White pieces

Eu não preciso de resgate

Você pode me chamar de princesa quando quiser

Porque você ama me manter indefesa ao seu lado

Mas não é o que eu quero, eu vou te mostrar

Como me tratar como uma rainha

Mas é melhor você reconhecer eu não sou seu anjo

Porque eu pertenço a mim mesma

Loren Gray — Queen


Estou sentada aos pés do trono de Mira com suas três damas de companhia, Pérola, Marfim e Opalina, me perguntando quando vou assumir o reino, por que meu cabelo é tão mal cuidado e por que não estou usando roupas apropriadas. Acho que o exército lá fora me parece melhor de se lidar do que esse trio.

Para minha salvação, Babel finalmente aparece, ela franze as sobrancelhas e as três damas de companhia recuam de cara feia também.

— Como estão as coisas? — Ela pergunta.

— Não estão. — Digo dando de ombros. — Como estão as coisas para o exército? E o plano?

— Nos conformes. — Ela olha de novo para as garotas, talvez essa fosse a função dela antes. — Onde está a Barbie?

— Queria saber também. — Apoio o rosto nas mãos. — E o Maaka?

— Com o exército. — Babel olha para a outra entrada da sala do trono. — Um mistério solucionado, ali vem a Barbie.

Barbie chega ao meio da sala e só então percebo que ela está segurando o caderno branco e um formigamento estranho sobe pelo meu pescoço, isso não é bom sinal, eu já estava estranhando essa calmaria.

— Uhn... oi! — Ela diz quando se aproxima. — Eu fui à torre procurar por um vestido que Maaka me emprestou quando... quando o caderno se abriu e começou a passar as folhas sozinho, acho que... alguma coisa aconteceu.

Ela me entrega o caderno como se ele fosse explodir e segura a caneta na minha frente, Pérola, Marfim e Opalina exclamam e se aproximam para sussurrar, isso não é bom, nada disso é.

Abro o caderno e começo a folhear as páginas até que ele se abre em uma, engulo em seco quando a letra infantil e torta começa a surgir, não é o Cain, mas isso não me deixa mais tranquila.

— "Olá Lilith..." — Leio, as três damas se aproximam também, queria que elas sumissem. — "Como andam as coisas por aí? O velho Charles vem me ensinando mais do que magia e eu descobri muitas, muitas, muitas coisas que você vai querer ouvir."

— Não gosto dessa ênfase... — Babel sussurra.

— "Quando você vai voltar? A Nonsense toda está preparada para partir, basta o seu sinal."

Pérola, Marfim e Opalina parecem satisfeitas com o que ouviram e se afastam de novo para cochichar. Um p.s aparece e resolvo não ler em voz alta, ele diz: "avise antes de voltar, preciso amaciar os meus professores para vocês, me agradeçam depois".

Pego a caneta branca e começo a contar sobre Blanchess da forma mais reduzida que consigo, escrevo sobre Cain e que quando ele chegar, daqui a três dias, ele deve me escrever de novo então diremos quando vamos voltar.

— Queria saber sobre o Cain também. — Sussurro.

— Acho que ele só vai mandar notícias quando pararem. — Babel sussurra. — O que você vai fazer agora?

— Poderia se trocar para o jantar! — Opalina sugere animada.

— Acho que sim... — Respondo com um suspiro. — Posso ver Maaka antes? — As três não escondem a decepção, mas consentem. Ninguém parece querer ir contra a rainha. — Certo.

— Agora que podemos andar pelo castelo fica bem mais fácil chegar a ele. — Babel sorri. — Vamos?

— Acho que eu gostaria de me trocar para o jantar. — Barbie diz timidamente, as três damas ficam animadas, não vejo mal algum de elas se distraírem com a Barbie então consinto, Babel bufa mas também concorda. — Ótimo!

As quatros saem pela segunda saída enquanto eu e Babel vamos para a principal, agora fora dos corredores secretos posso admirar esse castelo neste pequeno passeio.

XXX

Quando chego ao alojamento dos guardas fico um pouco decepcionada, é muito bonito mas não parece um local de treinamento. É uma ala externa do castelo, próxima aos estábulos, de teto alto e colunas brancas, os guardas são o inverso de Espadas, tem os olhos negros e os cabelos brancos, também existem mulheres na guarda e isso me deixa feliz. Maaka anda na frente e Babel ao meu lado, os guardas olham curiosos pra mim e sinto meu rosto ficar quente.

Enfim chegamos a um salão amplo onde uma mesa larga e com muitas cadeiras está no centro, tem um mapa de toda Wonderland em cima dela, olho para os lugares que já decorei de tanto olhar os mapas pequenos e apoio as mãos na mesa.

— Daphne deve estar chegando em Heartsplains amanhã cedo. — Maaka diz apontando para o castelo de Alice. — Ela deve ficar um pouco e depois voltar, é o tempo que temos para nos preparar.

— E qual é o plano? — Digo me sentando, alguns homens se aproximam e uma mulher de cabelos trançados.

— Precisamos dela imobilizada antes de Queensland chegar. — Babel lembra se sentando também. — Que é daqui a três dias.

— Precisamos que tudo esteja como antes para ela não desconfiar. — Maaka diz. — Não sabemos se ela consegue soar algum alarme para Alice.

— Será que ela é capaz disso? — Pergunto. — Quero dizer, ela precisou de uma viagem de três dias para Heartsplains!

— Uma viagem para tratar de assuntos reais e que importam a Alice não é um pedido de ajuda, nem uma denúncia de traição. — Babel responde. — Não duvide delas Lily, com certeza tem meios de sinalizar uma emergência, afinal os reinos são distantes.

— Bem, por isso temos um plano. — Maaka se apoia na mesa. — Quando a Chapeleira chegar, Annie vai recebê-la e dizer que Mira está doente. — A mulher de cabelos trançados assente. — Ao dizer isso vai informar que Mira se trancou no seu quarto e não está recebendo ninguém, por isso Daphne terá que ir até mim ouvir o que Mira a ordenou. — Ele sorri. — Quando ela entrar na torre os guardas vão subir quando ouvirem a ordem de Annie.

— Mas e você? — Pergunto.

— Não sou indefeso nem inofensivo. — Maaka ri e apruma os ombros. — Apenas fui manso por tempo demais nesse reino.

— E se der errado? — Sussurro e depois arregalo os olhos. — Fiquei mesmo parecida com o Cain desde que fingi ser ele.

— Caso o plano inicial dê errado, os guardas vão invadir e imobilizar Daphne o mais rápido possível. — Maaka suspira. — E claro vocês vão ter que ficar bem escondidas e protegidas.

— Protegidas? — Repito.

— Não sabemos o que a Chapeleira pode fazer. — Annie diz pela primeira vez. — Por isso concordamos em deixá-las seguras.

— Acho que é justo. — Babel bufa. — Até porque não sei o que ela é capaz de fazer se nos vir antes.

— Ou desconfiar de algo. — Maaka completa, bufo. — Vai ser por pouco tempo e, como você pediu Lilith, prenderemos ela nas masmorras,

— Obrigada. — Sussurro. — Quando a Nonsense chegar saberemos o que fazer com ela.

— Ainda vamos discutir mais coisas, sobre como receber Queensland e como faremos para continuar, você quer ficar? — Maaka enfim se senta, penso um pouco.

— Sim, estive traçando mapas até ontem, acho que gostaria de participar do planejamento. — E é muito melhor do que ser cercada pelas damas de companhia de novo. — Também gostaria de ouvir mais sobre os arredores!

— Aposto que os guardas estão ansiosos para te contar tudo. — Maaka diz com um sorriso gentil.

Espero os guardas que devem ser de patente mais alta se aproximarem e se sentarem à mesa, os outros ficam em volta e no pátio amplo o exército parece bem maior quando concentrados à nossa volta, mas não me preocupo com números, porque eu sei que juntos temos mais poder do que Alice e seu reino de mentiras.

XXX

Maaka me manda embora depois de ver mais mapas e ouvir as histórias dos guardas, fiquei curiosa com as histórias das criaturas de Wonderland e até um pouco empolgada com a ideia de viagem até Heartsplains, sei que não vou ficar muito tempo por aqui, não sei se poderei voltar algum dia, mas adoraria conhecer tudo.

Sou expulsa da sala na hora do jantar, Babel continua com Maaka, o que eu acho injusto. Caminho pelos corredores olhando tudo muito interessada, ontem a essa hora eu estava na torre, como nos últimos dias, e agora tenho todo o castelo para mim. Depois de tanto tempo olhando mapas e andando pelos corredores secretos fica fácil também descobrir onde um está escondido e é assim que, olhando para todos os lados antes, entro e me aventuro até o corredor do jardim de inverno. Olho novamente em volta e quando me certifico de que não há ninguém destranco a porta, é bom que os outros não lembram que eu estou com a chave.

— Já voltou? — Mira pergunta, agora ela está sentada perto das plantas. — Como foi sua revolução?

— Bem sucedida. — Digo erguendo a cabeça. — Seus guardas estão comigo contra Heartsplains.

— Espero que eles se arrependam. — Ela suspira. — Por que você vem sozinha sempre? Não tem medo?

— Não, e os outros me impediriam.

— Quer minha aprovação? — Mira pergunta de forma irônica. — Se gosta tanto de ir e vir, na próxima me traga comida quente ou vou morrer congelada e doente.

— Poderia sair se cooperasse. — Resmungo indo até ela. — Por que você não me ajuda?

— A última vez em que eu ajudei uma garotinha do Outro Lado muita merda recaiu sobre mim. — Mira diz olhando para as plantas. — Admito que não gostava da... — Ela para e balança a cabeça. — Copas, por isso quando Alice sugeriu o golpe apoiei de bom grado.

— Por que você não gostava dela? — Me sento um pouco longe.

— Copas era uma idiota apaixonada. — Mira diz balançando a cabeça. — Ela sempre queria tudo do seu jeito porque, na cabeça dela, o seu jeito seria sempre o melhor para o povo. Ela se sentia confiante demais por ter toda Wonderland para ela, não éramos outras rainhas, nunca fomos, eu e Rosalinda somos apenas governantes figurativas. Copas era a única rainha e se gabava por isso, baralhos têm mais cartas do que tabuleiros têm peças, você sabe. E enquanto teve Mandrake e o velho Charles ela era realmente invencível e ninguém iria contra ela, mas quando o velho saiu e o novo fracassou foi fácil vencer.

— Ele não fracassou. — Digo entre dentes. — Charles foi uma vítima da espada, ela o controlava e foi ela que Alice usou para jogar sujo. Ele jamais teria participado disso tudo se não tivesse sido usado.

— Então você sabe de histórias daqui. — Ela murmura.

— Claro que sei, entendo mais de Wonderland do que você pensa.

— Então por que não fica?

— Não é meu lugar. — Reafirmo. — Eu sou da Terra.

— Como é seu irmão? — Mira olha as próprias unhas. — Por que ele é digno de assumir e você não?

— Cain já foi péssimo para ser honesta, mas, muita coisa aconteceu com nós dois, principalmente com ele. Tivemos muitas perdas e muita ajuda externa para perceber nossos erros e ele se redimiu, não só comigo, mas com todos. Isso pra mim mostra que seu coração é bom, ele sabe o que é bom para Wonderland de um jeito que eu jamais saberia.

— Sempre preferi Mandrake. — Ela sussurra. — Ele sempre foi bem vindo ao meu reino, era inteligente e brilhante, claro, sempre pareceu ameaçador e a um passo de surtar e matar todos à sua volta em um primeiro momento, mas quando se passava mais tempo com ele podia ver que era um homem bom. Acho que se não fosse Charles, os dois, ele teria entrado em um acordo com Copas e teriam reinado juntos, mas o velho o impedia sempre, dizia que o reino tinha que ser imparcial. — Então o velho Lewis Carroll tem mais culpa nessa história. — E, bem, quando o novo apareceu Mandrake perdeu a cabeça, literalmente.

— Cain aceitou ficar aqui de bom grado. — Digo, sei que que não deveria me abrir tanto para uma inimiga. — Ele poderia ter uma vida relativamente normal se ficasse do nosso lado, mas eu não queria assumir, Toby não pode voltar. — Ela aperta as sobrancelhas. — O novo Dormouse, eles namoram. E o Abel morreria se ficasse do nosso lado, mas não poderíamos abandonar ele de novo, então Cain colocou tudo sobre seus ombros.

— Você sabe disso e mesmo assim vai deixar ele assumir?

— Foi sua escolha. — Suspiro. — Mas eu sei que é o que ele deseja de verdade, Cain já ama esta terra, ele não se encaixa ao meu lado como eu não me encaixo aqui.

Mira fica em silêncio, olho as folhas verdes, é engraçado como mesmo no frio daqui algo tão bonito possa resistir só com um pouco de água e luz. Talvez o povo de Blanchess seja assim, os que resistiram estão desabrochando no inverno que foi o reinado de Alice.

— Eu gostaria que no futuro seu reino tivesse mais súditos. — Digo. — Blanchess é linda e acredito que seja boa, só não pode desabrochar porque foi podada por mãos cruéis.

— Obrigada. — Mira resmunga.

— Você não, Alice. — Reviro os olhos. — Você só precisa aprender a cultivar direito.

— Por que tantas metáforas com flores?

— Gosto de flores. — Sorrio. — Não posso mandar um empregado te trazer o jantar ou eles descobririam sua localização, mas vou tentar dar um jeito.

— É uma benção ficar longe deles.

— Mentirosa. — Dou risada. — Quem sabe Barbie venha te visitar, você vai gostar dela, todos gostam. Tudo bem que no começo eu a odiava, ela tentou me matar, mas você vai ver como ela é legal.

— Ela não é minha filha. — Mira diz com ironia.

— Eu sei que não, mas estou dizendo que vai gostar dela. — Me levanto para voltar, mas ela pigarreia.

— Por que não jogamos de novo?

— Hoje não, eu sei que não melhorei nada, ainda sou tão ruim quanto era de manhã.

— Então amanhã vai mudar? — Mira ri.

— Sim, porque vou aprender a jogar. — Ela revira os olhos. — Você vai ver só, vou te vencer nem que passe a noite inteira tentando aprender.

— Talvez você esteja certa em não assumir, não consegue pensar como uma rainha.

Não entendo suas palavras, dou de ombros e sem me despedir saio do jardim de inverno. É estranho, tinha outra imagem sobre Mira e agora vejo que por baixo de todas as histórias que ouvi ela é como nós, mais uma pessoa que tomou decisões ruins, que foi por caminhos errados e fez as piores escolhas, logo ela também pode se redimir, basta querer. 

XXX

Capítulo novo na área hehe gosto muito de mostrar o resto do reino branco, acho que não explorei tanto Queensland (e nem vou poder muito em Blanchess) mas é legal mostrar como ele funciona 🤧 também gosto muito da Mira, me julguem, mas ela é uma personagem ótima de escrever 😎 mas enfim espero que estejam gostando ♥

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