0.2 | 𝐎 𝐀𝐑𝐌𝐀́𝐑𝐈𝐎
PEDRO acabou azarando o dia seguinte, pois uma tempestade caiu do lado de fora, forçando todos a ficarem dentro da casa. Sentados em um dos quartos, Susana os convenceu a jogar um jogo com um dicionário. Arabella sentou-se em uma poltrona com seu próprio livro no colo, que já havia terminado de ler, então optou por ouvir Pedro e Susana jogarem seu jogo estranho.
"Ga-tro-vas-cu-lar," Susana falou de seu lugar no sofá e esperou que Pedro, que estava sentado no outro sofá, respondesse, mas aparentemente ele não sabia a resposta.
"Vamos, Pedro, 'gastrovascular'," Susana repetiu.
"É latim?" perguntou Pedro, sua voz transparecendo puro tédio. Susana logo o respondeu, dizendo que ele estava certo.
"É latim para o pior jogo já inventado," disse Edmundo, arrancando uma risada de Arabella e Pedro,enquanto Susana olhava feio para o irmão mais novo e fechava o dicionario com certa força.
" Poderíamos brincar de esconde-esconde" Lúcia sugeriu enquanto caminhava até Pedro.
" Mas já estamos nos divertindo muito "Pedro falou sarcasticamente ,olhando para Susana, que o apenas encarou.
" Vamos, Pedro, por favor... por favor " Lúcia implorou ao irmão mais velho enquanto olhava para ele com olhos de cachorrinho e Arabella sabia que ele acabaria cedendo a ela.
" Um, dois, três, quatro "Pedro começou a contar, o que fez Lúcia sorrir brilhantemente de empolgação.
Arabella levantou-se rapidamente e agarrou a mão de Susana, que hesitou por um momento antes de seguir junto com ela pelos corredores. Elas correram juntas, rindo baixinho, até que encontraram o esconderijo perfeito.
"Aqui," Susana sussurrou apontando para dois baús, um ao lado do outro.Com um olhar travesso, as duas meninas se esconderam dentro de cada baú, é esperando.
"98, 99, 100... prontos ou não, lá vou eu!" A voz de Pedro ecoou pelos corredores, indicando que começava a busca.
"Estou de volta! Eu voltei! Estou bem!" Arabella ouviu Lúcia gritar com entusiasmo, e não pôde deixar de ficar confusa. Ela abriu a tampa do baú o suficiente para espiar e viu Susana fazendo o mesmo. As duas se entreolharam confusas com as palavras de Lúcia antes de fecharem os baús novamente e saírem para procurar os outros.Encontraram os irmãos reunidos perto de um dos quartos, cuja única entrada era um guarda-roupas.
"Então eu e Arabella vencemos?" perguntou Susana, com um sorriso vitorioso.
"Acho que a Lúcia não quer mais brincar," informou Pedro, com um olhar confuso na direção da irmã.
"Estive fora por horas," Lúcia falou, parecendo confusa, o que gerou um olhar perplexo de Arabella.
"Como assim, Lu?" Arabella perguntou, preocupada com a estranha afirmação da irmã.
"No guarda-roupa! Eu entrei lá e ele me levou para outro mundo! Fiquei lá por horas, tomei chá com o Sr. Tumnus, ele é um fauno," disse Lúcia, com um brilho de excitação nos olhos. Um déjà vu passou pela mente de Arabella, trazendo flashes de uma floresta coberta de neve.
"Sr. Tumnus?" ela sussurrou, piscando os olhos na tentativa de afastar essas lembranças nebulosas. Ela olhou para frente, vendo os irmãos Pevensie confusos, encarando Lúcia.
"Vamos até o quarto com o guarda-roupa." Arabella sugeriu, e todos começaram a seguir Lúcia até lá. Arabella e Susana examinaram o guarda-roupa minuciosamente enquanto Lúcia explicava sobre a floresta que havia dentro dele.
"A única madeira aqui atrás é a do guarda-roupa," disse Susana, após verificar cada canto do móvel.
"Um jogo de cada vez, Lu. Nem todos temos a sua imaginação," Pedro comentou com um tom paternal, afastando-se do guarda-roupa junto com os outros, deixando Arabella e Lúcia para trás.
Arabella sentia que algo mais profundo estava acontecendo. A imaginação de Lúcia não poderia ser tão elaborada assim. "Mas eu não estou imaginando!" Lúcia gritou, chamando a atenção de seus irmãos.
"Já chega, Lúcia," repreendeu Susana.
"Eu não mentiria sobre isso," a garotinha retrucou, seus olhos marejados.
"Bem, eu acredito em você," falou Edmundo, e Arabella franziu os olhos, desconfiada.
"Sério?" Lúcia perguntou inocentemente, com um brilho de esperança.
"Claro, eu não te contei sobre o campo de futebol que encontrei dentro do armário do banheiro?" Edmundo brincou. Arabella revirou os olhos e mordeu a língua para não dizer algo que pudesse causar mais confusão. 'Parabéns, Edmundo, acabou de magoar ainda mais os sentimentos da sua irmã', pensou ela.
"Você pode simplesmente parar com isso? Você sempre tem que piorar tudo," esbravejou Pedro.
"Era só uma piada," Edmundo defendeu-se, mas Pedro não cedeu.
"Quando você vai crescer?" perguntou Pedro, impaciente.
"Cala a boca! Você pensa que é o papai, mas não é," gritou Edmundo, enraivecido, antes de sair da sala abruptamente.
"Bem, isso foi o bastante," disse Susana, saindo também.
"Eu não mentiria sobre isso*" Lúcia disse chorosa. "Eu realmente estava lá! Tem uma feiticeira cruel que fez o lugar todo ficar coberto de neve durante séculos! O reino se chama..."
"Nárnia," Lúcia e Arabella falaram ao mesmo tempo, embora Arabella tenha murmurado, tornando-se inaudível para os outros. Mais flashes passaram pela mente de Arabella: a floresta, os castores, a feiticeira, Aslan. Agora, ela se lembrava de tudo. 'Por que eu havia esquecido de tudo isso?', ela se perguntava.
"Não se preocupe com eles, Lúcia," Arabella disse suavemente, colocando a mão no ombro da garota. "Se seu coração acredita nisso, ninguém pode lhe dizer que você está errada." Ela sorriu para Lúcia.
"Obrigada, Bella," respondeu Lúcia, enxugando as lágrimas.
"Só para deixar claro, eu acredito em você," Arabella disse enquanto guiava Lúcia para seu quarto, evitando que encontrassem os irmãos por enquanto.
"Realmente?" Os olhos de Lúcia brilharam com esperança.
"Realmente," Arabella sorriu, confirmando.
Arabella se virava de um lado para o outro na cama, incapaz de encontrar o sono. Cada minuto que passava parecia uma eternidade. Finalmente, frustrada, suspirou e se sentou, jogando os lençóis de lado com um movimento decidido. Colocou seu robe, calçou as pantufas macias e se dirigiu à porta do quarto, determinada a ir até a cozinha preparar um chocolate quente que talvez a ajudasse a dormir.
Ao abrir a porta, deparou-se com Lúcia, que estava prestes a bater. "Lúcia, o que está fazendo acordada a essa hora?" Arabella falou baixinho para não acordar ninguém.
"Não estou conseguindo dormir!" sussurrou Lúcia de volta, os olhos grandes e preocupados.
"Te entendo," Arabella suspirou. "Gostaria de uma xícara de chocolate quente? Isso pode ajudá-la a dormir."
"Isso seria ótimo... mas pensei em irmos a Nárnia. O que acha?" Lúcia inclinou a cabeça, olhando para Arabella com expectativa.
"Eu adoraria," Arabella sorriu, sentindo o coração acelerar de emoção.
"Venha, vamos," Lúcia agarrou sua mão e a puxou em direção ao quarto.
Ao entrarem no quarto, Lúcia soltou a mão de Arabella e correu até a porta do guarda-roupa, abrindo-a com um puxão. Um vento gelado preencheu o quarto, apagando a vela na mão de Lúcia e fazendo seus cabelos balançarem.
"Isso é incrível," Arabella murmurou, olhando com admiração para a porta do guarda-roupa que agora mostrava um portal para outro mundo.
"Vamos, Bella," Lúcia estendeu a mão. Arabella sorriu para Lúcia e segurou sua mão enquanto entravam pela pequena passagem.
A primeira coisa que Arabella sentiu foi o vento gelado soprando em seu rosto. Ela não se lembrava de que era tão frio assim. O vento cortante fez sua pele se arrepiar imediatamente. Logo em seguida, sentiu folhas tocarem sua pele coberta pelo robe. Ela as afastou com a mão livre e, logo, seus pés afundaram na neve macia. Olhando ao redor, Arabella viu que Nárnia continuava a mesma desde a última vez que esteve lá, anos atrás, quando tinha apenas seis anos.
"Continua do mesmo jeitinho de quando estive aqui," Arabella murmurou emocionada, os olhos brilhando.
"Isso é tão magnífico!" exclamou Lúcia, admirada. "Venha! Quero apresentá-la ao Sr. Tumnus."
"Sim, por favor," a animação era evidente na voz de Arabella, feliz por reencontrar um velho amigo. Ela agarrou a mão de Lúcia e começaram a caminhar em direção à caverna do fauno Tumnus.
"Da última vez que estive aqui, o Sr. Tumnus me serviu um delicioso chá," Lúcia falou contente, a lembrança clara em sua mente.
Arabella sorriu para ela. "Vamos, precisamos nos apressar antes que a Feiticeira Branca descubra que estamos aqui."
Apressaram o passo, mas a neve dificultava a caminhada. Não demorou muito para chegarem à frente da caverna do Sr. Tumnus. Lúcia deu três batidinhas na porta. Nervosa, Arabella mordeu o lábio, sentindo uma mistura de ansiedade e excitação.
Logo, a porta foi aberta, revelando o fauno com seu cachecol vermelho enrolado no pescoço. Ele havia mudado desde a última vez que Arabella o viu. Não era mais um fauno adolescente; agora era um adulto, mas mantinha o mesmo rosto amável que ela lembrava. Assim que viu Lúcia, abriu um sorriso caloroso.
"Olá, Sr. Tumnus," Lúcia sorriu de volta. "Trouxe alguém que gostaria que conhecesse," e então seus olhos caíram sobre Arabella.
"Se lembra de mim, velho amigo?" Arabella abriu um meio sorriso, seu coração batendo rápido.
"Não pode ser!" ele murmurou, olhando-a com olhos arregalados, surpreso e admirado.
"Pequena Hope," o fauno disse emocionado, com a voz embargada, enquanto lágrimas de alegria brotavam em seus olhos.
Sr. Tumnus tratou de contar tudo o que aconteceu em Nárnia desde a última vez que Arabella esteve lá. Ele falou sobre os tempos difíceis sob o domínio da Feiticeira Branca e a esperança que Aslan traria para todos. Arabella também aproveitou para contar a ele sobre sua vida desde que deixou Nárnia e como não se lembrava de nada do que havia acontecido ali.
"Estou um pouco confuso," o fauno falou enquanto olhava para ela. "Como você esqueceu sobre sua vida aqui?"
"Infelizmente, essa é uma pergunta que não conseguirei responder, velho amigo," a jovem abaixou a cabeça. "Foi como se minhas lembranças tivessem sido apagadas por... magia. Quando Lúcia falou sobre Nárnia, flashes de lembranças começaram a aparecer até que tudo voltou."
"A única pessoa que seria capaz de fazer isso fora a Feiticeira Branca é..." o fauno teve sua fala interrompida.
"Aslan..." Arabella murmurou, completando a fala.
"Mas por que ele faria algo assim?" perguntou Lúcia, intrigada.
"Lembro-me bem que a Feiticeira Branca estava atrás da jovem Hope," disse Sr. Tumnus.
"Ela queria capturá-la para que a profecia não se realizasse."
"Profecia?" Lúcia perguntou, confusa."A profecia que dizia que 'a esperança de Nárnia trará consigo os salvadores que a ajudarão a derrotar a Feiticeira Branca'," explicou o fauno.
"A esperança de Nárnia seria a Bella?" perguntou Lúcia, e o fauno acenou concordando.
"Esse é o destino dela," Sr. Tumnus sorriu antes de olhar para Arabella. "Devo lembrá-la que a Feiticeira Branca está cada vez mais forte."
"Daremos um jeito nela," Arabella disse com confiança na voz. "Buscarei justiça por vocês, narnianos."
"Acredito em suas palavras, jovem Hope," o fauno sorriu.
"Precisamos ir agora," Arabella alertou se levantou da poltrona onde estava sentada e olhou para Lúcia, que assentiu.
"Sim, a floresta está ainda mais perigosa à noite," disse Sr. Tumnus.
"Foi um prazer reencontrá-lo, Sr. Tumnus," Arabella virou-se para o fauno.
"Digo o mesmo, jovem Hope."
As meninas se despediram do fauno e começaram a caminhar o mais rápido que podiam em direção ao lampião. Quando chegaram, viram alguém que não esperavam ver.
"Edmundo! Você conseguiu entrar também," Lúcia falou animadamente e correu até o irmão.
"Sim, aparentemente existe um novo mundo dentro do guarda-roupa," Edmundo falou, olhando ao redor. "Onde estiveram esse tempo todo?"
"Eu faço essa pergunta para você," Arabella falou, atraindo a atenção de Edmundo para ela. Ele pareceu surpreso ao vê-la. "O que fez esse tempo todo?" perguntou desconfiada.
"Estávamos na casa do Sr. Tumnus," Lúcia falou antes que seu irmão pudesse responder Arabella. "Ainda bem que a Feiticeira Branca não descobriu que estávamos aqui."
"Quem é a Feiticeira Branca?" perguntou Edmundo.
"Apenas o mal em forma de pessoa," Arabella disse, dando de ombros.
"Ela é uma mulher terrível! Diz ser rainha de Nárnia quando na verdade não é," Lúcia explicou, sua voz carregada de desdém e medo.
Edmundo fez uma leve careta ao ouvir o anúncio de Lúcia. Arabella franziu a testa, mais desconfiada do que já estava. Algo lhe dizia que Edmundo sabia de alguma coisa.
"É por causa dela que Nárnia está sempre no inverno, sem Natal," Arabella continuou na tentativa de descobrir a verdade. "Ela anda em um trenó puxado por duas renas, sua pele é branca e gelada, ela usa uma coroa que parece ser feita de gelo e carrega um cetro mágico. Viu algo assim, Edmundo?"
"O quê?" Edmundo falou assustado. "Cla...ro que não," sua voz falhou, e Arabella percebeu que ele estava mentindo.
"Como você sabe? Quem falou tudo isso?" ele perguntou para Lúcia, tentando parecer confuso.
"O Sr. Tumnus!"
"Não deveríamos acreditar," afirmou Edmundo.
"Ele pode estar muito bem mentindo."
"Cuidado com o que você afirma, Edmundo," Arabella estralou a língua. "Isso pode acabar te colocando em perigo."
"Não seja tola," Edmundo murmurou baixinho.
"Acredite se quiser," Arabella começou a caminhar em direção ao guarda-roupa. "Depois não diga que não avisei," alertou uma última vez antes de entrar pela passagem.
Atravessou a porta e logo estava de volta ao quarto vazio. Sem esperar Lúcia e Edmundo voltarem, caminhou rapidamente para seu quarto. Havia acabado de se sentar na cama quando escutou a voz eufórica de Lúcia vindo do quarto dos irmãos.
Levantando-se e seguindo até a origem do som, encontrou todos os Pevensie acordados ao redor da cama de Pedro, que aparentava estar sonolento. Susana lançou um olhar de desculpas na direção dela, e Arabella apenas acenou.
"Eu estava lá! Nárnia existe," Lúcia disse alegremente. "Bella estava lá comigo, na casa do Sr. Tumnus! Edmundo também foi, nós o vimos parado no meio do bosque. Se não acreditam em mim, escutem Bella e Ed! Contem a eles!"Todos os olhos se voltaram para Arabella e Edmundo, que agora parecia ter voltado ao normal.
"Vocês viram o fauno?" perguntou Susana. Arabella apenas balançou a cabeça concordando.
"Bom, na verdade ele não foi conosco..." começou Lúcia
. "O que você estava fazendo lá, Edmundo?"
"É, Edmundo, o que você ficou fazendo lá esse tempo todo?" Arabella reforçou a pergunta de Lúcia. Os olhos de todos agora se voltaram para Edmundo, que se mexeu, parecendo desconfortável.
"Eu... eu estava apenas brincando com elas. Sinto muito, Pedro," ele falou com um sorrisinho sarcástico. "Eu não deveria tê-la encorajado. Você sabe como são as crianças de hoje em dia, elas não sabem a hora de parar de fingir."
Arabella sentiu seu sangue ferver de raiva. Quando olhou para Lúcia e viu que seus olhos estavam marejados, de repente a menina saiu correndo. Arabella virou-se para Edmundo e esbravejou:
"Seu babaca!" Arabella praticamente gritou, zangada, fazendo com que os irmãos Pevensie a olhassem surpresos. "Como você pode ser tão idiota com sua própria irmã? Negue, negue à vontade, negue o quanto quiser, Edmundo Pevensie! Mas você sabe que Nárnia existe! Que ela é real! Logo, logo, todos vão descobrir que você não passa de um mentiroso," com isso, Arabella saiu correndo atrás de Lúcia.
"Ela acabou de me chamar de idiota?" Edmundo perguntou.
"Cala a boca, Edmundo!" Pedro gritou do quarto.
Quando Arabella virou a esquina, viu Lúcia abraçando seu avô, que parecia um pouco desconfortável. Ele olhou para cima, vendo a neta em busca de uma explicação. Quando ela estava prestes a falar, a voz de Dona Marta foi ouvida pelo corredor.
"Vocês, crianças..." a voz dela cortou assim que viu o professor Kirke. "Oh... professor! Sinto muito. Eu disse a eles para não incomodá-lo."
"Está tudo bem, Dona Marta," o Sr.Kirker começou a falar. "Tenho certeza de que há uma explicação. Bella, você pode levá-la para tomar um chocolate quente?" ele perguntou à neta, que acenou concordando.
Passando um braço em volta dos ombros de Lúcia, Arabella sussurrou:"Vamos, Lu," então começou a guiá-la para a cozinha com Dona Marta logo atrás.
Assim que a barriga de Lúcia estava cheia de chocolate quente e biscoitos, Arabella a levou para o seu quarto como Lúcia pediu, pois não a mais nova não queria ver seus irmãos pelo resto da noite.
2024©
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top