➶ 𝗖𝗮𝗽𝗶𝘁𝘂𝗹𝗼 𝗜𝗜 ㅡ 𝗘𝗹𝗲𝘀 𝗔𝗽𝗮𝗿𝗲𝗻𝘁𝗮𝗺
[03 dias antes dos Jogos]
Luke observava a paisagem borrada fora do trem enquanto a chuva fina limpava a poeira e trazia vida e esperança ao cair sobre a terra. O céu, apesar de nublado, estava pintado com as belas cores do crepúsculo, indicando a passagem de posto entre o Sol e a Lua.
Os extensos e belos campos de grãos já estavam chegando ao fim, levando embora a esplêndida aquarela de cores formada pelo milho, soja, trigo e cevada e dando lugar a um terreno mais rochoso e montanhoso, indicando que a fronteira com o Distrito 1 havia sido atravessada.
Assim que as plantações foram deixadas para trás, Luke suspirou deprimido pensando que nunca mais as veria. Criado a vida toda no centro urbano do Distrito 9, rodeado de fábricas de grãos, Luke raramente ia ao interior e tinha a oportunidade de ver as fazendas. Agora a última visão que teve de casa foram os campos calmos e serenos.
Passado alguns minutos o trem começou a diminuir a velocidade à medida que a chuva cessou e o deprimente relevo de rochas do primeiro distrito dava lugar a alguns conjuntos de habitações.
Diferente do nono distrito, o Distrito 1 era um dos mais ricos de Panem, além de ter uma boa relação com a Capital, influenciando diretamente em suas condições de vida. As casas eram bem construídas e pintadas com tintas de qualidade, que brilhavam com o sol, e prédios e edifícios não eram algo raro. As indústrias não eram construções gigantes e precárias como as do Distrito 9, mas sim complexos bem planejados.
Logo que se aproximaram do centro do distrito, Luke notou na famosa Academia dos Tributos, onde alguns jovens lutavam e treinavam. Instituída cerca de doze anos atrás, na décima terceira edição dos Jogos Vorazes, pelo então idealizador Coriolanus Snow, a Academia dos Tributos quebrava as regras de que os adolescentes não deveriam receber treinamento para os Jogos, mas como fora algo estabelecido pela própria Capital, ninguém questionava.
ㅡ Acho que essa será a última parada antes de chegarmos a Capital. ㅡ Disse Saher, a parceira de distrito de Luke, no momento em que o trem chegou à estação.
Pela janela, Luke conseguiu ver os dois tributos entrando em um dos primeiros vagões do trem. Outra grande mudança que Coriolanus fez, agora já em sua função de presidente: o trem que levaria os jovens a Capital ainda seria apenas um, mas cada dupla teria seu próprio vagão com comida e acomodações confortáveis.
ㅡ Achei que não iria querer falar comigo. ㅡ Murmurou Luke olhando para a garota sentada em uma poltrona vermelha do outro lado do vagão. Entre os dois, uma mesa repleta de pães, doces, sucos e frutas. ㅡ Pensei que teria medo, como as outras.
Saher sorriu gentilmente para ele, levantando de seu assento e caminhando até o garoto, se sentando ao seu lado.
ㅡ Todos temos nossos lados ruins, mas prefiro acreditar que o arrependimento de seus atos te curaram dele, Luke. ㅡ Respondeu Saher com graciosidade. Seus belos olhos castanhos brilhavam como um quartzo fumê, trazendo um resquício de serenidade e esperança, ao contrário da desolação que os Jogos causam.
ㅡ Rezo para que esteja certa. ㅡ Luke voltou seu olhar para fora quando o trem iniciou seu trajeto, por fim indo na direção da Capital depois de dar a volta por toda Panem. Ao contrário de Luke e Saher que estavam ali a apenas duas horas, tributos como os do Distrito 7 e Distrito 5 embarcaram nos primeiros raios solares. ㅡ Mesmo assim, não sei se deveria ficar tão perto de um monstro.
ㅡ Não se deve temer os monstros, Luke, mas sim quem os tornou assim. ㅡ Saher disse indo até a mesa e pegando alguns doces para si.
Luke não conseguia entender como os cidadãos de seu distrito puderam escolher Saher como atributo feminino. A garota sempre fora alguém gentil e atenciosa, que trabalhava duro para sustentar a si mesma e a avó e ainda por cima tinha tempo para espalhar amor e alegria por onde passava. Mesmo que assassinas e criminosas estivessem em falta no Nove, a escolha de Saher não fora algo do acaso, fora um ato de pura covardia de uma população amargurada. Luke não ligava de ter sido escolhido, sabia que uma hora ou outra sua vida seria ceifada por decorrência de seus pecados, mas a raiva subia por suas veias pensando que a próspera e bela vida que Saher poderia ter seria interrompida.
ㅡ Isso tá muito bom! ㅡ Exclamou Saher depois de morder um donut. Sua voz tranquila afastava os mais horríveis pensamentos da mente de Luke, além do medo que sentia. ㅡ Quer um?
ㅡ Pode ser. ㅡ Respondeu o garoto pegando um donut que estava na mão esticada de Saher. Luke nunca teve a oportunidade de comer algo assim, sabia da existência pois via na vitrine da padaria de alta classe do distrito, mas nunca teve condições suficientes para comprar.
O formato redondo junto com a massa fofinha e a cobertura colorida dava ao doce uma aparência feliz. O incrível sabor atingiu o paladar de Luke no instante que ele deu a primeira mordida, ansiando por mais daquilo.
Apesar de estar indo para o próprio inferno, talvez os poucos dias que passaria no paraíso pudessem ser o bastante para mostrá-lo tudo que nunca provou em sua curta vida, além de fazê-lo se arrepender de todos os seus repugnantes atos.
A última hora de estadia no trem fora deliciosa, onde Saher e Luke se fartaram de tudo aquilo que estava disponível para eles, todo aquele sabor que os privilégios traziam. Todo aquele tratamento digno da elite.
Por fim, assim que o trem chegou à Capital e as reluzentes janelas dos enormes e diversos prédios refletiram a luz da Lua, Luke voltou para a janela do trem, observando a magnitude da esplendorosa Capital. Então, no instante que o trem estacionou na estação, Luke viu seu reflexo no vidro. O cabelo loiro bagunçado e os olhos marcados com profundas olheiras lembravam que ele ainda era o monstro.
[02 dias antes dos Jogos]
Magdalene observava o boneco de treino à sua frente com determinação. Entre o alvo e a garota estava o irmão, Lothaire, segurando uma faca em cada mão. Magdalene apertou o arco e a flecha em suas mãos e se preparou para correr.
ㅡ Tá preparado? ㅡ Indagou Magdalene sorrindo e puxando a corda do arco, a flecha já engatilhada. Lothaire concordou com a cabeça. ㅡ Agora, maninho!
O garoto arremessou suas duas facas no instante em que a irmã começou a correr em sua direção. Lothaire se abaixou, permitindo que Magdalene utilizasse suas costas como apoio para pular sobre ele. A loira parecia estar voando, mirando a flecha no boneco de treino e atirando.
Todos na sala de treinamento olhavam aquela dupla em completa sintonia e sincronia. Magdalene pousou logo após as facas se cravarem onde estariam os pulmões e a flecha onde estaria o coração do boneco.
Os irmãos não precisavam de treinamento, fizeram isso por metade da vida na Academia dos Tributos, mas seus mentores haviam lhe instruído que mostrar suas habilidades durante o tempo de treinamento dado pela Capital seria uma ótima ideia de intimidar os outros tributos.
ㅡ Na mosca, maninho! ㅡ Disse a loira piscando sorridente pro irmão. Lothaire apenas concordou com a cabeça seguindo seu jeito caladão.
Desde que se entende por gente, o irmão sempre fora reservado e calmo, agindo de acordo com o que lhe era dito, algo que combinou bem com a personalidade estrategista e mandona de Lene.
ㅡ Ei, grandalhão! ㅡ Magdalene se virou na direção da voz que se aproximava, avistando o jovem que fora escolhido como tributo do quinto distrito. Seu corpo mediano e aparência cansada diziam que ele deveria ter por volta dos treze anos, mas, ao lado dos quase um metro e noventa de Lothaire, além de todos os seus músculos, o garoto parecia uma criancinha. ㅡ Posso fazer uma mágica com você?
Lothaire olhou confuso para a irmã, que apenas sorriu alegre e concordou com a cabeça.
ㅡ Pode sim. ㅡ Respondeu Magdalene pelo irmão. Lothaire não se dava muito bem com as palavras e, na maioria das vezes, Lene falava pelos dois.
ㅡ Tá vendo essa moeda? ㅡ Indagou o garoto tirando o objeto do bolso de sua bermuda jeans surrada. ㅡ Olha bem pra ela, tá olhando?
Lothaire concordou com a cabeça, de braços cruzados, enquanto Lene sorria curiosa e alguns outros tributos olhavam chocados para o jovenzinho.
ㅡ Vou fazer ela sumir, fica vendo! ㅡ O garoto moveu rapidamente as duas mãos e, quando parou, a moeda havia sumido. Lene se aproximou dando risadas da expressão de choque do irmão mais velho, ela sabia que a moeda estava escondida entre os dedos do garoto. ㅡ Viu? Ela sumiu! Legal, né?!
ㅡ Bastante, mas consegue fazer ela aparecer de novo? ㅡ Lene perguntou arqueando as sobrancelhas, desafiando o garoto.
ㅡ Cê tá duvidando das incríveis habilidades mágicas do grande Mágico Noah? ㅡ Respondeu Noah balançando a cabeça e bagunçando ainda mais seus cachos. ㅡ Grandalhão, pode se abaixar? Não consigo alcançar sua orelha.
Depois de concordar, Lothaire dobrou os joelhos e agachou, ficando cara a cara com Noah.
ㅡ Vou tirar a moeda de dentro da sua orelha, quer ver?
Noah colocou a mão esquerda em cima de uma das orelhas de Lothaire, se preparando para seu truque. Ele contou até três e, de repente, utilizando a mão direita, deu um tapa na outra orelha do carreirista. Noah puxou a mão esquerda, mostrando a moeda.
ㅡ Foi incrível, não foi? E é aqui que o grande Mágico Noah se despede, até mais bela dama! ㅡ Noah sorriu atrevido, fez uma rápida reverência e saiu correndo pela sala de treinamento.
Enquanto isso, Lothaire tentava entender o que havia acabado de acontecer e Magdalene ria com a atitude atrevida de Noah. O garoto não só se aproximou da dupla aparentemente inofensivo como conseguiu surpreendê-los.
[02 dias antes dos Jogos]
Valerian suspirava sorridente depois de derrubar Pablo em um dos tatames. Eles passaram quase a manhã inteira treinando luta corpo a corpo e nenhum dos dois havia caído.
Agora, depois de terem almoçado e descansado brevemente, Valerian conseguiu achar uma abertura e derrubar o garoto. Ele se aproximou de Pablo, ainda caído, e estendeu sua mão.
ㅡ Valeu. ㅡ Respondeu Pablo pegando na mão do aliado e se levantando. ㅡ Foi um ótimo golpe.
ㅡ Obrigado. ㅡ Valerian agradeceu jogando o cabelo para trás e limpando o suor, estar treinando não era desculpa para ficar desarrumado.
De longe a dupla viu Hanna treinando com seu tridente, lançando ele e empalando os bonecos de treino.
ㅡ Ela é bem feroz. ㅡ Disse Valerian. ㅡ Por que não está treinando com ela?
ㅡ Prefiro manter distância, Hanna não é alguém que se deve confiar. ㅡ Pablo respondeu com pesar na voz. ㅡ É só uma idiota gananciosa que passou dos limites para estar aqui.
ㅡ Foi tão ruim o que ela fez?
ㅡ Foi inumano. Ela matou onze crianças!
ㅡ Ah, difícil isso. ㅡ Valerian respondeu suspirando, apesar de saber como é a sensação de ter uma criança morrendo diante de seus olhos, ele nunca soube expressar seus sentimentos. ㅡ Quer uma revanche?
ㅡ Mas é claro!
Os dois garotos se posicionaram prontos para lutar. Pablo contou até cinco e a briga iniciou.
Pablo se aproximou rápido, tentando desferir socos enquanto Valerian desviava de cada um deles. Com uma agilidade impressionante, Valerian bloqueou um dos socos com o braço ao mesmo tempo que acertou um chute no abdômen do adversário.
Ele não podia se dar ao luxo de perder, nunca! Passou a vida toda treinando apenas para isso, era o que ele sabia fazer de melhor, sua vida toda fora voltada para os malditos Jogos. Se não fosse capaz de vencer uma simples luta de treinamento, como se sairia dentro da arena?
Perder não era uma opção, apenas a vitória existia, era um objetivo com algumas pedras no caminho. E ele desviaria de todas. A derrota não só significava sua morte na arena como a vergonha para seus pais e para seu distrito. Valerian não podia perder, ele tinha que ser perfeito!
E, ao alcançar a almejada vitória nos Jogos Vorazes, poderia então alcançar sua completa perfeição. E seria mais perfeito ainda ao ganhar a edição comemorativa.
A força do chute de Valerian arremessou Pablo para trás, fazendo o garoto se desequilibrar e cair de costas no chão. Valerian correu e desferiu um chute no rosto de Pablo, deixando-o deitado.
ㅡ Venci. ㅡ Falou Valerian sorrindo orgulhoso. Quanto mais vitórias em treino, mais forte ele ficava. Quanto mais força, mais perto da perfeição ele estava. ㅡ Quer ajuda?
ㅡ Tá tudo bem, já levei uns chutes piores. ㅡ Pablo respondeu se apoiando nos próprios joelhos e ficando em pé. ㅡ Se tivesse chutado um pouco mais forte teria quebrado meu maxilar, idiota.
ㅡ Perdão, não foi minha intenção. ㅡ Pablo arqueou as sobrancelhas sorrindo surpreso.
ㅡ Sabe que daqui dois dias vamos ter que nos matar, né? Não precisa se desculpar não, parceiro. ㅡ O garoto deu tapas nas costas de Valerian achando graça.
ㅡ Perdão, é um velho costume. ㅡ Respondeu Valerian. Não bastava ser perfeito apenas em suas habilidades de lutas, ele precisava ser perito em qualquer coisa e ação, em qualquer coisa que tocasse ou falasse.
[01 dia antes dos Jogos]
Meredith Maguire olhava tudo aquilo com indignação. O palco dotado de luzes coloridas e refletores chamavam toda atenção para Lucky Flickerman, o apresentador e entrevistador dos Jogos Vorazes, e Valerian Fiere, o primeiro tributo a ser chamado para as entrevistas daquele ano.
Ambos estavam bonitos e bem vestidos, arrumados dos cabelos aos pés, exalando perfumes extravagantes da Capital e a leve maquiagem reluzindo e escondendo as imperfeições de seus rostos.
ㅡ Isso é uma completa idiotice. ㅡ Disse Meredith para ninguém em especial. Ela estava irritada, e com razão. Snow finalmente conseguiu o que queria e transformou todo aquele drama em um espetáculo incrível. ㅡ Como esse povo consegue gostar de nos ver morrendo?
ㅡ São todos cabeças vazias e facilmente manipuláveis. ㅡ Respondeu um garoto magrelo, com pouco mais de um e oitenta, se aproximando devagar. O cabelo curto estava empapado de gel, mantendo sua franja jogada o tempo inteiro para o lado. ㅡ Um bando de lunáticos.
ㅡ Sim, caramba. Tudo que a porra do Snow tá fazendo é nos deixar mais atrativos para o abate! ㅡ Meredith arqueou as sobrancelhas ao perceber que acabou de responder alguém. ㅡ Te conheço, moleque?
ㅡ Maverick Black, muito prazer. ㅡ Mave estendeu a mão para que Meredith acertasse, sorrindo.
ㅡ O filho do prefeito do Seis? Garoto, cê sabe que tinha tudo pra ser feliz nessa bosta de lugar que vivemos, né?! Tinha dinheiro e uma vida boa, oitenta por cento da população de Panem nem sabe o que é isso. Cê é um porra mesmo.
ㅡ Caramba, é isso que acha de mim? ㅡ Maverick piscou pra garota. ㅡ Ainda não me disse seu nome.
ㅡ Cai fora garoto, já tenho problemas suficientes.
O silêncio pairou sobre os dois, ambos assistindo as entrevistas enquanto Valerian sorria com seus dentes brilhantes e se despediu acenando para as câmeras. De acordo com as perguntas feitas por Lucky, o garoto fora escolhido não por ser temido ou perigoso, ou por ter feitos tantos assaltos que ninguém mais aguentava escutar seu nome, mas sim porque era um exímio lutador.
ㅡ Esse cara é um idiota. ㅡ Falou Maverick apontando para Lucky Flickerman enquanto o apresentador fazia as mesma perguntas para a parceira de Valerian. ㅡ Ele fica perguntando sobre motivações, tentando mascarar as situações nos Distritos!
ㅡ Mas é claro que fica, garoto. ㅡ Meredith já estava ficando irritada, ela não queria papo. ㅡ Ele precisa nos fazer parecer mais angelicais e dóceis, é uma tática pra deixar o show mais atrativo.
ㅡ Igual ao treinamento. ㅡ Maverick coçou seu pescoço enquanto a garota o olhava confusa.
ㅡ Por que acha isso? ㅡ Mere sabia que o dia de treinamento fora uma coisa recém introduzida, mas pensara que era uma forma de ajudar os mais fracos a aguentar um pouco mais nos Jogos.
ㅡ Não é óbvio? É uma forma de fazer com que os tributos aprendam mais táticas de matança. Não achou que seria para nos preparar para não morrer, né?! Te garanto que não foi por dó.
ㅡ Faz sentido.
Novamente os dois se calaram. As entrevistas duravam cerca de três minutos, e Lucky perguntava sobre a vida nos distritos e qual suas motivações para alcançar a vitória, além dos sonhos que possuía. Os minutos foram passando à medida que os tributos entravam e saiam do palco. Logo todos os seis carreiristas tinham sido entrevistados, dando lugar ao jovem Noah, de apenas treze anos, vindo do quinto distrito. Ele era o mais jovem dentre todos os vinte e quatro escolhidos.
ㅡ São todos uns covardes. ㅡ Meredith falou olhando Noah falando sem parar e mostrando seus truques de mágica ao apresentador, arrancando risadas e suspiros da platéia. ㅡ Os cidadãos do Cinco e esses idiotas da Capital.
ㅡ Concordo, mas é a vida, né?! Ela é injusta. Não podemos ter tudo que queremos.
ㅡ Cala a porra da sua boca, garoto. ㅡ Meredith fuzilou Maverick com o olhar, querendo socar aquele rostinho bonito. ㅡ Você é um merda que cresceu em um berço de ouro e mesmo assim fez tudo pra fuder com a vida boa que seu papai te deu.
ㅡ Nem tudo são flores, tá bom? ㅡ Maverick se exaltou, se aproximando mais da garota e ficando cara a cara com ela. ㅡ Eu nunca pedi pra ter a vida que tinha.
ㅡ A próxima vez que eu te escutar falando isso, juro que te desço o cacete. Você não sabe o que é passar fome, nem como é viver num bordel nojento, nem como é ser abandonada pela própria mãe! ㅡ A garota bufou visivelmente irritada enquanto Noah saia do palco e Juniper Coldwell entrava. Os outros tributos em volta de Mave e Mere ergueram suas sobrancelhas observando a discussão. ㅡ Cala a porra da sua boca, seu playboyzinho de merda, ou eu juro que te mato aqui mesmo.
ㅡ Cai dentro, não conseguiria nem me arranhar!
Meredith pulou em cima de Maverick, tentando agarrar seu pescoço com ambas as mãos. O garoto se afastou, mas Mere segurou ele pelo terno, puxando para perto de si e lhe dando uma cabeçada.
ㅡ Briga, briga, briga! ㅡ Gritavam os outros tributos sorrindo e dizendo provocações.
Maverick, depois de quase ter seu crânio fraturado, cerrou o punho e socou o abdômen da garota, jogando ela para trás.
A gritaria atraiu a atenção do palco, fazendo Juniper e Lucky virarem seus rostos para ver o que estava acontecendo. Maverick e Meredith trocavam socos e chutes, suando, rasgando suas belas roupas e bagunçando os cabelos.
Os poucos segundos de briga pareceram passar muito rápido para Meredith. Ela queria continuar estapeando aquele cara, machucar seu rostinho bonito, mostrar a ele todo o sofrimento que ela guardou para si durante anos enquanto ele brincava no conforto de sua casa.
Num raro momento de abertura, a garota conseguiu derrubar Maverick de costas no chão. Dez anos morando num bordel ensinaram muitas coisas para Meredith, e uma delas era como imobilizar um homem. A garota se jogou no colo de Maverick, colocando seu peso sobre o dele, e prendeu seu pescoço no chão com as duas mãos, enforcando-o.
ㅡ Ei, parem com isso! ㅡ Berrou um pacificador correndo até os dois e tirando Meredith de cima de Maverick enquanto mais dois guardas chegavam e ajudavam a apartar a briga.
Meredith se debatia nos braços do homem, berrando furiosa e esperneando, enquanto Maverick puxava todo o ar que conseguia e passava os dedos pelo pescoço marcado de vermelho pelas mãos da garota.
Juniper desceu as escadas do palco olhando toda a bagunça e sorriu.
ㅡ Ei, garoto. ㅡ Disse Juniper olhando para Maverick. ㅡ Sua vez.
Maverick não esperou duas vezes e subiu o palco correndo enquanto os pacificadores seguravam Meredith.
[01 dia antes dos Jogos]
Maverick Black observou indignado enquanto, depois de Meredith Maguire finalmente ter subido ao palco e dado sua entrevista em seu vestido rasgado e marcas de sangue e arranhões por todo o corpo, todos os tributos eram enfileirados e dada dupla subia em uma carroça puxada por dois cavalos.
Aquilo era algo novo, provavelmente planejado especialmente para o Massacre Quaternário mas que seria continuado como mais uma nova tradição mirabolante dos Jogos. Lucky Flickerman falava de algum lugar, com a empolgação na voz, ansioso pela entrada dos tributos.
Após a última entrevista foi dito que, pela primeira vez, haveria um desfile onde os tributos iriam ser apresentados em duplas para a toda a Capital. Dessa forma os cidadãos teriam a oportunidade de vê-los pessoalmente, mesmo que de longe, e não apenas pelas telas durante os Jogos e as entrevistas.
Era apenas mais uma forma de atrair espectadores para o espetáculo, uma nova forma de promover os Jogos Vorazes, uma nova atração planejada por Coriolanus Snow. Maverick odiava Snow tanto quanto seu pai, afinal eles eram os dois responsáveis por tornar sua vida um inferno.
Cerca de dez minutos após terem subido nas carroças, os cavalos começaram a andar, indo em galopes rápidos e saindo de dentro do túnel em que se encontravam. No segundo em que a carroça do Distrito 1 apareceu ao mundo, Maverick pode escutar os gritos e urros dos cidadãos, alguns até mesmo berrando o nome de Valerian e jogando flores nele e em sua parceira.
Pouco a pouco as carruagens foram saindo do túnel, cada uma aumentando cada vez mais a empolgação dos espectadores. Como o desfile fora algo anunciado em cima da hora, a maior parte da população que não conseguiu assistir às entrevistas ao vivo se apressou em correr até o estádio onde os tributos desfilariam e garantir um bom lugar. Ainda era possível ver mais e mais pessoas chegando correndo e se aglomerando nas barricadas em volta do estádio, se aproximando ao máximo.
As carruagens contornaram todo o perímetro do estádio, a maioria dos Carreiristas sorria e acenava enquanto recebiam flores e escutavam urros com seus nomes, com exceção do garoto do Quatro. Alguns outros também atraíram bastante atenção, como Juniper e Noah do Cinco e a radiante Saher do Nove.
Entretanto, para a total indiferença de Maverick, os cidadãos pareciam o olhar com medo, alguns até com desprezo, assim como Meredith. Ele virou seu rosto para trás algumas vezes para tentar ver qual reação a garota estava tendo sobre tudo aquilo, mas ela parecia nem ligar. Mave também não ligava, não se importava de odiarem ele, muito pelo contrário, ficou até feliz de ver os cidadãos se doendo apenas por ver que as belas roupas dadas pela Capital estavam rasgadas e seus corpos cheios de sangue seco que escorreu dos arranhões.
A única coisa que realmente incomodava Maverick eram as marcas das mãos de Meredith em seu pescoço. Ele desejava gritar para a garota tudo que passou naquela maldita casa, que ser filho do prefeito nem sempre foi bom, que seu pai apenas o teve para ter alguém que pudesse herdar sua herança e que todas as agressões nunca foram apenas um corretivo, mas um modo de descontar a raiva em alguém que não podia se defender.
Ele não queria comparar quem teve o passado mais sofrido, mas Mave odiava quando falavam de sua vida sem que soubesse metade das coisas que passou dentro daquela maldita mansão, sem que estivessem lá dentro para assistir tudo que aconteceu. A única pessoa que tinha algum direito de falar sobre isso estava morta.
Então, logo que as carruagens completaram duas voltas completas pelo estádio, os cavalos seguiram na direção do túnel pelo qual entraram enquanto os cidadãos diziam tchau e gritavam tristes que seus favoritos estavam indo embora. Antes que pudesse sair da carruagem, Maverick escutou a voz de Snow sair de algum alto-falante.
ㅡ Caros cidadãos, depois desse esplendoroso desfile, declaro iniciada a vigésima quinta edição dos Jogos Vorazes. ㅡ A voz de Snow não falhava em nenhuma sílaba, sempre forte e imponente. ㅡ Não percam o grandioso Primeiro Massacre Quaternário!
001 ㅡ A NOTÍCIA QUE TODOS ESPERAVAM VEIO: O SEGUNDO CAPÍTULO FOI PUBLICADOOOOOOOOOO.
002 ㅡ Era pra ser um capítulo tão mais calmo, mostrando mais da personalidade e do passado de alguns tributos, mas depois de fazer vista grossa nas fichas da Meredith e do Maverick percebi que a discussão entre eles seria impossível de não acontecer, e ainda deu o gancho perfeito pro último pov.
003 ㅡ Gente, só para deixar claro: apesar da escrita não estar em primeira pessoa, cada pov é escrito de acordo com a personalidade do personagem que tem o nome no início, e isso também dita opiniões que serão postas em casa parte. Um exemplo disso: a parte "narrada" pelo Luke é muito mais descritiva e sentimentalista do que a do Valerian, que é um pouco mais rápida de se ler. A parte da Meredith enxerga o Maverick como um idiota privilegiado retardado, enquanto que na do próprio Maverick vemos que ele não se acha tudo aquilo.
004 ㅡ Amo o Noah. É só isso mesmo.
005 ㅡ Não sei se ficou explícito ao longo do capítulo, mas vou dizer já que não voltaremos nesse assunto: o Snow implementou elementos novos nessa edição. Pra quem leu ou assistiu Cantiga dos Pássaros e Serpentes sabe que os mentores e a narração do Jogos, assim como os patrocínios, foram introduzidos na 10° edição, então tudo aquilo que vemos bem consolidado na trilogia original demorou anos para ser tornado tradição. Aqui, na 25° edição, já temos as entrevistas como alguém de sempre, mas agora os tributos tem vagões separados em um único trem (diferente da 10° em que eram todos no mesmo vagão e da 74° que cada dupla tinha seu próprio trem), é dado um dia de treinamento (na 74° são três e, se eu não me engano, na 10° não tinha isso) e também temos o desfile após as entrevistas (na 10° não tinha isso, os tributos eram expostos como animais em uma jaula no zoológico e na 74° a primeira coisa que eles fazem logo que chegam na Capital é o desfile). Quis adicionar essas pequenas coisas aqui na história para demonstrar a passagem do tempo e como cada vez mais o Snow conseguiu transformar os Jogos e um verdadeiro espetáculo.
006 ㅡ É isso, espero que tenham se divertido lendo. Próximo capítulo começa a matança. Deixa o voto e seu feedback! <3
Contagem de palavras ㅡ 4000 palavras.
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