Finally goodbye
Eu estive em cima, estive em baixo
Viu o mundo do chão
Cansei do barulho que a vida parece trazer
Mas vou usar minha voz, é minha vez de cantar
Toda a minha vida
Eu estive esperando, eu estive esperando por isso
Higher — The Score
Lilith e Abel estavam dormindo tão profundamente que tive pena de acordá-los para me fazer companhia, acho que dificilmente vou dormir hoje, o que é estranho porque quando fomos para Queensland eu já estava conformado a não voltar, mas pisar aqui me trouxe memórias, boas e ruins, e mesmo depois do dia cansativo e da festa não consigo dormir.
Andei pelo terceiro andar e passei direto pelo segundo como era de se esperar, mas enquanto desço em direção ao hall escuto passos no corredor e congelo, preciso me lembrar que estou seguro aqui dentro, espero nas escadas até que Scorpio aparece no topo da escadaria e sorri pra mim.
— Sabia que ia te encontrar aqui. — Ele diz descendo até me alcançar.
— Sentindo saudades das minhas visitas noturnas atrás de morfina? — Ironizo voltando a descer, ele sorri e depois suspira.
— Senti sua falta. — Scorpio olha para mim e por muito tempo não pensei em como ele é parecido com o Christopher, ele dá um meio sorriso e apoia a mão no meu ombro. — Sabe? Quando você procurava por mim devia pensar que era você que estava precisando da minha ajuda, mas na verdade eu também precisava da sua.
— Nunca te dei mais do que dor de cabeça. — Dou de ombros e sorrio.
— Em partes era a dor de cabeça que ajudava. — Ele ri e começamos a andar em direção ao hall. — Enquanto eu estudava minha família inteira se foi, todos tiveram tuberculose e quando a carta chegou até mim já era tarde demais, eu me questionei muito e me culpei mais ainda, naquele momento desisti dos estudos e voltei para Londres. Eu tinha um irmão um pouco mais velho do que você. — Ele sorri e apoia um dedo contra a minha bochecha. — Quando meu luto diminuiu decidi ir atrás da garota que eu tinha sido prometido para anular o casamento, não me sentia bem para consumar um casamento nem me apegar a ninguém.
— Mas ela tinha fugido de você bem antes, não é? — Me lembro vagamente da história, parece que isso aconteceu a anos atrás, Emmeline na casa do Jaken e eu pensando que eles tinham um caso, quando na verdade o seu caso era outro.
— Exatamente e eu me aproximei da sua irmã, mas... bem... — Rebecka... olho para Scorpio com pena e ele sorri cansado. — Eu estava mais uma vez afundando na minha tristeza quando você precisou de mim e eu senti que podia ser útil mais uma vez, que poderia finalmente salvar alguém.
Sinto meus olhos se encherem de lágrimas e o abraço, acho que nem mesmo com tudo que passamos Scorpio estava preparado para isso, ele congela e depois me abraça apertado de volta.
— E você me salvou... — Sussurro me aconchegando no seu abraço protetor. — Me salvou inúmeras vezes.
— E você me salvou também. — Ele se afasta e apoia meu rosto entre as mãos. — E eu queria tanto poder cuidar de você em Wonderland, mas sinto que ainda tenho contas a pagar com esse lado e a Chevonne ainda tem família aqui, espero que um dia você me perdoe.
— Nunca te culparia. — Balanço a cabeça e volto a abraçá-lo. — Você tem sua vida para viver e eu me culparia se tirasse isso de você. Independente de qual lado nunca vou esquecer esse sentimento nem tudo que você fez por mim. — Suspiro e seguro as lágrimas.
— Você vai ser um rei sábio. — Scorpio ri e bagunça meus cabelos. — Pelos velhos tempos, vamos tomar um chocolate quente?
— Por favor e falar de coisas boas. — Me afasto dele e esfrego os olhos.
— Claro. — Scorpio sorri e volta a abraçar os meus ombros enquanto vamos para a cozinha.
XXX
Consegui dormir um pouco depois de passar um tempo com Scorpio na cozinha e agradeço por isso, de manhã todos estão agitados e andando pela casa para os últimos preparativos da partida, decido ficar com Toby e Manson no quarto que era dele por um tempo, depois entendo que ele quer se despedir da irmã sozinho, volto mais uma vez para meu quarto sem saber o que fazer para ajudar, não preciso levar nada daqui porque não vou voltar e os adultos, diferente dos de Wonderland, não me deixam ajudar em nada. Vencido abro a porta do quarto e me surpreendo por encontrar Lilith e Abel sentados em suas camas tão derrotados quanto eu.
— Vocês estão com essa cara porque queriam ajudar também...? — Sorrio fechando a porta.
— Não tenho nada pra fazer exatamente. — Abel dá de ombros.
— Só estou cansada... — Lilith mente, acho que dos três é a que mais queria estar fazendo alguma coisa agora. — E todos os adultos me ignoram quando chego perto.
— Logo estaremos em um lugar onde dão valor pra nossa opinião. — Suspiro e me sento na minha cama, contemplo o quarto pequeno e simples que me acostumei a chamar de meu. — Vou sentir falta daqui.
— Você pode dividir o quarto comigo, claro que não vai ser a mesma coisa, mas é um consolo. — Abel responde sorrindo.
— Vou sentir falta de dividir um quarto. — Lilith olha para o teto. — Tinha me acostumado a ter companhia na hora de dormir.
— Espero que você possa ir para Wonderland. — Começo sem pensar muito. — Em nosso quarto sempre vai ter uma terceira cama.
— Isso é estranho, como um santuário. — Abel resmunga.
— Santuários não são estranhos... — Lilith sorri e balança a cabeça. — Mas eu vou adorar e torcer por isso.
De novo o quarto fica em um silêncio desconfortável. Lilith torce as mãos no colo e Abel balança uma perna enquanto a mecânica continua apoiada no chão, respiro fundo e me levanto, vou até o pequeno baú no pé da minha cama e o reviro até achar de novo o anel sinete da família, nunca o usei de fato, mas acho que agora é o momento de fazer isso.
— O que você tá fazendo? — Lilith pergunta.
— Me preparando pra ir. — Respondo tentando soar firme. — E fazendo minhas malas. — Mostro a mão, Lilith aperta as sobrancelhas e Abel ri.
— Parece que você acabou de ser pedido em casamento, isso sim. — Ele responde se levantando. — Então também vou fazer as malas.
Abel pega o colar na cabeceira da sua cama e passa pelo pescoço, depois o coloca pra dentro da camisa, Lilith sorri e tira a chave do bolso da sua calça assim como a peça de xadrez branca e o gato risonho, acho que se ela saísse assim na rua seria encarada por muitos, mas admito que vê-la de calças não é estranho pra mim, na verdade é estranhamente reconfortante.
— Bem, eu já estou pronta. — Ela sorri. — Acho que podemos tentar ajudar alguém, quem sabe? Vamos procurar pelo Caleb.
— Sei por que você quer ir atrás dele... — Abel resmunga, sorrio revirando os olhos e ela bufa. — Tá, acho melhor do que ficar nessa melancolia.
— Preparados então? — Digo sorrindo, os dois se levantam e param do meu lado, olho para o quarto e meu coração se aperta um pouco, Lilith aperta uma das minhas mãos e eu faço o mesmo com Abel. — Vou sentir falta...
— Aqui foi onde eu finalmente me senti em casa pela primeira vez. — Lilith sussurra. — E eu vou sempre manter essa sensação por causa de vocês.
— Aqui infelizmente é nossa casa. — Abel resmunga. — Mas eu pude ser muito feliz aqui, que droga Oscar você me fez ficar sentimental com esse barraco de madeira velho.
— Não fale assim da minha casa. — Lilith ri e depois suspira.
— Vamos antes que um de nós comece a chorar... — Sussurro.
— Você no caso, né? — Abel provoca, empurro ele com o ombro.
— Pelo amor de Deus, parem de agir assim por dois minutos! — Lilith ri. — Às vezes acho que sou a mais velha.
— Melhor irmos antes que você vire a mais velha. — Resmungo puxando Abel que grunhe.
E assim deixamos nosso quarto para trás pela última vez.
XXX
Encontramos Caleb facilmente e depois Barbie e Babel, também sem fazer nada, e enquanto procuramos Toby ele e Charles aparecem nos chamando para ir até Ângelus, nas palavras de Charles, o anjo precisa da peça branca que está com a Lilith para aumentar a passagem da sua casa. Quando chegamos ao Jardim Ângelus nos encara de cara feia.
— Por que todos estão aqui?
— Não tem muito pra fazer, provavelmente. — Charles o responde.
— Bem, se é assim, por que não vão na frente? — O anjo continua olhando para nós. — Assim vocês podem preparar os outros pra uma invasão desse lado.
— Eles podem querer se despedir... — Charles sussurra, Ângelus revira os olhos.
— Acho que já fizemos isso... — Sussurro em resposta, Abel olha para mim e consente depois Toby. — Então...
— Você vai também? — Ângelus pergunta olhando para o meio do grupo.
Aperto as sobrancelhas tentando entender com quem ele está falando quando Cheshire aparece lentamente, desde quando ele está aqui?
— Acho que também já me despedi desse lado. — Chess dá de ombros. — E estou ansioso por voltar para casa.
Eu não estou ansioso para voltar com ele, mas acho que quanto mais rápido voltarmos mais as coisas podem se ajustar para a invasão.
— Bem, se temos um grupo, por que não? — Ângelus se vira para a porta do jardim e quando a abre estamos em uma sala da sua casa, acho que nunca vou me acostumar a casa dele, grande, etérea e vazia.
Ângelus anda até a parede de livros e empurra um deles, pegando a peça branca da Lilith ele abre a passagem para a torre. Lilith passa primeiro sendo seguida por Caleb, Barbie e Babel, Abel e depois de Chess olho para Toby, ele sorri e me estende sua mão, sorrio e a seguro enquanto saímos pela última vez do nosso lado.
XXX
Quando saímos do espaço apertado dos corredores secretos a torre branca já está agitada, mas o que mais me chama atenção é o vestido vermelho que Maaka usa contrastando com tudo no quarto e também com sua pele e cabelos brancos.
— Vocês a viram? — Ela diz animada, só percebo Galahad atrás de Maaka por que ele se mexe para olhar Chess. — E chá de vampiros? Eu realmente não sei o que achar sobre isso...
— Foi muito divertido! — Toby diz se aproximando, o sigo. — Seu marido entende de chás e foi uma companhia admirável.
— Não precisa ser formal agora. — Maaka ri e une as mãos embaixo do rosto. — Estou feliz em ver vocês.
— Belo vestido. — Abel resmunga olhando Maaka de cima a baixo.
— Rosalinda que me deu. — Ela ri e dá uma voltinha. — E você deve ser o irmão do meio, ouvi muito sobre você.
— Todo mundo sempre me diz isso. — Ele responde de forma dramática. — Espero que tenha sido coisas boas dessa vez.
— As melhores. — Maaka sorri para Lilith. — Mas deixando o reencontro de lado, o que precisamos fazer agora?
— Eu vou ver o Dormouse. — Toby diz e suspira. — Quero dizer, vou para Heartsplains e seria bom se vocês pudessem avisar a Taylor.
— Leve o caderno branco. — Maaka diz repentinamente e se virando para procurar algo. — Logo o caderno vermelho vai estar aqui, assim você pode nos manter a par de tudo que está acontecendo.
— Certo... — Ele olha para mim, engulo em seco. — Me acompanha?
— Claro... — Sussurro.
— Eu vou atrás de Nadia e Garet. — Babel diz apoiando as mãos nos meus ombros. — Vamos juntos então.
— Como Mira anda? — Lilith pergunta quando estamos saindo, Maaka suspira. — Certo, vou dar uma olhada nela.
E assim todos saem em busca de algo ou alguém e posso afirmar que todos estamos gratos por estar fazendo alguma coisa. Babel vai conosco até ter que descer para os estábulos, Toby continua em linha reta pelo corredor, eu não vi essa parte do castelo antes.
— Ansioso? — Sussurro, ele joga o caderno branco para cima e o pega de novo. — Cuidado com isso...
— Acho que estou conformado... — Ele me encara. — Pude me despedir da Manson e os três dias em Londres foram ótimos, vou sentir falta de casa, mas não estou mais com medo. Quando estávamos aqui a primeira vez e Dormouse me disse que eu precisava ficar, bem, aquilo me deixou apavorado e triste, mas agora eu só estou com saudades.
— Acho que vou sentir falta da casa... mas o resto? Não foram muito legais comigo. — Brinco.
— Coitadinho do menino rico que nunca precisou vender fósforos no frio para sobreviver, o mundo realmente não foi bom com você. — Toby debocha, mostro a língua pra ele.
— Eu mereci essa. — Respondo, ele ri e para em frente a uma porta dupla. — O que é aqui?
— Você nunca viu? — Nego com a cabeça, ele sorri. — Fecha os olhos.
— Que? — Guincho sentindo meu rosto ficar quente.
— Vai ser legal. — Toby ri e me estica a sua mão. — Você confia em mim?
Penso em muitas coisas estranhas que eu posso encontrar atrás daquela porta, mas por fim suspiro e estico minha mão para ele fechando os olhos. Toby me segura e abre a porta, entro devagar para não tropeçar e deixo ele me guiar, quando Toby para ele ri e segura meus ombros.
— Obrigado por ter vindo. — Ele beija meu rosto e se afasta. — Pode abrir.
Abro os olhos sentindo que fiquei mais vermelho e o enorme espelho me mostra que sim isso realmente aconteceu, estamos em uma sala redonda e a parede toda é coberta por um espelho com bordas douradas, o teto parece uma cúpula e um lustre majestoso fica no centro da sala bem acima das nossas cabeças, olho para tudo e quando volto a encarar Toby é que me lembro de respirar.
— O que é aqui...? — Sussurro.
— Um tipo de salão de dança. — Ele olha o lustre. — Maaka me disse que também estava abandonado.
— Mira tem um péssimo hábito de abandonar coisas bonitas.
Toby ri e me encara, desvio o olhar para o grande espelho, mas isso não ajuda também, ele bate com o caderno na minha testa e volto a me virar pra ele bufando.
— Cuidado pra não cair do cavalo... — Toby sussurra sorrindo.
— Não vou e você não seja pego.
— Vou estar te esperando... — Ele segura minha mão esquerda entre a sua direita e acaricia meus dedos. — Agora sendo sério, tome cuidado enquanto estiver marchando e, por Deus e tudo que você mais ama, não faça idiotices. Me prometa que não vai tentar nenhuma loucura. Por mais que eu odeie dizer isso, obedeça tudo que Nadia disser porque eu sei que ela vai te proteger, afinal, só ela pode te matar.
— Não vou fazer nenhuma loucura. — Reviro os olhos, mas aperto sua mão. — Prometa que não vai fazer nada também, não até eu estar lá.
— Vou te esperar pra gente tocar fogo no vestido da Alice juntos. — Dou risada e antes que pense demais abraço Toby, ele para de rir e me aperta de volta. — Eu amo você.
— Também amo você. — Murmuro em resposta.
Me afasto e ele sorri antes de me beijar, suspiro e subo minhas mãos para apoiar seu rosto, Toby se afasta e engulo meu choro para que ele não fique triste, sorrio e ele apoia nossas testas antes de se afastar suspirando.
Vejo suas costas se virarem e pelo reflexo seus olhos laranjas quando ele toca o espelho e com um último sorriso Toby atravessa para o outro lado. Respiro fundo e me abraço ainda guardando os resquícios do seu calor antes de me virar para sair, não posso me dar ao luxo de sentar aqui e chorar, ainda temos muita coisa pra fazer, por isso faço meu caminho de volta para a torre branca.
XXX
Deem adeus ao menino Toby porque agora ele vai demorar pra aparecer de novo 😭 mas em compensação vai ter muita coisa acontecendo e vindo aí hehe...
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