou para mandar o endereço da casa.
"Hm, tudo bem, então... Esse endereço eu conheço. Vocês estão de Uber?"
"Yep. E não, não precisa me passar dinheiro. Eu ainda tenho suficiente."
"Eu estou me tornando previsível? Acho que é a velhice batendo na porta."
"A velhice já bateu na porta desde que você começou a comprar chá."
"...eu bebo chá desde os quinze, Harry."
"Exatamente, Moony, exatamente. Amo você."
[💘]
Quando os três amigos chegaram na casa - lê-se mansão - dos Parkinson, era bastante perceptível a diferença do ambiente para a residente. Enquanto o lugar seguia um padrão meio antiquado de design, a própria Pansy vestia um short de couro e um moletom branco que parecia engolir seu corpo, coberto de frases em vermelho. Ela estava de braços cruzados, encostada no portão e um sorriso atrevido se encontrava em seus lábios rubros.
— Bem vindos a minha humilde residência! — Ela abriu o majestoso portão prateado com o símbolo da família - a letra P em sua caligrafia mais pomposa - para eles, ou melhor, o funcionário que cuidava da entrada apertou algum botão e fez isso. Era um senhor bastante distraído e de muita idade, mal os notava. Harry Potter estava na frente, observando o tanto de vegetação que aquele lugar tinha em seus arredores - ele não ficaria assustado se houvesse um campo de futebol escondido nos fundos ou alguma passagem secreta. O terreno era grande demais.
— Se isso é humilde eu sou o que, meu deus? — Rony sussurrou, com o intuito de que apenas os dois ao seu redor ouvissem. Seu melhor amigo segurou a risada, os três tentando parecer sem expressões.
— Devíamos ter passado em casa e trocado de roupa. — Hermione disse baixinho. O sentimento de inferioridade perante tanto luxo era real. E ela o odiava.
Sirius Black e Andrômeda não eram pessoas que admiravam a ostentação de bens materiais - talvez Sirius tivesse seus momentos - porém não significava que eles não possuíam uma boa quantia de dinheiro com eles, já que uma vez pertenceram às famílias elitistas da cidade antes de terem sido completamente excluídos por causa de suas ações consideradas "imorais" e uma afronta aos "bons costumes". A linhagem Black estava quase toda a sete palmos do chão e na falta de herdeiros, adivinha para onde toda sua antiga fortuna tinha parado?
Remus Lupin era quem puxava o freio de Sirius, o professor era alguém que detestava que pagassem qualquer coisa para si à toa - gostava de ser dono da sua própria independência. O tipo de pessoa que aprecia muito mais o sentimentalismo envolvido em ações e não sabe como receber itens caros sem ser com a necessidade de devolver com algo do mesmo nível. Tendo isso em mente, Harry nunca mais precisou passar por nenhum tipo de sufoco como não ter nada para comer ou roupas novas da mesma maneira que lhe ocorria em sua antiga residência - todavia, é de se notar que sua privação de itens básicos tinha sido não por causa de dinheiro mas muita negligência dos seus antigos responsáveis, não responsáveis.
O menino também tinha uma quantia mais do que grande vinda do seu pai, James Potter. Mas, não poderia mexer na quantia até que atingisse a maioridade. Um evento não tão distante assim do presente.
Harry pensava bastante em gastar o dinheiro conhecendo o mundo, talvez levar seus amigos consigo. Talvez conhecer o Japão ou o Egito. Ele sorriu com a recordação de que Draco falava francês - ah, como ele era bobo pelo seu sotaque, seria incrível ter ele sendo seu guia pelas ruas parisienses. Dividir um daqueles pães e queijos finos em alguma padaria, como se estivessem dentro de um clipe musical. Quase sonhou acordado com a ideia de tê-lo em seus braços, o guiando em uma dança como se somente houvessem eles no mundo.
Harry engoliu em seco. Que tipo de sonhos acordados eram esses? Viajar pelo mundo com o Draco Malfoy? Logo Paris, a terra dos românticos? Ele estava indo rápido demais, pisando sem freios no acelerador. Como se o loiro fosse aceitar entrar no mesmo ritmo que ele. Eles precisavam conversar.
O menino sentiu uma cotovelada sutil na costela, era Ron, como se estivesse dizendo "Terra para Harry Potter". Eles já estavam passando pela porta - você reconhece que uma casa é chique pelo tamanho da porta dela e a de Pansy suportaria facilmente a passagem de trinta lutadores de sumô de uma só vez, cheia de entalhes em sua madeira que, não precisava ser nenhum gênio para saber que tinha custado mais do que a vida de alguém. - E quando eles passaram pela entrada, a porta deixou de ser tão impressionante assim e seus queixos foram levados ao chão.
A sala da mansão de Pansy era igualzinha as das novelas mexicanas!
Harry coçou seus olhos como uma forma de testar se estava mesmo vendo isso ou alucinando, porém não restava dúvidas. Mármore branco por todos os cantos, a escada dupla com uma lareira e um quadro no centro, um canto com sofás espaços e aberturas gigantes para os outros lados da residência - tudo com um grande e brilhante lustre em cima de suas cabeças - e claro, como esquecer das janelas e estátuas por todos os arredores, afinal não bastava o comprimento e largura exagerados, a sala também tinha uma altura exagerada. Incrível, aquilo tudo era muito absurdo.
Hermione Granger enchia a boca para falar de como o capitalismo era um sistema falho e que milionários não mereciam pena e ela os odiava com todas as forças mas porra - estando tão perto assim de tanta riqueza, era impossível não se deixar levar e invejar com força.
Pansy Parkinson se espreguiçou como se estivesse entediada, parecia estar até se segurando para não bocejar diante das reações deles.
— Vamos subir, os meninos estão no meu quarto. — Ela começou a ir pela escadaria da direita e o trio a seguiu.
— Psst. — Hermione era quem estava aos sussurros agora, Ron automaticamente se aproximou dos dois para ouvir o que fosse que ela estivesse dizendo. — Pensem comigo, se a Parkinson é rica a esse nível e o Malfoy é pelo menos uns cinquenta por cento a mais...
— O filha da puta mora em um castelo. — O ruivo parecia assustado, sussurrando mas dando ênfase em suas palavras para expressar sua agitação. Sussurrando e gritando. — E nós achávamos a casa da Andrômeda chique!
— A casa dela é chique. — Harry interrompeu, falando tranquilamente. Talvez o único verdadeiramente aos sussurros. — Isso aqui é chocante.
— Será que esses herdeiros constroem essas casas querendo compensar outra coisa?
— A falta de vergonha na cara? — Hermione respondeu a Ron.
— Eu ia dizer que era o pau pequeno, mas isso também serve. — Harry piscou com força com as palavras do amigo e mordeu o lábio para evitar rir, Hermione selou os lábios um no outro tentando apagar seu sorriso largo.
— Vocês três são mais mariazinhas fofoqueiras que eu, o Blaise e o Draco nas festas do colégio. E eu achando que isso era impossível. — Pansy disse, zombeteira e Hermione automaticamente fez uma careta descontente. Dizendo logo em seguida e no seu costumeiro tom alto e claro:
— Me recuso acreditar nisso. — Parkinson deu uma risada seca.
— Claro, por que quando nós concordamos em algo, não é? — A cacheada torceu o nariz com o veneno respingando da boca de Pansy - cobra nojenta foi o primeiro xingamento que apareceu em sua mente quando a garota de fios pretos parou de falar. Hermione sabia que ainda haveriam faíscas depois de tudo, Draco tinha dito que ela pediria desculpas mas, obviamente, isso não iria sair tão facilmente assim.
Harry pousou a mão no ombro dela e quando a menina olhou para suas orbes esverdeadas e sobrancelhas tensas, ela entendeu; sem brigas, pelo menos por agora.
O quarto de Pansy era o único cômodo da casa que tinha as portas rudemente pintadas de preto. Os três sentiram bastante curiosidade de como ele deveria ser por dentro - talvez tivesse fitas de "cuidado" como em uma cena criminal, por todo o lado ou sei lá, papel de parede rasgado e um cadáver em decomposição na cama. Pansy parecia ter orgulho dessa pose de punk glamourosa de condomínio dela. E seus dois melhores amigos, os quais sempre estavam por lá, pareciam compartilhar da mesma energia dela, então...
Ah, meu Deus.
Foi o que se passou na cabeça deles, no minuto exato em que entraram no quarto.
A decoração era bem como eles pensavam, claro, não tão "um animal perigoso vive aqui dentro" e não lembrava uma cena de crime, completamente. As paredes eram uma mistura estranha de cinza com branco, havia muitas fotos polaroids espalhadas em todas as parede, com vários pôsteres e tranqueiras de decoração, e a cama central, com um lençol preto e muitos travesseiros - além de algumas pelúcias, incluindo um coração verde bebê cuja cor não ornava com mais nada no quarto.
Mas o que foi chocante eram os rostos de Astória Greengrass e Theodore Nott na tela do computador sob a escrivaninha de madeira escura. Rindo e gritando enquanto Draco Malfoy corria incansável atrás de Blaise Zabini que, em suas mãos, estava sendo segurado com firmeza e em direção ao teto um item da mesma maneira como se estivesse erguendo um troféu.
— ME DÁ MEU CELULAR E EU NÃO DECEPO TEU PINTO, SEU MERDA! — Foi o que Draco gritou, no minuto em que eles entraram, vermelho de ódio.
— VOCÊ NÃO ME DÁ ATENÇÃO COM ELE! — Blaise estava rindo, ele era muito mais alto que o outro garoto e isso lhe dava uma imensa vantagem, da qual sabia muito bem como aproveitar.
E assim estavam eles, correndo em círculos, pulando pelos móveis como se isso fosse de alguma forma melhorar a situação e não deixá-la mais ridícula. Granger e Weasley sem saber o que fazer, embasbacados quando Draco bateu com um travesseiro nas costelas do amigo e pulou em cima dele, o qual teve a reação de se jogar no chão e abraçar o celular, como se protegesse um filho, gritando "AAAAAAAA".
— PORRADA! PORRADA! — As vozes de Theodore e Astória sobressaiam na chamada, tão altas que dava para ouvir ruídos. Harry não estava tão chocado quanto seus dois amigos. Na verdade, ele tinha uma expressão tranquila, muito parecida com a de Pansy.
Porque Draco, enquanto ainda era apenas o Príncipe, adorava contar suas histórias tanto quanto Harry adorava contar as suas próprias. O verdadeiro Draco era alguém assim, expansivo quando se sentia seguro e que corria atrás dos amigos usando apenas uma camiseta, short de moletom e meias. Ele era alguém de vários lados, como qualquer pessoa.
Havia um lado muito adorável de Draco que não era a imagem distante, arrumada e fria dele. Havia um lado adorável.
Assim como também tinha Pansy que em vez de simplesmente gritar junto dos seus dois amigos, como você imaginaria que alguém com a fama dela fizesse, apenas ergueu o dedo do meio para eles e desligou a chamada - se Harry fizesse isso com Ginny ou Hermione, ou Ron, ele ouviria sermões por uma semana e frases como "Achei que ia esquecer de se despedir hoje, também!" Mas a amizade deles era diferente. Pansy puxou os dois pelas golas da camisa antes que tivessem a chance de se matar.
— Blaise, por que você pegou o celular do Draco?
— Porque ele estava chato. Não tirava os olhos dele. E não ouvia a conversa que nós estávamos tendo.
— Eu realmente não preciso ouvir a Astória falando de como acabou entrando em um trisal e os flertes descarados do Theo em cima de mim!
Ah, espera, disso Harry não estava sabendo. Theodore Nott flertava com Draco Malfoy desde quando?
— Ele flerta com todos os seres que respiram. Admita que você já até se acostumou. — Parkinson afirmou. Bem, isso era verdade. Theodore além de muito bom jogador também era um excelente galinha. Pensando melhor ainda, todos do grupinho de Draco ganharam fama de quebradores de corações em algum ponto de sua trajetória escolar. Harry apenas sabe que muito sobre essa fama não é baseada em fatos completamente verdadeiros por causa de Draco.
Mas nem tudo era mentira. Todos eles tiveram suas cotas de encontros casuais ainda muito jovens. Pansy adorava encontrar pessoas através de aplicativos - o que não era nada seguro, contudo, estamos falando de menores de idade que conseguem entrar em baladas e beber como se não tivessem um fígado para cuidar e zero presença de responsabilidade parental em casa. Blaise nem precisava tentar - aparentemente as pessoas simplesmente caiam aos seus pés e Draco beijava estranhos que se encantavam por ele em festas.
Draco dizia que não tinha tempo e muito menos segurança para viver um romance da forma que achava interessante. Esses encontros casuais não eram nada além de válvulas de escape da realidade. E essa informação virou uma pedra em sua garganta. Malfoy não vivia romances por causa da sua família, e agora, sua situação familiar continuava não sendo das melhores. Harry sabia que alguma coisa estava acontecendo entre eles - embora ainda tivesse suas inseguranças -, e se aquilo continuasse, Draco puxaria o freio e se afastaria ou ele iria com tudo junto de Harry?
Potter apagou todos esses pensamentos de sua mente. Talvez Draco apenas estivesse vendo nele um amigo confidente e íntimo, não, vamos levar as coisas com calma, pensou. Afastando todas essas questões não resolvidas de sua mente, ele percebeu que o dito cujo cumprimentava eles com um aceno, e parecendo robôs de tão constrangidos, seus amigos devolvem do mesmo jeito. Ao fundo, Pansy estava discutindo alguma coisa sobre devolver o celular, mandar ir tomar no cu e onde Blaise tinha colocado a sacola de bebidas.
O olhar de Draco se levou até o de Harry, eles se encararam um pouco. Frente a frente, o loiro parecendo ansioso por alguma coisa, com as mãos agitadas. Harry também sentiu as próprias mãos coçando e entendeu depois de um segundo o que essa situação significava.
Draco não sabia se poderia abraçá-lo na frente de seus amigos. E Harry queria que ele fizesse isso. Muito. Mas nenhuma palavra era dita. Nenhum passo era dado.
Os dois adoravam esses pequenos afagos carinhosos, uma das linguagens do amor, o jeito de dizer que apreciava uma pessoa - para Harry, era através do tato. Ele adorava bagunçar o cabelo de Teddy e o carregar no colo, ele sempre estava dando abraços, afagando os ombros e as costas de seus amigos. Todo o time costumava ser recebido com um "toca aí". Inclusive, seus padrinhos eram quem ele mais abraçava e sentia seguro quando o fazia.
Ele achava muito divertido as reações de Draco com os toques. Draco era alguém um tanto quanto delicado, centrado e nenhum pouco acostumado com tudo isso, embora desse suaves beijinhos em Harry, nas suas bochechas e testa - ele sempre fazia isso de um jeito quase fantasmagórico. Não era do mesmo jeito de Harry, o qual era mais energético, mas tampouco deixava de perder algum significado. Malfoy era carinhoso através de suas palavras. Com presentes. Com o tempo em que passavam juntos.
Harry estava se aproximando e erguendo suas mãos na direção dele, abrindo seus lábios para dizer algo quando o barulho de uma sacola contra a cama e vidro batendo um no outro se fez presente, chamando a atenção de todos para o outro lado. Era Blaise e Pansy com as bebidas espalhadas sem cuidado nenhum no centro da cama e com o mesmo atrevimento de antes, ela disse:
— Que tal nós jogarmos um pouco?
Ronald Weasley foi quem fez o primeiro movimento. Em uma tentativa bem sucedida de se mostrar experiente naquilo, ele se jogou na cama, se sentando de uma maneira preguiçosa.
— Você é a dona da casa e das bebidas, nos diga que jogo tem em mente.
O sorriso dela não morreu, em vez disso, ela se sentou elegantemente com Blaise a acompanhando na cama, de frente para o ruivo. Hermione, de braços cruzados, também vestiu sua melhor pose de garota má - e sim, ela tinha uma pose assim. Consistia em tentar andar com a coluna ereta e o queixo erguido. Geralmente funcionava. Às vezes não. Dessa vez foi um meio termo - e foi se sentar ao lado do namorado.
Tão concentrados em si mesmos, nem viram os dedos de Harry e Draco naquela tensão de se encostarem ou não enquanto estavam tão perto, nem o olhar que eles trocaram. Um "vamos lá" silencioso foi proferido e eles se sentaram um de frente para o outro, com as pernas em borboleta.
Meio letárgico, mas ainda assim, eles estavam em círculo. Pansy deu uma risadinha, apoiando o rosto com a mão.
— Todo mundo pega uma garrafa. Nós vamos ser clássicos hoje, o bom e velho "eu nunca" para nos conhecermos melhor.
— Talvez o problema seja justamente que nós já nos conhecemos. — Hermione mais murmurou para si mesma do que disse com o intuito de ferir alguém. Todos ignoraram sua frase, fazendo como lhe foi dito. A sacola encontrando o chão do quarto com todos os movimentos de ataque em cima das bebidas.
— Graças a filha do dono do mercado que tem uma queda enorme pelo Blaise, nós conseguimos ainda mais álcool. Ou seja, toda vez que alguém já tiver feito alguma coisa durante o jogo, não quero economia nos goles.
— Vai ser realmente divertido ver o quanto vocês demoram até ficar bêbados. — Blaise disse. E Harry viu um esboço de sorriso aparecer nos lábios de Draco.
Ah, claro, Draco sabia em que momento Harry e seus amigos ficariam bêbados. Com o número de irmãos que Rony tinha, se o ruivo não tivesse uma resistência considerável a álcool, isso sim seria algo estranho. Hermione sabia fingir mas a partir de um certo ponto, ela começava a perder os sentidos e mal conseguia se equilibrar. E como contou diversas vezes para o menino em sua frente quando ainda não sabia seu nome: Harry Potter era o pior bêbado do mundo.
Isso porque ele era imprevisível. Harry perdia completamente a noção e agia pelos instintos quando a bebida tinha chegado a outro nível em seu corpo.
Foi assim que ele terminou em um beijo triplo com dois adolescentes aleatórios e depois em uma briga com outro cara mais desconhecido ainda na famigerada festa de Cho Chang - deus, ele estava fodido.
— Tudo bem, tudo bem, eu começo. Eu nunca tive uma queda por um professor. — Pansy disse, jogando o abridor de garrafas para Hermione, que bufou, tomando um gole com uma careta. Ninguém mais tinha bebido.
— Fazer uma pergunta especificamente para mim, que maduro da sua parte. — Foi o que a cacheada respondeu a afronta. — E praticamente todas as meninas tiveram um crush no Lockhart.
— Eu sou lésbica, queridinha, e tenho certeza que mais um monte de meninas também. Além do mais, estamos com vários homens que se atraem por outros homens aqui presentes se não estou enganada. E nenhum deles foi com a cara do nojentinho. — Ela rebateu e Hermione se calou. Ela não estava errada. Ronald dizia não se importar com gênero, mas não se rotulava. Harry era orgulhosamente bi, Draco era gay e Blaise pansexual. Hermione era a única hétero ali, visto que era uma garota que somente tinha se atraído por homens, até agora. — Próximo.
— Eu nunca fiquei com mais de dez pessoas em uma noite. — Draco deixou sua voz se espalhar pelo ambiente, seus dizeres deixando alguma coisa dentro de Harry se remexer. Ele já tinha ficado com quantas pessoas em uma noite? Nunca com dez mas e nove?
Sem surpresas, apenas os amigos dele beberam. Harry brigou consigo mesmo. Quem era ele para julgar? Que direitos ele tinha para se sentir incomodado nessa história?
Talvez Harry estivesse apenas sentindo inveja das outras pessoas que tiveram chance. Talvez fosse apenas um ciúmes estranho.
Harry podia dizer que ficou com cinco pessoas - das quais ele lembrava. Ele não era um garoto de festas e sabendo do desastre que era quando estava bebendo, preferia evitar fazer isso em locais com muitas pessoas. Mas, ele ainda era um garoto curioso, atraente e sem muitos problemas para chegar nas pessoas.
Ele deixou esses pensamentos mesquinhos para trás - e droga, como estava demasiadamente fazendo isso esses dias, uma hora ou outra teria que combater tudo isso - focando na brincadeira e percebeu um olhar de canto um pouco descontente de Pansy para Draco, que apenas deu de ombros. Mas Potter ignorou isso, achando que estava sendo levemente paranóico.
— Como diabos vocês ficaram com mais de dez pessoas em uma noite? — Ron guinchou observando os dois dando um longo gole em suas garrafas como se fosse água. — Vocês são menores! Que lugares andam frequentando? A mãe de vocês morreu? — Pansy deu uma risada alta, acompanhada de Blaise, mas Draco só deu um sorrisinho fraco.
É, falar de mãe era tudo que ele não precisava, agora. Harry quis tocar sua mão, mãe eles estavam muito longe para isso.
— Olha... — Pansy respondeu. — Não morreu não. Mas ela e o meu pai são tipo o mestre dos magos.
— Fala uma bosta por dois minutos e vai embora. — Blaise completou, com escárnio.
— Meu deus, alguém chama o conselho tutelar. — Ron murmurou, então continuou, percebendo que era sua vez de jogar. Ele parou por um minuto, como se estivesse pensando e disse: — Eu nunca dei um beijo triplo.
Pansy e Blaise beberam e Harry, se sentindo constrangido, encarou por um longo minuto a garrafa em sua frente, dando um gole esperando passar despercebido. O que, obviamente, não aconteceu.
Ali estava os olhos de Draco o encarando sem expressão nenhuma, juntamente dos seus amigos - os quais ele não tinha contado sobre essa experiência catastrófica - e os sorrisos de Blaise e Pansy, pequenos, mas carregados de divertimento.
— Ho-Ho-Ho. — Blaise deu uma risada rouca e irônica. — Que inesperado do garoto de ouro.
— Pelo menos alguma coisa nesse jogo foi inesperada. — Hermione rebateu, mostrando seu lado ácido. Ron ficou calado, Harry sabia o que ele estava pensando "Por que não me contou? Quando isso aconteceu?" mas ele não dizia nada, talvez por que não quisesse mostrar o quão frustrado ele ficava por ser o último a saber das coisas na frente dos outros, de novo.
Harry quis tirar alguma coisa - qualquer reação do rosto de Draco. Mas ele era como uma pedra de gelo quando queria e ele estava assim agora. Então, suspirou e disse:
— É por coisas assim que não costumo beber muito.
— Awn, que pena que foi uma experiência ruim. — Pansy disse. — Mas me diz, esse beijo por acaso não aconteceu na festa da Cho, não é?
— Por acaso foi sim. — Harry cruzou os braços, franzindo o cenho. — Por que a pergunta? - O atrevimento de Pansy aumentou, encarando o garoto por debaixo dos cílios.
— Você não sabe mesmo? Jura? Juradinho?
— Como eu disse, eu estava bêbado. Eu nem sei quem eram essas duas outras pessoas. Sei que não conhecia elas.
— Pois eu posso refrescar a sua memória…
— Você já se lembra de muita coisa dessa festa pra quem estava bêbada. - Harry interrompeu, um pouco brusco. Ele era alguém calmo no limite do possível, mas pedir para ele segurar sua língua se tratava de uma quase afronta ao seu ser. Pansy nem tremeu, na verdade, era de sua natureza adorar a acidez.
— Hm, não é como se falar muito sob efeito de álcool fosse um problema pra você. Não concorda, Draco? Está tão quieto… — Draco apenas ergueu a sobrancelha direita, levemente, mordendo discretamente o lábio e virando o olhar.
Claro que Pansy ia fazer questão de trazer a confissão alcoolizada por mensagem de Malfoy a tona em algum momento, nem que fosse de maneira sutil e indireta. Harry, nesse momento, percebeu que algo verdadeiramente estava errado. Draco se encolhia e se calava quando não queria trazer a luz dos problemas para cima de si e Pansy e Blaise se tornavam essas caricaturas de nariz empinado quando estavam tramando algo.
Por um segundo, Harry se lembrou do ano passado.
Você pode mudar, você pode evoluir, mas a sua essência…
Ele suspirou.
— O que você quer contar sobre essa festa?
— Há boatos de que você beijou Cedrico Digorry e Cho Chang em um desafio. Na verdade, há boatos de que você é o garoto que se pegou com a Cho Chang nos fundos da escola.
Hermione Granger de repente demonstrou sintomas de tuberculose e quase tossiu seus pulmões para fora. Ron acariciou as costas dela gentilmente. Potter, calmamente, retrucou:
— Talvez sim. Talvez não. Como eu disse, a única certeza que eu tenho é que eu não conhecia as pessoas que eu beijei. Eu estava muito bêbado e não lembro absolutamente nada daquela noite exceto muitos poucos relances. — Ele relaxou os ombros, um passo de parecer folgado. — Mas do que importa reviver isso? Todo mundo fez alguma coisa nessa festa. Cedrico e Cho já se resolveram e não vai ser porque descobriram a identidade do cara que ela beijou que alguma coisa vai mudar. O erro foi feito. Eu não sinto ou mantenho nada com nenhum dos dois. Nem com qualquer outra pessoa ou sei lá quem eu tenha ficado naquela festa. Não é você mesma que sempre sai com uma garota diferente, sem apegos? — Harry deu um pequeno sorriso.
Ele estava tentando deixar claro que nada tiraria sua paz. Podia acontecer o que fosse em sua vida, Potter já tinha controle o suficiente para permanecer calmo e saber o que fazer. Claro, ele ainda tinha aquela personalidade flamejante que ia rápido demais, intenso demais nas coisas. Mas dramas adolescentes? Beijos de festa? O que isso importava no final de tudo?
Existe uma certa compreensão do que é grande e o que é pequeno quando os problemas que você já teve como referência foram incrivelmente dolorosos. Na verdade, era quase tranquilizante que agora ele estava ali, vestido em roupas confortáveis, sentado em uma cama confortável, bebendo confortavelmente com os amigos do garoto que ele gostava, os seus próprios amigos ao seu lado.
Um adolescente normal.
O Harry Potter de doze anos, em um porão frio e faminto, ficaria completamente maravilhado com isso.
Pansy deu uma risadinha que o tirou desse devaneio.
— Credo, Potter, eu tava brincando, deixa de ser chato! — Ela jogou um de seus travesseiros em cima dele, e ele retribuiu a risada suavemente. — Mas sério. Esses boatos realmente existem. Você devia tomar cuidado.
— Existe todo tipo de boato sobre a minha vida amorosa.
— A maldição dos multisexuais. — Blaise disse, murmurando sozinho. — E dos bonitos.
— Mas agora com gente publicando fotos suas por aí, esses boatos tem que começar a importar. Porque é muito fácil uma tirada de contexto estragar sua vida. — Pansy não deixou Harry responder, o interrompendo. — Faça sua pergunta, Granger.
Hermione estava de braços cruzados, uma nebulosa estranha ao seu redor.
— Eu nunca fui corna.
— É claro que não foi. — Álcool bebericou nos lábios de Parkinson, unicamente, um silêncio estranho se estabeleceu no local.
A pergunta era clara no rosto de todos, Draco e Blaise pareciam gritar: "Como tu sabes? Quem te contou?" em direção a Granger. Os de Ronald e Harry se perguntavam "Pansy já namorou em que momento que ninguém nunca soube?" e os olhos das duas pareciam travar uma batalha de encarar.
Hermione tinha entendido o jogo.
Amizade para Blaise, Parkinson e Malfoy não era apenas trocar meia dúzia de palavras. Talvez Malfoy estivesse bem apenas com isso, mas para os dois - principalmente para Parkinson, Blaise deveria estar mais porque gostava de um circo pegando fogo - amizade era sobre ter segurança.
— Você é muito astuta. — Granger sussurrou.
— É apenas um jogo. Não me elogie. — Parkinson respondeu no mesmo tom, porque era verdade.
Era mesmo apenas um jogo.
Com a intenção de que Hermione, Ronald e Harry falassem todos os seus segredos. Todas as suas vergonhas. Ficou extremamente óbvio quando Pansy encheu Harry de perguntas sobre aquela festa da Cho. Ele não tinha o que esconder lá, no entanto.
A cacheada tinha o nome disso na ponta da língua. Idiotas, inseguros e patéticos.
Qual era a dificuldade de tratar isso com normalidade? Por que tudo com o trio de prata sempre era problemático?
Por que Pansy precisava iniciar essa amizade sabendo de algo ruim da vida deles? Para que pudesse controlar? Para que pudesse se proteger?
Aquele trio era tão fodido assim?
Harry fez a pergunta antes que ela encontrasse as respostas da próprias. Roubando a atenção de todos.
— Bem, eu nunca roubei um carro. — Ele disse parecendo bem sério, porém logo começou a rir quando ouviu a voz esganiçada de Ron, rindo também.
— Parou! Parou! Parou! — O ruivo resmungava. Ele deu um gole na bebida. — Mas você tecnicamente roubou também!
— Eu não, eu fui sequestrado, não cúmplice.
Os ouvidos de Harry captaram uma risadinha baixa escapando de algum lugar e ele se animou quando viu Draco tapando os lábios com a mão de um jeito discreto. Blaise parecia animado e já foi perguntando:
— Hã? Que história é essa de roubo de carros?
Hermione piscou. — Não é tão interessante quanto parece. Harry e Ron estão exagerando.
— Quando nós tínhamos catorze anos… — Potter começou a contar, ignorando a nota da amiga. — Ronald insistiu horrores que nós devíamos ir em um show de rock. Sabe, aquele que teve alguns anos atrás que rolou até uma briga? Enfim, pior lugar para crianças. Mas alguém… — Ele olhou para o ruivo. — tinha colocado na cabeça que não era mais criança, então, roubou o carro do pai e foi até a minha casa pra gente poder ver esse show. Nós tínhamos identidades falsas, teria sido tudo perfeito… Mas esquecemos do importantíssimo detalhe que nenhum de nós dois sabíamos dirigir.
— Achei que seria algo instintivo! Como nos filmes! Acelera e vai! — O garoto se defendeu.
— Eles foram no show mas arranharam o carro todinho. Ronald ficou de castigo por meses. — Hermione completou, tentando não sorrir com a história.
— Todo mundo tem uma fase meio rebelde, okay? — O ruivo rebateu, divertido.
— Eu acredito que isso se encaixa mais em falta de neurônios do que rebeldia.
— Ela não tá errada. — Draco disse.
— Bem, bem, bem, então, minha vez! — Zabini trouxe os olhares a si. — Eu nunca… Eu nunca ultrapassei o "limite". — Ele percebeu que havia expressões confusas nas feições dos visitantes. — Ah, certo, okay. Hã, desculpa, eu tinha me esquecido. O "limite". — Ele fazia aspas com os dedos. — É um código. Usado principalmente entre os jovens de famílias ricas. Alguns outros em Hogwarts também conhece. Ficou popular em grupos específicos. Como eu posso explicar… — Ele pensou um pouco. — Okay, os nossos pais cagam para o que a gente faz com a nossa vida privada. Mas existem algumas cagadas muito ruins de serem limpas. Por exemplo, ir para festas, beber, fumar cigarro ou maconha, beijar, sexo… É okay. Sabe? Identidades falsas… Mas por exemplo, fumar drogas pesadas, como heroína, engravidar alguém ou fazer sexo com o filho de alguém muito importante, roubar coisas, traficar… Coisas pesadas. Se somos pegos fazendo isso, a coisa poder ficar muito feia.
Harry apertou os olhos, curioso, isso era algo que ele não sabia.
— São pegos por quem, exatamente, seus pais? — Ele perguntou.
— ...É. No caso de vocês, eu acho que vale os pais, algum professor, mas no nosso caso também inclui fotógrafos, paparazzis, policiais… — Blaise continuava falando, com uma expressão meio divagante. — Eu estava pensando naquela foto sua e do Draco que viralizou. Bebe aí, loirinho.
Draco suspirou, tomando um gole orgulhoso. Depois, ele fez uma careta e explicou:
— Vazamento de informação prejudicial aos negócios da família. Pego por fotógrafo. Ou como o Theo gostava de chamar…
— Pegos com a boca na botija. O pau para fora das calças. — Pansy completou. Então sorriu. — Eu não sei se esse limite vale para o Harry.
— Se o Draco teve que beber por causa disso, acho que eu deveria também. — Ele disse, fazendo poucas cerimônias e virou uma dose.
Ele sentiu arder em sua garganta e alguma coisa nele gritou: se você continuar nesse ritmo, vai ficar bêbado.
Seu último ato antes que sua consciência se esvaisse foi mandar uma mensagem para Remus. Ele não ia dormir em casa hoje.
[💘]
Tudo foram flashes.
Memórias picotadas.
Ele lembra do quarto de Pansy ficando muito bagunçado.
Ele lembra das vozes de todo mundo surtando. Música alta.
Talvez eles tenham ligado para Astória e Theodore de novo e gritado mais ainda - tinha a luz da câmera de alguém.
Teve ele apagando no chão.
Teve ele acordando desse chão. E talvez essa tenha sido sua memória mais longa pertencente a madrugada.
Ele se arrependeria se não fosse.
Draco Malfoy estava ao seu lado, no escuro, não podia ver suas feições, mas o menino sabia que era o loiro por causa do jeito que ele estava sussurrando com a intenção de que acordasse. "Harry, Harry, acorde." Ele sentiu um tecido sendo posto por cima de si.
— Eu sei que é o pior momento. Mas eu tenho que te mostrar uma coisa. Veste esse casaco, está muito frio lá fora.
— Existem outras maneiras que você pode me aquecer. — As palavras de Harry escorreram como mel em seus lábios, grudentas e suaves. Ele piscou várias vezes antes de acordar completamente. Tendo certeza de que ouviu um suspiro surpreso de Draco. Uma parte dele se revirou. Você acabou de dizer o que, Harry James Potter?
— Você realmente é do tipo que gosta de flertar quando está alterado. — A voz de Draco estava mais baixa.
— Eu sou?
— É. — Ele sentiu mãos suaves passando pelo seu ombro e os lábios do loiro se aproximando de sua orelha. O cheiro inconfundível do seu cabelo tomando conta de bom grado do seu pulmão. — Mas você não pode fazer isso.
— Por que não?
O toque se apertou. Harry foi quem suspirou.
— Porque eu não posso te beijar assim.
O mel parou de escorrer. Os olhos de Potter se arregalaram. Mas os de Draco não e o toque se afrouxou.
— Eu sei que você vai fazer o nosso primeiro beijo ser o mais bobo e romântico possível. E eu espero isso. Mas nós dois meio bêbados no chão da minha melhor amiga…
— É o contrário disso. — Ele finalmente conseguiu se forçar a dizer algo. — Isso também não conta como a nossa declaração oficial, certo?
— Certo. Mesmo que eu ache que nós acabamos não precisando de uma.
— Eu falei… Muita coisa…
— Bêbado? É.
— Quando nós ficarmos sóbrios…
— É.
O jovem Harry respirou fundo, ele passou os dedos no rosto quente de Draco e com delicadeza alcançou seus dedos delgados, os entrelaçando.
— Me leve até onde você quer que eu vá.
Potter não precisava de luz para saber que Malfoy estava sorrindo.
[💘]
A sua mente apagou de novo.
E quando acordou, ele estava caminhando com o rosto para baixo, mirando a grama abaixo de seus tênis, um pouco bambo e agasalhado por um moletom preto. Ele não ergueu o olhar, se sentindo um pouco tonto, notou que estava segurando uma mão que o guiava e que, contrastando com seu próprio moletom, vestia branco. Ele piscou várias vezes e percebeu que tudo ao seu redor eram as árvores que vira na entrada da mansão. Eles deviam estar mata a dentro.
Ele murmurou, franzindo, o cenho: — Draco…?
Então a pessoa parou e o empurrou para trás, Harry gemeu de dor no instante de sua coluna bateu contra o solo e fechou os olhos, sentindo os braços tão familiares circundando sua cintura, ele aumentou o tom: — Mas que… — Então ele abriu os olhos e viu o céu. E nada mais saiu dos seus lábios. Nem mesmo um suspiro.
Havia estrelas, milhares de estrelas brilhantes e magníficas por todo o céu. Como se não houvesse nuvens ou fumaça ou qualquer outra coisa que as impedissem de serem contempladas. Como se o universo inteiro tivesse decidido se aproximar um pouco mais da humanidade.
Os braços ao redor de sua cintura se afrouxaram, e sentado sobre suas pernas, Draco tirou o capuz que cobria seu rosto, deixando que os astros iluminassem desde os seus olhos cor de tempestade, até seu cabelo, até às suas bochechas coradas e seu sorriso enorme.
Harry simplesmente disse, encantado:
— Isso é a coisa mais incrível e linda e maravilhosa que eu já vi. — Ele mal piscava. — Isso… isso não é um sonho, é?
Draco riu e tudo ficou ainda melhor.
— Não, não é. — Draco se ajeitou sobre o corpo de Harry, voltando a abraçá-lo, o qual aceitou de boa vontade. O orvalho acariciando suas peles. — Eu estive querendo te fazer ver isso desde que vi as estrelinhas coladas no seu teto.
— Obrigado, príncipe. Isso foi realmente perfeito. — Ele passou um braço ao redor do corpo do garoto agarrado a si, ousando fazer carícias quase invisíveis em seu braço. De repente, ele se lembrou de algo e não pode evitar sorrir. — O que você escreveu atrás do desenho das constelações e das flores que você me deu… — Ele sentiu os dedos de Draco apertarem o tecido de sua camisa.
— Você…
— Você me faz sentir como se eu fosse a estrela mais bonita do céu. — Harry se virou para encarar o rosto do loiro. — Foi isso que você escreveu?
— ...Foi.
— Você não estava errado. — O rosto de Draco ficou ainda mais vermelho. — Nós somos as estrelas mais bonitas do céu.
O garoto se escondeu no peito do outro, o abraçando mais forte. Harry o acolheu, dando risadas baixas e calorosas.
— Me promete que mesmo que nada disso dure, você nunca vai esquecer essa noite?
Harry parou de rir, mas não deixou de sorrir com a pergunta. Firme em sua resposta.
— Do fundo do meu coração, eu prometo.
Ele seria mesmo incapaz disso.
[💘]
Uma melodia se fez presente no cômodo mais afastado do quarto onde os outros jovens haviam apagado. Ela era suave, perfeitamente cronometrada e se assemelhava a uma cantiga de ninar.
Um violino se tocava perfeitamente.
Observando o mesmo céu que pertencia aos amantes inconsequentes, Blaise Zabini tocou sua última nota, solitário e de olhos fechados. De modo que deixava claro que aquela música, ele já conhecia de có e salteado. Ao chegar ao fim, guardou o violino e, recostado na varanda murmurou, enquanto acendia um cigarro e o brilho da lua banhava sua pele negra, de modo que ele parecia tão inalcançável e tão bonito quanto uma pintura. O calor alcançando seu corpo.
— Boa noite, vovó.
A fumaça se esvaindo pelos céus.
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