Upir
Mostre-me que você é humano, você não vai quebrar
Como um ladrão na luz, você não pode se esconder da sua sombra
É a única coisa que você possui
E você não precisa fingir que a perfeição é sua amiga
Porque estamos todos quebrados.
Então afaste-se do seu orgulho
É um demônio disfarçado
E isso não vai te ajudar a acalmar a maré alta
Human — Gabrielle Aplin
O humor de Nadia piorou consideravelmente no reino branco e não a julgo, tinha me acostumado ao estilo sóbrio e confortável do reino vermelho aqui tudo é exageradamente detalhado, todos os corredores têm pinturas douradas, colunas inúteis e o fato de tudo ser branco me dá dor de cabeça, fora o frio, nenhuma área do castelo parece ser aquecida o suficiente nem mesmo com roupas apropriadas.
Maaka cruza as mãos e respira fundo, o guarda branco ao seu lado parece muito temeroso de estar sentado ali, Aolon olha os mapas enquanto Rosalinda olha para fora.
— Então... — Maaka começa. — Quais são nossas altas e baixas?
— Temos Mira e a Chapeleira capturadas. — Babel diz, depois levanta os ombros. — E não sabemos o que fazer com elas.
— Temos Queensland fechada. — Rosalinda responde ainda olhando para fora. — E mesmo com a febre do pólen se demorarmos demais, Heartplains vai até meu reino para buscar suprimentos.
— Quantos dias você acha que demorariam para fazer isso? — Lilith pergunta.
— Quinze, com sorte vinte. — Nadia diz.
— Oddville pediu no mínimo uma semana para se ajeitar, seis dias se contar com ontem. — Começo. — Daqui a Heartsplains são dois dias de viagem, de lá são dois também, mas acredito que não sairemos nesses sete dias, certo?
— Precisamos da Nonsense também, o que implica voltar. — Toby engole em seco. — Mas quando a gente voltar vocês não podem parar, temos que ter um plano para fazer tudo de forma simultânea.
— Eu... eu tenho uma ideia. — Lilith diz timidamente.
— Gosto quando você tem ideias. — Gareth sorri, Nadia fecha mais a cara.
— Obrigada. — Ela sorri. — Toby sugeriu ao Cain que voltássemos a Nonsense e depois disso fossemos para a casa do Dormouse para assim usar a árvore Tumtum e invadir o palácio de cristal novamente pelos esgotos, mas eu tenho uma ideia diferente.
— Você não quer invadir escondida. — Babel ri, Lilith cora.
— Estou propondo que nosso grupo se divida novamente, que aqueles que quiserem ir com os exércitos voltem para Blanchess e aqueles que não vão para a casa do Dormouse.
— Voltar para Blanchess implicaria que vocês não sairiam ao mesmo tempo que os exércitos. — Aolon podera devagar. — Porque precisamos agir em um prazo menor do que vinte dias e duvido que vocês passem apenas poucas horas do outro lado.
— Temos duas frentes aqui. — Galahad me surpreende, acho que mal ouvi a voz dele desde que chegamos. — Blanchess não pode atacar na primeira semana então se eles voltassem iriam com o exército branco.
— Temos muitas frentes. — Gareth retoma a conversa. — Creio que vocês precisam avisar seu lado, precisamos de notícias de Queensland e Oddville também, então nada vai se resolver nesta reunião. Fora que estamos todos cansados, não podemos marchar para Heartsplains agora.
— Mas precisamos de planejamento! — Nadia protesta.
— Precisamos saber quem vai ficar cuidando do reino. — Rosalinda diz repentinamente. — Eu deixei meu povo e meu cavaleiro vermelho cuidando de Queensland, mas Blanchess ficaria desprotegida se fossemos todos.
— Para viver em Blanchess você precisa estar acostumado com o clima, diferente do calor de Queensland que muitos podem se adaptar melhor. — Maaka sussurra. — Blanchess é hostil, se ninguém estiver no castelo e ele for invadido Alice não saberia se virar aqui, ficaria isolada e sem recursos, acredite em mim quando digo que não fariam isso.
O silêncio que se segue diz que todos estão pensando, talvez sobre o povo, o reino ou até mesmo Alice. Galahad parece estar pensando apenas em Maaka porque engole em seco, também reparo como ele disse que muitos podem se adaptar a Queensland, mas não se colocou no lugar. O que ele é? Seus olhos se viram para mim, pisco surpreso e depois desvio o olhar.
— Precisamos avisar o Abel. — Lilith sussurra. — Para Charles nos deixar passar com isso iremos a Nonsense, faremos isso amanhã, certo? — Ela olha para mim, confirmo com a cabeça. — Até lá também teremos notícias dos outros reinos.
— Então voltamos ao tópico Mira e Daphne... — Babel olha nervosa de um para o outro. — Lilith que nos propôs manter a Daphne presa. — Galahad engole em seco de novo e Maaka bufa. — Para ajudar uma garota da Nonsense.
— O quanto é seguro fazer isso? — Rosalinda pergunta.
— Eu não sei ao certo. — Lilith murmura. — Porque acredito que a Doll não possa descobrir o nome da Daphne sozinha, nem sei se conseguiria, mas...
— É algo que nós não temos tanta noção. — Caleb me surpreende, troco um olhar chocado com Toby e espero ele continuar. — Mas quando uma pessoa do lado deles encontra seu reflexo pode se completar de verdade porque não são reflexos perfeitos, alguns ficam com mais coisas que os outros, coisas boas ou ruins e só juntos eles podem se consertar, podem consertar coisas que nós fizemos também. — Ele me encara, de novo desvio o olhar.
— Nós sempre achamos que éramos melhores por tudo que temos. — Babel emenda. — Mas eles ficam com a humanidade, não que isso torne todas as pessoas do outro lado boas. — Ela para e balança a cabeça voltando ao assunto. — Mas acho que no caso da Daphne pode ser uma mudança boa, uma mudança para nós.
— Se tivéssemos a Chapeleira de novo o Dormouse não estaria tão sobrecarregado. — Maaka pondera, depois pigarreia. — Quero dizer...
— Eu sei o que você quer dizer... — Toby resmunga.
— Precisaríamos da Lebre também. — Aolon relembra. — E o Valete...
— O Valete é um dos nossos! — Barbie responde pela primeira vez e parece animada por participar. — Ele a Lebre estariam com a Chapeleira e o Dormouse, podem acreditar.
— Do nosso lado eles são um trio muito unido. — Sussurro. — O que me faz questionar, onde estão os outros reflexos? A Duquesa feia, Absolem, o Grifo?
— Provavelmente escondidos no castelo. — Nadia bufa. — O Valete deve ter usurpado o posto do idiota aqui quando ele foi preso.
— Eles devem estar se preparando com os guerreiros de Ouros também, eles são fáceis de treinar, têm pouca técnica e muito orgulho. — Gareth comenta como se Nadia não tivesse acabado de alfineta-lo.
— De qualquer forma. — Maaka recomeça. — Temos em mente que precisamos deixar a Chapeleira presa, por mais que ela não coopere, então eu presumo que uma parte da sua organização precisa vir para cá, certo? — Lilith consente. — E o que faremos com Mira?
— Lilith quer vencer ela no xadrez pra trazê-la pro nosso lado. — Toby diz sorrindo.
— Não é tão fácil. — Rosalinda crispa os lábios quando nos viramos para ela.
Ela continua olhando para fora e um silêncio desconfortável se forma em volta da mesa, olho para os mapas e cruzo as mãos. Temos muitas pontas soltas, mas nenhuma vai se resolver agora, essa reunião não é muito importante e se alguém encerrasse ela agora eu ficaria grato. Penso um pouco e depois pigarreio, eu posso fazer isso.
— Precisamos de informações dos outros reinos, então eu vou criar uma flor carteiro e podemos enviar mensagens a Saoirse e Taylor e acredito que até ter respostas não temos mais coisas pra discutir.
— Um ótimo ponto. — Maaka responde, me assusto por isso.
— Eu bem que gostaria de saber o que tem pro almoço. — Toby resmunga. — Depois de curar o Cain.
— Eu vou ver a vigília da Chapeleira e Galahad pode vir comigo. — Babel sugere se levantando, Galahad parece bem aliviado de sair de perto de Maaka.
— Eu vou... hn... eu vou... falar com o Abel. — Lilith aponta para fora e se levanta, ela com toda certeza vai ver Mira, bufo com raiva, mas ela já se foi.
Caleb levanta e a segue, Barbie diz que precisa achar as damas de companhia e some, Aolon, Nadia e Gareth vão ver os exércitos também e Rosalinda levanta sem dizer nada indo embora, deixando só Maaka, Toby e eu na sala.
— Que climão... — Toby murmura, olho pra ele com raiva. — O que foi?
— Acredito que elas vão se acertar em algum momento. — Maaka suspira. — Bem, como você faz isso? Criar coisas aqui?
— É porque a terra reage a mim... — Sussurro ficando encabulado, por que ele me lembra tanto o Mandrake? — Então eu consigo fazer algumas coisas com um pouquinho de sangue.
— Sangue? — Maaka aperta os olhos e sua boca se curva em uma careta.
— Você não é humano, né? — Toby pergunta, de novo encaro ele. — Cain você só descobre as coisas perguntando. — Maaka ri dele, bufo.
— Sou um upir* ou como vocês passaram a chamar um vampiro. — Toby arqueja. — Não vou te atacar por sangrar, não preciso de sangue humano... não sempre.
— Como é? — Reviro os olhos, mas Toby continua. — Você come comida de humanos? Sente gostos? Come bolo?
— Sinto como qualquer outro, Toby. — Maaka diz seu nome de um jeito tão formal que quase dou risada. — E eu particularmente adoro bolos e vinhos.
— Você me lembra o Mandrake... — Admito. — De onde veio?
— Do mesmo lado que vocês. — Levanto as sobrancelhas surpreso. — Vampiros vivem em sociedade como qualquer criatura mágica, ou reflexo, só enganamos um pouquinho a visão dos humanos. — Ele mostra as próprias orelhas longas e pontudas. — Nada demais.
— E por que você veio pra cá?
— Você está ficando invasivo. — Resmungo tirando a chave do pescoço e procurando um lugar para a flor carteiro.
— Para proteger minha família. — Maaka suspira. — Mas agora começo a me questionar se o que fiz foi certo.
— Por quê?
— Tobias Ragg. — Alerto me virando para ele que bufa cruzando os braços.
— Está tudo bem. — Maaka sorri, mas não parece feliz. — Vampiros são muito territorialistas Toby e eu acabei irritando um poderoso chefe de uma família por isso fugi, ele não iria atrás do meu marido ou da minha filha só atrás de mim e foi por isso que vim pra cá, outro mundo, fugir ao invés de lutar.
— Você fez o certo. — Toby diz agora e é o tom mais sério que ele usou hoje. — Quis proteger sua família e você, porque eles sentiriam se você morresse também, não foi covarde. Eu queria que algumas famílias protegessem os filhos como você.
— Ou que amassem eles. — Sussurro cortando a palma da mão. — Não colocasse um filho contra o outro.
A flor carteiro cresce mais rápido do que das outras vezes e fico grato de voltar pra mesa e deixar Toby curar o machucado que ainda não tinha cicatrizado muito bem, Maaka observa tudo atentamente e depois nós dois.
— Você não ficou com fome? — Toby pergunta e faz Maaka gargalhar, bato na sua nuca com a mão boa. — Traição!
— Apesar do cheiro bom, não. — Maaka responde sorrindo. — Vampiros também possuem poderes de acordo com suas linhagens, quer saber qual é o meu?
— Ficar atraente de vestido e terno? — Bufo ofendido. — Não precisa ficar com ciúmes, meu docinho. — Bato na nuca dele de novo, que guinha.
— Obrigado? — Maaka ri de novo. — Bem, eu consigo controlar o sangue das pessoas, com um pouquinho dele posso transformar quem eu quiser em marionetes. — Arregalo os olhos e encaro Maaka com respeito. — Claro, também consigo ficar mais rápido e mais forte por um tempo, mesmo que... mesmo que isso assuste as pessoas. — Ele abaixa a cabeça.
— Você é super maneiro. — Toby diz por fim, Maaka sorri.
— Obrigado... gosto de você Tobias, dos dois.
— Mas prefere a Lilith. — Cruzo os braços. — Pode admitir.
— Passei mais tempo com ela. — Ele dá de ombros. — Vou escrever a Queensland e Oddville agora e gostaria de ter dois ajudantes, caso vocês não tenham nada melhor pra fazer.
— Só até a hora do almoço. — Toby sorri.
— Depois quero ir até a biblioteca. — Emendo. — Eu posso?
— Não tem muita coisa, Alice proibiu e confiscou a maioria, mas posso te levar. — Maaka aponta para uma vasta parede cheia de livros no canto da torre. — Aquilo pertencia ao meu antecessor também.
— Você é bem melhor. — Admito. — Não gosto muito do Ângelus.
— Espero conhecer ele agora que sei que está vivo. — Maaka sorri. — Mas agora precisamos de dois diplomatas.
— Na verdade só um, não gosto muito de escrever ou pensar, mas o Cain faz isso por mim. — Toby sussurra.
— Eu te entendo muito bem Toby, meu marido sempre foi o inteligente de cara fechada também. — Maaka admite em um sussurro. — Mas nós somos bem afeiçoados e sorridentes.
— É disso que eu estou falando! — Ele ri.
Bufo e sinto minhas bochechas ficarem quentes, ficar aqui com os dois é bem melhor do que a reunião inicial de qualquer forma.
XXX
Não recebemos nenhuma resposta imediata de Queensland ou Oddville por isso fomos comer. Lilith e Caleb estavam muito quietos e de cara feia, não quis perguntar o que Mira deve ter dito a eles para não entregar que sei o que andavam fazendo. Babel desapareceu com os guardas brancos e Barbie virou amiga de Rosalinda, é um alívio ver a rainha vermelha sorrindo novamente, talvez o reino branco também não faça bem a ela.
Depois de comer, Maaka me leva até a biblioteca, Toby resolveu se comunicar com Dormouse e se isolou em um dos quartos para isso, enquanto andamos reparo que Maaka não faz barulho e meus passos são os únicos sons que produzimos.
— Então... — Maaka sussurra, me viro pra ele. — Você conheceu o Mandrake?
— Uma parte dele. — Sussurro também. — Não o conheci fisicamente, seria impossível, mas estive muito tempo com ele e em suas memórias.
— Por que disse que eu me pareço com ele?
— Os dois parecem ser inteligentes e ter coisas interessantes pra contar, estar ao seu lado me faz ter vontade de perguntar coisas e ter a sensação de que você vai saber resolver todos os problemas. — Nem sei de onde isso veio, pigarreio. — Vocês se parecem também em aparência.
— Já disse que não sou o inteligente. — Ele ri e levanta a mão, parece querer afagar minha cabeça, mas cruza as mãos.
— É um pouco. — Sorrio e depois olho pra frente. — Minha relação com o Mandrake foi conturbada, mas gosto de pensar nele como um pai, por mais que não agisse como grande parte do tempo.
— Uma vez disse a Lilith que vocês podem ter interpretado errado o pai dos dois. — Olho curioso para ele. — Talvez ele estivesse fazendo tudo pensando no futuro, sabe? Quando vencermos essa guerra eu vou voltar para casa, não vou mais me esconder, não quero que minha filha pense que não estou aqui pensando nela todos os dias. — Maaka suspira dolorosamente. — Pense um pouco pelo lado dele também. — Ele para em uma porta e a destranca. — Mando alguém te buscar para não se perder em algumas horas.
— Obrigado... — Ele passa um dedo frio pela minha bochecha em um afago, sorrio.
Maaka volta pelo corredor silencioso como uma alma, olho para a biblioteca e respiro fundo, não sei se consigo me concentrar em algum livro agora, não com tantos pensamentos sobre Oscar me assombrando, mas entro mesmo assim e bato a porta atrás de mim.
XXX
Acordo com alguém balançando meus ombros, me sento piscando e olho em volta, mas sei que é Toby pela risada. Ele se senta ao meu lado, demoro uns segundos pra lembrar onde estou.
— Como foi? — Sussurro.
— Você nem vai acreditar. — Toby se aproxima mais. — Temos um traidor!
— Que?! — Guincho.
— Espera, acho que eu não falei de um jeito legal, vou tentar de novo: tem um traidor do castelo ajudando a gente!
— Como? — Pergunto ainda confuso.
— Um primo do Caleb ou algo do tipo, Dormouse disse que ele apareceu na sua porta depois que soube da confusão que causamos no castelo e que fomos nós que libertamos o tio Garet, o que é estranho porque batemos nos pais dele, mas agora passa as informações pro velho Dormouse.
— Isso é ótimo! — Sorrio. — Ele é de uma patente alta?
— Acho que só um aprendiz, mas seus pais são da guarda mais alta ele deve bisbilhotar eles.
— Ele pode nos ajudar quando formos até lá.
— Pedi pro Dormouse deixar ele informado e mais atento do que nunca. — Toby treme e se abraça. — Estamos a dois dias aqui e eu não aguento mais esse frio. Mas e você? Descobriu alguma coisa útil?
— Não... peguei no sono. — Sussurro e abraço seus ombros. — Estou faminto, o que acha de ir ver o que temos pro jantar?
— Você parece outra pessoa desde que chegamos aqui, não te vi mais acordado de noite, anda comendo bem e até sorri mais. — Toby apoia sua cabeça na minha. — Tem sorte de eu gostar de você de todos os jeitos senão ia procurar outro irritadinho com insônia por aí.
— Nenhum seria como eu.
— Convencido. — Ele resmunga e me abraça. — Mas é verdade.
Sorrio e fecho os olhos apertando mais os braços à sua volta, o jantar pode esperar um pouco.
XXX
*Upir - é um ser demoníaco do folclore eslavo, um protótipo do vampiro.
XXX
Sim mais um capítulo essa semana, um milagre??? saindo do clima gostosinho do especial de halloween a gente volta pra planejamento e Maaka sendo sempre um amor 😭 assim como a Rosalinda, mas aqui ela tá meio pra baixo, enfim espero que estejam gostando hehe ♥
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