Photograph
Deitado no chão do banheiro
Sem sentir nada
Me sinto sobrecarregado e inseguro
Me dê algo
Que eu possa tomar para aliviar minha mente aos poucos
Às vezes sinto vontade de desistir
Mas eu não posso
não está no meu sangue
In my blood - Shawn Mendes
Encaro Ângelus de braços cruzados, Abel está deitado na grama tomando sol, o que é estranho porque Londres não faz um sol tão forte assim, e Cain está sentado no banco de pedra encarando as flores concentrado.
- Como vamos fazer quando os meninos forem para Queensland? - Pergunto de novo, ele revira os olhos e cruza os braços.
- Eu já disse, nós voltamos e depois quando o Tobias conseguir mandar o sinal vocês vão para Blanchess, as portas da minha casa...
- Você podia abri-las agora, né? - Abel coloca a mão sobre a testa.
- Seria interessante. - Cain se vira para ele. - Eu não vou ter oportunidade de conhecê-la.
- Absolutamente não. - Ângelus penteia os cabelos com uma mão. - Existem livros, pedras preciosas e itens raros que vocês podem quebrar.
- Não somos crianças de cinco anos. - Rebato. - Podemos acertar como ir para Queensland, você deve ter um mapa, certo?
- Um mapa...? - Os olhos amarelos dele passeiam devagar e depois me encaram. - Um mapa! Você é uma garota esperta. - Dou de ombros.
- Então vamos a sua casa? - Abel se deita em outra posição. - Quando sairmos você vai parar o tempo pra ninguém perceber que não estamos aqui?
- Não sou o Dormouse. - Ele ri, ergo uma sobrancelha. - Ah, vamos, talvez eu me arrependa disso depois.
Ele se levanta graciosamente e troco um olhar com Cain, Abel se levanta também e seguimos Ângelus até o fundo do jardim onde ele abre uma porta por entre a cerca viva.
- Como você...? - Cain murmura.
- Casa interdimensional, eu já disse. - Ele responde ríspido e indica a entrada com a cabeça. - Vão.
Sinto minha nuca formigar e sorrio passando primeiro, abro a boca e encaro uma enorme biblioteca de madeira com um teto alto e milhares de livros, Cain e Abel olham para cima tão chocados quanto eu e Ângelus passa por nós indo para o outro lado, balanço a cabeça e o sigo ainda olhando tudo.
- Como você consegue manter tudo isso escondido? - Sussurro.
- Um truque. - Nossos passos ecoam no chão de madeira. - Eu diria... De qualquer forma é a minha casa e o único lugar seguro que eu tenho no mundo, para mim e às vezes para minha filha.
- VOCÊ É PAI?! - Guincho e arregalo os olhos, ele me encara surpreso. - Mas você... Você fica no jardim o dia inteiro.
- Ela não pode ficar comigo. - Abel o encara. - Acho que você melhor do que todos entende isso, ela tem que ficar com a família da mãe dela e antes que vocês me perguntem ela morreu.
- Eu sinto muito. - Cain murmura. - Você não era pai da Lírio Branco também, era? - Ângelus bufa. - É só uma pergunta.
- Não, ela não era minha filha, eu só achei que era a alma de alguém que eu conheci, como vocês são Copas, Vorpal e Jaguadarte, mas pelo visto me enganei.
Fico em silêncio quando cruzamos outra porta e agora estamos em um extenso jardim, como o da casa Nonsense, olho em volta vendo plantas e flores que eu nunca vi antes, quando saímos em outra sala com artefatos e estantes de cristais.
- Você não tem um quarto, ou uma sala de jantar? - Abel indaga. - Tudo aqui é grande e vazio.
- Eu não durmo nem recebo visitas para o jantar. - Ângelus resmunga, ele se inclina sobre uma prateleira e depois anda até outra.
- Que cara esquisito. - Abel se inclina sobre objetos pequenos e coloridos. - O que você acha que fazem?
- Eu não deixei vocês mexerem em nada. - Ele responde do outro lado da sala, olho as prateleiras e encontro um anel prateado com flores azuis.
- Eu não sei, mas tem coisas bonitas aqui. - Sussurro.
- Bonitas e estranhas... - Cain olha um pequeno espelho de prata, mas não vejo seu reflexo. - Por que não podemos mexer?
- Algumas coisas são amaldiçoadas. - Ângelus está abaixado olhando algo. - Outras são feéricas e não como seu chicote, do tipo que te prendem a realidade das fadas.
- E por que você tem essas coisas? - Abel cutuca um colar dourado com algumas chaves. - Não é perigoso?
- Não para mim. - Ele diz com desprezo. - Achei!
Ângelus vem até nós e espero um mapa em suas mãos, mas ele apenas segura um cavalo branco do xadrez, ergo as sobrancelhas e estico minha mão para ele, mas Ângelus não me dá a peça.
- Vamos a lista do que não fazer com a peça... - Reviro os olhos. - Não o mostrar a ninguém do reino, não usar de forma indevida e não sair de Blanchess e ir para a área remota fazer uma rebelião.
- Eu não iria! - Guincho. - Eu nem sei o que vou encontrar lá.
- É um cavalo... Como vira um mapa? - Abel indaga.
- Não é só um mapa. - Ângelus me dá o cavalo branco. - Assim como o colar do Cain que vira um chicote essa peça pode se transformar em algumas coisas.
- Tem sua magia nela? - Abel pega o cavalo de mim e o levanta para olhar na luz. - Como vira um mapa mesmo?
- Ele pode guiar uma pessoa pelo castelo, é uma peça como minha casa, como a casa Nonsense e como a casa do Charles, mas isso em Blanchess, chegando lá você vai poder usá-lo como mapa e ele vai se transformar no que você precisar.
- Sobre o Charles... - Cain começa. - Como vocês vão ficar com ele?
- Nunca convivi com o velho Charles, mas garanto que nossa convivência vai ser mais pacífica do que se fosse o outro, posso conter meu rancor por este posto para provar que sou de confiança.
- E que está fazendo essa por nós? - Abel ri.
- De qualquer forma. - Ângelus revira os olhos. - Bem... Tem algo que eu deveria falar, no começo ia dizer só ao Cain, mas... - Ergo as sobrancelhas. - Seu anel Lilith ele era de Copas, acho melhor você esconder muito bem ele em Blanchess, Mira saberia reconhecer.
- Eu sabia! - Aperto a mão contra o peito. - Por isso os sonhos! Era ele que o pássaro JubJub queria e porque destruiu a casa do Dormouse...
- Não sei das teorias. - Ele dá de ombros. - Mas sim é ele, alguém deve tê-lo roubado antes de Copas morrer, mas isso nunca foi assunto meu e agora vamos voltar antes que vocês quebrem algo... E Abel poderia devolver minhas chaves, por favor?
Abel resmunga e devolve o colar de chaves douradas para a prateleira, Cain o censura com o olhar e ele dá de ombros, guardo o cavalo branco na minha saia e encaro o anel enquanto voltamos, quem será que o roubou dela afinal...?
XXX
Quando menos percebo o prazo de uma semana está quase no fim, mas dessa vez eu pude aproveitar mais com meus irmãos, pude ficar um bom tempo com eles e me divertir sem me preocupar com o que semana que vem vai trazer.
Aproveito a última tarde sentada em um dos sofás com Abel, Cain está tentando ensinar ao Toby a tocar algumas notas no piano, Caleb está no chão polindo sua espada e Babel e Barbie conversam no outro sofá, Barbie está bordando algo e consigo relaxar com todos eles aqui só fico triste em pensar quando eu vou ter isso de novo...
Passos e risadas interrompem a tranquilidade da sala quando Chevonne e Scorpio vem rindo pelo corredor, suspiro e apoio o rosto nas mãos, eu gosto de ver os dois felizes.
- Suspirando porque você quer um amor como o deles? - Abel ri. - Mas com o Caleb? Ele vai usar seus vestidos para limpar as espadas.
- Argh cala a boca! - Caleb grunhe.
- Tem alguém tentando aprender aqui. - Toby rebate se virando e rindo. - Mas o meu cunhado tem razão.
- Por que você fica chamando o Abel de cunhado? - Cain sussurra.
- Ah, eu acho fofo. - Babel ri, Chevonne e Scorpio finalmente entram, ela tem algo nas mãos e Scorpio traz Manson. - O que é isso?
- É um daguerreótipo*! - Barbie exclama animada. - Vocês vão tirar fotos, senhorita Chevonne?
- Oui! - Chevonne sorri. - De vocês!
- Wow de nós! - Toby se vira animado. - Eu nunca tirei uma foto! - Scorpio coloca Manson no chão que vai até ele rindo. - Estamos importantes Manson! Vamos tirar uma foto.
- Apesar do daguerreótipo já estar fora de moda, é o que temos aqui. - Scorpio sorri. - E temos que registrar nossas crianças enquanto elas ainda são anjinhos assim.
- Eu nunca fui um anjinho... - Abel resmunga.
- Nós nem somos crianças. - Caleb completa.
Reviro os olhos e sorrio me animando com a ideia.
- Os Maurêveilles têm pinturas de todas as linhagens, vamos ser os primeiros a terem fotos! - Cain se vira e ergue uma sobrancelha.
- A última vez em que tiramos uma foto alguém não voltou vivo.
- Somos tecnicamente os últimos da linhagem, não somos? - Abel sussurra. - Quero dizer...
- Bill ainda é nosso primo e temos nossa tia, mas tecnicamente sim. - Sussurro.
- Vocês não são os últimos. - Scorpio balança sobre as pernas. - Os Maurêveilles ainda podem continuar, sabe? Só não vão ser como antigamente.
- De preferência que sejam melhores. - Abel resmunga.
- Pra que tanto pessimismo? - Scorpio sorri. - Amanhã três de vocês vão embora e logo menos teremos só a Manson aqui por um tempo. - Ele suspira.
- Vocês podem ter outro filho se querem tanto crianças na casa. - Abel responde, Chevonne solta um gritinho. - Eu falo o que vem na cabeça, você sabe, condição médica...
- Isso não é verdade... - Scorpio suspira. - Bem que tal tirarmos as fotos?
Ajudo Chevonne e Babel a cobrirem uma das estantes com a cortina, Caleb e Toby mudam os sofás de lugar e Barbie arruma os cabelos do Cain rindo, Abel olha para eles e depois encolhe os ombros mexendo nas pontas dos seus próprios cabelos.
- O que foi? - Sussurro.
- Eu não sou nada parecido com vocês. - Ele suspira. - Vocês têm cachos, cabelo preto e...
- Na verdade cada um tem uma diferença, mas somos sim todos iguais, seu cabelo já foi preto e o Cain tem olhos azuis por baixo dos olhos roxos. Éramos iguais, mas agora somos melhores.
- E a Lilith é a única Maurêveilles legítima. - Me assusto com Cain, ele sorri. - Com sorte fomos adotados por isso somos mais legais.
- Você nem começa... - Sussurro, Abel sorri e suas bochechas ficam vermelhas. - Mas vocês são sim os Maurêveilles mais legais.
- Diga isso aos seus filhos no futuro. - Abel sorri.
- Eu não vou ter filhos!
- Lilith falar isso é o mesmo que dizer que o Cain me ama mais do que o Jared, você sabe que é mentira. - Toby ri.
- Podemos não falar disso? - Cain cora e fecha a cara.
- Se você não sorrir, não sai na foto! - Scorpio se inclina sobre o sofá. - Quem vem primeiro?
- Acho que os Ragg. - Sorrio, Toby cora e sorri também.
- Depois os de Espadas! - Babel ri e puxa Caleb pelo braço. - Somos tecnicamente primos distantes.
- E quem não tem família? - Barbie suspira teatralmente. - Eu vou ter que tirar sozinha? Ou quem sabe com a Devonne.
- Aquela sua boneca me dá arrepios. - Babel murmura. - Podemos tirar uma juntas também.
- Aaaah assim eu quero uma com o Cain! - Toby dá risada.
- Desse jeito eu vou ficar sozinho!!! - Abel bufa.
- Sete é um número complicado. - Scorpio ri. - Vamos, senão perdemos a claridade, sabe? - Ele pisca e se afasta, a casa não vai ficar escura de qualquer forma.
Toby se senta no sofá com Manson no seu colo, Caleb e Babel o observam atentamente, eles esperam em uma pose fofa e depois que Scorpio sinaliza que a foto foi tirada ele ri e a abraça.
- Só temos que ficar parados? - Babel indaga, Abel me encara.
- Ahn sim, é como uma pintura só que mais rápido. - Explico. - Podemos ser os próximos e depois vocês!
Puxo Cain e Abel pelos braços e arrasto os dois até o sofá e depois olho para eles...
- Acho que eu tenho que ficar sentada... - Começo.
- Mas o Cain é o menor. - Abel responde, Toby ri atrás de nós.
- O Cain ficar em pé faria ele parecer maior... - Scorpio explica sorrindo.
- Ah... - Abel pensa. - Mas eu quero sentar, assim eu vou parecer normal sem minha perna estranha e... - Afago seu rosto. - Tá bom, eu não sou normal e isso não é culpa da minha perna.
- Ninguém aqui é normal, sanidade é algo completamente sem sentido, sabe? - Ele franze as sobrancelhas.
- Não temos o dia todo! - Barbie reclama.
- Certo já que eu sou baixinho... - Cain se senta e bufa. - Eu fico aqui.
- Ahhh eu também queria! - Abel bufa e se senta ao lado dele. - Lilith você fica em pé.
- Les demoiselles deverriam ser fotografadas sentadas... - Chevonne franze o nariz. - No les garçons.
- Por mim tudo bem. - Sorrio e vou para trás do sofá. - Ah eu posso?
Abraço os dois e Scorpio ri, Cain revira os olhos e Abel sorri, queria ter vocês dois aqui para sempre... Quando ele diz que já tirou a foto me afasto e dou risada, Barbie se aproxima e para ao meu lado.
- Eu ainda sou noiva do Cain, então uma Maurêveilles. - Ela sorri triunfante.
- Você é noivo? - Abel indaga. - Ainda bem que eu não vivi aqui.
- E como eu fico?! - Babel guincha. - Espero que entendam que eu e o Dois somos família, não um casal.
- Tudo bem. - Scorpio se prepara para outra foto. - Depois eu tiro dos que faltam.
Barbie apoia as mãos no sofá e sorri, ela parece tão elegante, cruzo as mãos no colo e sorrio para a câmera, depois que saímos Babel e Caleb se sentam no sofá, dou risada quando ela o afasta para não parecerem um casal, depois disso Babel e Barbie se sentam juntas, Cain e Toby tiram uma foto com a Manson e até mesmo Scorpio ri pela expressão de desprezo do Cain enquanto Toby briga com ele por não gostar de crianças, sinto meu rosto esquentar e encaro Caleb que também está vermelho.
- Já que vocês não vão pedir que tal tirarem uma foto comigo? - Abel sorri ao meu lado. - Vocês dois e eu saio, que tal?
- Nem pensar... - Caleb resmunga.
- Eu também não ia querer. - Cruzo os braços.
- Por que não tiramos todos juntos? - Toby ri. - COM a Manson, claro. - Cain revira os olhos.
- Eu topo. - Babel ri e puxa a Barbie, as duas vão para atrás do sofá.
- Tem muita gente... - Scorpio pensa. - Bem, Lilith e Abel podem se sentar no chão e Caleb fica no fundo com as meninas.
- Tudo bem. - Ajudo Abel a se sentar, e nos apoiamos nas pernas do Cain que bufa. - Assim reforçamos que somos Maurêveilles. - Brinco.
- E que o Caleb é nosso padrinho. - Babel bate no ombro dele.
- Muito engraçado.
- Trés bien! - Chevonne ri. - última foto.
Toby se senta com Manson ao lado do Cain e sorrio quando Scorpio tira a foto suspiro pensando em como isso foi realmente divertido, talvez eu estivesse tensa demais antes e se os meninos tivessem ido embora eu nem sei como estaria, mas a proposta de Charles conseguiu reverter a situação e agora eu tenho boas lembranças e amanhã quando voltarmos a Oxford eu vou poder me despedir deles de cabeça erguida. Ajudo Abel a se levantar e balanço minha cabeça esquecendo as preocupações e acompanhando Chevonne que disse que vai nos fazer um jantar especial, por hoje eu vou só fingir que somos uma família normal e amanhã eu vou dar início ao meu plano de como ir para Blanchess.
XXX
*O daguerreótipo foi o primeiro processo fotográfico a ser anunciado e comercializado ao grande público. Foi divulgado em 1839, tendo sido substituído por processos mais práticos e baratos apenas no início da década de 1860.
XXX
YEY um capítulo amorzinho, porque eu preciso escrever coisas fofas enquanto eles ainda tão juntos aaaaa já estamos quase no final da primeira parte então aguentem mais um pouco pra ação hehehe
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