Missão 5: A grande guerra

Os três chegaram em casa, sem qualquer ambição de agir como família.

Anya, de alguma forma, descobriu o que se passou entre seus pais, e estava chorando todo o caminho de volta.

Loid ainda não sabia o que dizer. Mas abraçou sua filha. Se a menina tivesse tido um pouco mais de sorte, teria sido adotada por uma família de verdade.

— A Anya gosta da nossa família. -Ela disse, como se pudesse ler os pensamentos dele.

Yor estava parada como uma estátua. Houve apenas o comunicado, os dois não conversaram. Loid queria gritar com ela, eles poderiam ter conversado isso no dia seguinte. Não que algum dia estivesse pronto. Mas preferia que Anya não estivesse por perto.

— Eu ainda vou ser a sua mamãe, senhorita Anya. -Yor disse pela primeira vez, e os dois a olharam. -Você sempre será bem-vinda na minha nova casa.

Loid suspirou. Nem com as milhares de lágrimas de Anya, ou com todas as suplicas, a mulher ao menos duvidou do pedido de divórcio. Ele estava arruinado.

— Anya. -Ele chamou e segurou o pequeno rosto da filha. -O tio Frankie irá vir te buscar, tudo bem?

— A Anya quer ficar com o papai e a mamãe. -Ela argumentou chorosa.

— Mas o papai e a mamãe precisam conversar, e eu não quero você mais triste. O papai promete que vai te buscar amanhã de manhã. -Ele estava sendo mais emocional que o normal, mas sabia o histórico de Anya, tantas vezes famílias foram desfeitas e colocaram ela de volta no orfanato. Ele não queria essas feridas abertas novamente.

A campainha tocou, e Yor suspirou, abrindo a porta. Era Frankie, e ele apenas cumprimentou a todos com calma, notando o ambiente hostil.

Loid foi até o quarto da filha, e pegou a bolsa dela, para que ela fosse passar a noite na casa de seu amigo.

— O papai promete? -Anya segurou na sua calça enquanto perguntava, e o coração dele apertou.

— Eu irei te buscar, Anya. -Ele beijou a bochecha da menina, abraçando-a com força. Queria poder transmitir naquele abraço o que sentia de verdade.

Ambos saíram do quarto. Loid entregou Anya ainda chorosa para o amigo de longa data, e pediu que cuidasse bem dela, Frankie assentiu e saíram, deixando o casal sozinho.

Ele bagunçou o cabelo mais uma vez, e respirou fundo. Yor ainda estava parada.

— Quem é ele? -Loid perguntou de uma vez. Ele precisava da verdade. Para se torturar, ou para resolver tudo.

— Ele quem? -Yor perguntou confusa.

— Seu amante. -Ele disse de maneira mais hostil do que pretendia. -Não é por isso que está pedindo o divórcio de maneira abrupta?

Yor riu com escárnio, e o surpreendeu. Provavelmente é a primeira vez que ambos estavam tão irritados, e descontando um no outro.

— De quem a Anya é filha? -Yor perguntou, e isso o surpreendeu tanto, que não conseguiu disfarçar.

— Como? -Ele perguntou incapaz de acreditar no que ouviu.

— Eu sei que ela não é sua filha. De quem ela é filha? Como você a conseguiu? -Yor deu um passo à frente, e dessa vez, não era sua esposa gentil. Era uma mulher irritada, e potencialmente letal.

— Como soube? -Loid praticamente confessou.

— Isso faz diferença? -Ela revidou.

Na cabeça de Loid, algumas coisas começaram a ganhar luz. Yor estava profundamente irritada com os espiões atualmente. E de uma hora para outra, ele era o alvo do ódio.

— Quanto você sabe? -Ele retornou a perguntar.

— Tanto faz. Não vou te denunciar. Só quero saber de quem a Anya é filha. Ela não merece ser usada nos seus planos, muito menos eu. -Ela estava confiante, e irritada. E em defesa de Loid, ele acreditava que ela descobriu da pior forma, e com as coisas fora de contexto.

— É por isso que quer o divórcio?

— Eu quero o divórcio para nao ser usada por um idiota como você. -Ela finalmente explodiu e empurrou o peito dele, mas Yor era muito forte. Loid bateu as costas na parede, e resmungou pela dor no impacto. -De quem ela é filha, Loid?

A mulher o prensou contra a parede, e suas costas doeram mais ainda, mas ele encarou os olhos dela. Pela possível forma que ela descobriu tudo, ele compreendia agora os últimos dias.

— Ela é nossa filha, Yor. -Ele respondeu por fim. — Não faço ideia de quem são seus pais biológicos. Nunca encontrei o paradeiro deles. Achei Anya em um orfanato que mais parecia um ninho de rato.

Os olhos dela brilhavam de raiva, e segurava o colarinho da camisa dele.

— Você acha que uma criança pode ser usada dessa forma? -Ela falou com desdém, e o aperto ainda doía, mas ele não moveu um músculo para tirá-la de cima.

A raiva dela era melhor que a indiferença. Saber o motivo da raiva era melhor que ser mantido no escuro.

— Eu amo a Anya. -Ele diz com verdade, e encara os olhos da esposa, buscando que ela realmente acreditasse. — Não importa os pais biológicos dela, ela é nossa filha. Minha e sua.

— Nossa? Desde quando? Você só está nos usando para sua operação!

— No começo pode ter sido assim, mas não é mais apenas uma missão. -Yor solta abruptamente o marido, atordoada com tudo. -Me escuta primeiro. A gente pode resolver isso, você não precisa ir embora.

— Eu preciso te matar. -Ela disse perdida, e parecia em conflito consigo mesma. Loid deu um passo para trás, para garantir. — Você é o Twilight, e eu nunca pensei que iria te encontrar dessa forma.

Um calafrio percorreu a espinha de Loid.

— Você é da polícia secreta? -Ele arriscou a pergunta.

Encarando a esposa, não importava a resposta. Ele não tinha intenção de começar uma luta, não com ela.

— Não. -Ela diz em um suspiro. — Sou a Thorn Princess.

Provavelmente o cérebro de Loid colapsou após sua gentil e amada esposa pedir o divórcio. Não tinha nenhuma forma de ser realidade a maior assassina do país estar na sua frente.

Os dois não deveriam estar casados. Eram inimigos jurados, de lados opostos.

— O que te levou a decidir não me matar? -Loid tinha que saber, pois se ela quisesse, teria decapitado ele nesses últimos dias após a descoberta.

O rosto de Yor corou, e Loid franziu o cenho. Ela não respondeu sua pergunta.

Estavam os dois, um de frente para o outro. Um mundo de possibilidades entre si.

— Eu não quero te dar o divórcio. -Ele confessou por fim.

— E eu não irei mais participar da operação Strix. -Ela disse cruzando os braços. — Não sou uma marionete que você pode decidir o que fazer.

— Você não é uma marionete. É a minha esposa. -Ele disse por fim.

Loid deu um passo mais à frente. Ficando cara a cara com sua esposa.

— Não acredito em uma única palavra que sai da sua maldita boca, Loid. Nem ao menos sei o seu verdadeiro nome. Nada do que tivemos foi verdadeiro. -Yor estava muito irritada, seu rosto completamente vermelho. — Não tenho nenhum motivo para continuar esse casamento falso.

Pensando com racionalidade, Loid sabia que ela deveria ir embora. Era muito arriscado os dois estarem juntos. Porém, não era isso que seu coração pedia. E fazia muitos anos que não ouvia seu coração.

— Então vamos deixar esse casamento falso para trás. -Ele disse com convicção.

— Ótimo. Vamos assinar os papéis do divórcio e nunca mais interferir na vida um do outro. -Yor falava sem olhar para os olhos dele, e estava cansado dela fugir dele. Andou até a esposa e tocou seu rosto gentilmente, fazendo ela olhar para ele.

— Não quero te dar o divórcio. Quero fazer esse casamento ser de verdade. -Ele disse com toda a sinceridade do mundo.

Esperava que ela pudesse encarar seus olhos, que pudesse encontrar a verdade que ele queria transmitir. Não queria perdê-la nessa noite.

— Posso ser sincero contigo a partir de agora. Contar meus motivos, e demonstrar o quanto isso tudo que vivemos significou para mim. -Os olhos dela brilharam em dúvida, e ele imaginou o quanto ela deve estar se sentindo magoada, e nunca foi a intenção dele.

A cabeça dele estava com milhões de pensamentos por segundo, e ainda não tinha ao menos processado que sua esposa era uma assassina profissional. Mas tinha certeza que não importava, queria ela ao seu lado.

— Eu sou uma assassina, você um espião. Não tem como isso dar certo. -Ela disse decidida. — Somos de mundos diferentes, e eu não consigo passar por cima da sensação que fui traída. Você me usou, mais do que eu permiti.

Yor se afastou do seu toque, e parecia que não estava disposta a ceder.

Se ele fosse um homem mais sábio, saberia como argumentar usando seus sentimentos de verdade. Tudo que aprendeu como espião foram truques. Manter as aparências, e como manter suas emoções longe. Porém, era tudo diferente agora. Precisava ser emocional.

A única forma de fazer a mulher na sua frente ficar era entregando seu coração.

— Eu amo você, Yor. -A mulher o olhou chocada, e ele aproveitou para se aproximar. — Sou o melhor espião, e nesse tempo, aprendi a deixar minhas emoções longe do meu trabalho. Pensei que seria o mesmo com essa missão. Que poderia não me encantar com essa vida simples de família. E eu abandonei muitas coisas no passado, inclusive minha identidade. Mas você, Yor, é alguém que não quero perder.

Segurou seu rosto, de maneira gentil. Pensou muitas vezes nisso durante o casamento, como seria o sabor de seus lábios, mas nunca se deu ao luxo.

Ele já havia beijado outras mulheres, mas neste momento não lembrava o nome de nenhuma. Nada do seu passado tinha significado.

Sabia que era arriscado brincar com fogo junto de Yor, mas ela ainda não tinha dado um soco em seu rosto, e interpretou isso como uma abertura, e finalmente colou seus lábios.

A princípio, Yor tentou o afastar, segurando seu peito, mas em poucos segundo deu abertura, e uniu-se ao desejo dele. Dando início a um beijo calmo, até que eles perdessem o ar. E encarando os olhos de sua amada, ele sabia que poderiam superar essa guerra.

Antes que Yor recuperasse a raiva, a colocou contra a parede de forma gentil, e tornou os beijos mais urgentes. E agora tinha certeza que poderia viver o resto da vida ali, nos lábios de sua esposa.

— Loid. -Ela o chama, enquanto ele desce os beijos até o seu pescoço. — Essa não é a solução.

Ele riu quando um suspiro escapou dos lábios dela. Loid volta sua atenção aos olhos da esposa, seus braços apoiados na parede, fazendo com que ela foque apenas nele.

— E qual é a solução? Eu me recuso a te dar o divórcio. -Ele diz decidido.

— Eu não quero fazer parte da sua missão. -Ela diz, não fugindo do olhar. — Você não precisa ir tão longe para isso, aposto que tem outras espiãs para continuar seu plano.

— Não quero você pela minha missão. E muito menos disse sobre meus sentimentos para te usar. Eu quero você, Yor. De verdade.

— Como posso confiar em você? -Ela pergunta sem certeza.

— Da mesma forma que eu vou ter que confiar que não irá me decapitar enquanto durmo. -Ele diz rindo, e volta a colar as suas bocas em selinhos. — Eu omiti a missão, e menti sobre a Anya. Mas começamos esse casamento como um contrato. E durante esse tempo, fiz muito mais coisas que excedem minha missão. Eram coisas que queria fazer. Meus sentimentos fluiram mais do que pretendia.

Yor mordeu seu próprio lábio, e era uma visão e tanto. E Loid percebeu que ela estava pensando e calculando se ele valia a pena. E nunca o julgamento de alguém foi tão importante.

As mãos da esposa foram até o pescoço dele, e ele estava pronto para qual fosse a decisão dela.

— Acho que nós dois estávamos escondendo quem somos de verdade. -Ele assentiu.

— Eu nunca esperei ter me casado com a Thorn Princess. -Ele confessou rindo. — Mas isso não irá mudar meu amor.

Com sinceridade, Loid queria parar de falar. Queria voltar a beijar os lábios da esposa, e se perder nela. Mas sabia que suas vidas eram complexas o suficiente para ignorar suas identidades secretas. E ele estava disposto a lidar com isso, mas amanhã, depois de fazer o casamento deles se tornar de verdade hoje. Porém, Yor precisava segurar a sua mão e seguir esse caminho.

— Espero que eu não me arrependa dessa decisão, Twilight. -Yor o puxou para si, e o coração de Loid bateu o mais rápido que pode, como se estivesse prestes a explodir.

Segurou a cintura dela, e aprofundou o beijo. Ele estava finalmente feliz.

— Chega de quartos separados. -Ele determinou com um sorriso, e pegou sua esposa no colo, o que a fez dar um pequeno grito.

Abriu a porta de seu quarto, e a colocou no chão, voltando a beijá-la. Não queria perder o ritmo. Não queria dar tempo para ela mudar de ideia.

Hoje Loid queria mudar suas vidas para que nunca mais o divórcio fosse uma alternativa.

Yor o beijava intensamente, enquanto ele arrancava sua própria camiseta de botão o mais rápido possível. Ele tinha que admitir que ela ficava ainda mais bonita com o rosto corado de vergonha.

Aproveitou e arrancou a camiseta da esposa e sua saia, e a colocou na cama. Queria passar horas admirando o corpo dela, mas estava muito mais ocupado aproveitando seus toques.

— Vou te comprar um anel de verdade. -Loid disse, e Yor franziu o cenho. — Quero que todo mundo saiba que é minha esposa.

Ela riu, e o deixou nas nuvens. Fazia dias que ele queria receber seu sorriso verdadeiro.

— Estava com saudades. -Ele confessou, nunca estiveram dessa forma, mas sentia falta de cada pedacinho dela.

— Também senti sua falta. -Ela respondeu, e o ajudou a tirar sua calça.

Loid queria que ela se sentisse a mulher mais amada do mundo, e mais do que tudo, queria deixar uma bela primeira impressão. Voltou sua atenção aos seus sapatos, tirando com cuidado, e começou a depositar beijos por seu corpo, iniciando pelos pés, subindo pelas pelas pernas, até chegar a suas coxas, e ali deixou uma mordida, era seu território. Yor soltou um gemido contido, mas Loid não queria que ela se contivesse hoje.

Tirou sua lingerie e começou seu trabalho, e era adorável cada reação de sua amada, que gemia e puxava seus cabelos, até encontrar seu ápice. Nesse momento, voltou para beijá-la.

— Linda. -Ele disse, ao acariciar seu rosto, e guardar em sua memória seu rosto ruborizado e cansado, mas satisfeito. Ela sorriu para ele, e deu um selinho.

Estava ansioso para o próximo passo, e a posicionou da melhor forma, e encaixou seu corpo no dela, fazendo com que os dois suspirassem de prazer. E respeitando o ritmo de sua esposa, foi estocando cada vez mais rápido, até que ela atingiu o orgasmo pela segunda vez.

— Eu te amo, Yor. -Ele disse ao alcançar seu clímax. Deitando sobre o corpo dela.

Os dois estavam suados e cansados, mas felizes. Ele uniu sua mão à dela.

— Eu te amo, Loid. -Ela respondeu, e o pegou de surpresa. Não esperava que ela confessasse hoje, mas ficou imensamente agradecido.

Seu coração estava em paz, depois da agonia das últimas semanas. Desarmar bombas foram mais fáceis do que conquistar a esposa.

Ele beijou sua testa e a aninhou em seu peito.

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No dia seguinte, os dois tinham a responsabilidade de ir buscar sua criança. Apesar da noite incrível que compartilharam, sabiam que a pequena devia ter tido dificuldades para dormir, pensando que sua família tinha se desfeito. E isso os fez sentir culpados.

Yor sorriu para Loid, enquanto ele a ajudava a colocar o casaco.

— Vamos, querida? -Ele disse lhe dando um beijo, e ela assentiu.

Ele nunca foi um marido ruim, tinha certeza disso. Apesar de que era parte de seu trabalho ser o melhor, mas sua intuição dizia que ele conseguiria ser ainda melhor agora, que tudo era de verdade. Agora que era permitido carícias e demonstrar seu amor.

O trajeto foi silencioso, eles não precisavam de uma conversa para se sentirem confortáveis um com o outro.

Frankie abriu a porta rapidamente quando tocaram a campainha. E suspirou com alívio quando viu os dois.

— Ainda bem que se resolveram. -Ele disse e deixou o caminho para Anya correr e pular em Loid.

— Mamãe, papai. -Ela disse enquanto se aninhou no pai. O coração de Yor ficou aquecido com a cena, e Loid estendeu o braço, e então ela se juntou ao abraço.

E foi assim que eles sabiam que tinham sobrevivido à grande guerra, o pior já tinha passado. 

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