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Capítulo 11

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ERA POSSÍVEL OUVIR ONDAS EM ALGUM LUGAR DISTANTE. Tinha árvores ao redor, estava sol e o vento soprava entre as folhas. Nessa lembrança Vaenir tinha onze anos e estava em pé observando a irmã mais nova brincar montando um castelo com pequenas pedrinhas. Alguns metros à direita estava a nave dos pais, uma halcron velha e com o número de identificação raspado. A mãe havia saído para tentar negociar combustível e o pai estava fazendo a manutenção das peças. 

— Vaenir! — Reclamou a mais nova que ainda tropeçava em algumas sílabas. — Você não mim ajuda. 

— Me ajuda. — Vaenir corrigiu pacientemente e se aproximou da irmã. Há muitos anos tinha perdido a vontade de brincar, tudo o que conseguia pensar era sobre as preocupações dos pais. 

Conseguiriam combustível? Para onde iriam? 

Vaenir pegou uma das pedrinhas e observou o castelo pequeno e torto da irmã. Achou tudo uma perda de tempo, o castelo não os ajudava naquele momento. A irmã nem mesmo fazia ideia do que estava acontecendo. Vaenir sentiu a raiva dentro de si crescer enquanto encarava as pedras que a irmã arrumava com cuidado e dedicação. 

O castelo começou a tremer e as duas encararam a estrutura frágil se mover como se um terremoto estivesse acontecendo. A irmã olhou assustada e preocupada para a pequena construção improvisada, mas mesmo assim o castelo ruiu e as pedras rolaram até os pés da caçula. 

A irmã mais nova olhou para Vaenir com os pequenos olhos cinzentos cheios de lágrimas. Foi então que ela percebeu que havia cometido um erro, a dor nos olhos da irmã a deixou constrangida e arrependida. 

A menina derramou uma lágrima silenciosa e Vaenir se aproximou enxugando a lágrima dela. 

— Me desculpa, me desculpa. — Ela murmurou para a menor e a puxou para o seu abraço enquanto se sentava no chão. — Eu vou te ajudar a construir um novo. 

Ela se sentou e a irmã ficou em seu colo, juntas elas juntaram as pedrinhas e começaram a empilhá-las uma sobre a outra. Ela observou as mãos pequeninas da irmã, as lágrimas foram embora para dar lugar a um sorriso inocente e infantil. Vaenir às vezes gostaria de ser como a irmã, sem ter tanta raiva dentro de si. 

— Está bonita assim. — A menor disse apontando para o castelo. 

— Bonito, pequena. — Ela ensinou a maneira correta de dizer e passou os dedos pelo cabelo da irmã, era sempre ela que os penteava. A caçula gostava de deixá-lo preso com pom-poms. 

— Não, bonita. — Insistiu a menor sorrindo com o castelo que estava pronta. — Você é bonita, Vee. 

Vee…

O som ecoou pela mente de Gaevr na voz infantil da irmã. E então de novo…

Vee.

Na voz de Rey. 

A lembrança se transformou em sonho, pincelando imagens e sensações que não ocorreram no passado, mas que se misturavam ao presente.

Ela deixou a irmã brincando com o castelo e olhou ao redor procurando por Rey. Ela viu uma sombra se mover entre as árvores, ela hesitou não querendo se afastar da família. Era tão raro que tivesse sonhos assim, queria ficar mais um pouco e abraçar a irmã mais uma vez e construir um castelo melhor e mais bonito para ela. 

Vee.

Era a voz de um desconhecido, grave, rouca e que ria no final. Um agouro de morte e escuridão. 

Gaevr.

A mesma voz respondeu. E ela temeu que viesse buscá-la, temeu que machucassem a sua irmã e que manchassem o seu sonho, que destruíssem o seu castelo. E então ela aceitou o chamado deixando sua família para trás, indo de encontro ao pesadelo. 

Já não havia mais sol, o mar se calou e o vento até mesmo deixou de seguir ela. Para onde ela estava indo não havia vida. 

Gaevr. 

Disse a voz de um menino, ela se virou procurando a voz e então viu o garoto. Ele parecia ter sua idade ou só um pouco mais velho, ele usava as vestimentas de um jovem padawan, era esguio e alto, cabelos escuros e grandes que cobriam a testa. Ela se aproximou dele no meio da floresta, mas ele não estava olhando para ela. 

Vaenir tocou o ombro do garoto e soube quem ele era. Tudo ao redor mudou, o que antes era uma floresta se tornou o interior de uma nave. 

Ela seguiu o olhar de Ben para ver o que ele estava enxergando. Havia dois adultos na sala. Uma mulher com o cabelo preso em tranças e um homem com uma jaqueta de couro e botas. Eles estavam claramente no meio de uma discussão. 

Leia e Han.

A voz de Ben sussurrou para ela e o garoto continuava encarando os pais. 

— Eu não quero mais, Leia! Eu não aguento mais ficar preso a uma sala discutindo política. — Han dizia para a mulher. — Eu acho ótimo estar na academia de vôo e ensinar outros, mas eu preciso de um tempo. Nós precisamos de um tempo!

— Ah, finalmente concordamos em algo. — Leia disse firmemente. — Precisamos de um tempo!

Han percebeu a conotação na voz dela e rapidamente acrescentou:

— Juntos! Precisamos de um tempo juntos. 

Leia não respondeu e o silêncio que ficou se tornou tenso. Han olhava para ela esperando que ela dissesse algo, mas na expressão dela ele já via que ela estava decidida. 

— Han, você sempre foi mais livre do que eu. — Ela murmurou com certa tristeza, mas a convicção em sua voz era clara. — A política, a diplomacia é minha vida. Não posso mais viver com a cabeça nas nuvens atrás de você. 

Han desviou o olhar, passou a mão no cabelo e se virou de costas para ela até se sentir confiante para encará-la de novo. 

— Eu não posso continuar assim. — Ele murmurou, a voz estava por um fio. — E Ben?

— Luke quer treiná-lo, ele vai levá-lo. — Leia o lembrou. 

Ben endireitou as costas e disse nervoso. 

— Eu não quero ir. 

Mas nenhum dos dois lhe escutou. Vaenir sentia a tristeza dele fazendo seu acelerar, podia sentir o medo do garoto que não sabia como iria ser a vida a partir daquele momento. 

Han olhou uma última vez para Leia e sem dizer adeus saiu pela porta.

— Não! — Ben gritou e então olhou para a mãe indignado por ela não estar indo atrás do pai. 

— Ben, agora não. — Ela disse se virando para que ele não visse as lágrimas nos olhos. Era a frase que Leia sempre repetia para o filho.

Agora não. E Ben sentia que nunca chegaria sua vez de ser notado, de ser sentido. A mãe estava sempre ocupada com leis, discussões e política. O pai estava sempre nas nuvens. Nunca era a hora de Ben. E aquela frase naquele momento o magoou. 

O garoto sentiu a raiva misturada dentro da tristeza crescer em si. Ele saiu correndo da sala procurando pelo pai. Passou por corredores, esbarrou em outras pessoas sempre gritando: 

— Paaai!

Ele correu para o único lugar que Han Solo poderia estar : o hangar de desembarque. 

Ele correu por entre o extenso espaço ignorando as pessoas que o mandavam sair do caminho, ignorando os avisos de perigo e sem se importar que uma nave poderia chegar de repente e o atingir. Ele continuava correndo usando toda a força dos pulmões ao perceber que a Millennium Falcon já estava ligada. 

— PAAAI! — Ele gritou enquanto a nave levantava vôo. Ela partiu para o céu deixando tudo para trás. 

Han Solo partiu sem ter coragem de se despedir. 

Vaenir que acompanhava toda a cena viu o que Ben havia sussurrado. 

— Eu não sei o que vou fazer, pai. — Ele segurou as lágrimas se recusando a chorar ali. — Tem algo sombrio em mim. 

Foi a última vez que Ben chamou Han Solo de pai. 

Vaenir olhou para o céu onde a Millennium Falcon desaparecer da atmosfera. Ela sentiu um vazio dentro de si, a decepção e o sentimento de solidão. Ela conhecia aquelas sensações tão bem que duvidava que sentisse apenas o remorso de Ben. 

Quando ela direcionou seus de volta para o garoto, ele a encarou e disse em um tom ríspido:

— Acorda!

Gaevr abriu os olhos para a realidade voltando a tomar o peso de sua existência. Ela respirou fundo sentindo os pulmões comprindo dentro de si e encarou o teto de seus aposentos. Ela se levantou, o corpo parecia leve sem sua vesyimenta de sith, mas a alma estava vulnerável. 

Ela pegou a capa e o sabre de luz, calçou as botas e prendeu o cabelo se preparando para seguir o dia. Estava cansada, mas sabia que nunca poderia ter um descanso. A Resistência continuava com os escudos de sua tropa funcionando por horas, não havia nem sinal de Luke Skywalker e até o Supremo Líder logo estaria impaciente.

Gaevr seguiu caminhando em direção à sala do comandante, sentindo Ren ausente. Ela tentou não pensar no sonho que tivera, mas a memória que nem mesmo era sua continuava voltando para os seus pensamentos. Quando ela passou pela ponte de intersecção sentiu a presença de Ren. 

Ele estava escarando a organização da tropa através de um painel de vidro. Da altura onde estavam era possível observar toda a movimentação ao redor. Ele estava parado, sem capa e sem o capacete. 

Gaevr se aproximou silenciosamente olhando para a tropa se movimentando. 

— Você amava a sua irmã. — Ele disse já revelando que também vira o sonho dela. 

— E você amava os seus pais. — Ela observou os soldados se organizando em filas e os pilotos se preprando para montar o esquadrão seguinte. — Sempre te achei um idiota. 

Ren a encarou curioso para saber o que ela queria dizer. 

— Você teve pais que te amavam. — Ela murmurou. — Você teve escolha.

— Todos temos escolha. — Ele constatou se lembrando que ela também havia tido uma família. 

Ela balançou a cabeça de forma negativa. 

— Eles se foram, eu fui vendida como escrava e… — Ela engoliu em seco sentindo ele sondando suas emoções. — Eu fiz o que era preciso para sobreviver. 

— Eu também. — Ele respirou fundo e hesitou por um instante antes de continuar. — Eu não sabia o que fazer com tudo o que havia em mim, meu pais não sabiam o que fazer. Me confiaram a Luke, mas ele tentou me matar….

E havia a raiva e mágoa de novo, um peso interminável. 

Gaevr suspirou enfim. 

— Eu entendo. — Ela sussurrou e era sincero. E por um breve instante, o peso pareceu aliviar para os dois. 

Ren se permitiu a olhar, o cabelo avermelhado estava preso e os olhos azuis bem acesos. No sonho ela era mais nova e tinha as mesmas caracteristícas, mas naquele momento era parecia cansada e muito mais voraz. 

Ela se virou para ele o olhando nos olhos, sua mão se moveu como se tivesse a intensão de tocá-lo. Mas ela recolheu a mão e limpou o próprio rosto, por um instante parecia que era uma lágrima. E então outra gota atingiu o rosto de Gaevr e ela olhou para cima como se procurasse se onde a água vinha. 

Ele também sentiu o vento gelado no rosto, ouviu o barulho da chuva e sentiu as gotas pingando em seu rosto. A energia de Rey atingiu os dois e eles se viraram para trás a peocura dela. 

Rey estava encharcada com o rosto sob o capuz de sua capa clara. E pela sua expressão não estava nem um pouco contente em vê-los. Ela se virou para ir embora, pronta para ignorá-los e então Gaevr deu um passo para frente. 

— Espere, Rey! — Ela chamou. 

Rey se virou devagar, olhou para Gaevr e então para Ren. A raiva dela com ele era palpável. 

— Diga. — Disse Ren sabendo que ela estava furiosa. 

— Por quê você o matou? — O rancor em sua voz se misyurou ao som da chuva e o nome de Han Solo pairou entre os três. 

— Você acha que sou um monstro. — Ele concluiu observando as feições dela. 

— Rey, todos nós temos um lado obscuro. — Gaevr disse com cuidado e tentou se aproximar mais um passo. — Você ficaria surpresa se soubesse o que já enfrentamos para chegar até aqui. Luke tem te contado toda a verdade?

Ela se virou desaparecendo e levando com si a tempestade. 

Gaevr encarou a própria luva encharcada se perguntando como os três poderiam ter aquela ligação e como usariam aquilo para se aproximar da garota. 

— Ela faz você se lembrar da sua irmã. — Ren disse compreendendo porque Gaevr queria tanto ser quem colocaria as mãos em Rey. 

O silêncio dela foi a confirmação. Kylo Ren ergueu a mão e ao contrário dela não hesitou, secou as gotas do rosto de Gaevr como se fossem as lágrimas que ela havia chorado quando era uma garota. Como se ele ainda fosse o garoto que fora levado para longe dos pais. Como se no fundo os monstros que eles eram nunca tivessem deixado de assombrar as crianças que eles haviam tentado apagar. 
     
    
     

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notas: a aesthetic no começo do capítulo e para mostrar como eu imagino eles mais novos, espero que tenha ficado bom. estou tentando resgatar e trabalhar mais o passado deles para desenvolver toda a tragetória. ao leitores fantasmas: se manifestem!!!! quero muito saber a opinião de todos e os comentários ajudam bastante. eu espero vê-los no próximo capítulo. um beijo cheio de estrelas. ❤

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