Capítulo 4 - Floresta
ACORDO EM UM QUARTO DIFERENTE DO QUE ESTÁVamos nas minhas últimas lembranças.
Os lençóis abaixo de mim são macios e quentes. Confortáveis. Devo ter caído no sono enquanto chorava, concluo, apoiando meu peso em um dos cotovelos para observar melhor o ambiente em que me encontro e eu mesma. Percebo que, com exceção das botas, ainda estou vestida.
Estou em um quarto pequeno de madeira. Deve ter uns seis metros quadrados e não possui janelas. Estou deitada em uma beliche, na parte de baixo, e a única fonte de luz vem de um pequeno abajur preso na parte de cima da estrutura.
No momento em que começo a mexer minhas pernas para levantar, a cabeça de Halt surge da cama de cima, me observando sonolento. Metade de seu rosto está iluminado pelo abajur, mas a outra permanece no escuro.
— Alyss — sua voz está arrastada e cansada. — Está se sentindo melhor?
Não sei se "melhor" é a palavra correta... O ideal seria "menos pior". Sinto como se um bando de mamutes tivesse me atropelado depois de eu ter ficado deitada numa pedra em baixo de uma chuva bem forte. Não estou com sono, mas meu corpo claramente está implorando para descansar, por mais que eu tenha acabado de acordar.
Mas ao ver Halt assim, exausto, com os primeiros sinais de olheiras em baixo de seus olhos, me sinto uma completa egoísta. Por isso minto quando digo:
— Bem melhor. Por quanto tempo eu dormi? — ele olha para o relógio no pulso.
— Quase dez horas. Você caiu em um sono bem pesado. Não tive coragem de te acordar. Por isso te trouxe para o dormitório junto com nossas coisas — ele apoia a cabeça em um braço. — Não que houvessem muitas.
Assinto. Uau. Dez horas. Em tempos normais, Halt jamais me deixaria dormir tanto. Mas, ao julgar pela situação, ele está me deixando absorver todas as informações em paz.
— Você está péssimo — comento, apontando para suas olheiras.
— Fui resolver algumas coisas em relação ao refúgio. Dei uma averiguada na floresta e montei um horário de treino — ele olhou para o abajur. — Também fui resolver questões sobre nosso dormitório.
Arqueio uma das sobrancelhas em um gesto interrogativo.
— O que tem de errado com o ele?
— Geralmente, os protetores são destinados a cinéticos do mesmo sexo — explica ele. — Porém, quando descobrimos sobre você, estávamos correndo contra o tempo para te salvar dos kallckaras, e, por isso, me escolheram por eu estar mais perto, e.. por.. por eu ter experiencia com um Grande — ele se mexe desconfortável.
Pisco, surpresa. Ele comentou uma vez que perdeu uma cinética no passado. Mas nunca citou seu nome, cinese e nem como tudo aconteceu. Abro a boca para o questionar, mas me contenho. Senti na pele como é duro relembrar do passado. Halt está exausto e... não seria justo. Eu estaria sendo hipócrita se perguntasse agora.
Ele continua depois de alguns segundos:
— Há pouquíssimos cinéticos que possuem protetores do sexo diferente, por isso nenhum dormitório foi projetado com paredes para a privacidade de cada um.
Aceno com a cabeça, indicando que entendi.
— Mas não vamos ser direcionados para dormitórios diferentes, vamos? — a ideia de ter que passar minhas próximas noites em um lugar como este, longe de Halt, me assusta um pouco, mas meu protetor logo nega com a cabeça.
— Não. Eles pensarão em algo, mas sabem o quanto é importante deixar o cinético sempre junto ao seu protetor.
Compreendo isso mais do que ninguém e agradeço por não precisar ser separada de Halt por hora. Volto minha cabeça para o colchão, e coloco os braços em baixo do travesseiro. Por breves segundos, observo a estrutura firme de madeira acima de mim que mantém o colchão de Halt no lugar. Respiro fundo antes de fazer a próxima pergunta, um tanto hesitante:
— Halt... — chamo, e um leve movimento no colchão acima de mim indica que ele está ouvindo. — O que vai acontecer depois de tudo? Digo, o que irá acontecer após essa guerra acabar?
Alguns segundos de silêncio se passam até meu protetor responder com sinceridade:
— Eu não sei.
E, na realidade, acho que ninguém desse refúgio saiba. Não que tudo isso tenha estourado há muito tempo, mas, por mais que Halt e os outros adultos tenham tido a oportunidade de viver uma vida normal por um longo período, eles já estão tão envolvidos nisso que eu duvido que eles se lembrem realmente o que é viver em paz, apenas usufruindo dos prazeres que a vida oferece. Eles, assim como todos os cinéticos, já estão acostumados com uma vida de perseguições, a fugir e tentar ao máximo sobreviver. Não será fácil sermos inseridos na vida social como era antigamente, além de já termos pego uma grande afinidade uns pelos outros. Acho que essa vai ser a pior parte do fim: a separação; o começo de uma vida monótona e extremamente normal, totalmente oposta da que vivíamos.
Mas será que teremos mesmo que nos separar? Eu não sei onde Halt morava antes de tudo e sei menos ainda se ele pretende voltar para lá. Se for em outro país, outra cidade... dificilmente iremos nos ver novamente.
Balanço minha cabeça na tentativa de afastar os pensamentos. Não quero pensar sobre isso agora. Na verdade, eu nem posso me dar ao luxo disso. A guerra ainda não está vencida. Isso se algum dia estiver. Por isso, não adianta me preocupar com coisas que talvez — e muito provavelmente não ù irão acontecer.
E que parecem estar tão longe...
Minha cabeça gira, e eu acabo me levantando da cama. Olho para onde Halt está deitado, parado como uma estátua. Dormiu, enfim.
Calço minhas botas e, silenciosamente, saio do dormitório.
O refúgio é pequeno, e não demoro para achar a saída. A noite está fria, mas isso não me incomoda nem um pouco. Pelo contrário: ela até chega a me relaxar.
Respiro profundamente o ar gélido e me sento na grama macia e levemente molhada pelo sereno. Observo a extensa floresta que cerca todo o refúgio construído exatamente no centro da enorme clareira. Devem haver uns quarenta metros de raio das primeiras árvores da floresta até aqui, e eu me pergunto que tipo de perigos a mata densa esconde.
Claro, se houvesse um ataque, seria para lá que eu correria sem nem pensar duas vezes, mas ao ver uma mata tão escura e fechada como essa, não consigo evitar de pensar no dia em que Will e eu adentramos em uma parecida e quase fomos mortos pela desidratação.
Foi uma sorte tremenda termos chegado no limite quando estávamos perto da comunidade de... moradores da mata, podemos dizer assim. Se não fosse por isso, com certeza estaríamos mortos há muito tempo atrás, e ninguém teria encontrado nossos corpos, ocultos pela floresta, ou, quem sabe, dentro do estômago de algum animal.
Estremeço com esse pensamento e, olhando desconfiada para o breu da floresta, levanto-me da grama, receosa de que algum animal perigoso possa sair do meio do nada para me dilacerar viva.
... mesmo que eu possa derrotar qualquer coisa com meus poderes.
É um pensamento um tanto bobo, mas mesmo assim — acho que por causa do cansaço — volto para o dormitório rapidamente e me deito na cama, completamente sem sono.
Com um suspiro, viro-me para a parede de madeira e tento ficar entediada o bastante para conseguir dormir.
Tenho que estar descansada o máximo possível para amanhã. Preciso obter disposição para enfrentar mais um dia. E apenas de pensar que terei que socializar amanhã... já fico exausta.
|votinho pra mandar forças para Alyss superar isso|
Alysson antissocial, fodac.
Bom, eu não a julgo. Passou maior chororô e ainda vai ter que falar com... pessoas? Yew. Eu não teria capacidade.
Enfim, meus congelados, espero que tenham gostado desse capítulo. Tivemos mais uma recapitulação do livro anterior. Pequena, mas necessária tanto para vocês quanto para mim, que não lembro direito de Cryokinesis. Se você leu recentemente e encontrar algum furo, não hesite em me avisar, por favor! Eu realmente preciso reler meu próprio livro, porque.. nossa, tá tenso hahaha
Até mais, galeurisss!!
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