07 - Primeiro suicídio


Amandy White

Normalmente as pessoas se animam com o primeiro dia de aula, sempre tem aquela empolgação pra mostrar o material novo; escrever na primeira folha do caderno com uma letra quase que desenhada; escolher o primeiro look; a maquiagem perfeita; penteado; impressionar os garotos (as), mas eu não era assim, não mais... Eu amava o primeiro dia de aula quando criança, lembro que muitas vezes, antes de dormir, eu passava horas pensando em como ia ser e por isso demorava horrores para conseguir cair no sono e no dia seguinte me odiava por ter dormido pouco e estar cheia de olheiras, mas hoje eu passei a não me importar tanto com isso, era apenas só mais um dia na mesma escola de sempre com as mesmas pessoas monótonas.

E assim se fez, o caminho até a escola foi rápido, assim que chegamos me despedi do papai e fui em direção a entrada da Stowe High School que continuava igual a antes, exceto pelas paredes que estavam um pouco mais brancas do que eu lembrava, com certeza foi pintada, afinal era a única coisa que eles faziam de "diferente" para receber os alunos no ano seguinte.

Como já havia recebido meus horários quando fui renovar a minha matrícula, já sabia quais seriam minhas aulas e segui para a primeira, biologia, não sou fã dessa matéria, mas também não é tão ruim. Em seguida tive uma aula de matemática e logo veio do intervalo onde pensei ter visto um garoto estranho, ele era ruivo e extremamente magro, mas não dei muita importância, nunca reparei nos alunos que não faziam aula comigo. Na minha quarta aula, nós tivemos aula de história juntos e ele se apresentou, um novato. Ele era um novato. Stowe tinha um novato, era algo difícil de acreditar. O professor de história, Fred, passou um trabalho sobre as lendas locais em grupo e o meu seria composto por Caeli Collins, Pietro Liberato, Jackson Martinez e Ignis Griffim, esse era o nome do garoto novo. Eu não gostava de trabalhos em grupo, muito menos com esses componentes, era visível que eu não tinha nada a ver com aquelas pessoas, mas seria obrigada a fazer esse. Os garotos marcaram de se encontrar no intervalo do dia seguinte para combinar como e onde seria feito.

— Mal posso esperar — falei com desdém para ninguém em especial.

Assim que as aulas acabaram, fui direto para casa e como não iria fazer nada a tarde inteira, decidi que iria dormir um pouco e depois faria uma rápida pesquisa para ajudar no trabalho. E foi exatamente o que eu fiz, depois de horas na internet lendo bobagens, resolvi ir até a estante de livros do papai e procurar algo nas pesquisas dele e encontrei alguns tópicos que poderiam ser úteis, anotei todos no caderno quando ouvi minha mãe gritar.

— Mandy, está na hora do jantar!

— Estou indo, mãe!

Desci até a cozinha e encontrei uma travessa fumegante com uma espécie de macarrão com molho, minha mãe não tinha muito tempo para cozinhar então apostava em comidas rápidas e simples, mas sempre ficava uma delícia.

— Como foi o primeiro dia de aula, querida? — minha mãe perguntou enquanto colocava a comida no meu prato.

— Ah, normal, exceto pelo garoto novo que entrou na escola.

— Novo? Quem é? — meu pai perguntou com um tom curioso na voz.

— Só sei que se chama Ignis Griffim e é ruivo, com certeza é algum parente daquela viúva que mora há alguns quarteirões daqui.

— Talvez seja, estranho um garoto vir até aqui, não há nada para oferecer nessa cidade.

— Também achei, precisa de ajuda com a louça, mãe? — falei levando meu prato sujo até a pia.

— Não, pode ir, querida — me olhou sorrindo enquanto colocava uma colher bem cheia na boca.

— Ok, vou para o meu quarto, estou morta. Boa noite, gente — subi e fui direto me deitar, apesar de ter dormido um pouco depois do almoço, estava muito cansada e não demorou para que meus olhos começassem a pesar, deixei que o sono me ganhasse e simplesmente dormi.

Meu despertador tocou me acordando para mais um dia e eu fiquei ali, deitada por mais uns cinco minutos com a cara enfiada nos travesseiros até criar coragem e levantar. Em seguida, fui para o banheiro, onde eu passei uns 15 minutos debaixo do chuveiro deixando a água levar toda a minha indisposição, eu amava senti-la escorrendo pelo meu corpo, sentia como se a mesma fosse parte de mim, mas infelizmente eu precisava sair do banheiro ou acabaria a água da casa inteira. Corri para o guarda-roupa lembrando que chegaria atrasada caso demorasse mais e peguei uma calça jeans flare de cintura alta bem clarinha e uma blusa de gola alta marrom escura, calcei uma sandália simples com um salto mínimo, apenas o suficiente para que a calça não ficasse arrastando no chão, peguei minha mochila juntamente com o celular e fones de ouvido e desci para encontrar com meu pai. Ao chegar na porta da cozinha, o ouvi conversando com a mamãe, como sempre.

— Não entendo o que leva uma pessoa a fazer isso, ele era bem jovem, né?

— No máximo 30 anos, tinha uma vida pela frente ainda.

— Quem tinha 30 anos, mãe? — perguntei um pouco confusa.

— Bom dia pra você também, dormiu bem? — questionou me olhando de cima abaixo como se estivesse me avaliando.

— Bom dia e sim, eu dormi bem, mas de quem vocês estão falando?

— Sua mãe recebeu uma ligação do hospital de madrugada para ir numa ambulância socorrer um rapaz que se jogou no lago e acabou se afogando, morreu a caminho do hospital.

— Ele se matou? — levanto a sobrancelha num olhar surpreso e questionador, moro em Stowe desde que nasci e posso garantir que isso nunca havia acontecido, é muito estranho.

— É o que tudo indica, o vigia da prefeitura estava indo para casa quando acabou seu turno hoje e disse que viu quando ele pulou — respondeu minha mãe.

— Bem estranho isso, vocês não acham? — falei enquanto colocava um copo de suco e pegava uma fatia de bolo.

— É sim, mas vamos deixar o assunto pra depois porquê você está quase atrasada, querida — alertou meu pai.

Olhei para o relógio que ficava ao lado da porta e vi que precisava estar na escola em 15 minutos.

— Oh, Deus! Preciso correr! Tchau, mãe — dei um tchauzinho enquanto dava uma mordida no bolo e rapidamente bebi o suco em apenas três goles, saí voando para o carro onde meu pai já estava parado me esperando.

— Você está linda, Mandy — observou ele.

— Obrigada, pai — respondo jogando a mochila no banco de trás e ligo o rádio passando por algumas estações até que meu pai da um grito.

— Não tire dessa música! — me assusto com a sua reação exagerada e pulo no banco do carro.

— O senhor me assustou! — exclamo com a mão no peito sentindo o coração pulsar acelerado.

— Eu já te contei como conheci a sua mãe?

— Num bar, eu acho...

— Isso aí, eu estava sentado na banqueta quando ela chegou com um uniforme e pediu um whisky, na hora eu pensei "nossa, que ousada! E gata...", de repente estávamos conversando na maior empolgação quando ela me confessou que era estagiária em um hospital e estava triste por ter errado um procedimento que poderia prejudicar o paciente.

— Nossa, não sabia dessa parte — falei atenta ouvindo a história.

— Pois é, nós começamos uma conversa sobre o sentido da vida e coisas do tipo e foi quando essa música tocou, nós cantarolamos juntos errando a letra inteira por causa da quantidade exagerada de álcool que tínhamos tomado e foi aí que eu me apaixonei por ela... — pude ouvir um riso acompanhado de um suspiro no fim da frase e quando olhei para o seu rosto, notei que seus olhos brilhavam.

— Um pouco clichê, mas bem legal — falei, agora prestando mais atenção a música que iniciava num ritmo leve e descontraído.

I wanna know, have you ever seen the rain?

I wanna know, have you ever seen the rain

Comin' down on a sunny day?¹ — meu pai cantava um trecho da música e aos poucos eu estava totalmente contagiada pelo ritmo da música e me peguei cantarolando junto a ele.

O caminho até a escola foi rápido, assim que chegamos me despedi do papai e fui para a aula de geografia, a aula seguinte foi vaga pois a professora passou mal e precisou ir embora, por isso fui para o refeitório onde sentei em uma mesa e fiquei ouvindo música, olhei para as várias janelas que ficavam no ambiente e percebi um céu escuro, Stowe era muito conhecido pela estação de esqui, era normal que estivesse sempre com as nuvens carregadas, mas hoje estava um ar estranho, pesado, imaginei que seria coisa da minha cabeça e quando me dei conta vários alunos invadiram o local e logo notei que estava na hora do intervalo, eu já estava me levantando quando Pietro e Caeli chegaram conversando com a maior naturalidade do mundo e sentaram comigo.

— É só eu ou vocês também estão sentindo que tem algo estranho no ar? Souberam do acontecido no lago? — questionou Pietro.

— Esse negócio está mexendo com a sua cabeça, melhor parar, vamos resolver logo sobre o trabalho? — interrompeu Caeli um pouco impaciente.

— Pensei que era só eu — falei mais baixo que o normal sem a intenção de deixar eles ouvirem, mas quando dirigi meu olhar pra frente vi que Pietro me olhava e corei.

— O que aconteceu? — ouvi uma voz atrás de mim e quando me virei vi que vinha de Ignis, ele estava tentando esboçar um sorriso nervoso.

— Desculpem a demora, encontrar o ruivinho aqui foi um pouco complicado, e aí? Já decidiram algo? — dessa vez foi o Jackson que falou enquanto puxava uma cadeira ao meu lado para sentar.

— Primeiro me deixem atualizar o novato, houve um suicídio durante a madrugada, o cara se matou afogado — disse ele com uma voz de quem narra histórias de terror.

— Mas isso não acontece todos os dias no mundo todo?

— Bem, sim, mas não em Stowe, aqui nunca aconteceu isso, pelo menos não que eu saiba, você já soube de algo do tipo, Amandy? Sua mãe é a médica, com certeza saberia desses casos — questionou com um olhar investigador.

— Não, eu nunca soube de algo parecido, mas é... Voltando ao trabalho, eu tomei a liberdade de pesquisar alguns temas e encontrei isso aqui — falei abrindo meu caderno e mostrando os tópicos aos quatro.

— O intervalo é curto então sugiro que nos encontremos em algum lugar depois da aula para fazer — conclui.

— Ótima ideia, todos concordam? Podemos almoçar juntos naquele restaurante do outro lado da rua e fazer lá em casa, meus pais não iriam se incomodar — Pietro diz empolgado.

— Alguém se opõe? — questiona Caeli levantando da mesa.

— Me desculpem, mas eu tenho que trabalhar — fala Jackson um pouco acanhado.

— Vai lá, a gente dá conta do serviço, depois eu te explico o assunto se quiser — ofereceu Ignis.

— Valeu, galera. Fico devendo uma.

— Então até a hora do almoço — falo me levantando da mesa e indo para a sala onde eu teria duas aulas de química, as últimas do dia.


Nota de rodapé

¹Eu quero saber, você alguma vez viu a chuva?

Eu quero saber, você alguma vez viu a chuva

Caindo em um dia ensolarado?


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