Capítulo 9 :Um Presente Amigo
Junho de 2014
Uma tarde mais do que agradável com amigos, fora suficiente para diminuir os olhares desagradáveis de George e Samuel. Gerda parecia tão carinhosa quanto jamais estivera antes, e ver todos ali curtindo o feriado e as férias assim como podiam, era um ótimo começo de se organizar as memórias que agora ia construir.
A um ano, ela estava sentada aos pés da cama do quarto onde dividia com mais cinco meninas. Agora, ela tinha amigos, uma família, e logo tudo poderia ser definitivo.
Para Genevieve não era diferente, imaginar que podia se decretar mãe, ainda que no íntimo soubesse que seu papel na vida daquela menina era outro, era um dos milagres mais belos já existentes, depois de todo o terror do passado. Ela não era capaz de imaginar o que Anelise poderia ter passado, mas, estava grata por saber que agora, podia lhe proporcionar amizade, bons estudos e uma vida mais que confortável.
Observá-la sorrir com os amigos na piscina lhe trazia memórias do passado, das quais lhe faziam encher os olhos de lágrimas, porque olhar para ela, era como ver Gerda adolescente novamente.
— Estava me recordando agora, vendo as crianças ali — dissera ela, chamando a atenção dos presentes. — Quando tínhamos a idade deles, costumávamos vir para cá com nossos amigos. E Emma Cooper, a tia de Caden, pulou em cima de Gerda e... bem, estávamos sendo jovens inconsequentes e bebíamos alguns drinks batizados, quando tudo aconteceu, e de repente, haviam três pessoas largadas sobre a água desta piscina e Emma e eu, achávamos que estavam mortos, mas, no fim, só fora uma pancada estranha e... — Genevieve começou a rir, e reparou de canto de olho que Anelise se aproximava— quando viramos eles, os três grunhiram e ficaram bravos com...
— Ah, eu me lembro deste dia. — Comentou Augusto, nostálgico.
— Se lembra disso Gerda?
Genevieve encarava a irmã, esperando uma resposta, assim como todos os outros presentes, mas, naquela tarde de verão, a mais nova dos Mitchel só conseguira balançar a cabeça em negativo.
— Obviamente, ela não se lembra — Concluiu George, seu marido.
— Foi assim que eu... — Gerda colocou a mão sobre a parte de trás da cabeça, e de repente, deixou a sua pergunta suspensa.
— A senhora e minha tia eram bem próximas assim?— Indagou Gabe.
— Ah, unha e carne. — Contou Augusto, rindo.
— Uma pena eu só ver a minha amiga, quando ela resolve abandonar a França— Disse Genevieve, com a voz carregada de tristeza.
— Vocês três estavam sempre juntas, chegavam a ser insuportáveis— comentou Carlo, de forma áspera.
— Ah, eu tenho boas lembranças dessa época— Dissera Blanca, de forma saudosa.
— Eu sinto, muito. — Disse Gerda, com os olhos nadando em lágrimas, mas, ainda assim, sustentando um triste sorriso.
— Está tudo, bem. — Tranquilizou ela, enquanto observava o cunhado se levantar, irritado.
Era como se George fizesse questão de fazê-la soar como uma impiedosa, egoísta, desalmada.
Anelise que ouvia tudo atentamente tentava imaginar em meio a nova conversa que engatava, como seria ver Gerda e Genevieve em sua idade, e imaginar que um namoro de escola, como dos seus atuais pais, poderiam durar tanto tempo, resultando em um casamento.
— Porque se desculpa sempre que recordam do seu passado? — Indagou a menina, notando de canto de olho, que George não voltaria tão cedo a ocupar seu lugar.
Gerda ergueu os olhos até ela, piscou pensativa, encarou o chão e depois de longos segundos a respondeu.
— Eu perdi a memória, após um acidente grave quando tinha quase a sua idade. — Revelou ela, com muita calma.
— Entendo — respondeu Anelise, mas, na realidade, só era mesmo capaz de imaginar a situação, de uma maneira distante e fantasiosa.
— Eu nunca sei quem são os três que ela cita, ou porque sempre tem metade da história faltando. Mas, como já deve ter percebido — dizia Guerda, pausando apenas, para pigarrear — nesta família, não se deve fazer muitas perguntas, se não quiser ouvir o que pode te fazer arrepender amargamente.
Sendo bastante realista, Anelise não havia compreendido isso ainda, e ficara a fitando confusa, tentando analisar a que ponto as perguntas dela foram ignoradas para a deixar com tal impressão.
— Mas, eu sei quem são Emma Cooper ou Joane Evans.— Completara ela, dando um risinho.
Assim que Gerda voltou seu olhar para a conversa animada que ocorria, Anelise sentiu pena. Embora, a admirasse muito, por sua gentileza e toda sua fibra moral e postura, ouvir tais revelações, deixavam nulas partes das quais ela mesmo idealizava sobre a tia.
— Eu me lembro de Joane dizer a Carlo, para jamais deixar de entregar potes de geleia a vizinha dela, as segundas-feiras, senão seríamos assombrados, e no fim, ele seguia tudo o que ela dizia, e acabava saindo da casa da velhota, escorraçado pela mangueira do jardim dela— contava Genevieve, com muita empolgação, fazendo os mais jovens sorrirem.
— Aquela mulher era terrível. — Acrescentou Carlo, estremecendo.
A noite chegara voando, e com ela a ida dos familiares dos jovens membros da Bessie. Tudo muito bem organizado, e Max sempre a sombra deles. A música suave sobre o ouvido de todos e os grupos de jovens e adultos, separados.
Duas horas após a chegada de todos, entre muitas risadas e tédio, a campainha tocara, e um rapaz jovem entregara um pacote quadrado em papel pardo, com apenas um bilhete sobre o mesmo, que fora pego por Genevieve.
"Aos atuais membros da Bessie, um presente amigo"
Ps: F. D'A.
Os olhos de Genevieve saltaram ao ler o bilhete e suas bochechas ganharam a tonalidade rosada mais quente possível. Ela entregara o pacote a Liu, e sinalizara com um balançar de cabeça que Anelise devia segui-la.
Após subirem juntas as escadas até o corredor do andar superior, elas se entreolharam e depois de Genevieve suspirar por alguns segundos silenciosos, ela enfim perguntou:
— Porque estamos recebendo um pacote assinado por FDA? — Se a situação fosse normal, Genevieve apenas daria de ombros. Mas, como ela sabia o que continha, e quem enviara, ela desejara profundamente saber o máximo possível do contato da menina com ele.
— Eu juro para a senhora que não faço ideia de quem fez o pedido — respondera Anelise, desconcertada, a observando — embora, eu possa supor que tenha sido Rash ou Liu — pensou ela, em voz alta — mas, eu garanto que seja o que for que contenha eu não faço uso.
Genevieve semicerrou os olhos, e evidenciaram algumas rugas que Anelise jamais tivera visto antes, surgir em sua face muito bem cuidada.
Depois de um longo silêncio, e mais suspiros, e encaradas, ela dissera:
— Espero que possamos ser mãe e filha, mas, amigas Lise— insistira ela, suavizando suas expressões, sendo a mesma mulher tranquila e divertida de sempre— acha que podemos esperar por isso?
— Eu acho que sim.
Anelise respondera, sem precisar pensar por muito tempo.
Depois de uma estranha conversa com Genevieve, Anelise sentira o olhar da me sobre ela o tempo todo durante o jantar. E enquanto o fim da noite se aproximava, eles se separaram dos familiares, seguindo para os arredores da piscina.
— O que acham de pularmos um pouquinho?— sugeriu Max, surgindo com alguns copos.
— Eu acho uma excelente ideia— disse Liu.
— Ótimo— respondeu Max, com um pequeno sorriso, depois direcionando o olhar a Anelise— Carling?
— Eu passo— respondeu ela. Recebendo em seguida um resmungo de desaprovação de Alice. — Você pode pular.
— Sem roupa de banho?— indagou a amiga, cruzando os braços a frente do corpo, como sempre fazia.
— E porque não?
— Sabe...
— Dooble?— indagou Max, interrompendo-as.
— Acho que vou fazer companhia a Anelise— respondeu ela, a contragosto.
Elene optou pelo mesmo, enquanto Rash e Sarah não pensara duas vezes.
— Vou pegar um pouco de água, o que vocês querem?— perguntou Anelise, após uns minutos de silêncio entre as três que observavam os amigos sob a piscina.
— Nada— respondeu Alice.
— Um refrigerante Diet. — Pediu Elene.
Anelise se sentia inquieta desde as perguntas de Genevieve, e passava a pensar que não gostava de ser um motivo de dúvida para outra pessoa.
E quanto mais se aproximava da cozinha, melhor era para ela certificar de que ela lhe lançaria o mesmo sorriso de sempre, sem aquele olhar materno que agora passava a usar com uma frequência maior.
— O que houve?— sussurrava uma voz masculina, vindo da cozinha.
— Um pacote assinado, por ele— dizia uma mulher, qual Anelise reconhecia muito bem a voz. — E eu tenho certeza que eles tem contato com os D'angeles. E... eu não sei Augusto...
— O que você não sabe, querida?
— Se ela... bem, se ela... sabe.
— Sabe? — Um silêncio se formara exatamente no momento, em que Anelise se aproximara da porta, tentando esperar que eles saíssem de lá. — Acha que ela sabe sobre eles e a sua família?
Um longo suspiro era dado por Genevieve.
— Não sei mesmo o que pensar.
— O que foi que tinha no pacote?
— Algo que as crianças pediram— respondeu ela.
— Nada de perigoso, eu espero.
Anelise suspirou, decidida a não prosseguir ouvindo uma conversa que possivelmente poderia não lhe dizer respeito.
— Lise— disse Genevieve, ruborizando.
Anelise sorriu para ambos, e seguiu em rumo da geladeira.
— Não está aproveitando a noite com seus amigos?— Indagou Augusto.
— Conhece o termo BESSIE? — Indagou ela, um tanto indignada por manterem a dúvida nela.
— Ah... — Genevieve entreolhou do marido, para a filha, mas, acabara por pigarrear e depois engolir em seco.
— É claro que conhecemos— respondeu Augusto, sorrindo.
— Então você... foi aceita?
Um olhar de impossível que não fosse aceita, fora trocado entre o casal.
— É, isso— respondeu ela.
Com as mãos ocupadas, ela apenas ergueu as sobrancelhas a espera de que lhe dissessem mais alguma coisa.
Percebendo que não ocorreria, seguiu seu caminho, satisfeita consigo mesma por tomar a iniciativa de lhes dar motivo para não desconfiarem mais dela.
Era uma dúvida intensa que lhe percorria, e ninguém poderia julgá-la. Ao adotar Anelise. Esperava que a verdade fosse revelada no momento certo, mas, como estava fora dos atuais acontecimentos da "filha", estava começando a sofrer com a falta de informações e a possível presença de Fernando, a perturbava.
Ela desejava que Anelise soubesse de tudo, mas, até lá, precisava aguardar e tomar toda cautela possível.
— Sua bebida— disse Anelise, entregando o pedido de Elene.
— Obrigada.
— Carling, estamos aqui perguntando, qual seria a profissão dos sonhos de cada um— contava Max— Liu disse que quer ser empresário e espera um dia, quando enfim se cansar de ser um jovem vivido e desejar o tédio, palavras dele, não minha— explicou— assumir o posto de seu pai. Eu ainda estou me decidindo sobre o que de fato fazer com Oxford no outono e Rash, que ser...
— Esportista. — Interrompeu Sarah, segurando o riso.
Alguns acabaram caindo na risada.
— Não sei porque meus sonhos são engraçados— disse Rash, dando de ombros, ignorando-os.
— E seu esporte favorito seria levantamento de copos?— Indagou Gabe, sarcástico.
— Badminton. — Corrigiu ele, de forma pomposa.
— Na UCL não tem Badminton— intrometeu-se Sarah.
— Não conte ao papai— murmurou ele, como se repreende-se a irmã, enquanto lhes revelava um segredo— mas, eu me candidatei a universidade de Manchester.
— Boa escolha. — Aprovou Max.
— Manchester? — Indagou Sarah, com uma voz esganiçada.
Elene a repreendeu com um olhar, que lhe fizera recordar de não chamar atenção para aquele devido momento.
— Anelise. Diga-nos, para onde pretende ir?— Insistia Max.
— Ela pode muito bem tentar Yale— disse Alice.
— O programa de Artes é muito bom— disse Gabe, concordando— embora, eu acredite que NYU e a London Academy seja ainda melhor.
Era como se ele soubesse que para alguém que jamais sonhara ter um ensino superior, ao menos não de forma tão fácil, que não as convenientes comunitárias, sonhar com Yve Leagues, era coisa para conversas muito mais futuras.
— Ainda não sei— disse ela— talvez eu escolha arte.
— Sem dúvidas, Artes, seria o seu curso ideal— disse Alice.
— E o seu?— indagou Sarah, para Alice.
— Moda— respondeu ela, um tanto exitante.
No segundo seguinte o que se seguira, fora falta de compaixão e maturidade de Liu que zombara com uma risada esnobe do sonho de Alice.
— Gabe?— indagou Elene, voltando sua atenção para o amigo.
O rapaz ergueu os olhos até ela, depois encarou a todos, suspirou e pensou silenciosamente por alguns minutos.
— Eu estive mesmo optando por estudar direito e literatura— dissera ele, em resposta. — Contudo, meu pai espera que eu curse Administração, e isso me frustra um pouquinho.
— Todas as Yve Leagues, tem leques abertos para suas opções— disse Rash, secando a garrafa.
— Mas, eu não sei... — Opinou Max— Gabe me exala um ar de um bom aluno de Harvard.
Ambos sorriram, e Anelise concordara de imediato, embora, não soubesse o que exalava um aluno da tal instituição.
— E você Elene?— indagou Liu. — Vai arranjar um herdeiro nobre como a tia dela?— Liu apontara imediatamente com a cabeça, em direção de Anelise. — Ou vai enfim fazer algo da vida?
— Medicina... Engenharia... São notáveis opções.
Max erguera as sobrancelhas encarando-a. Todos pareciam duvidar dela, exceto Anelise.
— Não Publicidade? Fotografia? — Indagou Liu, confuso.
— Não— respondeu ela, dando a língua.
— Talvez você possa acrescentar química. — Sugeriu Anelise, fazendo todos a encararem.
Elene passou alguns segundos piscando, tentando compreender, e mesmo que os outros não percebessem em meio a zombaria, ela lhe oferecera um sorriso de agradecimento.
Como se apenas ela, pudesse compreendê-la.
Duas horas mais tarde, os meninos seguiram para suas respectivas casas. Sarah, acabara sedendo a chantagem emocional da mãe, e recebera a companhia de Elene.
Gabe por sua vez, optara por aguardar os pais que engatavam na conversa com os Craling, e seguira na companhia de Max, Anelise e Alice.
— Queria dizer que entendemos se não tiver analisado ainda o que deseja fazer da vida — dissera em apoio a ela.
— A maioria nunca sabe o que fazer mesmo. — Acrescentou Max.
— Não estou chateada— respondeu ela.
— Então o que...
Mas Anelise negara com a cabeça, não queria falar que na realidade o que a perturbava era a desconfiança sobre o pacote, e a relação dela como remetente que vinha da parte de Genevieve e Augusto, além disso, fazer isso corroboraria para o ato de assumir que ela não havia deixado o assunto de lado.
— Eu acho que poderíamos ver um filme. — Sugeriu Max.
— Ah! — Exclamou Gabe. — Não acho que terei tempo para isso.
— Lise— chamou Alice— e você?
— Acho que eu vou precisar dormir— respondeu ela, pigarreando em seguida.
Não demorou muito para ela se dispersar da conversa e observar de onde estavam os outros dois casais a sala de entrada, conversando com muita empolgação.
Ela nem mesmo percebera que suspirava, e só se dera conta que era observada quando vira os olhos de Gabe fitá-la.
— Acho que consegue enganar todos eles senhorita Carling, mas, não a mim— insistiu ele.
Anelise suspirou derrotada, e pensou no pijama cheio de coelhinhos que a esperava, mas, no fim das contas enrugou os lábios e o respondeu.
— A alguma coisa acontecendo que eu não sei se deveria buscar respostas ou não, sabe — ela juntou as mãos buscando coragem. — Eu ouvi Genevieve e Augusto se perguntando sobre o fato de conhecermos o Fernando. — Revelou ela, em um sussurro.
Gabe enrugou a testa, juntando as informações.
— E qual seria o problema de o conhecermos?— Indagou ele.
— É isso que eu queria saber— disse ela, em resposta— e além disso, fica o tom de desconfiança.
— Agora entendo— disse ele, olhando de relance para os adultos.
— Bom, agora eu preciso mesmo ir me deitar— disse ela.
— Ok, boa noite Lize— disse ele, sorrindo.
— Boa noite, Gabe.
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