Capítulo 2 - Pânico

CONTEI O MÁXIMO DE COISAS QUE CONSEgui para Elijah. Falei tudo que sabia sobre os poderes de Will e de Horace, sobre o poderoso canhão que Klonthus usara para destruir sua própria caverna e, claro, sobre os assustadores kollons: os ursos polares geneticamente modificados de Klonthus, cujo nem mesmo os kallckaras conseguiam controlar muito bem.

— Muito interessante — comenta Elijah assim que eu termino meus relatos. — Essas informações serão muito úteis para nós. Obrigado, Alysson. Foi muito corajoso de sua parte contar tudo isso em voz alta. Muitas vezes, é bem mais difícil contar do que viver.

— Obrigada — agradeço. Ainda estou como coração apertado.

— É um grande feito ter passado por tudo isso, mesmo possuindo um dOs Grandes — continua Elijah em seu tom calmo. — Você se saiu muito bem, Halt, com o treinamento dela.

Lanço um olhar indagador para Halt, que abaixa a cabeça.

— Ela... não sabe sobre Os Grandes, Elijah — com certeza deve ser só impressão minha, mas sinto que Halt está um tanto envergonhado com isso.

De fato, lembro-me de que Bob, um protetor aposentado amigo dele, comentou algo sobre eu possuir um tal de Grande. Não entendi direito na hora, e, quando questionei meu protetor sobre isso, ele não me contou nada, alegando que não queria me distrair dos meus treinos.

—Você não contou a ela?

Ele dá de ombros.

— Agenda cheia.

Elijah ri.

— Você realmente não aprende... — ele se vira para mim. — Alysson, Os Grandes é a definição que demos para as cineses mais poderosas e perigosas para um cinético. Quando evoluídas, podem causar estragos inimagináveis tanto para o ambiente e inimigos, quanto para si mesmo.

— Sabemos que você é extremadamente resistente ao frio — fala Helion. — Mas a questão é: até que ponto?

— Seu sangue ainda é quente — complementa Marshall, assentindo.

— Até agora, apenas sabemos da existência da pirocinese, atmocinese, hidrocinese e, claro, criocinese — continua Elijah. — fogo, temperaturas e tempo em geral e água, respectivamente.

— Nunca senti frio depois que a criocinese foi despertada.

— Seus poderes não estão nem perto de estarem em seu máximo, Alysson. E Klonthus sabe disso. Por isso está tão desesperado para pegar os cinéticos logo: ele sabe que vocês são jovens. Sabe que não se desenvolveram o bastante e por isso pode vencê-los.

— A questão é: por que ele quer tanto poder? — pergunto.

— Para ver sofrimento — responde Elijah simplesmente. — É isso o que ele é; um psicopata, e apenas isso.

Algum lugar em minha mente apita. Se tem algo que aprendi nos livros, é que ninguém é mau de graça. Ele quer alguma coisa além de sofrimento. Apenas não sabemos o quê.

— Com certeza deve haver algum...

Elijah me interrompe, entredentes:

Um psicopata, Alysson — sua mão está cerrada, e eu decido apenas concordar por enquanto.

Ele sofre pela sobrinha, penso, e não está conseguindo ver as coisas com muita clareza.

Vendo o desconforto de Elijah, Marshall assume a conversa:

— E é por isso que este refúgio existe: para proteger os portadores d'Os Grandes e prepará-los para o confronto contra Klonthus e os kallckaras.

De novo. A luta final. O destino do qual não posso fugir.

Isso vai me dar uma baita enxaqueca...

— Entendi... — suspiro.

— Sei que não é um destino muito confortável, Alysson, mas, infelizmente, é necessário — diz ele, na falha tentativa de me acalmar.

Como se fosse possível amenizar sua sentença de muita dor e possível morte.

— Klonthus não irá desistir nunca e você sabe disso.

É verdade.

— Ele é humano? — indago. É uma pergunta que me faço há muito tempo. Ele não é um gorila, mas é tão estranho e diferente que nunca tive certeza.

— Sim — Elijah, mais recuperado, fala. — Vocês têm o gene das cineses desde que nasceram. Klonthus, não. Ele deve ter feito uma artificialmente e, por isso, é tão deformado.

Faz muito sentido.

— É só uma teoria, claro — complementa Elijah rapidamente. — Mas é a mais lógica que temos.

— Ele pode ser um alien também — fala Marshall em tom de brincadeira, e Elijah o repreende com o olhar.

Meu protetor observa a situação com um brilho no olhar que sei que é o mais próximo que ele consegue de um sorriso.

— Então por isso que ele tem cineses sendo um adulto... assim como...

— Exatamente isso — Halt fala, me interrompendo com rispidez. — A verdade é que Klonthus é um excelente cientista. Criou os kallckaras a partir de gorilas e faz experimentos que dão tecnicamente certo, apesar dos efeitos colaterais, como os kollons. Não seria surpreendente ele ter conseguido fabricar uma cinese que rouba cineses.

— Se isso é verdade... então deve haver um meio de reverter a mutação de Klonthus.

Mas Elijah nega com a cabeça.

— Ele já está assim há anos e já possui outras cineses. Não há como reverter o monstro que se tornou.

Suspiro. É, não tem como escapar disso, então.

Sinto vontade de abraçar alguém e chorar. É como se todo o peso da Terra e das vidas dos cinéticos estivesse em minhas costas. E eu não me sinto nem um pouco preparada para isso.

Se não matarmos Klonthus, todos nós vamos morrer. E sabe-se lá quantas pessoas que não têm nada a ver com isso também.

A ideia dele agora possuir aerocinese não ajuda a amenizar isso nem um pouco. Se ele treinar bastante (o que eu não tenho dúvidas de que vai), em pouco tempo poderá superar Will. Essa ideia me faz entrar em pânico. Will era forte. Quer dizer, ele é forte. E eu não sei se conseguiria vencer alguém que controla algo que não consigo ver.

Sem que eu perceba, minhas mãos começam a tremer descontroladamente. Olho em volta, temendo que alguém tenha percebido. Não quero que ninguém daqui saiba que eu estou com medo. Não quero pena de ninguém e muito menos desmanchar a minha máscara de coragem que construí até agora para todos dessa sala.

Ninguém parece ter notado. Elijah fala alguma coisa com Marshall, mas, para mim, eles parecem mudos.

Olho para Halt em busca de ajuda. Preciso sair daqui, suplico silenciosamente. Ele entende, e acena para mim com a cabeça antes de se dirigir a Elijah.

— Elijah, se nos dá licença... Eu e Alyss precisamos nos acomodar em um dormitório e eu gostaria de fazer isso o quanto antes, pois ainda quero passar algumas instruções a ela, e se demorarmos muito nas acomodações não dará tempo.

Elijah assente.

— Tudo bem, compreendo. Podem ir — Elijah diz. — E obrigado novamente pelas informações, Alysson. Discutiremos as estratégias em outra reunião.

Limito-me a apenas dar um sorriso de lado para ele, com medo de minha voz estar trêmula como minhas mãos, e sigo Halt para fora da sala.

Ele coloca um braço em volta de meus ombros enquanto voltamos para o quarto onde tomei banho e, assim que a porta é fechada, ele se agacha para ficar da minha altura e me vira de frente para ele, de forma que eu encare seus olhos verdes preocupados.

— O que foi? — pergunta, avaliando meu rosto.

Abro a boca para responder, mas nada sai dela. É estranho. Nunca fiquei em pânico por um motivo como este. Sinceramente, não estou me reconhecendo.

Não consigo impedir as lágrimas se formarem em meus olhos. Halt percebe e me segura pelos pulsos, impedindo-me de fugir.

Minhas pernas fraquejam, e eu afundo minha cabeça no peito de Halt no segundo que sinto as lágrimas escaparem.

Surpreendo-me ao sentir uma mão em meu cabelo e outra no meu ombro, em uma tentativa desajeitada de um abraço.

— Às vezes, chorar é muito importante para tirar o peso — sussurra Halt no meu ouvido. — Coloque tudo para fora, Alyss.

Aos poucos, o peso em meu peito começa a ficar mais leve, e eu percebo que não estou chorando apenas pelo pânico. Na verdade, o "pânico" não passa de um medo pequeno que apenas foi aumentado por causa do meu psicológico completamente abalado.

Eu estou chorando por tudo. Literalmente tudo: por saudade de meus pais, que faz mais de um ano que não vejo; por medo de perder mais alguém; por me sentir culpada pelos poderes de Will; por não ter sido forte o bastante para derrotar Klonthus e consequentemente estar sendo arrastada para outra batalha onde a minha morte é quase certa.

Estou chorando por todo esse peso que carrego há mais de um ano e nunca tive tempo para descarregar. Nunca fiquei em um lugar seguro o bastante para abaixar a guarda. Halt nunca deixou.

Halt. O que seria de mim sem ele? Com certeza apenas um corpo sem vida, decomposto há tempos.

Ele aguenta tanta coisa... treinar uma adolescente... não, não uma. Ele treinou três adolescentes com poderes. E Halt daria a vida por esses três mesmo tendo os conhecido há menos de dois anos e nunca reclamou disso.

E agora... agora ele está pacientemente me observando chorar. Não sei se eu conseguiria ser uma protetora. Com certeza desistiria logo no primeiro dia.

Aperto mais ele contra mim enquanto encharco ainda sua camisa verde, aproveitando ao máximo essa sensação de paz que sei que vai evaporar assim que o sol nascer amanhã. De fato, como Elijah mesmo dissera, são as lembranças que mais machucam.

[se você gosta do Halt, dá um votinho!]

Ai, gente.. não sei porquê, mas esse capítulo sempre aquece meu coraçãozinho... Halt é um protetor em todos os sentidos da palavra, e isso é tão... FOOOOOFO

O que acharam desse capítulo? Ainda estamos no comecinho, mas logo logo vamos chegar nos outros personagens. Espero que estejam gostando!!!


Até mais, meus cinéticos : D

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