Capítulo 5: Uma Bessie Parte 1



Janeiro de 2014

Anelise não se lembrava de nenhum momento em sua vida que tivesse tamanha quantidade de coisas que pudesse chamar de suas, muito menos de abandonar uma casa, qual estaria de volta aos fins de semana. Embora tivesse tido um lar nos últimos quinze anos, a menina sabia exatamente que um lar onde dezenas vivem, não é um local aconchegante de verdade, principalmente por falta de privacidade.

Fechava a mala com muita precisão, enquanto certificava em silêncio mentalmente se havia deixado algo de fora da lista que criara para trás.

— Anelise, está pronta?— indagou Genevieve.

— Quase— informou ela, levantando-se com pressa, correndo até a janela do quarto, para visualizar no reflexo, se algo em seu uniforme estava fora de ordem, ou do padrão explícito no panfleto, de regras e dicas da instituição.

Enquanto Genevieve ajudava Anelise a descer seus pertences, Augusto observava as janelas da casa, do interior de seu carro. Havia semanas que esforçava-se para manter-se calado diante das difamações ditas pelas costas da garota, ou as perguntas indiscretas que lhe faziam pessoalmente. Ele sabia claramente que toda a situação seria diferente e muito maçante no início, mas, agora era capaz de enxergar a verdadeira face dos Mitchel. Nunca havia duvidado de sua esposa, mas, tentando levar todas as queixas e comentários ofensivos na esportiva, ele jamais imaginou que estavam na realidade sendo excluído pela família.

Ao menos era isso que ele imaginava que Samuel Smith, desejava fazer com Anelise.

— Ela já está, pronta— anunciou Genevieve, entrando no carro, enquanto a distância, na porta de entrada, Anelise se despedia de Blanca.

— Será que estamos tomando a melhor decisão?— indagou Augusto preocupado, observando o olhar profundo e sincero de sua esposa.

— Não temos nada a temer Gus— ela acariciou parte de sua face— nossa menina é forte!

Nossa, murmurou ele mentalmente. Corretamente, deveria ser dito sua, e não deles, mas, Augusto estava metido de pés, mãos e corpo inteiro no plano de Genevieve, e jamais ia dar qualquer sinal, que expusesse o que aquela gentil e doce menina merecia ter de volta.

— Estou pronta!—afirmou ela, enquanto fechava a porta traseira do carro e colocava o cinto.

—Perfeito, o caminho até lá, é um pouco longo— informou Genevieve, empolgada.

O relógio apontava cinco e seis no relógio do carro, a rádio tocava o Jazz suave, e o tempo estava tão gélido e úmido, quanto se poderia ser digno de um inverno em Boston.

Seus olhos procuravam por sinais de energia para se manter acordada, mas, a única coisa que era capaz de fazer, era falhar em conter um ansioso bocejo.

— Se quiser descansar, não terá nenhum problema— sugeriu Augusto— pelo que me consta no horário, você terá aula até as quatro da tarde, com pequenas pausas para as refeições, apenas.

Ela sorriu para o rosto que a observava pelo retrovisor e encostou a face na janela. Era um início de semestre novo, em uma instituição nova, e ela com certeza, necessitaria de energia para esta nova empreitada.

As sete em ponto, depois de um trânsito leve, os Carling desciam do carro e descarregava a bagagem de Anelise, no estacionamento da Academia St. Paul. Um prédio imenso, que indicava obter no mínimo dois andares. E um terreno amplo, cujo qual, Anelise jurava internamente haver ocupado um bairro, ou minimamente, uns seis quarteirões.

— Animada?— indagou Genevieve com um largo sorriso, enquanto aparentava limpar algo de sua bochecha.

— Acho que sim— dissera ela, um tanto sonolenta.

—Meninas, poderiam me dar uma ajudinha?— pedira Augusto, enquanto descia uma pequena caixa do carro.

Próximo a larga porta de vidro que abria automaticamente, revelando um ambiente climatizado muito mais aquecido que o exterior, havia uma mulher elegante, vestida socialmente de saia reta, camisa e blaser, com a postura ereta, aguardando-os.

— Senhora Mitchel— cheia de simpatia, a mulher partiu até Genevieve.

— Oh senhora, Osborne, não há necessidade tanta formalidade— pedira Genevieve, abraçando-a, depois lhe lançando uma piscadela— não é mesmo Lisbet?

— Faz parte do protocolo Genevieve— lembro-a a mulher— senhor Carling, que bom revê-lo.

— É bom vê-la também, Lisbet— respondera Augusto, em meio a um aperto de mãos.

— Como está Merlina e Oliver?— indagou ela.

— Ah, muito bem, animados para a segunda fase do primeiro ano deles, espero— respondera a mulher— E você deve ser a famosa Anelise, certo?

— Sim, senhora.

Ambas se cumprimentaram brevemente, portando um sorriso civilizado.

— E como devo denominá-la. Carling? Mitchel?

— Bom, acho que... Carling, seria o correto— respondeu Genevieve, sorrindo para Anelise e o marido.

— Acho que Carling, soa muito bem, não acha Anelise?

— Acho que sim— concordou Anelise.

Nunca imaginara poder ter um sobrenome, e embora o senhor Augusto parecesse estar muito mais emocionado do que ela, Anelise se sentira oficialmente um membro da família, ainda não oficializada por eles.

— Bom, creio que a senhorita Carling, deseje conhecer o novo quarto, antes que perca o café da manhã, e acabe se atrasando para a primeira aula— dissera a senhora Osborne— vocês poderão me esperar na minha sala, não vou demorar, tenho certeza que Genevieve sabe muito bem o caminho e poderá guiar o senhor Carling, enquanto Anelise conhece seu novo quarto.

— É claro— assentiu Augusto.

— Nos veremos em breve Anelise— disse Genevieve abraçando-a— tenho certeza que se precisar de algo, não vai hesitar em me chamar, certo?

Anelise assentiu.

— Bem, creio que esteja na hora de deixá-la ir— disse Augusto— nos vemos no fim de semana— ele abraçou-a.

— Vai ficar tudo bem— encorajou-a Genevieve, depositando um beijo em sua bochecha.

Anelise sorriu para os Carling, e seguiu ao lado da senhora Osborne por cerca de seis corredores e dois lances de escada, com uma bolsa e sua caixa.

Haviam poucos alunos circulando e como em sua grande parte, estavam entusiasmados em suas conversas, mal notavam a sua chegavam.

Elas interromperam a caminhada exatamente na porta duzentos e doze, onde breves batidas, revelaram uma jovem um tanto conhecida.

— Bom dia, senhorita Dooble— cumprimentou a diretora— a senhorita Carling, irá dividir o quarto com a senhorita a partir de agora— o olhar e o sorriso amigável, chegava a soar suspeito de tamanho empolgamento de sua parte.
— Oh, bom dia senhora Osborne— Alice inclinou o pescoço para a direita e sorriu para Anelise, que passara pelo espaço aberto pela senhora, que estendia o braço na direção da outra jovem, sorriu— seja bem-vinda Anelise.
— Obrigada— agradecera a ambas.
— Bom, espero que possa mostrar tudo aqui para a senhorita Carling, Alice, antes do horário da primeira aula— ela pigarreara
— agora se me deram licença, tenho um casal de pais me aguardo em minha sala.
Um último sorriso e a porta logo fora fechada.

Havia uma cama vazia, e Anelise não exitara e depositar suas coisas imediatamente.

Não demorara muito para que ambas seguissem até o enorme refeitório da instituição, muitos alunos entravam e saiam, e ocupavam as mesas e a fila para pegar a refeição. Bebidas quentes, bolinhos e ovos com bacon eram disponibilizados, assim como chás e cafés, e uma porção de lanches saudáveis. Haviam suplementos em barra e cereal e leite em uma máquina própria para os alunos fazerem a mistura, iogurte e torrada com pequenos potinhos lacrados com geleia de um sabor qual Anelise, não saberia dizer, também estava disponível para os alunos. Por fim, ela vira um espaço mais aberto com algumas frutas típicas do inverno, o que ela acrescentara a bandeja.

— Eu sempre amo o café da manhã daqui— confidenciava Alice— é fascinante quantas opções eu tenho a minha disposição.

Anelise sorrira para ela, em resposta. Desde que se juntara aos Mitchel's, acostumara-se a tamanha fartura.

— Infelizmente, em casa mamãe me obriga a seguir uma dieta rígida, com sucos esverdeados e azedos, e comidas sem gosto— ela expressou uma carreta— é terrível, mas, ela diz que pode me ajudar a emagrecer.

— Ela faz isso, sempre?— perguntou Anelise, enquanto a seguia, dentre as mesas, e os olhares curiosos dos alunos.

— Ah, sim. Desde que ela percebera que eu vou ficar muito mais parecida com minha tia Nancy, a irmã de meu pai, do que com ela, quando tinha a minha idade— os olhos de Alice reviraram, e então ela se aproximou de uma mesa, com pessoas de rostos não muito estranhos para Anelise— pessoal, vocês devem lembrar da senhorita...

— Ora, ora, a nova Mitchel— comentou Rash, ao vê-la.

— Sente-se conosco— ergue-se Gabe, apontando para as duas cadeiras vazias no meio do grupo.

— Olá senhorita... Lisel?— indagou Sarah, fazendo uma careta de confusão.

— É Anelise, sua lerda— respondeu Liu, rispidamente, revirando os olhos para a garota.

— Será que podem parar de gritar?— indagou Elene, impaciente, ajustando os óculos escuros sobre o rosto, brincando com sua comida.

— Ninguém aqui está gritando— respondeu Liu— e você deveria logo tomar esse café todo que você pegou, antes que esfrie.

— Ou que a senhora Campbel te pegue, na próxima aula— lembrou-a Sarah.

— Ah, céus, isso me lembra, que esquecemos de pegar os seus horários— dissera Alice, em um gritinho, depositando a mão sobre a testa e arregalando os olhos, ansiosa.

— Não se preocupe Dooble, você terá tempo para...

— Se ela esperasse um pouquinho só para o café da manhã teria dado tempo— resmungou Sarah, maldosamente.

— Eu mesmo irei com Anelise, pegar os horários dela— dissera Gabe, oferecendo-se.

— Ah, não a necessidade, eu posso...

— Muito obrigada, Caden, sabe que eu...

— Respira um pouco— pediu ele.

A agitação anormal de Alice, fizera até mesmo Anelise, abandonar o café da manhã.

— E para qual ano você está indo?— indagou Liu.

— Primeiro— respondera ela, em uníssono com Alice.

— Maravilha, estaremos todos juntos então— celebrou ele.

— É, com certeza é uma maravilha— resmungou Elene, bebericando o café, e esboçando uma careta, afastando-se do copo— eca, frio— e então pigarreou— diga isso ao seu pai e ao meu avô, e vejamos se haverá algum motivo para celebrar.

— Liu e Elene, deveriam estar no segundo ano— revelou Alice, em um sussurro.

— É, mas, a diretora achou muito injusto nos dar vinte e cinco páginas de trabalho em troca de complemento de notas para as matérias que faltavam, porque segundo ela, não poderíamos ter tratamento especial.

— Pensasse nisso, antes de gastar mais tempo fugindo da realidade, do que estudando— repreendeu Gabe.

— Sorte sua, ter escapado por um momento apenas— dissera Elene, e Gabe abaixara o olhar.

— Passado pessoal, passado— dissera Rash, em tom melodioso.

— É o que minha mente diz, sempre que eu entro na sala de aula— brincara Liu, fazendo Alice sorrir.

Era um grupo animado, mas, nada lhe tirara tanta paz quanto a lista de deveres apenas em seu primeiro dia. Entrar no meio do ano, parecia estar começando a lhe custar boa parte do seu tempo, embora, estudar fosse algo que gostasse de fazer. Entretanto, prendera a respiração varias vezes durante aquele dia, e não fora pelos comentários indiscretos de Elene, mas, sim, porque jamais se sentira tão incapaz e atrasada em toda sua vida.

O ensino em nossa instituição senhorita Carling, pode ser um pouco diferente do que está acostumada, dissera a professora de literatura.

Não podemos comparar ambos os estilos de didáticas, senhorita Carling, mas, lamento em dizer que terá de se esforçar para alcançar a turma, informou o professor de matemática.

— Eu sinto muito— lamentara Gabe, lhe entregando mais um livro que faltava para a pilha daquele dia— devíamos ter previsto que...

— Eu estava muito atrasada em relação a turma?— indagou ela, arfando e revirando os olhos em seguida, ainda carregada de muita ironia. Havia ouvido tanto aquela mesma frase que começava a se sentir verdadeiramente deslocada.

Embora, houvesse milhares de provas apontando para que motivos jamais faltariam para que se sentisse assim, de fato, ainda encarar aquela pilha imensa de livros em seus braços, não ajudava em nada.

— A biblioteca está a sua espera das oito da manhã as seis da tarde Anelise, não precisa trazer todos esses livros para o quarto sabia?— embora ela compreendesse, que Alice só desejava ajudá-la, naquele instante, perguntar o óbvio não a ajudava.

— Tenho que me adiantar com a leitura, preciso...

— Não precisa se adiantar, eu mesma não conclui nem um terço da leitura— confessou a colega de quarto— além disso, acabamos de voltar de férias— explicou, ao dar de ombros— agora vamos, o pessoal deve estar nos esperando.

— O pessoal o que?

Ela não precisara de muita insistência, Alice era muito mais rápida e ainda mais forte do que ela, o que possibilitara virar a cadeira na escrivaninha ao pé de sua cama, e arrancá-la pelo braço do lugar, arrastando-a.

— Está bem, eu vou— dissera ela, em defesa dos músculos e ossos de seu corpo.

— Ótimo— comemorou ela— Elene, não é a mais das pacientes e Rash vai ter um colapso se perdermos o jantar.

Anelise seguira ao lado da colega de quarto em silêncio, não compreendia para que tamanha cerimonia, afinal, haviam os vistos uma porção de vezes durante as aulas. Mas, infelizmente, seu plano de se adiantar para ficar a nível da turma estava mais distante do que ela poderia imaginar, e então sendo vencida, ela decidira tomar o seu jantar.

— Estava analisando os propósitos da aula da senhora Hailey para a minha pessoa, afinal tudo que ela tem a ensinar em física eu já decorei a dois anos, e não entendendo porque tamanho estardalhaço na sala de aula, quando eu a corrigi— dizia Leopold, aquela altura deixando claro que ninguém naquela mesa era pálio para seus conhecimentos.

— Ainda assim, você não tem o direito de corrigir uma pessoa com um doutorado, tendo menos que o triplo da idade dela— rebateu Gabe.

— Eu as vezes acho que sou adotada— exclamou Helene, ao brincar com sua alface, sobre o prato.

— Como assim?— indagou Anelise, confusa. Afinal, com a exceção da visível diferença de idade e altura entre ela e Leopold, era óbvio que ambos eram irmãos.

— Leopold tem uma dotação de inteligência, o que faz com que o QI dele, seja maior do que de qualquer um nesta mesa— explicou Alice, como se fosse algo muito simples, o que era, mas, não para alguém como Anelise.

— É uma doença?— indagou Anelise, preocupada.

— Está mais para uma sorte disfarçada— respondeu ela.

— Entendi.

Mas, na realidade a única coisa que ela conseguia compreender, era que o jovem Leopold, era muito abençoado, mas, ao mesmo tempo, soava como a maioria deles, extremamente arrogante.

O jantar resumira-se em um misto de discussão e planos, Leopold não cedera ao fato de estar errado, pois em sua mente, apenas ele estava certo. Em contraponto, Helene não parava de comentar com Sarah sobre a questão da 'iniciativa de uma nova Bessie', onde alguém deveria provar algo, para merecer alguma coisa, cujo qual, Anelise decidira sabiamente não entreouvir.

— Queria saber como se saiu nas aulas hoje?— perguntou Gabe, alcançando ela e Alice, mais a frente em um dos corredores, na volta para o dormitório.

— Sinceramente, eu nunca ouvi tantas vezes as palavras "precisa estar ao nível", em toda minha vida— respondeu ela, entre um suspiro— mas, eu já imaginava que seria bem diferente do que eu estava acostumada.

— Imagino que com certeza, os orfanatos dão, acesso a educação as crianças— dissera Gabe, enquanto Anelise assentia— em contra partida, vocês devem ter um acesso menor de conteúdos nas escolas públicas.

— Ah, nem tanto— respondeu ela— somente não levantamos temas tão importantes no início do ensino médio.

— Oh, o famoso ensino médio americano— fantasiou Alice— é como nos filmes certo?

— Acho que só diferencia algumas estruturas daqui— respondeu Anelise, estranhando.

— Na realidade, nós não citamos os níveis por aqui, apenas dividimos como anos, 9°, 10°, 11°, 12°,13° e o 14° ano— explicou gabe.

— Mas, eu ouvi Liu dizer, primeiro e segundo ano— disse Anelise.

— Isso foi porque queriam te ajudar a ser inserida na conversa, ou simplesmente porque soa mais fácil para ele, falar assim.

— Então ele está no 12° ano, certo?— indagou Anelise.

— Ah, isso mesmo— respondeu Alice, antes mesmo que Gabe pudesse balbuciar algo.

— Mas, e quanto ao Leopold?— indagou ela, curiosa.

— Bem, no caso dele é um pouco mais complicado— respondeu Gabe, esboçando uma careta, pensativo, unindo suas sobrancelhas— ele está no que deveria ser o 9° ano, mas, como tem a superdotação, está acima de todos nós, de certa forma, sua mente já concluiu todos os anos do instituto.

— O que nos leva a confusão de mais cedo— comentou Alice— alguns professores, cogitam já lhe enviar para a universidade.

— Mas, qual universidade?

— A questão não é qual, porque é evidente que ele seja cotado pelo MIT ou Havard, ou qualquer outra da liga Ivy, mas, o problema, é que a mesma tendência que ele tem para as ciências, ele tem para as artes.

— Poderia ser um Da Vince, então— disse Anelise, de forma sonhadora.

— Uma hipótese interessante— considerou Gabe.

— Acho que ele está mais para Isaac Newton— respondeu ela, dando de ombros.

— As contas dele, são sempre precisas e exatas— revelou Gabe.

— Uau— exclamou Anelise, boquiaberta— talvez eu saiba para quem recorrer caso necessite de ajuda.

O restante do grupo logo os alcançaram e obviamente o tema da conversa mudara em um estalar de dedos.

— Hoje vamos...

— Amanhã— interrompera Liu, imediatamente.

— Então... Anelise— aproximou-se Helene, empurrando Alice levemente, enquanto enrolava uma das mechas do cabelo com um dos dedos— gostaria de saber se gostaria de fazer um favor para nós— sua voz suave, deixara Anelise intrigada imediatamente.

— Que tipo de favor?

— Bem, você não achou que fosse andar com a gente, assim por nada, não é mesmo?— indagou Rash, dando um riso de escárnio.

— Não, eu achei nada— murmurou ela, confusa.

— A questão é que você precisa... — e então todos diminuíram o passo e formaram uma roda em volta dela— seguir alguns passos, antes de ser uma de nós.

— É bem simples— garantiu Liu, assentindo, embora, Anelise desconfiasse daquela veracidade.

— Ser uma de vocês?— indagou ela, confusa e de certa maneira, ofendida.

— É, uma Bessie— vibrou Sarah.

— Bessie— repetiu ela, confusa.

— Isso é nome de poodle— resmungou Gabe— não admito que diga que faço parte desse tal de...

— Bessie?— indagou Helene, de forma desafiadora, erguendo uma de suas sobrancelhas.

— E curioso o quanto você, as vezes tenta ser superior, fazendo o mesmo que nós— comentou Rash, dando lepes tapas no ombro do amigo.

— Não sou...

— Ele tem "suas políticas"— desdenhou Liu.

— Ignore-os— pediu Helene, mas, Anelise focou brevemente os olhos de Alice, que lhe deu a entender que tudo estaria bem— são coisas bem simples sabe, nem todas nós temos direito como eu e Alice, Sarah também...

— Ah sim, fiz toda a passagem para entrar no grupo.

— Ritual de passagem?— indagou ela, indignando-se e abrindo passagem entre o restante do grupo, para subir as escadas.

— Ah Carling, não é nada demais— resmungou Helene, insistente. Seguindo-a pelas escadas— seria meio que ridículo, ser uma Mitchel e não fazer parte do grupo. ]

— Acontece que eu não sou uma Mitchel— alterou-se Anelise, interrompendo seus passos no meio da escada— e assim como o Caden, eu sou contra "rituais de passagem", ou seja, como for que queira chamar— e então, ela prosseguiu seu caminho, ouvindo os risos abafados ao fundo.

— Anelise— gritou Alice, correndo ao seu encalço— espere, Anelise.

Mas, Anelise, apressou os passos o máximo que podia, até o quarto.

— Escuta, eu sei que é difícil, e tudo bem se não quiser, não vou deixar de ser sua amiga se...

— Olha só, deixe de ser careta e seja corajosa uma vez na vida— Helene, irrompeu escancarando a porta do quarto, que revelava o restante do grupo a assistir a cena— eu estou abrindo uma exceção para você, e sei que minha avó me daria horas de sermão por isso, portanto me ouça garota...

— Me ouça, garota?

— É! Não estou aqui para te obrigar a nada, apenas espero que faça três lições, e em seguida, vamos decidir se podemos ou não confiar em você. E uma escolha simples!

— Eu...

— Não vão lhe colocar em risco, eu prometo— disse Alice, lhe oferecendo um sorriso reconfortante.

Odiava se sentir pressionada, e talvez aquelas pessoas só por um momento fossem as tais más companhias que a diretora do orfanato pedia que os mais velhos fugisse de ter nas escolas e na vida.

— Eu não sei— disse ela.

— É só uma tarefa— disse Liu, com impaciência.

— Uma sacola discreta de...

— Xiu— repreendeu-o Sarah, antes que o irmão fizesse todos os alunos curiosos no meio do corredor do dormitório descobrir.

— Podemos contar com você?— pressionava-a Helene.

— Mas eu...

— Eu vou acompanhá-la— ofereceu-se Gabe.

— Ao que?

— Ótimo, porque eu não...

— E então?— indagou Helene, tirando-lhe a atenção de Liu e Gabe que discutiam a porta.

Anelise a encarou, olhou para Alice, depois para os demais a porta, e pensou que se fosse pega fazendo seja lá o que fosse, poderia perder a única opção de ter uma família, em toda sua vida.

— Não posso me meter em encrenca— ressaltou ela.

— E não vai— dissera Gabe, ainda a porta— nós nunca somos...

— Mas, nós somos nós, ela é...— o olhar empático de Anelise, repousara sobre Liu, tornando-se amargamente cruel conforme a voz dele ia se dispersando em meio a ofensa que ele cogitava formar— ela.

— Careta?

— Sem graça?

— Inocente— respondera Gabe, coçando a cabeça, deixando os gêmeos e o amigo, se entreolharem.

— Ignore eles— pediu Helene, sorrindo forçosamente— pense bem, amanhã depois das nove da manhã, entre o intervalo da primeira para a segunda aula, nos encontraremos no corredor em direção aos campos externos, você descobrirá o que precisa ser feito— ela respirou fundo, seguindo em direção a porta— isto é, se tiver coragem de aparecer.

Helene prosseguiu seu caminho como se desfilasse, e levou consigo o restante dos colegas. 

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