11. Then, he spoke softly to me

Notas inicias:

Obrigada a todo mundo que veio do toktok só pra ler minha ficzinha, prometo atualizar mais frequentemente e responder todos os comentários \0/ Eu amo vocês, gente, de verdade

Hoje é um dia cruel. Sinto muito, hahah, mas é melhor só puxar o band-aid de uma vez.

Capítulo tem onze mil palavras, então, peguem um chá, um café e uma água e tenham certeza que a câmera da Ead não está ligada. Boa leitura! Não esqueçam de me seguir para acompanhar as postagens de one-shots Drarry do projeto Dezdrarry!

[💘]

Hermione Granger é Hermione Granger.

Humana. Garota. Adolescente. Características fundamentais sobre si mesma que todos parecem esquecer. Eles enxergam uma carcaça vazia formada apenas por inteligência e prepotência. Eles enxergam aquilo que ela se dedicou fervorosamente a moldar durante todos os seus dessesete anos de existência. Ninguém fez o esforço de conhecê-la. Ninguém fez o esforço de simplesmente raspar aquele molde fino e ver o que tinha ali embaixo. Ninguém além de seus pais, Jane e Richard Granger.

Então, ela tinha doze anos.

Era o primeiro dia dela naquele colégio. Ela era uma garotinha, usando maria chiquinhas e cheia de sentimentos conflitantes no seu estômago adentrando um prédio enorme, de arquitetura que lhe lembrava as construções mais antigas da cidade, o muro, por exemplo, era feito completamente de pedras. A diretoria tinha a elogiado - ou tentado - pela sua magnífica performance no teste de aprovação para aquela bolsa de estudos. A verdade é que ninguém ali dentro daquela sala esperava que ela conseguisse passar, ninguém além de sua família.

Aquela era uma escola onde pessoas muito ricas estudavam e a sua maioria era tão branca quanto um folha de papel, olhavam para Hermione de cima a baixo como se ela fosse uma estranha, uma fênix dentro da água, um peixe que tinha aprendido a voar. Afastaram-se todos dela como quem se afasta de um enfermo, com medo de contrair sua doença.

Mas Hermione era apenas uma criança como todas as outras.

— Eu não entendo por que tenho que engolir essas coisas. Esses olhares, essa desconfiança! Eu nunca fiz nada de errado. As vezes... As vezes eu só queria poder gritar. — Ela resmungava e pelo espelho do retrovisor do carro, assistiu sua mãe suspirar.

— Você pode e sempre deve se defender, meu amor. Sempre seja a melhor, nunca abaixe a cabeça. Mas, por favor, se lembra do que eu sempre te peço?

— No fim do dia, volte bem para casa.

E ela teve a sorte de cumprir o pedido de sua mãe. Nem todos os filhos voltam bem para casa no fim do dia - e é doloroso, a realidade é. Crua e fria.

Havia uma garota muito estranha na sua classe. Ela era, assim como todos os outros, branca, com muitas sardinhas e, o que diferenciava de muitos, seu cabelo possuía um tom ruivo vivo, era comprido e estonteante, parecia a cauda de uma raposa balançando por aí. Seus olhos azulados perseguiam sua presença como se Hermione fosse a pessoa mais interessante que ela já tivesse conhecido - não era algo hostil, na verdade, era delicado e gentil. E, naquele mar de crianças ricas e esnobes, com os mesmos itens de marca e os mesmos valores mesquinhos, talvez ela fosse mesmo a pessoa mais interessante.

Granger continuou como uma loba solitária.

Até o dia seguinte, ela estava sentada no fundo da van chique do colégio, com os bancos fofinhos e o ar condicionado, as crianças cheias de conversa sobre suas férias, uniformes caros e aparelhos eletrônicos e sabe se lá mais o que. Seria meia hora até a chegada na escola, então, forçou ao máximo seu cérebro a se concentrar no livro de biologia que estava lendo. Não que isso se tratasse de uma atividade difícil. Estudar sobre células, sobre a vida em geral e a forma em que ela sempre se encaixa e se forma - é lindo.

— Eu posso me sentar aqui? — Granger tomou um susto, segurando firme para que seu livro não caísse e se virando para observar quem a chamava. Normalmente, não perguntavam quaisquer coisa para ela, apenas ignoravam sua existência.

A ruiva era diferente. Ali estava ela, o cabelo arrumado de qualquer jeito, como se ela tivesse preguiça dele, o uniforme largo e os tênis usados, sempre sujos de lama, Hermione se perguntou se ela por acaso não tinha menos condições de que todos ali ou era apenas seu estilo. De qualquer modo, assentiu com a cabeça e a deixou se sentar ali.

Foi um silêncio muito constrangedor. Sufocante, até pelos cinco ou dez minutos seguintes. Hermione quase soltou um graças a deus muito alto - e ela nem religiosa era - quando a menina finalmente falou alguma coisa.

— Qual é o seu nome?

— Hermione. E o seu?

— ...Ah.

— O que foi?

— É que eu não gosto muito dele. É Rosa. Mas, tipo, pode me chamar só de Ro?

— Ro?

— Isso...

— Ah, por mim tudo bem. — A cacheada esperou um pouco e depois disse: — Se você quiser me dar um apelido também...

Ro deu um sorriso enorme. E Hermione nunca tinha percebido o tanto de sardas que ela tinha. Pareciam estrelas. As estrelas mais bonitas que ela já tinha visto.

— Bem, eu já ia te chamar de Mione de qualquer jeito mesmo. —  Ela deu um sorriso. — Eu queria ter falado com você desde o dia que te vi chegar mas eu tava com um pouco de medo.

— Medo? — Ela ergueu uma sobrancelha, curiosa. — Medo de que?

— Você tá sempre no topo das notas escolares! O que uma garota inteligente como você iria querer andando com alguém na média como eu?

— Eu não ligo para suas notas. — Fechou o livro, a achando alguém gentil e se permitindo ficar confortável. — Ligo se você vai ser uma boa pessoa ou não.

— Então você está no seu dia de sorte, Hermione Granger! — Ro deu um sorriso capaz de ofuscar o sol. — Eu nunca decepciono minhas amizades! — Ela começou a remexer em sua mochila, tirando de lá um celular com fones de ouvido. — Que tipo de música você gosta? Eu amo Cavetown.

— Acho que não tenho uma banda favorita. — Ela ergueu sua mão em direção a da outra garota. — Posso ouvir com você?

— Claro! — Sorriu. Colocando um lado do fone sobre sua palma. Hermione o ajustou em sua orelha, jogando seu cabelo crespo para o lado.

Tinha alguma coisa no jeito que a ruiva falava, cheia de energia e força que a fez admira-la desde o primeiro momento em bateu seus olhos na sua silhueta bagunçada. E o jeito que ela a fazia se sentir uma garota especial, sempre maravilhada com sua inteligência, sempre maravilhada com o quão bonita ela era.

Elas seriam melhores amigas para sempre.

[💘]

A única vez que Hermione Granger viu um outro aluno negro, sem ser ela, no meio da burguesia foi durante um evento com uma outra escola. Mas ele não estava lá com uma bolsa assim como ela. Ele era tão rico quanto todo mundo ali, talvez até mais.

Ele tocava violino como se fizesse parte da orquestra de Beethoven. Como se sua vida estivesse dependendo daquelas cordas, um passo em vão e seria sua ruína.

Mas também, tão fechado e recluso, isso se observava ao longe, de que outra forma expressaria seus sentimentos se não pela música? Se não pela arte? Abstrata e livre.

Ela não lembra de seu rosto, contudo, com certeza lembrava muito bem de sua música.

[💘]

Ter catorze anos é um grande, grande, grande, grande chute no meio das pernas. Freud concorda, com toda certeza noventa por cento do tempo gasto na pesquisa dele deve ter sido nos cérebros pré adolescentes e seus desvios, erros, confusões e paranóias.

Você não é uma pessoa jovem, porém se acha no direito de ser independente. Você não é uma criança, mas não quer assumir responsabilidades. Você é uma criatura estranha e confusa sentada na arquibancada da escola, assistindo seus melhores amigos jogando basquete e tentando entender o que diabos está acontecendo com a sua vida.

É o nono ano. Hermione saiu da escola de ricos e entre outros, porque eles só iam até o sexto ano. Então, ali estava ela em uma outra bem menos cara mas não tão pior em questão de ensino. E, puta merda, as coisas tinham mudado de uma forma tão sutil quanto uma avalanche e ela não estava em um local seguro, oh não, ela estava no meio da população sendo atolada pela lama.

Sua melhor amiga nunca fora sua amiga, com terminação em "a". Ronald Weasley era ele e terminações em "o", e tudo bem, isso não era nenhum problema para ela. O problema era que ninguém estava o vendo como o garoto que ele era. E eles não estavam mais sozinhos contra o mundo, agora, Harry Potter tinha decidido ser um agente causador do caos também, se juntando a dupla e dando lugar ao trio.

Hermione Granger não tinha muitas amigas garotas. Ronald Weasley era um garoto que entendia e compartilhava de algumas de suas dores, como o martírio que era sangrar todos os meses, mas ele estava fazendo sua própria jornada para fora das coisas consideradas femininas com o intuito de se afirmar como um garoto. Ele vivia as problemáticas de um garoto trans e não as de uma garota cisgênero. Então, era complicado. Harry Potter então, nem se fala.

Ela pensou em andar com Ginny Weasley, a irmã mais nova de Ron, mas ela não entendia todos os conflitos que ela passava.

Porque Ginny era uma garota cis, uma garota que se reconhecia como garota desde que nasceu mas ela era também uma garota branca.

Ginny Weasley tinha representações suas na tevê e embora nem sempre fossem boas, eram, com toda certeza, muito melhores - e com um número muito maior - do que as de Hermione. Ginny Weasley não tinha criado raiva de seu cabelo, afinal, ele era liso e sedoso e haviam milhares de produtos para ele. Ginny queria ser sexualmente livre, Hermione queria que seu corpo não fosse visto apenas como algo a ser sexualizado. Ginny era a garota que todos os garotos gostariam de ter como sua namorada e apresentar para sua família. Hermione Granger estava se sentindo todas as definições de solidão.

Ginny Weasley não seguia os padrões de certinha e recatada - não que ser assim fosse um problema, também, a vida é sua, se não está machucando ninguém, qual o problema disso? - Ela queria ser livre e sofria perigos no mundo real. As ruas não são um lugar seguro - para todos aqueles que não eram o homem padrão. O homem cisgênero, hétero, branco e sem deficiências. Mas elas ainda tinham experiências muito diferentes.

Pra falar a verdade, você não tem esse tipo de pensamento - recortes sociais e tudo mais - quando se tem apenas catorze anos, porém, Hermione Granger estava acima da média em relação a qualquer assunto que pudesse se aprender a partir de livros e internet. As opções eram várias. O material era vasto. Ela gostava de estar sempre certa.

Hermione gostava do pensamento de que sabia de tudo. Era o que seus professores diziam, era o que seus pais diziam, era o que seus amigos diziam. E era sempre um elogio aos seus ouvidos! Uma característica a se almejar e transforma-la em benefício próprio. Sua inteligência era algo invejável e que a tornava superior. Ela quem tinha o conhecimento, ela quem tomava as decisões mais lógicas.

Ronald e Harry diziam que era quando estavam jogando aquela bola de basquete direto para cesta, a adrelina e a expectativa os faziam se sentir eufóricos e felizes. Como se pudessem tudo. Como se aquele fosse o mundo em suas mãos.

Hermione se sentia assim com todos os seus livros. Ela poderia sim ser confiante e poderosa. Ela se sentia de tal forma, todo o mundo em pequenos símbolos gráficos alinhados sobre folhas finas.

Conhecimento é poder, não é?

[💘]

— Você nunca abaixa a cabeça. — Harry Potter falou. Eram seis da tarte e ele estava tendo sua primeira refeição do dia, um hambúrguer com batata frita completamente patrocinados pela Hermione, a qual nunca poderia deixar seu melhor amigo daquela maneira, quase caindo fraco no chão pela falta de nutrição. Ronald Weasley ainda não tinha chegado, ele não era muito pontual, mas tudo bem, Harry poderia começar a hora que ele quisesse a comer - desde que comesse alguma coisa.

— Isso é uma coisa boa. Significa que eu sou determinada! — Ela disse e sorriu.

— É... — Harry deu uma pausa, deixando seu sanduíche no prato por um instante. — Olha, pode me chamar de burro se quiser, nunca abaixar a cabeça pode ser bom pra lidar com aqueles valentões estúpidos que machucavam a gente mas é ruim quando estamos só entre nós. Você parece ser feita de pedra.

— É melhor assim. — Ela começou a pensar um pouco, passando os dedos no copo de suco. — As coisas são mais difíceis quando você se permite sentir.

— É, eu sei. — Harry suspirou. Passou-se um tempinho quando ele reuniu toda sua coragem novamente e voltou a falar: — Existe... Aparentemente, existe um padrinho meu que quer ficar com a minha guarda e está tentando denunciar os Dursleys por maus tratos e eu sei que não deveria sentir esperança e ficar vulnerável nesse momento é só que...

Hermione Granger estava chorando e o abraçando e ela nem tinha terminado de ouvir toda a história. Quando Ronald Weasley chegou, ele tinha a cara mais confusa do mundo.

Ela nunca conseguiria esconder isso, sua felicidade pelos seus amigos, logo eles, os seres mais preciosos de sua vida, não, nunca.

[💘]

Nem tudo são rosas, os adolescentes que já tinham agredido Rony e sido racistas com Hermione e Harry não tiveram nenhuma punição - é assim que o mundo funciona, para a infelicidade de todos. Contudo, era um novo ano e eles estavam em uma escola nova. O ensino médio estava começando e tudo tinha cheiro de novidade.

Hogwarts tinha uma fama parecida com a primeira escola de Hermione a de Rony - para ricos, apenas. Mas não era bem assim, a variedade de pessoas ali era muito maior e eles sentiram como se pudessem fazer dali seu lugar.

Se Hermione se esforçasse um pouquinho mais, ela conseguiria lembrar de todas as primeiras palavras das quais trocou com os alunos ao seu redor.

“Hey, se eu fizesse um brinco com a sua personalidade você usaria ele?” E essa tinha sido a Luna Lovegood, Hermione estava assustadissima com o aproximação e seu comportamento cheio de excentricidades, mas Luna estava sorrindo como se fosse mais um dia normal. Então, não foi um susto que durou muito tempo.

Foi uma construção de relacionamento estranha mas até que muito boa. Foram necessárias muitas barreiras derrubadas para que ela percebesse que a loira não era alguém a ser evitada, seu jeitinho diferente, era uma das coisas das quais mais valia a pena destacar nela.

Havia as aproximações mais tímidas "S-Será que eu posso sentar com vocês?" Tinha pedido o garoto mais reservado e atrapalhado, porém, muito gentil, Neville Longbottom. Ele passou a ficar mais próximo de Luna, Ginny e um tal de Colin Creevey - que sempre estava com os olhos grudados no celular e era meio antissocial - com o passar do tempo. O que fez sua amizade não amadurecer tanto assim.

Haviam as amizades mais discretas como a de Cedrico Digorry, que sempre cumprimentava ela nos corredores e a ajudava se precisasse de alguma coisa. Ele era uma boa pessoa e um amigo para quando precisasse. Simplesmente o adorava.

E aí teve ele, "Você é a Granger, uma das bolsistas, certo?" Draco Malfoy, com o cabelo cheio de gel, calças pretas e uma camiseta branca com uma logo de alguma marca de grife no canto, estava parado em sua frente ao lado dos armários. Ele a analisava com seu olhar imperdoável, como se fosse um predador. Ele parecia um predador. Tão pálido que chegava a parecer albino, completamente arrumado dos pés a cabeça e exalava aquela aura insuportável de gente rica. O garoto era idêntico aos alunos ricos da sua antiga escola. E parecia tão provocador e astuto quanto qualquer um deles.

Algo no estômago de Hermione se contorceu. Ela já não ia muito com sua cara. Só que aquele era um ano novo, nada iria atrapalha-lo.

— Certamente, sou eu. — Ela disse, tentando parecer corajosa indiferente. O garoto parecia imbatível.

— Sou Draco Malfoy. E já que somos os melhores nesse colégio, que fique bem claro, eu nunca saio do primeiro lugar e detesto perder.

Hermione uniu suas sobrancelhas ao centro de sua testa, permitindo sua indignação tomar conta de seu corpo inteiro.

— Veio até aqui apenas para se mostrar?

— Vim aqui te dar um aviso. Eu nunca fico com o segundo lugar, Granger.

— Pois saiba que nem eu, Malfoy.

Havia algo amargo pulando e chacoalhando dentro.

Draco Malfoy queria estabelecer uma competição, ele funcionava assim. Mas ele não conhecia Hermione Granger, ele não conhecia ninguém, muito menos a si próprio e não sabia pelo que ela tinha passado. Não sabia o quanro sua mente prodígiosa poderia alcançar com a determinação certa.

Hermione Granger o enxergou como a reencarnação em um único ser de todos os seus obstáculos - o garoto branco, cisgênero, hétero, rico e sem deficiências. O garoto que nunca tinha sofrido por nada em sua vida e nunca perdia nada, se achando superior por um total de zero razões.

E ela não havia nascido para ser humilhada. Ela não havia nascido para abaixar a cabeça e aceitar qualquer derrota.

Ela iria chutar Draco Malfoy para o segundo lugar e tirar aquele “EMPATADO” grande e brilhante do hanking.

[💘]

— Gente, eu tô muito puto. — Ronald começou, se sentando na mesa de intervalo deles e batendo levemente com a bandeja na mesa. — Vocês já conheceram uns três abestados que ficam andando juntos como se vocês uns reizinhos? Aqueles tais de Davi, Pâmela e Bruno?

— Você quis dizer Draco, Pansy e Blaise? — Harry prendeu a risada, ouvindo o amigo amaldiçoa-los baixinho. Ele estava com um prato de comida em sua frente e parecia tranquilo como nunca, embora, muito incomodado.

— Esses daí mesmo! Eles são tão metidos. Me chamem de paranóico, mas eu acho que eles tem um problema com a escola inteira. Sério, eles são tão arrogantes! Ficam rindo e fazendo indiretas com todo mundo. Argh, são insuportáveis!

— Sim! — Hermione se exaltou mas logo sorriu. — Aquele Malfoy parece ser o pior. Mas nós dois estamos em uma guerra e eu vou ganhar.

— Guerra? Que guerra? — Potter se virou um pouco, a olhando cheio de confusão.

— Do melhor da classe. Vamos passar os próximos três anos estudando com esses malas e pode ter certeza que eu vou manter meu título de primeiro lugar chutar a bunda branquela daquele metido para o segundo lugar em todos os bimestres.

— Eu tenho quase certeza que vi Parkinson saindo no soco com uma garota três vezes do tamanho dela. Dizem que foi sem motivo nenhum. — O ruivo contou, torcendo o nariz. — Harry, você também não gosta deles, né?

— Sei lá. — Harry murmurou e tanto Hermione e Ronald pareceram atônitos. — Parecem ser uns idiotas e daí?

— Como e daí?! Você não lembra de como as pessoas nos tratavam? Elas eram iguaizinhas a eles, só eram piores. De certo que não são nenhum pouco legais. E eu não vou deixar eles estragarem esse ano. Não pra mim. — A cacheada falou, começando a comer de forma agitada.

Demorou muito tempo para Hermione entender o ponto de vista de Harry mas, quando bastante tempo passou e o amadurecimento chegou a sua mente, ela conseguiu entender a indiferença dele a Malfoy e companhia. 

Ele simplesmente tinha se tornando alguém amortecido a dor. Hermione e Ron reagiam com defesa, ele, já tinha encontrado a sua paz - e nada tiraria ela de si.

Mas Hermione Granger ainda cometeu mais um erro, porque a maturidade vem em pequenas doses e a ignorância a litros.

[💘]

Foi no segundo ano, naquele maldito final de festa. Tudo começou muito bem, eles no carro dos Granger, Jane ao volante e agindo como a mãe preocupada que ela era e repetindo os mesmos sermões:

— Estão se lembrando de tudo? Não mexam com drogas, principalmente você Hermione Granger, eu estou de olho. Se alguém incomodar vocês não reajam apenas vão embora e estejam aqui...

— Nós já sabemos disso, mãe. Beijo. — Hermione sorriu e saiu do carro no instante que ele parou na frente da casa de Cho Chang. A garota de descendência asiática tinha adquirido um enorme passe livre para fazer festas memoráveis, o qual se chamava pais que trabalhavam fora.

Ela estava completamente adorável com seu vestido de tubinho preto, ou, o que considerou suficientemente na linha tênue de forma e informal. Ronald a abraçava pelo ombro, usando um par de jeans e uma jaqueta de couro, Harry andava colado a eles, um pouco mais despojado, com uma jeans amarrada na cintura e uma camiseta branca.

A casa dos Chang era enorme com um design muito moderno e além dos muros, grande parte da casa se baseava em grandes paredes de vidro. Tudo era uma explosão de cores e sons e no instante que eles se misturaram aos adolescentes correndo, aquela mistura frenética de corpos e suor e muitas brincadeiras estranhas - como quando eles montaram um escorregador no fundo do quintal até a piscina, tudo batizado pelo álcool misturado com - pasmem - refresco em pó diluído em água para que rendesse até a manhã do dia seguinte, eles estavam fora de si. Entregues aos braços de suas versões mais caóticas.

Como o esperado, a partir daí tudo deu errado deu tudo errado.

Hermione lembra de estar com uma garrafinha de água na mão, ela caminhou até os fundos da casa, que se encontrava com o jardim e milagrosamente poucas pessoas tinham adentrado. Sua mente lutava e recobrava os sentidos até que bem rapidamente - ela só precisava de muita água no rosto e vomitar um pouquinho. Ficar encolhidinha e tirar um cochilo, quem sabe. Mas ela ainda estava consciente. Acabou que ela não encontrou o banheiro e acabou vomitando em algumas roseiras - havia uma placa dizendo que elas era premiadas ou coisa do tipo, só que, honestamente, ela já não ligava mais.

Ela continuou caminhando, na esperança de que não ter que acabar usando o banheiro principal da casa, sabe se lá como, tinham jogado macarrão instantâneo e chiclete no teto. Hermione morreria imediatamente de desgosto se isso caísse em cima dela - com certeza era obra dos garotos estranhos da turma C.

Houve um momento que ela simplesmente parou e começou a olhar para o céu, em como a lua era enorme e ficou divagando. Ela lembrou das sardas de Ronald Weasley quando olhou para estrelas e sentiu seu coração doer, eles estavam começando alguma coisa - ele ainda gostaria dela se a visse assim? Acabada e destruída?

Ela parou de pensar nisso quando ouviu sons estranhos logo atrás do muro de arbustos ao seu lado, ela sentiu um arrepio na espinha e sua coragem desprovida de noção e entorpecida de curiosadade não pode resultar em outra ação se não ir direito para o que lhe aflingia. E os sons iam ficando mais altos e estranhos e mais rápidos e oh, deus, eram choramingos?

Não, para sua vergonha interna e decepção eram apenas dois adolescentes se pegando. Hermione respirou fundo e iria aproveitar a chance de dar no pé dali, afinal, eles estavam muito distraídos com suas mãos em todos os lugares. Só que ela olhou melhor para seus rostos.

Cho Chang, namorada de Cedrico se derretia em lábios que não pertenciam a ele.

Ela podia estar muito bêbada, ela podia estar fora de si, ela podia estar se rebelando, ela podia e todas as desculpas do mundo.

Hermione Granger respirou fundo, tirando de dentro de seu sutiã - não pergunte, segundo suas pesquisas, esse era o lugar mais seguro a se guardar um objeto valioso no meio de uma festa - o seu celular e sem flash, apenas com a luz que emanava da casa, tirou uma foto em flagrante. No dia seguinte, ela veria e analisaria toda a situação que tinha se metido.

Se ele tinha ganhado um belo para de chifres, Cedrico precisava saber.

Foi quando ela ouviu um flash e um brilho nas suas costas, ela simplesmente se virou e se escondeu de novo atrás dos arbustos. Usando sua visão para tentar encontrar quem tinha pegado o flagra do flagra mas ela não viu ninguém e mais nada, exceto a morte lenta e dolorosa das rosas premiadas dos Chang morrendo lentamente com seu vômito nelas.

Não esperou mais nenhum segundo para dar no pé dali, aquela festa tinha chegado ao fim.

[💘]

No dia seguinte, Hermione estava com olheiras profundas, Ronald estava dormindo sob a mesa junto de metade da sala e Harry tinha coberto de forma muito capenga o que estava entre um chupão e um hematoma de soco ao seu lado.

Como festas são divertidas.

[💘]

Hermione Granger odiava pedir ajuda. Ela era uma mulher independente, forte e empoderada. Por que ela precisaria de outra pessoa? Lhe auxiliando a alho que ela tinha conhecimento suficiente para realizar por conta própria? Ha, não a faça rir. Ela tinha poder. Ela tinha tudo. Ela estava no topo do mundo. 

Ela estava largada no colo de Luna Lovegood, chorando como uma garotinha perdida enquanto Luna trançava seu cabelo com flores silvestres que tinha encontrado pelo parque. Era uma tarde linda e ensolarada e Hermione finalmente estava liberando todas as suas lágrimas reprimidas.

— Eu não sei o que fazer! Eu passei os últimos anos da minha vida achando que poderia carregar o mundo nas minhas costas... Eu... E de repente tudo mudou! — A garota não conseguia olhar para Luna, imersa em um turbilhão de sensações e sentimentos conflitantes. — Eu estou tão perdida. E você é a única pessoa que eu conheço que é boa o suficiente pra me ajudar com isso, no momento.

— Por que você esconde tanto essa sua vulnerabilidade, Mione? — Luna tinha a voz doce, entrava como um carinho pelos ouvidos da cacheada.

— Como eu poderia demonstrar?! Harry e Ron são tudo pra mim e se eu não fosse forte o suficiente, como nós íamos passar por tudo aquilo? Eu estava lá dando nomes a diretoria, eu estava lá exigindo coisas. Eu era o pulso firme!

— Você não confia na força deles?

— É claro que eu confio. — Ela fungou um pouco, tentando deixar sua voz menos embargada. — Mas eu não conseguiria dormir a noite sabendo que eles não estão bem, que eu não estou no controle. Que eu não consegui deixar eles se sentindo bem nem que seja por algumas horas no dia.

— Você precisa descansar, Hermione. É isso que te faz tomar decisões ruins, você se sobrecarrega e confia plenamente de que o que está fazendo é certo porque na sua cabeça, seu julgamento é o único correto. Sua determinação dá lugar para a teimosia. E seus julgamentos precipitados se tornam verdades absolutas mesmo que estejam errados.

— Eu sou uma grande exagerada do caralho, não sou? — Luna deu uma risada alta.

— Talvez sim, talvez apenas um pouco intensa. — A loira pegou mais margaridas e mais cachos. — Sabe, passado é passado. Você tem que começar a pensar no que aprendeu com isso tudo.

— Eu aprendi que eu sou uma idiota.

— Você não é. Você apenas entendeu que não é perfeita. — Suspirou. — Pare de erguer tantos muros em volta de si...

— Eu tento... Mas... Não quero parecer fraca, entende? — Hermione disse um pouco mais baixinho.

— Você não vai ter a quem proteger se não se permitir ser você mesma de vez enquando, Hermione. — A garota se encolheu ainda mais sobre a grama, sentindo o peso das palavras. — Qual era a sua ideia para fazer as pazes de vez com seus amigos?

— Na verdade, é mais com o Ron. Ainda não respondi as mensagens e ligações de Harry. — Ela respirou fundo e soltou logo em seguida. — Eles também nunca vão pensar em procurar aqui no parque, eles ainda acreditam que eu te considero a mesma garota doidinha e sem sentido do primeiro ano.

Lovegood deu uma risada suave, provavelmente se emergindo em memórias.

— Muitas pessoas ainda acham que eu sou sem sentido. Elas não lidam bem com diferenças.

— Foi isso que você viu na Ginny? — Hermione perguntou, genuinamente curiosa. — Alguém que te via como igual?

— Ela é minha heroína! — A garota deu um sorrisinho. — E nos contos de fadas, a princesa sempre termina com quem a salva. Seja de uma torre ou de alguns monstros.

— Não gosto desses contos. Você não fica com alguém só porque ela te prestou um favor. — Hermione fez uma careta.

Uma brisa passou, fazendo o cabelo de Luna balançar e algumas flores serem levadas pelo vento. Como ventava naquele dia, "Talvez chova"  dissera Luna, bem baixinho e muito mais para ela do que para a menina em seu colo. Ela voltou a falar sobre o assunto principal:

— Quando a princesa está prestes a cair no abismo, o herói vem e segura ela. Ela se sente segura, amada e ele se sente amado, cuidado por ela. Não é sobre favores, Hermione, são sobre sentimentos. — Ela deu uma risadinha baixa. — Você tem a mente fechada demais pra entender. É por isso que fica tão chocada com Draco e Harry apaixonados um pelo outro.

— Luna, nós éramos conhecidos como trio de ouro e trio de prata por uma razão. Éramos completamente diferentes, tínhamos jeitos completamente opostos... Ainda temos. Harry não gostava muito deles, também.

— Não gostava ou apenas era indiferente?

— Bem... Indiferença é uma forma de não gostar.

— Depende. Harry já passou por perigos muitos verdadeiros nessa vida. Ele não se deixava levar pelo Malfoy. Você também, só diz que não gosta dele porque não gosta de ninguém que te testa e te faz abandonar sua zona de conforto. — Luna deixou os braços dela penderem ao seu lado, suspirando. — Você e Ron são iguaizinhos nisso. Não conseguem ignorar, tem que ir atrás, tem que ter uma opinião. Se não é bom, portanto é ruim. Se não são rosas, logo, são girassóis. E não é bem assim. — Ela parou por um momento antes de continuar. — Já parou para se perguntar porque ninguém ia com a cara dos três? Tipo, especificamente o motivo ou apenas aceitou o "eles são irritantes".

— Você sabe a resposta.

— A festa da Cho, sabe por que Draco não pode ir?

— Não...

— Uma garota tinha partido o coração da Pansy. Millicent, o nome. Então, Draco espalhou por aí que ela tinha começado uma infestação de piolhos e grudou cartazes com a foto dela nas ruas reafirmando isso. Pansy estava afogando as mágoas com Blaise naquela festa, a Millicent era o pior tipo de namorada que você poderia desejar a alguém. 

— Espera! — Hermione se sentou como um foguete na grama, chocada. — Foi por isso que recebemos avisos sobre infestações de pragas naquele ano? Porque Draco espalhou um rumor para proteger a amiga?

— Exatamente. E, a foto dela passou no jornal local. Millicent sumiu da cidade como o espíritos fogem do sal grosso. Não tinha como incriminar Draco por isso, ele é muito bom quando se trata em criar o caos e não deixar rastros.

— Eu estou um pouco confusa, o que você quer que eu pense disso? Porque eu estou começando a achar ele um pouco insano. Até mais do que eu.

— Estou tentando te convencer de que você pode confiar na decisão de Harry. Ele está em boas mãos! Vai ser alguém tão cruel com quem machucar o seu melhor amigo quanto você. — A loira sorriu. — Existe uma poesia sobre isso, sabia? Quando tomado pelo amor, minha luz reflete a ti em mil pedaços, mas quando tomado pelo ódio..

— Teu corpo eu estilhaço. — Granger completou, dando um sorrisinho sem graça. — Você já me falou dessa poesia. Já se lembrou de onde você viu ela?

— Sim. — Ela sorriu, olhando para o horizonte, o ventou batendo novamente em si. — Minha mãe quem falava. Ela era muito boa com as palavras.

— Sente muita falta dela?

— Estou aprendendo a deixar as coisas irem. — Luna se virou para Hermione, a qual estava sentada do lado dela. — Você devia aprender isso também.

— No fim tudo é sobre amor, ódio e perdão.

— E tudo que está entre isso. — Lovegood disse, se levantando e tirando a poeira do seu vestido xadrez. — Vamos? Eu acho que você deveria comprar umas coisas antes de ir até o Ron... E o Harry.

— Tipo o que?

— Vamos começar por remédios de dor de cabeça e depois passamos para flores e doces.

— Remédio para dor de cabeça...? — Luna a deu um olhar com a sobrancelha levantada e Hermione fez um "ah" com a boca, compreendendo instantaneamente do que se tratava.

[💘]

Não existia uma reação mais apropriada para Draco Malfoy, no instante em que ele visse sua foto com Harry Potter circulando por toda internet e na boca de deus o mundo, do que um desmaio na frente de Hogwarts.

Foi extremamente rápido e teria sido cômico se não fosse desesperador e triste.

Eles estavam ouvindo música no celular de Harry, ele estava explicando o porquê de ter escolhido cada música para a playlist que tinha feito dedicada ao Malfoy - cujo nome ainda era uma incógnita, permanecendo apenas como “NÓS”, tão presos em seu próprio mundo que nem tinham reparado em todos os olhares que as pessoas ao seu redor davam para suas silhuetas tão próximas que quase se uniam.

Eles estavam ouvindo Knee Socks do Arctic Monkeys, apreciando a batida e a voz arrastado do Alex Turner quando ela foi interrompida pelo barulho de uma mensagem vinda de Rony. Harry pediu desculpas por pausar a música e foi responder, esperando que fosse um assunto importante.

“Eu acho que você ainda não viu isso." E encaminhada, ali estava a foto de suas costas, as mãos e rosto de Malfoy grudados a si. Perto do salgueiro, seu lugar especial.

— Está tudo b... — E aí de repente o loiro estava pálido, ele babulciava milhares de coisas sem sentido: Isso é falso? Que brincadeira idiota é essa? E então ele estava suando frio e caindo como uma pena nos braços de Potter. O qual, no desespero, saiu em disparada em direção a enfermaria do colégio. Causando ainda mais burburinhos entre os alunos restantes no prédio durante o seu percurso.

Malfoy iria quebrar seus ossos e fazer um visual completo com eles quando acordasse, disso não lhe restavam dúvidas. No momento, sua prioridade era fazer com que ele estivesse cem porcento bem para realizar tal tarefa. Seus passos ecooaram alto o suficiente pelos corredores para que, quando já estivesse na enfermaria, Pansy Parkinson e Blaise Zabini estivessem em frente a porta, tinham seguido o garoto como águias.

— O que você fez com o Draco?! — Parkinson exclamou, acusatória. Harry arregalou os olhos, desesperado.

— Eu não fiz nada!

— Ele está DESMAIADO NOS SEUS BRAÇOS, VOCÊ QUER QUE EU PENSE O QUE?!

— Pansy, se acalma por um instante... — Zabini, agindo como a voz da razão, tentou por a mão em seu ombro e acalma-la.

— MEU MELHOR AMIGO DESMAIOU! DESMAIOU! COMO VOCÊ ESPERA QUE EU FIQUE CALMA?!

— Eu posso saber que gritaria é essa na frente do meu consultório? — Madame Pomfrey apareceu, com as mãos na cintura e bastante firme em seu tom de voz. No instante em que tanto Harry, Blaise e Pansy começaram a tentar se explicar, se atropelando em suas próprias palavras, ela falou mais alto: — Silêncio! Quem estava com o garoto Malfoy quando ele desmaiou?

Pansy e Blaise deram olhares mortíferos para Harry, o qual somente engoliu em seco. Pomfrey não precisou de mais nenhuma explicação ou palavra par agir em seguida.

— Vocês dois, senhorita Parkinson e senhor Zambini, sei que estão muito preocupados com seu amigo mas não é motivo para alvoroço. Esperem aqui fora enquanto o senhor Potter me conta exatamente o que aconteceu e eu cuido do nosso paciente, certo?

Nenhum deles contestou. Papoula Pomfrey era a enfermeira mais firme e a única capaz de exalar uma áurea de autoridade e, ao mesmo tempo, respeito com bondade que todos que estudavam em Hogwarts conheciam e admiravam. Ela sorriu quando não viu objeções e abriu a porta para que Harry entrasse com Draco, a fechando em seguida.

A enfermaria não era muito grande, haviam cerca de três macas, muitos armários brancos e itens médicos dos quais Potter não compreendia muito bem o que eram ou seus nomes - mas lhe lembrava um consultório médico como qualquer outro. Uma parte para consultar o paciente e a outra apenas o escritório com sua mesa e cadeira giratória. Ele colocou o corpo do loiro sob uma das macas e gentilmente arrumou o travesseiro fino que ali estava sob sua cabeça, fazendo um carinho breve em seu rosto e esperando que ele estivesse confortável.

— Você pode me contar agora o que aconteceu, Sr. Potter.

— Harry. — Ele sorriu. — Já vim muito aqui pra você continuar me chamando pelo sobrenome.

— Certamente, mas minha educação fala mais alto.— Ela deu uma risada leve, começando a examinar Malfoy. — Ele está bastante pálido. Mais que o usual.

— Nós estávamos bem. Estávamos na frente do colégio, ouvindo música e enrolando pra ir embora quando... — Harry suspirou. — Você deve saber sobre o aluno misterioso que anda tirando fotos das pessoas e expondo elas.

— Nenhuma notícia como essa é ouvida por poucos, meu querido. Ainda mais nesse colégio, em que todo mundo tem algo a dizer. —  Respirou fundo. — O que foi tão chocante assim para fazer Malfoy perder temporariamente a consciência?

— Tiraram uma foto nossa nos abraçando, hoje. E postaram logo depois, ameaçando contar para o pai dele. — Ele encolheu os ombros e sentiu as bochechas pinicarem um pouquinho. — Me sinto meio culpado.

— Não se sinta assim. Tenho certeza absoluta de que ele não teve essa reação por causa da revelação do namoro de vocês mas sim, por causa do pai. — Harry sentiu as bochechas pinicarem ainda mais. Pomfrey arregalou os olhos. — Oh, espere, vocês não estão namorando? Sinto muito, devo ter soado tão invasiva...

— Não soou, não se preocupe. — Suas bochechas diminuíram a queimação. — E não, não, Draco não é meu namorado. Nós começamos uma amizade alguns meses atrás e estamos bem. Só isso.

— Você parece se importar demais com ele. — A madame tinha um sorriso pequeno e um olhar preocupado. — Draco é um garoto um tanto quanto sensível, no entanto, finge que não. A prisão de alguém como Lucius Malfoy deve ter virado sua vida de ponta a cabeça.

Harry Potter apoiou a mão em seu rosto, respirando fundo. Aos poucos, o loiro começava a acordar, se erguendo atordoado e perdido na maca, o primeiro instinto de seu acompanhante foi se aproximar mas a enfermeira o impediu com um, erguendo sua mão delicadamente.

— Deixe-o respirar um pouco. — Ela disse, o peito de Draco subindo e descendo rapidamente, o rosto um pouco suado - um suor frio.

— O que... O que aconteceu? — Ele parecia cada vez mais confuso e perdido. Recobrando a consciência as pouquinhos, seu rosto ficando em choque a cada segundo que se passava naquela sala. O garoto engoliu em seco, se sentando com as pernas em borboleta, passando as mãos no rosto.

— Vou trazer um copo de água para você, converse com o Sr. Potter e tente ao máximo relaxar. Sempre lembrando de inspirar e expirar. — Quando o loiro compreendeu o lembrete e sua respiração começou a normalizar, ela se afastou, deixando Harry e Draco sozinhos na sala.

— Você está se sentindo melhor? — O cacheado perguntou, se sentando na beirada da maca. — Você me assustou... Pomfrey acha que você está sobre muito estresse. 

— Não fique tão preocupado. Não comi muito bem hoje, talvez seja apenas minha pressão caindo.

— Como isso me deixaria menos preocupado?! — Harry disse com a voz séria, Draco tirou aos poucos as mãos do próprio rosto. — Sabe de alguém que gostaria de fazer algo assim com você?

— Eu me sentia superior e era uma péssima pessoa para se conviver ano passado. Qualquer um de Hogwarts gostaria de me assistir passando por algo ruim. Ou não ligariam... Até seus amigos não sentiriam muita empatia por alguém como eu, não que eu os culpe por essa foto. — Os olhos de Draco miraram suas mãos jogadas em seu colo. — Tirando meus amigos, que cresceram comigo, você é a única pessoa que decidiu perdoar a pessoa ruim que eu era.

— Você podia ser mimado, se achar superior, exalar egoísmo e provocações. Você era um incômodo mas nunca foi alguém cruel. Falava, falava e falava mas nunca fazia nada. Eu te achava patético e era indiferente sobre você. Por isso, é fácil pra eu te perdoar. Hermione, Luna, Ron, todos... Eles são boas pessoas. Mas é tudo um processo. Eles também acreditam que pessoas crescem, no fundo.

Draco Malfoy olhava fundo nos olhos de Harry, ele tocou seu rosto, sua pele escura e macia com delicadeza, e falou baixinho:

— Você sabe o que a verdadeira crueldade é, porque você viveu isso, dia após dia. — Harry se desmanchou em seu carinho, mas algo no seu peito se apertou. — Obrigado, Garoto de Ouro.

Harry colocou a própria mão sob a de Draco, a cobrindo.

— Eu queria saber se o que te incomoda é o que seu pai pode fazer comigo... Com a gente se descobrir sobre essa foto ou se o que te incomoda é a ideia de nós sermos algo público, ou melhor, de simplesmente sermos algo a mais.

Todas as inseguranças de Harry Potter saíram nesse questionamento, direto como uma bala, Draco Malfoy se aproximou de seu rosto. Como se pudessem sentir as respirações um do outro, descompassadas e suaves sob a pele, o loiro fez uma trilha de beijos, um em cima de seu queixo, dois em cima suas bochechas quentes e o outro, afastou seus cabelos e beijou lhe a testa, bem perto de onde se localizava sua cicatriz. O garoto se sentirá quase como se tivesse sido abençoado, meio perdido com tanto afeto vindo de Draco - alguém que tinha demonstrado ser muito mais de palavras e presentes do que de toques.

— Eu só não queria apressar as coisas. Queria que vivêssemos cada momento e queria que fossem apenas nossos. Mas eu nunca, nunca, nunca mesmo sentiria vergonha de qualquer relação que nós tivéssemos, seu idiota. — O loiro se afastou um pouco de seu rosto, mas suas mãos ainda estavam ali. — Meu pai é uma pessoa influente, mesmo preso. Ele está planejando alguma coisa, ele não ficaria na cadeia por tanto tempo e assim tão tranquilamente... Eu estou tão assustado. Minha mãe está assustada. Eu odeio ver ela assim, Harry... Eu passei os últimos dias vivendo uma fantasia com você e agora parece que a vida real está me dando um soco. Eu não posso deixar que meus problemas te afetem!

— Draco, calma. — Ele suspirou. — Eu duvido que um adolescente de Hogwarts tenha a ousadia de ir até a prisão só pra mostrar uma foto nossa, com a probabilidade de se foder no meio. E mesmo que isso aconteça, eu posso me proteger! Você não precisa ficar preocupado comigo... E eu tenho certeza que a sua casa é segura o suficiente para você e sua mãe.

— Eu tenho medo de nada disso ser suficiente. Do inevitável. — Draco murmurou, Harry passou seus braços ao redor dele, o fazendo se assustar por meio segundo, mas em seguida ele tirou as pernas do jeito borboleta, as esticando para o lado e permitiu descansar sobre a curva do pescoço do garoto que lhe abraçava. Ele sentiu os dedos do outro fazerem um carinho em suas costas, o que os abraços de Potter tinham de especial, nunca entenderia. Mas ele conseguia entender que aquela era sua forma de dizer todas as coisas que não conseguia com palavras, como que estava lá por ele para o que ele precisasse.

— Essa coisa de vocês se agarrando por aí vai se tornar algo comum? Porque me dá vontade de comer vidro e beber cloro. — Pansy Parkinson, com seus braços cruzados. Encarava os dois sentados na maca, os quais apenas se soltaram por causa do susto. Blaise somente revirou seus olhos e cruzou os braços, em uma posição de julgamento tão terrível quanto a da amiga. — Draco Abraxas Malfoy, você não tem ideia do quão irritada eu estou, primeiro, eu já esperava que a pessoa pela qual você passou os últimos dias andando de quatro e lambendo o chão pela qual ela pisasse fosse o Potter. Porque ele consegue ser pior com você. Péssimos, péssimos de discrição, minha nossa senhora. Eu não te ensinei nada nos últimos anos? Mas tudo bem, tu cuida do teu rabo que eu cuido do meu. Esperava que você tivesse a decência de vir me falar sobre tudo, eu estava disposta a aguentar essa sua cara de besta apaixonada! Eu estava! E a GRANGER ficou sabendo antes mim?! Eu... Ah... Sinceramente... — Pansy se encostou no batente da porta, usando do braço para esconder seus olhos.

— Ela tá feliz por vocês e preocupada com o Draco. Nada de novo. Imagino que você já tinha marcado alguma coisa pra gente se conhecer melhor e verdadeiramente. — Malfoy balançou a cabeça positivamente com a fala de Blaise. — Ótimo. Nós só estamos chateados por ter sido a Granger quem tirou a foto.

O rosto de Draco Malfoy se contorceu de tal forma que fazia parecer que ele tinha acabado de chupar um limão bem azedo, enojado e com raiva. Harry Potter, por outro lado, parecia irritado e surpreso.

— Isso não é verdade. Não, não tem como ser! — O cacheado de óculos redondo foi quem interviu, parecendo em choque.

— Ela era quem estava espalhando as outras fotos, ou ao menos a foto da Chang na festa. — Blaise abriu a foto do flagrante, entregando o aparelho no colo de Potter. O garoto analisou a foto, com uma expressão que era quase impossível de se analisar. Draco era o contrário, você podia ver a raiva saindo dos seus poros com muita clareza. — É uma associação bem simples...

— Não tem como ter sido ela a tirar essa foto porque a Hermione não é burra. Ela pode ter tirado a foto da Chang, obviamente, achando que estava certa ou algo do tipo. Mas a minha com o Draco não foi ela.  Porque ela é uma amiga leal, não faria nada para me prejudicar. Eu confio cem por cento nela. Isso... Isso não tem como ser a Hermione. Eu tenho certeza que tem como comprovar que ela nem saiu da cantina quando essa foto foi tirada.

— Eu vou concordar com o Harry. — De repente todos os três rostos estavam em Malfoy, quem proferirá as palavras. "VOCÊ VAI?" Foi o que foi dito pelos três, de um forma que apenas pelo olhar desacreditado. — Não por causa do sentimentalismo. Talvez um pouquinho, mas principalmente porque as duas fotos tem muitos detalhes que se divergem. A primeira foto, a da Cho, foi tirada rapidamente, quase tremida, como quem está com pressa e incerto do que está fazendo. As outras fotos, a dos cigarros e a minha com o Harry são diferentes. Completamente opostas, eu diria. As outras duas tiveram as cores tratadas, tem ângulos e enquadramento perfeito. De alguém que estava certo e sabia do que estava fazendo. Outra, onde eu e Harry estávamos tem uma distância bem considerável da cantina. Granger teria que correr muito e ainda ser discreta pra conseguir tirar uma foto assim. A não ser que ela seja secretamente uma agente do FBI, eu duvido que ela consiga fazer isso. Era alguém que já estava por perto.

— Em resumo, eu acusei e gritei com ela no meio da cantina por nada...? — Pansy se encolheu um pouco. Agora, foi a vez de Harry arregalar os olhos e exalar raiva.

— Você fez o que?! — Sua voz soava um décimo mais alta, Draco suspirou.

— Não por nada, você achou que estava me defedendo e indiretamente contou para todo mundo quem era o verdadeiro culpado pela foto da Cho. Acho que a família Chang ainda estava atrás de quem tinha "estragado a vida da filha". — Draco fez aspas com os dedos. — Você vai ter a oportunidade de se desculpar com ela por essa acusação.

— Sim, por essa acusação. — A garota falou, entre os dentes.

— O que você quer dizer com isso, Parkinson? — Harry estava lutando para se acalmar, ninguém ia e humilhava seus amigos na sua frente. Não Hermione.

— Por que você acha que Granger tirou a foto, Potter? Sabe, ano passado, eu me achava tão superiora aos outros quanto o Draco. Mas veja só, eu não escondia isso atrás de uma fachada de garota boazinha. Se ela quisesse fazer o certo, teria mandado a foto somente para o Cedrico! Então, lá vem ela e pública onde todos podem ver. Porque ela precisa fazer isso, ela precisa mostrar pra todos, veja o que realmente é a verdade e quando todos estão desacreditando da Cho, sentir como se fosse a salvadora da pátria! Uma heroína! — A menina de cabelo escuro respirou fundo. — Todo mundo já errou e aprendeu. Não passe a mão na cabeça da sua amiga. Você pode chegar e me dizer, oh, ela tinha boas intenções. Ela queria ser honesta e o caralho a quatro. Foda-se.

— Você também podia ter resolvido suas intrigas com a Hermione em privado mas você também preferia fazer com que todo mundo soubesse quem, na sua opinião, ela era.

Pansy Parkinson se aproximou de Harry, encarando seus olhos com fúria - o sentimento era mútuo.

— Eu não estava sendo covarde e escondendo meu nome atrás de uma conta falsa no Instagram, Potter. Eu não estava revelando um segredo para alimentar meu ego, eu estava tentando defender meu melhor amigo de uma ameaça. — Ela cruzou os braços e deu de ombros.

— Sabe de uma coisa? Você está certa! — Harry ergueu as mãos pra cima e depois as jogou sobre as coxas. — Hermione pode sim ter ignorado todos os sentimentos da Cho e do Cedrico quando expôs eles mas eu tenho certeza que ela deve ter falado ao menos com a Cho antes, eu tenho certeza que ela tinha a intenção de contar a verdade e não machucar ninguém no processo. Eu tenho certeza que ela não é o monstro cruel que está pintado na sua cabeça, assim como eu tinha certeza de que você não era o monstro cruel que ela tinha pintado na cabeça dela ano passado. — Harry se ergueu da maca, tenso. Pansy estava quieta e ele aproveitou isso para se virar para Draco, quem assistia calado a discussão. Ele tocou sutilmente seu rosto e sussurou. — você vai ficar bem?

— Eu vou sim. — Draco respondeu no mesmo tom. Harry segurou seu rosto e beijou sua testa com zelo.

— Me promete que não vai ficar estudando até tarde e vai descansar?

— Você vai me ligar mais tarde?

— Draco...

— Tá, eu prometo. — O loiro deu um sorrisinho suave e Harry retribuiu. — Mas você vai mesmo me ligar?

— Claro que eu vou. — Ele tirou suas mãos de seu rosto. — Eu já vou indo. — O loiro apenas acenou com a cabeça, Harry saiu sem nem ao menos encarar o rosto se Pansy e Blaise - quem também preferiu se manter quieto sobre essa discussão. Foi apenas quando a porta se trancou que eles voltaram a falar alguma coisa, contudo, o clima ainda pesava.

Papoula, a enfermeira, entrou logo depois. Com uma jarra de água em suas mãos e um copo.

— Eu tive que esperar encherem as garrafas da copa, acredita nisso? E o diretor ainda me parou para... —Ela observou o clima estranho e o rosto fechado dos três. — Aconteceu alguma coisa? Onde está Harry?

— Não se preocupe com isso. — Draco respirou fundo. — Nada que não possa ser resolvido.

[💘]

Em uma lanchonete muito aleatória no centro, dois amigos tinham uma conversa sincera e uma discussão acirrada ao mesmo, não precisa ser um gênio para saber de quem se tratava.

— Eu tenho plena noção de eu errei, Harry. E eu estou tentando consertar isso. Sei que com a Cho vai ser mais difícil, tipo, hey, eu não sabia a proporção que isso ia tomar e como afetaria sua vida e eu tenho certeza que o Cedrico também não deve estar menos chateado. Mas, veja bem...

— Cedrico achava que a Cho tinha postado aquela foto ela mesma porque queria humilha-lo, você tem noção disso, não é? — Harry suspirou, massageando suas tempôras. — Você fez um estrago e de quebra abalou a confiança do Ron, e a forma que você arrumou de consertar isso tudo foi organizar um jantar de desculpas?

— E eu também vou expor meu próprio romance com o Ron nesse jantar. Vai ser tipo, um chá de revelação sem a parte dos bebês e do chá.

— Você poderia ter só uma conversa honesta com os dois. Íntima e tranquila, não acha que já jogou os holofotes demais pra cima deles?

— Mas eu também preciso me desculpar com os pais deles... Foi tudo pra cima da Cho, no final de tudo. E vai ser algo bem simples, umas pizzas e é isso aí.

— Se você tem certeza disso. — Harry suspirou, com alguns pés atrás sobre a ideia. — Eu tenho que te perguntar, como você está sobre a minha amizade com o Draco?

— Eu tenho minha ressalvas. Mas, no geral, a vida é sua. Eu tive todo um um tempo pensando nisso e cheguei na conclusão de que estou disposta a tentar. Eu tenho certeza que Ron tem o mesmo pensamento, sabe, ele é bem mais compressível sobre suas decisões do que eu. Sem contar, que a raiva de quem te expôs assim é muito maior do que qualquer sentimento que ele tenha sobre o Malfoy.

— Nós íamos fazer um encontro dos grupos, começar uma nova página...

— E então tudo isso aconteceu.

— As vezes eu acho que não estou destinado a coisas boas.

— Harry, mais do que ninguém, você merece sim muitas coisas boas. — Hermione suspirou. — Você vai se apaixonar pelo Malfoy, não é?

— Não me faça esse tipo de pergunta... Tem muita coisa acontecendo. Eu ainda não sei o que será ente eu e ele.

— Quando tudo aconteceu, nós, no caso, eu, Ginny e Ron, ouvimos você falar "Malfoy" na chamada. Nós víamos vocês mais unidos e de certa forma, ver esse carinho ajudou a processar. Mesmo que uma parte de nós desejasse que fosse mentira. — Hermione respirou fundo. — Eu tenho muitas, muitas preocupações sobre isso. Sobre vocês partirem direto para esse amor imprudente e adolescente como quem se joga em uma piscina rasa de cabeça.

— Pare de falar como se fosse você casada com Ron a trinta e cinco anos e fosse uma expert em relacionamentos.

— Conheço ele desde criança, é quase isso. — Harry revirou os olhos, dando uma risada anasalada, Hermione sorriu também. — Draco vive uma vida muito instável, agora, a última coisa que eu quero é que alguma coisa aconteça com você. Você merecia um relacionemto estável, saudável e lindo. Não o turbilhão de problemas que ele é.

— A gente não manda no coração, Mi. E eu tenho certeza que posso ter isso com ele...

— Não, Harry, seja realista. — Hermione brincou com a garrafinha de água em suas mãos. — Draco é filho de um homem a caminho de um julgamento, um homem odiado, ele vem de uma família odiada. E pior, poderosa. Você tá com uma bomba relógio em mãos. E você tem que ter certeza de que quer continuar com isso. Você tem tem certeza de que quer que a próxima matéria do jornal seja a foto do filho do corrupto preso e acusado de mafioso beijando o garoto filho de protestantes revolucionários, os quais odiavam tudo que essa família propagava? Você tem certeza que está preparado para a fúria do pai dele? Você tem certeza que está preparado para todo o julgamento alheio? — Hermione parecia ser capaz de sugar sua alma. — O amor não supera tudo.

— Eu não sei o que dizer...

— Você não precisa. Nós vamos saber no que isso vai dar quando a primeira crise bater em você. — Suspirou. — Não falo isso só por você, surpreendentemente também estou um pouquinho preocupada com Draco. — O olhar de Potter se arregalou um pouco. — Ele pode ser terrivelmente amargo de coração partido. E completamente dramático.

O olhar de Harry suavizou um pouco e sem razão nenhuma ele começou a rir, tentando segurar a todo custo e falhando. Hermione pareceu confusa, até mesmo um um pouco irritada, ela deu um soquinho em seu braço.

— Do que você está rindo?!

— Nada... É só que... — Harry recobrou o fôlego, tentando parar de rir. — Você me lembrou a Parkinson.

O rosto da garota virou uma completa confusão, e ela inclusive fez uma careta de desgosto, cruzando os braços apenas com a ideia.

— Eu não tenho nada haver com aquela branquela metida a buguesa!

— É porque você não viu ela discursando, falando como se fosse a guardiã do Draco. Completamente preocupada, metade sermão, metade preocupação. Igualzinha a você, só que, você fala bem menos palavrão.

Hermione deu sua resposta mais sabia:

— Vai tomar no cu, Harry.

Ele deu uma risada alta, quase incontrolável.

— Você sabe que na primeira crise eu vou ignorar todo o perigo e ir correndo até o Malfoy, não é?

— Só quis deixar claro pra você não dizer que eu não te avisei. — A cacheada começou a tomar a sua bebida e Harry voltou a rir.

[💘]

No final das contas, de uma maneira bem estranha, o jantar deu certo. Eles estavam em um restaurante de massas e Hermione visivelmente tinha alguma amizade com o dono, porque de maneira nenhuma sua mesada cobria o tanto que estavam comendo aquela noite. Remus e Sirius tinham vindo acompanhados de Harry, porque ele era um garoto honesto e tinha contado toda a situação das fotos para os seus pais, que, em vez de julgar Hermione, viraram o ápice de suas versões fofoqueiras e estavam ali unicamente com o intuito de pegar as notícias de primeira mão.

Os pais de Hermione estavam um pouco desconfortáveis com a presença dos pais de Cho Chang e Cedrico Digorry no ambiente, ambos eram um tanto quanto influentes e eles visivelmente não estavam sabendo muito bem sobre o que a filha andava aprontando. Apenas não se preocupavam mais por causa da presença da família Weasley que, apesar de contar apenas com Ginny, Ron e seus pais naquela noite, conseguia energizar qualquer lugar como ninguém. Luna Lovegood tinha vindo também, ela estava sentada ao lado de Ginny, como de costume, mas seu pai, Xenofílio, por alguma razão não tinha comparecido. Potter tinha plena noção que ele era um homem mais caseiro, no entanto, acreditava que gostaria de acompanhar a filha nos eventos. Aparentemente, não era bem assim.

— Eu gostaria de chamar a atenção de todos, para falar um pouco sobre os acontecimentos recentes. — Hermione se ergueu ao final do jantar, quando todos já estavam satisfeitos. Tudo saia como o planejado. — Como muitos aqui sabem, publicaram uma foto reveladora de uma das pessoas dessa mesa e puseram injustamente toda a culpa nela. Eu gostaria de desmentir isso. Eu, Hermione Granger, publiquei essa, e unicamente essa foto. Mas nunca, nunca, em hipótese alguma eu tinha o objetivo de prejudicar alguém ou agi com maldade. Meu objetivo era apenas ser honesta com todos os envolvidos e todos próximos a eles. Minhas ações foram puramente com base na razão e esqueci de todo o emocional que isso afetaria. Eu espero que vocês, Cho e Cedrico, me perdoem por não ter lidado com isso de forma mais responsável.

Cho se ergueu também, Harry Potter se sentirá em uma cena de alguma filme chique, Hermione não poderia ter agido de forma mais formal.

— Obrigada, pelas suas desculpas, Hermione. Apesar disso, o erro principal ainda foi meu. Os motivos pelos quais eu fiz isso se referem somente a mim, meu ex-namorado, Cedrico e nossas famílias. Eu gostaria que, depois dessas desculpas, vocês parassem de acusar a mim de ter feito isso com intuito único de machucar alguém que tinha sido meu parceiro por tanto tempo. Essa história toda me fez crescer e eu espero que... Eu espero que possamos virar a página! — Cho olhou Hermione. — Obrigada por tudo isso. E eu aceito suas desculpas.

Cedrico se levantou em seguida, um pouco mais fechado que a sua antiga companheira.

— Eu não sei se desculpo você, Hermione. — Ela respirou fundo. — Sabe, você chamando todo mundo pra esse jantar e falando sobre tudo como se essa história toda você uma grande diplomacia, não, eu não... — Cedrico respirou fundo. — Eu ainda estou magoado. Eu preciso de um tempo. Mas eu não tenho raiva de você. Ou da Cho.

— Eu respeito isso.

— Imagino que agora você respeite, mesmo. — Cedrico e Cho se sentaram. Molly Weasley, quem estava sentada, deu um sorriso gentil para toda a situação.

— Bem, imagino que não tenhamos mais nenhuma surpresa...

— Na verdade, eu gostaria de dizer uma coisa, aproveitando o momento. — Para a surpresa de todos, Ginny quem dissera tais palavras. Hermione arregalou os olhos, aquilo não estava previsto, oh, merda. — Mãe, pai, eu sei que vocês já desconfiavam a muito tempo tempo da minha sexualidade, mas eu acho que esse é um bom momento para afirmar de uma vez que eu e Luna estamos juntas. — Lovegood deixou cair seus talheres, completamente corada e tímida. A surpresa com toda situação a deixou vinte vezes mais desajeitada. Ginny sorriu. — E eu amo muito essa garota. Com toda a minha vida.

— Ah, meu bem, claro que eu e eu acredito que todos dessa mesa apoiamos seu relacionamento... — Hermione e Ron se entreolhavam, meio supresos com tudo que estava acontecendo e sem saber como agir. Ronald foi mais impulsivo e se levantou, bateu a mãos na mesa para chamar a atenção de todos e Granger, automaticamente, voltou a se sentar tensa como uma rocha.

— Eu e Hermione também estamos namorando! — E a mesa parecia chocada novamente. Os pais de Hermione arregalaram os olhos em um canto, Richard se engasgou sua bebida. — Desculpa, eu... Nós... Um discurso... Ah... — Ron apenas voltou para o canto e Hermione escondeu o rosto entre as mãos.

— Ah, bem, muitas revelações estão acontecendo agora e isso é bem chocante. Mas deixamos bem claro que apoiamos todos, somos pessoas civilizadas e estamos felizes por todos os relacionamentos. Acredito que não há mais nenhuma surpre...— O discurso de Remus foi completamente interrompido assim que o celular de Harry começou a tocar, o garoto pediu desculpas, se levantando e atendendo. Mas logo seu rosto entrou em alerta e ele começou a perder a compostura, pegando seu casaco rapidamente e a chamando a atenção de todos ali sentados.

— Draco?! Você tá chorando?! Meu bem, me diz o que tá acontecendo, eu tô preocupado, espera, respira fundo... — Harry parecia apavorado, ele nem ao menos seu despediu quando saiu às pressas do restaurante, Hermione tinha ficado pálida, ela parecia que ia ter uma ataque cardíaco a qualquer hora. Sirius estava de boca aberta ao lado do esposo, tentando processar se eu filho tinha mesmo acabado de chamar a cria dos Malfoy de "meu bem".

Remus respirou fundo e disse:

— Alguém gostaria de mais sobremesa?

[💘]

Harry Potter ainda não tinha alcançado suficientemente a idade para dirigir, ele estava quase lá, no entanto, porém isso não o impediu de pegar sua bicicleta de trás do carro do seus pais e correr em meios as nuvens nubladas do céu da noite e contra a ventania forte que cercava a cidade. Correndo em direção a localização confusa e aos prantos de Draco Malfoy, que no meio da praça central, estava de alguma forma, perdido. Em todos os sentidos.

Não havia nada no caminho de Harry quando se tratava de alguém com quem ele se importava. Não haviam carros buzinando, não haviam sinais, não haviam placas. Não havia nada. So havia eles.

Quando ele chegou, seu coração quase parou de bater, a chuva já tinha começado e estava forte, o vento frio erguia a camisa branca comprida de Malfoy, que abraçava o próprio corpo e fazia uma careta de choro, o cabelo grudado ao rosto, parecia um garotinho de pijamas perdido ao longe. Harry jogou sua bicicleta de qualquer jeito e correu, correu como nunca, seu óculos ficando manchados pelas gotas de água. Mas ele sabia que era Draco ali, que era Draco correndo no meio da chuva e largando seus chinelos no caminho, enquanto se jogava em seus braços , descansando os braços ao redor de  seu pescoço e soluçando. Malfoy sabia que era Harry só pela forma que ele o segurou, como ele o carregou e com a voz mais gentil do mundo, nenhum um pouco menos preocupada de quando toda aquela situação tinha começado, perguntou:

— O que aconteceu?

Draco fungou, suas lágrimas se misturando com a chuva.

— A minha... A minha... A minha mãe, Harry. A minha mãe.

— O que tem a sua mãe, Draco? Por favor, tenta se acalmar, eu tô aqui...

— Desde que meu pai se foi, ela não está bem... Eu tentei de tudo, Harry... Eu tentei de tudo... Eu estive lá por ela... Eu estive... — Seus soluçõs o impediam de continuar a falar com clareza.

— Eu sei que você esteve, Príncipe, eu sei que esteve. Não se culpe.

— E ela sempre estava com aqueles remédios. Aqueles remédios para dormir e ela me dizia que estava apenas seguindo a receita do médico e que ela não estava exagerando, ela... Eu cheguei em casa, e ela estava desacordada. A minha mãe, Harry, a pessoa que eu mais amo no mundo... Desmaiada no chão, e meu padrinho estava lá e ele estava dizendo, Draco, respira fundo ela teve uma intoxicação e de repente eu não conseguia ouvir mais nada... Eu só corria e corria e corria e corria... Harry, eu não posso perder a minha mãe, Harry. Eu não posso...

— Draco, vai ficar tudo bem, eu tenho certeza que ela vai ficar bem...

O choro de Malfoy ficou pior e vê-lo assim foi a cena mais destruidora que os olhos e o coração de Harry já tiveram que assistir.

— Eu não consigo pensar em nada...

— Eu vou levar pra um lugar seguro, pra fora dessa chuva, está bem? Nós vamos ver como está sua mãe quando tudo isso acabar, você deve ter tido uma crise de pânico no momento. Mas vai ficar tudo bem. Vai ficar bem.

— Harry... Por favor. — Draco se despedaçou ainda mais, Harry podia senfir seu corpo amolecendo e ficando mais fraco. O loiro sussurou: — Apenas me leve para o seu lugar seguro.

Harry Potter ligou para Sirius Black e gritou inúmeras vezes para que ele viesse busca-los no endereço certo, enquanto isso, ficando cada vez mais fraco, Draco perdia a força de seu corpo, Harry gritando cada vez mais, o segurando rente ao seu peito como se seus braços fossem suficientes para protegê-lo.

A chuva não enfraqueceu em nenhum momento.

[💘]

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