10 - Famílias

Amandy White

Após sermos praticamente expulsos pelo pobre garçom que já estava impaciente para ir embora e descansar, eu fui direto para casa pesquisar mais sobre aquela lenda. Não podíamos apresentar um trabalho sem no mínimo ter as informações básicas do assunto.

Até agora, eu só tinha rabiscos que encontrei no caderno do meu pai, sabia que se tratava de duas famílias que disputavam território em Stowe e que claro, havia um perdedor e um vencedor. Por nunca ter passado de vagos rabiscos nas coisas do papai, sabia que provavelmente era uma lenda sem fundamento algum ou então ele teria pesquisado mais e com certeza as famílias ainda seriam “intrigadas”, mas eu nunca vi nenhuma desavença nessa cidade.

Sentada na poltrona que fica no escritório do papai, busco por horas algo que seja útil para descobrir o sobrenome ou ao menos algo que possa me dar acesso a isso, mas não encontro nada a não ser um endereço no fim do papel em que encontrei a lenda escrita. Meu pai está dormindo desde a hora do jantar, não quero atrapalhar seu sono, apesar de ser por algo importante, está bastante tarde e eu não posso sair na rua para ver o que tem naquele endereço, então fico ali, encarando o papel, procurando por algo que eu ainda não vi...

Pensa, Amandy... Pensa... Meu pai é o único que pode me dar alguma informação... Arrrg! 

Um barulho insistente atrapalha os meus pensamentos e eu noto que se trata do meu celular, é uma notificação pedindo para que eu atualize alguns aplicativos que eu faço questão de ignorar há dias, por falta de sono, eu clico em “atualizar” e surge a imagem de um aplicativo de rotas, como o GPS.

— Como eu fui tão lerda esse tempo todo? Vamos lá, aplicativo, nos mostre onde esse endereço vai dar! — falo sozinha pegando de volta o papel e discando o endereço no aplicativo que logo me leva a imagem de uma rua no fim da cidade. Me parece uma rua comum, tem algumas casas antigas, um terreno vazio, nada de anormal, nada que remeta a lenda.

Solto o celular e vejo que já se aproxima da meia noite, resolvo ir me deitar ainda pensando em tudo que aconteceu hoje, até que não é tão ruim ter a companhia daqueles três garotos... Cada um tem um jeitinho diferente e é encantadora a forma de como nos demos bem e a conversa se tornou do útil ao agradável em minutos. Novamente, a imagem do endereço me vem à cabeça e decido que perguntar ao papai o que significa aquilo será a minha primeira missão do dia. Mas agora, eu preciso dormir se quiser acordar disposta a encarar um novo dia com condições de pesquisar sem cochilar entre as leituras.

Guardo os papéis e sigo para o meu quarto, antes de dormir, tomo um banho rápido e visto um short fino cinza e uma camiseta preta comprida, deito na cama e abraço um ursinho solitário que me encarava do outro lado do quarto, não lembro quando o ganhei, mas ele está aqui desde que me entendo por gente e eu adoro dormir ao seu lado.

Você precisa de um namorado, Amandy. Uma garota da sua idade que ainda dorme com ursinhos é o cúmulo da carência. Tudo bem, consciência. Não é hora de pensar bobagens, vamos dormir, ok? Se concentre na sua própria respiração, Amandy  — penso comigo mesma e começo um processo repetitivo de inspirar e expirar até regular minha respiração e cair no sono. Isso sempre me faz dormir mais rápido, minha mente fica vazia e tranquila, ponta para uma boa noite de sono...

                                    *

— Amandy, está na hora de acordar! — ouvi minha mãe me chamar e despertei.

— Que horas são? — pergunto ainda sonolenta esfregando meus olhos. 

— São seis horas, querida. Você não ouviu seu alarme? — pergunta sentando na cama.

— Não, dormi tarde ontem, fiquei sem sono — falo me despedindo das cobertas e indo em direção ao banheiro para tomar meu banho e me arrumar. É um milagre minha mãe estar em casa a essa hora, viva aos céus! 

— Te espero lá embaixo para tomar café — diz saindo do quarto e eu grito um “ok” como resposta. O dia está frio então tomo um banho rápido e visto uma calça jeans com uma camisa moletom, coloco um tênis para completar e desço as escadas passando pelo escritório para pegar o papel com o endereço que achei na noite de ontem.

— Bom dia, preciso de uma informação, pai — digo sentando ao seu lado e coloco uma xícara de café.

— Que informação? — questiona curioso.

— Eu estou fazendo um trabalho para a escola sobre as lendas locais e estava mexendo nas suas coisas quando encontrei sobre isso aqui — entreguei o papel que tinha a lenda escrita e perguntei de que se tratava aquele endereço.

— Antes, as famílias queriam tomar posse dos territórios próximos a estação de esqui, como recebemos vários turistas, quem os dominassem ficaria rico rapidamente e ali ficava a casa de uma das famílias, ela foi destruída por um parente e agora é só um terreno vazio. Hoje, as casas passaram por reformas e estão bem mais bonitas, mas aquele era um cenário típico de filme de terror.

— Por que a casa foi destruída?

— Como você já deve saber, os homens eram poderosos e obviamente, toda disputa tem um vencedor e um perdedor. O vencedor morava naquela rua e o perdedor acabou se matando dentro daquela casa e amaldiçoou o lugar e as próximas gerações da família. Alguns dizem ouvir sussurros e gritos de dor quando passam por lá, mas eu já visitei várias vezes em busca de mais e nunca vi nada de diferente ali.

— Mas pai, quem são essas família? — pergunto ansiosa.

— Filha, são quase sete horas, eu conto no caminho, ok? Precisamos ir — concordo e me despeço da minha mãe com um beijo na testa e sigo para o carro, ele me conta tudo que sabe sobre a lenda e eu fico surpresa com tamanha coincidência ao ouvir o nome das supostas famílias, pego meu celular imediatamente e envio uma mensagem para Caeli, nós nunca fomos amigas e somos totalmente diferentes, mas ela me parece alguém confiável.

“Você não vai acreditar no que descobri sobre as famílias“

“O que?”

“Preciso falar com vocês, mas sem o Ignis por perto, a história é longa”

“Está me deixando assustada, garota das lendas. Me encontre no intervalo”

Satisfeita com a minha “conversa”, jogo o celular na bolsa quando vejo que estamos nos aproximando da escola e digo ao meu pai que talvez eu chegue tarde novamente por causa do trabalho.

— Não fique andando por aí sozinha e nem pense em ir até lá a noite! A rua está sempre vazia e é perigoso! — avisa e noto que há um pouco de preocupação em sua voz.

— Não se preocupe, tchau papai — me despeço e sigo em direção a sala, a aula irá começar em poucos minutos e com sorte, ela vai acabar tão rápido quanto começa.

Meu pai costuma dizer que as palavras têm poder e que se falarmos demais na palavra “azar” ele sempre vem até nós. Eu estou começando a acreditar nisso quando noto que além de demorar para acabar, a professora de física ainda toma 7 dos 20 minutos de intervalo. Passo como um raio pela porta assim que a turma é liberada e procuro por Caeli que está sentada junto de Pietro numa mesa distante e um pouco mais escondida, antes de ir até lá, pego apenas um suco para lanchar e sigo meu caminho.

— Oi, estão preparados? — pergunto sentando e tomando um gole do maravilhoso suco de maracujá.

— O que aconteceu? — questiona Pietro que alternava o olhar entre mim e Caeli.

— Ela descobriu as famílias, vai, conta logo.

— Não deveríamos chamar o Ignis? Ele está logo ali com o Scott — aponta Pietro.

— NÃO! Quer dizer, melhor não dizer nada a ele agora... Acontece que uma das famílias é a dele — sinto os dois pares de olhos caírem sobre mim e os dois ficam em silêncio por alguns segundos até que a voz de Caeli quebra o clima tenso.

— E a outra?

— A outra é a Rennes — digo com cuidado olhando para Pietro, sabia que ele tinha uma certa amizade com Susie Rennes. — não tenho certeza de que são realmente essas famílias, mas a Griffim era dona de um terreno próximo à estação e vendeu alguns anos depois, há 17 anos, para ser mais exata. Isso me fez suspeitar que provavelmente eles teriam ganhado a briga — completo.

— Certo, mas acho que esconder do Ignis é impossível e ele tá chegando aí — avisa Pietro inclinando a cabeça na minha direção e me viro bruscamente para trás para avistá-lo.

— Oi, pessoal. Descobriu algo, Amandy? — cumprimenta e faz a pergunta que eu tanto temia, mas o Pietro está certo, não dá pra esconder.

— Sim, descobri um pouco mais sobre a lenda e os sobrenomes que a gente precisava.

— Então conta logo — percebo a ansiedade na sua voz e todos olham para mim novamente esperando a resposta, conto tudo que descobri sobre a lenda e por fim, os sobrenomes.

— [...] são as famílias Rennes e... Griffim — levanto meu olhar para encara-lo e ele parece tão surpreso quanto eu.

— Você nunca viu sua família falar nisso? — questiona Caeli.

— Não, eu nasci em outra cidade e meu contato com a vovó era mínimo, minha mãe nunca falou que tínhamos “inimigos” — diz nervoso.

— Você poderia perguntar a sua avó, quem sabe ela não nos conta um pouco sobre isso... — pede Caeli.

— É verdade, querem ir até minha casa depois da aula? Tenho certeza que ela não vai negar uma ajuda.

— Sim, nós vamos! Todos! — diz com tom autoritário e eu apenas concordo. 

O resto do dia passa voando e logo chega a hora de irmos até a casa de Ignis, no caminho passamos perto do lago onde ocorreu o suicídio há alguns dias e sinto meus pelos do braço arrepiarem e eu disfarço, mas Caeli percebe e fala baixo para mim:

— Eu vim aqui no dia do suicídio e também senti o mesmo — olho para ela e apenas esboço um simples sorriso de gratidão por ela não ter falado em voz alta até que Ignis me pergunta novamente sobre a lenda e eu o respondo deixando minha conversa silenciosa com a patricinha de lado.

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