∿ʾʾ CAPÍTULO TRÊS . . . 𓍢 . ࣪ ˖
O CORPO QUE NÃO ERA SEU

PALAVRAS, PALAVRAS E palavras. As vozes nunca paravam de falar. Mas James não tinha ideia do que falavam. Eram exclamações, gemidos de dor, farfalhar de doces e embalagens, metal rangendo como rodinhas... Afinal, onde ele estava?

Tinha quase certeza que acordara duas vezes nas últimas três horas. Ou seriam dias? Ele não sabia. Só tinha certeza que ouvira mais de uma vez a voz preocupada e irritada de madame Pomfrey dizendo para todos saírem. Madame Pomfrey. Estaria James na ala hospitalar?

Oras, ele não fazia ideia do porquê estaria ali! Não se lembrava de ter apostado corrida com os melhores amigos nas escadas, nem de ter comido bolinhos demais com Peter na manhã que assaltaram a cozinha, e muito menos de ter caído da vassoura de Quadriboll enquanto treinava compulsivamente com Sirius para uma partida. Na verdade, a única coisa que ele lembrava era do clube de duelos, dos amigos rindo da varinha quebrada de Marlene Mckinnon ━ que Sirius havia partido ao meio em uma demonstração de como transformar sua capa da Grifinória em um cobertor ━, de seu nome ser chamado pelo professor para o duelo, e de...

━ Expelliarmus ━ Resmungou, lutando para abrir os olhos que pareciam areia.

Não, pera, não era esse o feitiço. Ele não lembrava do nome. Quer dizer, estava tonto de mais para se concentrar. Achava que começava com C. James não tinha ideia.

Tentando chamar alguém, sua língua parecia pesada, e a cabeça... oh, estava doendo tanto! E girando! Minha nossa, como girava!

━ Não faça força! ━ A voz séria repreendeu James no momento em que ele tentava se sentar.

Madame Pomfrey. Certo.

Logo, as mãos um pouco enrugadas da mulher o levantou.

━ Seus amigos estavam loucos perguntando quando você ia acordar, meu bem! Mas não se preocupe, os mandei embora para você descansar. Agora ━ É claro que os amigos estavam loucos. Sirius deveria estar surtando, aquele cachorro dramático, e Peter e Remus... ━, tome esse remédio, querida.

James esticou a cabeça e abriu a boca, enquanto a enfermeira lhe dava suco de abóbora para disfarçar o gosto do remédio... espere! Ela disse querida? Mas ele era um menino! Devia ter escutado mal. Ou ela se enganou. É, devia ser isso.

Antes que pudesse perguntar algo, madame Pomfrey o acomodou deitado outra vez, falando enquanto se dirigia para a cama do lado:

━ Você deve descansar, bateu a cabeça muito forte. Vou ver como o senhor Potter está.

Senhor Potter? Mas ele era o senhor Potter. Transtornado, ele abriu os olhos e se virou para o lado ━ se virou tão rápido que ficou tonto e sua cabeça ainda mais dolorida ━, onde a enfermeira servia suco e pegava o remédio com gosto estranho.

Ele estava alucinando.

Era ele na cama ao lado! Mas, como?

Então os olhos do suposto ele se abriram, e James gritou. Era a cor dos olhos dele olhando para ele!

Ah, era tão confuso que sua cabeça começou a girar de novo, então tudo ficou escuro e...

James desmaiou.

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AFRODITE TINHA QUASE certeza que acordara cinco vezes nas última horas. Sabia que estava na ala hospitalar, deitada em uma cama branca, e que já havia tomado um remédio ━ que a fez ter uma leve alucinação dela mesma olhando para ela (e nessa alucinação ela gritava?). Foi estranho.

Mas o importante é que agora ela acordaria e não precisaria tomar um remédio estranho, e nem se preocupar em acabar desmaiando no meio de uma conversa que ela ansiosamente esperava ter com os amigos.

Acontece que nem tudo é como Afrodite quer, como já vimos. Quando seus olhos pesados se abriram, a visão estava embaçada por algum motivo que não era o sono, e vozes estranhas ficaram quietas imediatamente.

━ James?

James? Que porcaria achavam que ela era? Estavam brincando? Isso era a cara de Steve. Mas, bem, a voz não se parecia nada com a do seu melhor amigo. Era uma voz desconhecida e rouca, como se a pessoa tivesse acordado a pouco tempo.

━ Ah, ainda bem que acordou. Remus estava tendo um treco, e...

━ Espere aí! Eu estava tendo um treco? Foi você quem quase caiu de joelhos e suplicou à madame Pomfrey para deixá-lo passar a noite aqui! ━ Outra voz acusou.

E, com um sussurro, outra voz masculina falou. Afrodite não entendeu o que falavam, sua cabeça girava com tantas vozes, e o cheiro de cachorro molhado estava a enjoando.

━ Quem... Quem são vocês?

As vozes pararam. Afrodite pensou que tinham ido embora, mas...

━ COMO VOCÊ NÃO CONSEGUE LEMBRAR DE MIM, JAMES FLEAMONT POTTER? Remus, como alguém consegue me esquecer? Ah, caramba, meu melhor amigo... Ele... OH! Amnésia. Céus... Os pais dele vão me matar...

Afrodite pensou que o rapaz choraria.

━ Se acalme, Sirius, ele deve estar confuso.

Então madame Pomfrey os mandou para fora antes que Afrodite pudesse fazer algumas perguntas e de repente estava caindo no sono outra vez.

🧣

QUANDO AFRODITE ACORDOU novamente, já era noite e ela encarava a si mesma na outra cama.

━ Oi.

O reflexo abanou a mão, e parecia assustado.

━ Você não deveria mexer a mão junto comigo? ━ Afrodite, tolamente, perguntou.

━ O que? Porque?

━ Não sei, imaginei que...

As palavras ficaram no ar, e assim como o que ela achava que era seu reflexo, examinou-o. Sobrancelhas iguais às dela, boca e nariz como ela lembrava de ter, olhos grandes, cabelo idêntico ao seu... e quando olhou ao redor, ficou abismada por não ter nada que lhe dissesse que era um espelho. Então como?

━ Quem é você?

━ Quem sou eu? Eu que deveria perguntar quem é você, seu James Potter versão menos bonita de mim!

━ James Potter? Não sou nenhum James Potter! E se fosse, seria a versão menos feia. ━ Orgulhosa, virou a cabeça. ━ E pare de brincar, sou Afrodite.

━ Afrodite? Há. Tá bom.

━ Do que está rindo? Você também é Afrodite!

Aquilo estava a dando dor de cabeça ━ uma dor de cabeça que ela não precisava no momento. Sem qualquer interesse de escutar o que a outra diria, ergueu-se e sentou-se. Olhando para longe, piscou algumas vezes, sem ter foco do que estava adiante. Ah, os olhos pareciam a lente de uma câmera trouxa quando estava suja e embaçada.

Passando a mão pelos longos fios, Afrodite... espere! Onde estava seu cabelo?! Horrorizada, se levantou e correu aos tropeços para a porta da enfermaria ━ onde, ela sabia que, teria um espelho pequeno.

E o que viu foi tão aterrorizante quanto inacreditável.

━ O que aconteceu comigo? ━ Ela virou-se para sua cópia, e gritou: ━ Diga seu nome!

━ James?

Afrodite gritou de novo.

━ Ah, nossa, vem cá, você não vai acreditar!

O grifinorio estava confuso, mas foi até lá.

━ Que isso?

━ É você. Bem, sou eu. Mas é você.

James a encarou sem entender. Estava se sentindo estranho. Virou seu olhar para o pequeno espelho, voltou-se para o James em sua frente, e repetiu várias vezes.

━ Tomamos polisuco? Quer dizer, seria estranho, mas e se é uma peça? Isso é a cara dos meninos. ━ Riu.

Afrodite estava tão concentrada no rosto irritantemente perfeito que a olhava no espelho, que nem pensara nas possibilidades de como estava assim.

━ Talvez.

━ Então, o que faremos?

━ Acho que esperamos voltar ao normal. De qualquer forma, não vamos sair daqui hoje. ━ Ela deu de ombros, mas por dentro estava surtando.

Os dois se voltaram para as camas, à espera da passagem do efeito da poção.