Glorian day

Você está com medo, está tudo bem, está tudo bem

Todo mundo está com medo, então dance no escuro

Festeje com seus medos, dance no escuro

A dor é difícil de engolir

Você cruza seu coração sem sangrar

Esconda-se onde você está seguro

Onde seu coração não quebra

Dance in the dark — Au/Ra

Mal posso acreditar que montei Emof e além disso mal posso acreditar que estamos saindo. Aperto as rédeas entre as mãos, eu já tinha montado antes, mas sempre com alguém guiando o cavalo e claro não uma fera sanguinária que era do Mandrake. Olho para trás e de novo o número de pessoas me assusta, Rosalinda caminha até onde estou e para sorrindo.

— Tem certeza de que não quer ir na carruagem? — Ela pergunta de novo.

— Por enquanto não. — Sorrio. — Estamos saindo?

— Sim. — Ela afaga Emof. — Já vamos partir.

— Finalmente. — Toby para ao meu lado montado em Etrom, o cavalo refuga e empina. — Acho que vou te deixar Cain.

— Covarde. — Caleb para do meu outro lado no cavalo branco. — Eu me sinto perfeitamente à vontade aqui.

Ele está com a espada negra na cintura e usando uma armadura escura, o membro de Espadas perfeito e que com certeza assumiria o posto dos pais, esse seria seu destino se nós não estivéssemos aqui.

— Cuidado com essa relíquia. — Gareth diz parando entra nós também. — Baoshi* pertencia ao seu avô.

— A armadura? — Toby indaga.

— A espada. — Gareth ri. — Gale foi o fundador da nossa linhagem de Espadas e sua espada foi forjada em um feitiço que salvou um mundo distante de Wonderland.

— Um feitiço? — Pergunto. — E o que ela faz?

— Baoshi corta apenas o mal, nunca fere o bom e é sempre verdadeira. — Ele diz com orgulho. — Assim como um membro de Espadas deve ser.

— Muito bonito, mas estamos saindo. — Nadia diz interrompendo Gareth. — Já sabem, não me ultrapassem ou vou amarrar os três e prender em uma carruagem, isso se não amarrar aos cavalos.

— Você faz essa viagem ser tão agradável. — Toby resmunga e ela bufa.

— Tudo bem, espero que aproveitem a viagem meninos. — Rosalinda sorri e volta pela linha de cavalos.

— Logo chegaremos a um posto de descanso e vocês podem decidir se vão continuar cavalgando. — Gareth ri e vai para frente, onde a linha dos guerreiros de Espadas estão.

Atrás de nós vem Rosalinda e depois os homens marchando, não podemos ir na frente e Nadia está certa nisso. Os adultos se afastam e sorrio apertando as rédeas, nossa aventura começa agora.

XXX

Cavalgar não é nada como eu imaginava é muito melhor. Caleb e Etsep correm ao meu lado, não podemos ultrapassar a guarda de Espadas, mas isso não é problema quando estamos em uma planície vazia, repleta de grama macia e muito descampado para corrermos. Toby não gostou de cavalgar e por isso voltou com Rosalinda, pretendo me juntar a ele em algum momento, mas não consigo parar, é como se fosse voar.

Ainda não sei que poderes Emof pode me dar, ele é bem mais difícil de lidar que um chicote, mas sei que ele é especial, um cavalo normal já teria me derrubado. Caleb grita algo e paro olhando para trás, ele vem trotando, está queimado de sol e não duvido que eu esteja também.

— Tem uma cidade à frente. — Ele diz empolgado. — Minha mãe mandou a gente voltar para a formação.

— Uma cidade... — Sorrio. — Aposto que chego primeiro que você.

Antes que eu puxe as rédeas Emof já está correndo, ele relincha como se estivesse rindo, dou risada também, então você me entende muito bem. Volto para a formação primeiro e acaricio o pescoço do cavalo negro, aposto que ele deve estar feliz de novamente estar livre, talvez eu me sinta assim em breve também.

Com pouco tempo consigo avistar a cidade, é pequena e rural, quase medieval. Aperto as rédeas, Caleb olha para frente também.

— O que acha que vamos encontrar? — Dou de ombros. — Você não deveria estar com o Toby agora?

— Não posso descer do Emof aqui. — Sorrio e ele refuga em resposta. — Viu só? Aposto que Etsep está feliz em cavalgar também.

— Queria que os outros dois cavaleiros estivessem aqui também. — Caleb olha para trás, depois que Toby desistiu de vir conosco Etrom precisou ser amarrado com várias cordas e voltou a ser guiado pelos outros cavaleiros assim como Arreug.

— Eles vão, em breve. — Digo com firmeza. — Mas agora temos que nos preocupar com uma coisa de cada vez.

A frente da comitiva já deve ter chegado à cidade, caso haja algum perigo vamos ter que recuar, mas não espero pelo pior.

XXX

A cidade é quase uma cidade fantasma, como Gareth disse antes é só um posto de descanso. Ele passou por aqui no caminho de Heartsplains a Queensland e agora fico admirado pela sua força de fazer isso sozinho. Quando desço não vou para a cidade e sim atrás do Toby, chego a carruagem vermelha quando a porta é aberta, Rosalinda sorri e desce esticando as costas, Toby vem em seguida.

— Descobri que sou péssimo em cavalgada e xadrez. — Ele revira os olhos, Rosalinda ri.

— É difícil quando sua adversária é uma rainha. — Ela dá de ombros. — Há anos que eu não venho aqui.

— Existem pessoas aqui? — Toby pergunta.

— Poucas, mas são boas. — Ela suspira e se afasta.

— Olha pra você está todo queimado de sol. — Toby aperta minhas bochechas, me afasto soltando um guincho. — Deve ser tão divertido conseguir cavalgar. — Ele resmunga com a voz carregada de ironia.

— Você pode vir comigo...? — Sussurro. — E você sabe fazer coisas mais incríveis do que cavalgar.

— É, sei, mas deve ser legal. — Ele bufa. — Onde o Caleb se meteu? Preciso irritar ele, isso me acalma.

Dou risada e voltamos pelas fileiras de homens que agora estão relaxando, quando saímos na cidade novamente vejo Gareth conversando com um homem idoso, os dois riem, Nadia e Rosalinda estão com outra senhora, mais atrás vejo dois rapazes altos e fortes, eles olham para o exército com certa admiração. Eu e Toby nos aproximamos e Caleb aparece logo em seguida, o senhor idoso sorri para nós e Gareth nos chama com a cabeça.

— São eles? — O velho pergunta apertando os olhos para nos ver, me afasto de Toby e coloco as mãos atrás do corpo. — Você tem olhos bonitos, menino.

— Obrigado, senhor. — Faço uma mesura, ele ri.

— Esse é Cain Maurêveilles. — Gareth diz com orgulho. — O reflexo do Jaguadarte e os outros dois são Toby, o futuro Dormouse e meu filho Caleb.

— Oh gloriandei**. — O velho diz unindo as mãos. — Sempre ouvi lendas de que o Jaguadarte salvaria esta terra, mas não era Mandrake, era de você que as lendas falavam.

Sinto meu rosto esquentar e desvio o olhar, ainda não sei lidar com as pessoas falando comigo, nem com o que esperam que eu faça. Talvez seja essa a pressão que Lilith sentia toda vez que a comparavam a Copas.

— E eu também. — Toby diz, sorrio. — Ah, o Caleb vai dar apoio moral também.

— Vai pro inferno. — Caleb resmunga, dou risada.

— Ficaremos por algumas horas. — Nadia diz do seu modo autoritário se aproximando de nós. — Nada de cavalgar, vão ter tempo pra isso depois agora quero que descansem.

— Não ia de qualquer jeito. — Toby resmunga a desafiando.

— Um dia eu ainda dou um jeito na sua língua. — Ela aponta pra ele e se afasta, o velho ri.

— Venham meninos, vamos preparar um almoço para vocês.

Suspiro e o sigo, não sei o que esperava daqui, mas não é como eu imaginei.

XXX

Estou sentado à mesa comendo camarões e outros frutos do mar com um tempero forte, o velho nos disse que veremos o mar em mais algumas horas de viagem, não sinto falta do mar, me lembra do meu tempo no St. Francis. Em todo o tempo que passamos na casa humilde as pessoas entram e saem para nos ver e todos dizem a mesma coisa: "Gloriandei". Depois que meu rosto para de doer da queimadura e já estou cheio de um tipo de bolo me aproximo do senhor que nos acolheu, ele sorri. Seus olhos são amarelos, mas não como os do Ângelus, são bondosos, sua pele é morena avermelhada, diferente da pele negra de Rosalinda, seus cabelos são cinza da velhice e ele não me parece ameaçador.

— Senhor...?

— Pode me chamar de Kale, filho. — Ele ri, está sentado em uma cadeira de palha perto da porta de entrada, me sento no chão.

— Certo... — Toby está me olhando, Caleb parece perdido nos próprios pensamentos. — Por que todos que passam aqui nos dizem "gloriandei"? O que significa?

— Você disse algo sobre o Jaguadarte também. — Toby diz. — É uma profecia?

— Não é uma profecia. — Ele ri e chama Toby com a mão, ele suspira e se levanta dando um empurrão em Caleb que bufa e vem também. — É uma história que eu ouvi quando era bem pequeno, igual você novo Dormouse.

— Pode me chamar de Toby. — Ele se senta e abraça os joelhos. — Ainda não sou o novo Dormouse.

— Agindo com humildade agora? — Caleb desdenha, ergo as sobrancelhas me virando pra ele.

— Bem, como posso começar...? — Kale apoia as mãos nos joelhos e se inclina. — Quando a terra era boa e saudável meus avós me contavam isso, é uma rima velha, sobre o Jaguadarte...

Era o Brilhante e os Sacalarxugos, Elasticojentos no eirado giravam, miserágeis perfuravam os esfregachugos e os mome raths arrobiavam***... — Murmuro, Toby começa a rir, reviro os olhos. — É o poema do livro.

— Livro? — O velho franze as sobrancelhas. — Nunca tivemos registrado em lugar algum, mas você conhece a versão que depreciou Mandrake. — Kale balança a cabeça. — "Era o peão dos sombrais e da coroa os espinhosais brilhavam, com cortinadas de longas asas o gloriandei se aproximava. Longo e curvo a justiça ricochetava e puro e nobre o tagarelão reinava."

Arregalo os olhos, Kale suspira e estica as costas, algumas palavras não fazem sentido, mas consigo ver algum em outras, "longo e curvo a justiça ricochetava" isso pode ser sobre um chicote, mas não tenho asas, não tenho mais os poderes do Mandrake, só sua arma.

— Uma sombra roubou sua língua? — O velho ri.

— Ele tá pensando. — Toby o responde. — Eu quase consigo ouvir as engrenagens na cabeça dele girando.

— Nojento. — Caleb resmunga, chuto a sua perna.

— Por que diziam isso? — Pergunto a Kale. — Quando Mandrake surgiu? Ele não pretendia assumir a coroa, sempre achei que as pessoas sabiam disso.

— O povo tinha esperanças de que ele assumiria em algum momento. — Kale suspira. — Quando os outros mundos começaram a surgir e Wonderland a adoecer meu povo achava que a única salvação dessa terra seria o Jaguadarte reclamar a coroa para si, muitos de nós foram mortos amaldiçoando Mandrake por não ter feito isso. — Sinto um calafrio passar pelos meus braços. — Mas agora entendemos que não era sobre ele que a rima falava, era sobre você.

— É estranho, tive apenas duas visões sobre o que aconteceu a Wonderland a de um livro e a de Mandrake. — Sussurro, ele presta atenção em mim. — Nunca soube sobre isso, mas e se não for eu? Não tenho asas.

— Profecias muitas vezes não são exatas. — Kale ri. — Quando meu povo te diz gloriandei eles anseiam pelo dia em que você assumirá o trono. — Me engasgo. — Esperamos muito tempo por um Jaguadarte que reinaria sobre nossa terra.

— E quanto a rainha de Copas? — Caleb pergunta. — E se seu reflexo assumir?

— Mikayla foi boa, ela não teve culpa, mas não podemos ter outra Copas, não é o seu lugar.

— Nunca foi... — Toby diz. — Lilith nunca quis esse caminho, ela estava certa.

— Não sei quem é Lilith, mas ela está certa. — Kale ri. — Espero que vocês não fiquem pensando demais em profecias e no passado, crianças, vivam o presente, vocês ainda têm um longo caminho a frente.

E dizendo isso Kale se levanta e sai, continuo sem palavras e em silêncio, por que Mandrake nunca me disse sobre a rima? Será que não acreditava? E por que Charles escreveu a versão que depreciava seu amigo no livro? Acho que nunca terei todas as respostas, mas mistérios nunca param de cair no meu colo.

— Ele vai pensar nisso o caminho todo. — Caleb diz se levantando também. — Vou ver os cavalos.

— É claro que ele vai. — Toby apoia o rosto nas mãos. — Dormouse nunca me disse nada sobre isso.

— Nem eu ouvi do Mandrake. — Digo. — Será que existem mais terras com outras lendas e histórias por aqui? — Bufo e sinto uma raiva estranha borbulhar em mim. — Acho que agora entendo a Lilith com sua raiva da Alice.

— Eu sempre estive com ela. — Toby responde. — Alice destruiu muito dessa terra e dessas pessoas.

— Vamos fazer o certo, né? — Murmuro.

— Já estamos fazendo. — Toby se levanta e afaga minha cabeça. — Nós já estamos no caminho certo.

Odeio quando ele fala de forma vaga, e se ele não estiver olhando o futuro e só me confortando? Suspiro e fico sozinho, preciso disso agora já que não posso ter todas as respostas.

XXX

Deixamos a pequena cidade sem nome para trás e sinto que não vai ser a última vez em que verei Kale. Fui até Emof e peguei o caderno vermelho escrevendo para Lilith, ela ainda não deu nenhuma notícia e isso me deixa ansioso, mas não há o que eu possa fazer agora. Ainda estou perdido nos meus pensamentos quando uma confusão começa na linha dos soldados de Espadas, primeiros os cavalos pararam e vejo que eles estão atrás de algo, paro Emof engolindo em seco, Caleb saca sua espada negra e fica em alerta, as linhas atrás de nós pararam também e enquanto esperamos Toby vem correndo e para entre nós dois.

— O que foi? — Ele pergunta arfando pela corrida.

— Não sabemos... — Caleb sussurra. — O que você acha que é?

— Não deve ser Alice. — Sussurro. — Não deu tempo dela saber, pode ser um inimigo local. Saqueadores, animais talvez.

— Saqueadores? — Toby repete erguendo uma sobrancelha. — Somos um exército! Quem seria louco de nos saquear?

— Tem louco pra tudo por aqui. — Caleb diz.

Congelo quando Nadia em pessoa vem andando em nossa direção, ela segura um coelho pelas orelhas e não sei se isso me reconforta ou me faz ter vontade de descer do cavalo e fugir.

— Você pode me dizer o que é isso?! — Ela vocifera levantando o coelho na altura dos meus olhos.

— Minha senhora eu acho que é um coelho... — Toby diz de forma irônica.

— Não é... — Murmuro e abro as mãos, Nadia o solta. — É um autômato! — Passo os dedos pela orelha de metal e encaro os olhos vermelhos de vidro. — É lindo, mas de onde veio?

— De Oddville. — Caleb diz, nos viramos para ele. — Vi em uma bancada da Taylor, mas como nos achou?

— Devia estar indo para Queensland. — Arrisco e reviro o autômato nas mãos. — Tem uma abertura para uma chave!

— Deve ser para dar corda! — Toby diz encantado e estica as mãos, passo para ele.

— Consegue fazer funcionar? — Nadia pergunta. — Parou de se mexer quando pegamos.

— Não sei... — Ele olha bem para o coelho e depois para o espaço da chave. — É como se precisasse de uma chave mestra.

Arregalo os olhos e estico as mãos de novo, ele me passa o coelho, tiro o colar de chave vermelha do pescoço e a introduzo na fechadura ouvindo um clique, um compartimento se abre e tiro um rolo de pergaminho de dentro, minhas mãos estão tremendo quando abro e leio:

"A corte do submundo está se movendo e Oddville está se preparando, tomaremos os guardas daqui a dois dias quando vocês chegarem a Blanchess, nos mantenha informados."

Engulo em seco, parece que agora essa invasão não tem mais volta. 

XXX

*Baoshi - do chinês "pedra preciosa"  

**Gloriandei - "Glorian day" dia glorioso, a palavra foi escrita assim em referência ao poema original do Jaguadarte 

***Mistura de traduções do poema do Jaguadarte 

XXX

Primeiro vou me explicar porque o nome da espada só apareceu aqui :v não ia dar um nome pra ela, mas como na minha cabeça Cave Bestia começou a se conectar com The Ripper agora que tá no final eu acabei deixando essa referência dela ser a espada de um personagem de lá que tem todas as características de Espadas também hehe 

Com certeza escrevi uma versão diferente do poema do Jaguadarte em cada livro dessa história, mas vida que segue esses são problemas para a revisão do futuro, quase quebrei a cabeça pra inventar as rimas do poema/profecia daqui, mas no fim deu certo e é o que tá valendo :v 

E espero que estejam gostando ♥

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