eu tô apaixonado por esse lugar
Lee Taeyong é brega por natureza. Mas ele usa um chapéu de cowboy e cinto de couro com fivela grande e parece até um cara gostosão de faroeste. Ainda que ele não esteja terrivelmente suado ou com rosto empoeirado, ele me parece ter saído desses lugares. Com exceção, claro, do seu suspensório azul. Fora isso, a camisa de flanela preta e vermelha dá ênfase às minhas conclusões. Só falta um distintivo preso ao cinto para ele dizer que é o xerife da cidade inventada dele. Não obstante, por incrível que pareça, todo esse outfit não foi montado para ser uma fantasia, mas porque ele realmente quis vestir-se assim. Foi o que disse-me, quando nos despedimos de Yuta e embarcamos no ferry para Santorini. E agora que estamos aqui, olhando o mar e avançando para a ilha, pego-me pensando quão brega e adorável ele é quando viaja. Ainda mais agora, com essas bochechas todas vermelhinhas pelo sol.
— Hey, Taeyong — chamo sua atenção, com a câmera do Instagram num vídeo que comecei a gravar. — Mostre seu chapéu.
— Mostrar meu chapéu? — vira-se para mim e só depois entende que estou gravando. Ele sorri para a câmera. — Vou mostrar meu chapéu de perto, então...
Tae tira o bendito chapéu da cabeça e cobre nossos rostos com ele, aproveitando o momento para roubar-me um beijo na boca. Achei que seria um selinho, mas sua língua encosta em meus lábios e acabo caindo nessa tentação. Como ele estava chupando um pirulito agora há pouco, tem gosto de cereja. A benção faz um barulhinho estalado no beijo propositadamente, para que saia no vídeo e percebam que de fato nos beijamos. Então ele afasta-se, põe o chapéu de volta na cabeça e sorri para a câmera, dando tchauzinho.
Eu fico sorrindo do nada e esqueço de parar o vídeo. Acabo enviando do jeito que está, mas antes baixo tudo sem nem assistir direito como ficou. Tae põe o queixo na minha cabeça e abraça-me durante o percurso. Dividimos o fone de ouvido e, por mais que eu deteste tirar minha experiência perfeita que é usar ambos lados, é bom também pôr algumas canções veronis para que escutemos no doce abraço do horizonte em apenas duas criaturas que não sabem aonde vão, mas sabem onde querem ir.
Sua mão na minha cintura, mais o cheirinho único e salgado do mar é o tipo de receita que faz meu coração exclamar com toda a energia possível. Eu não estava à procura disso, desse calor, desse carinho, desse arrepio que estapeia-me toda vez que estou próximo a ele e percebo quão incrível me sinto por tê-lo aqui. E brincamos de Titanic, porque fazer isso é clichê e ridículo, mas ambos estamos clichês e ridículos. Eu respiro fundo e não sei o que falar. Não há mais nada para falar. Você sentir que quer que o mundo pare bem aqui, nesse momento, que o tempo pare de passar e você possa aproveitar pela eternidade inteira. E que, se você não pode congelar o tempo, deixe-o congelar todas as desesperanças que colecionou por toda a vida. E então percebe que era disso que você precisava: momentos tão bons e fluídos que te fazem acreditar que és imbatível, nenhum dia ruim pode te derrubar mais.
A pele arde, e eu quero comer camarão. Olho o céu e me encontro ali, porque é possível ver a lua pela metade, bela e pálida. Ela sempre está aqui, mesmo sendo ofuscada. E, às vezes, gosto de espelhar-me nela para progredir: muitas vezes, durante o dia, não seremos os protagonistas, mas não significa que não possamos existir ali. E eu a contemplo noite e dia. Porque és bela. E a beleza é como colírio aos olhos. Olha-a e encontro-me. Talvez a dor, a insistência e o desapego. Se um dia eu for brilhar no céu, quero estar próxima dela.
Quero também estar próximo dele, do rapaz mais alto que usa chapéu e diz que cresceu grudado na praia e, portanto, diz ser o rei dos oceanos. Eu rio, porque estar com ele é como uma playlist de jazz que nunca tem fim. Sinto-me calmo, aquecido e amado. Às vezes ele me irrita bastante — talvez o jeito com que tenta pôr o chapéu na minha cabeça e bagunçar meu cabelo —, porém a sua insistência em chamar minha atenção muitas vezes é criativa e peculiar.
— Nasci no mar, jovenzinho — deixa a voz mais rude, dura, e então percebo que está fazendo uma personagem. — Minha primeira palavra foi "fishhh", minha segunda foi "traz a rede que vou pro mar, papai!". Sim, eu tinha apenas dois anos... Aos quatro, já estava metendo o louco no oceano, pescava na mão grande mesmo, arrancava da água seis peixão duma vez só...
— Seu sotaque é forçado e essa história é mais falsa que... Atualmente não consigo achar algo mais falso que isso, desculpa — sorrio para essa imagem alegre e brincalhona dele.
— Tu tem inveja, rapaz — ele dramaticamente revira os olhos.
O vento puxa & repuxa nossas roupas. Tento tirar fotos que nem sei se estão boas, porque o sol não deixa-me enxergar direito a tela do meu celular. Do carinho, do abraço e do zelo vem ele, seja cowboy ou pirata, gruda-se em mim com teu chapéu em riste para formar sombra. Ainda muda o ângulo do telefone, tua mão sobre a minha configurando ISO e velocidade. Fica a sussurrar: "fica melhor assim, né? Ou assim... Talvez assim". E eu percebo que fica melhor de qualquer forma, porque ele está aqui. Porque se fosse isso infindável, certamente eu seria o ser humano mais afortunado do mundo.
Desembarcamos empapados de suor em Santorini. Taeyong está pior que eu, porque usa calça, chapéu e camisa de manga longa. Agora eu realmente lhe questiono o porquê da roupa e ele diz que só sobrou essa limpa, então teve de vestir. Lhe digo que iremos procurar uma lavanderia próxima ao hotel e brincamos de pedra, papel e tesoura no táxi, à caminho. E ele nos abana com o chapéu dele que não sei porque trouxe, mas tá lindo nele, porque ele fica lindo com tudo, até mesmo brega. Sou tão grato, tão feliz, e sorrio sem querer por ter conhecido-o.
Perdemo-nos entre as paisagens das janelas. Repasso todos os lugares que iremos passar numa lista que fiz no bloco de notas do celular. Ele inspira perto de mim, dizendo que aqui é realmente lindo e que viu uma escadaria pintada e ela é simplesmente perfeita. Chupa uma bala de canela que não sei onde comprou e fica vidrado entre as butiques luxuosas e as construções pálidas e azuis — que refletem, assim, a bandeira do país. Vez ou outra colocamos os olhos no mar e eu vejo toda essa imensidão azul de onde viemos, salpicado com tons diferentes que vão de mais intensos aos mais profundos.
Passamos, agora, por lugares mais estreitos. O calor é deveras intenso; não aquele insuportável, mas sim aquele que faz-nos suar sem nem mesmo perceber. Quando chegarmos ao hotel, irei tomar uma ducha para lavar a alma. Taeyong fica a perguntar-me qual é o nome e, após ouvir-me dizer que é o Mystique Luxury Collection Hotel, ele cruza os braços e olha-me com uma cara de quem desaprova.
— Que foi? É um hotel cinco estrelas e ainda tem jacuzzi, uma vista perfeita para o mar, além de eu ter reservado uma suíte com piscina privada — lhe digo, mas acaba tento o efeito contrário.
— Ten, não era pra ser algo luxuoso, senão fica muito caro... — ele alivia um pouco a expressão, mas continua meio bravo.
O taxista nos diz que já chegamos e eu pago em dinheiro antes de sairmos. Na boca do hotel, puxo nossas malas e trago Taeyong comigo, porque ele fica meio hesitante em entrar. Ambos nos encantamos com toda a vista para o mar, descemos uma escadinha feita de pedras e aposto que Tae já está pensando mais sobre o assunto.
— Você teria me visto fazer a reserva se não estivesse ocupado me tocando maliciosamente — eu conto, indo direto à recepção.
— Eu não estava prestando atenção — lamenta. — Eu vou dividir com você todos os gastos da viagem.
— Não é melhor você economizar seu dinheiro para você?
— Quê? — Taeyong aproxima-se do balcão comigo. — Eu sugeri virmos para cá, seria idiota da minha parte te fazer pagar tudo.
— Taeyong, a gente fala de dinheiro numa outra hora, ok?
— Só se você concordar comigo.
— Shh... — peço que fique em silêncio, visto que já iremos ser atendidos.
Nossas malas são levadas e fazemos o check-in no hotel. Eu nunca tinha visto pessoalmente um lugar tão charmoso e acolhedor como esse, pois parece uma colônia de casas à beira do mar. Seguimos quietos entre as suítes alheias até chegarmos a nossa. É maior do que eu pensei que seria. Ficamos com uma suíte da parte Mystery Villa do hotel, ela tem uma cor creme em bege e é espaçosa. Há uma king-size onde não tem como ficar me batendo direto com Taeyong, além de um banheiro com ducha e jacuzzi, roupões e chinelos. Há uma salinha com alguns equipamentos de academia e isso é bom, já que não vou precisar fazer só flexões pela manhã. A área da externa, o terraço, é simplesmente perfeito, porque tem espreguiçadeiras e uma piscina de borda infinita que parece completar o mar. A vista recolhe-me o fôlego, pela cadeia vulcânica entre o formato enluarado da ilha. Eu realmente não me arrependo nem um pouco disso. É lindo demais.
Deixo Taeyong sentado na salinha frente ao quarto, assistindo televisão e dizendo que os canais são legais. Eu vou para o banheiro, sonhando com uma chuveirada gelada e deparo-me com uma organização e arquitetura perfeita. As divisões dos cômodos é feita por uma abertura na parede em forma de arco, lembrando-me bastante as abobadas das catedrais típicas européias. E, após meu merecido banho, enrolo-me no roupão macio e caminho até onde Taeyong está. De algum modo, ele encontrou como colocar música na televisão e meio que está se empolgando.
— Eu tô apaixonado por esse lugar — vira-se para mim, sorrindo alegremente.
— Sim... Eu também! — rio da sua energia de animação. — Vai tomar banho, porque estou com fome. E então a gente vê como vamos lavar suas roupas. Enquanto isso, você pode usar as minhas.
Taeyong vai tomar banho. Quando termino de vestir-me, ele sai falando sobre como o banheiro é maravilhoso e que ficou com medo de cutucar e quebrar alguma coisa. Eu não sei como é que ele tem esses medos aleatórios, porém nada disse que não fosse sobre a roupa que ele iria usar. Como estamos cansados, não vamos sair para restaurante algum, preferimos pedir serviço de quarto. Ou melhor, eu sugeri e Taeyong aceitou, mesmo dizendo que não iria comer muito senão iria ficar enjoado. E agora tenho a certeza de que chegamos na fase em que Taeyong começa a inventar desculpas.
— Podemos falar sobre dinheiro agora? — diz, ajeitando-se na cadeira.
Estamos na área externa, vista para o extenso mar Egeu, bebendo rosé e desfrutando de algumas saladas, espaguete, frutas e massas. Eu respiro fundo, agora olhando a quietude e silêncio que paira no ambiente. Daqui de cima dá para ver a piscina principal do hotel com algumas pessoas, e perto dela há restaurante também. Acho que irei lá amanhã pela manhã tomar café.
— Não, estou comendo — dou um gole na minha champanhe.
— Ten... Para de fazer isso, ora... Eu não vou conseguir me divertir com isso na cabeça.
— Mas eu não quero que você pague — deixo a taça sobre a mesa e dou uma garfada no penne ao molho de camarão que pedi. — Essa viagem, ela é... Um presente de aniversário extra. Pronto, é isso. Parabéns pelos seus quinze anos, Taeyong.
Ele revira os olhos.
— Haha, Chittaphon, estou a gargalhar — sua risada falsa até que sai engraçada. Aponto para seu prato e ele subentende que indico que coma. Ele até obedece, agora mastigando o repolho refogado com cenoura que pediu. — Eu vou te pagando com o tempo, ok? Então você me diz o valor geral, fazemos uma conta básica de divisão, depois outra e... Voilà! Tudo certo.
— Por que você não me paga com beijos? — toco sua mão sobre a mesa. Ele ergue o antebraço, assim como eu, e passa a acariciar a palma da minha mão. Isso é ridiculamente romântico.
— Isso é coisa de sugar daddy.
Reviro os olhos verdadeiramente agora, porque já estou ficando puto com essa história toda. Desde que conheço Taeyong por gente ele me empurra esse negócio de sugar daddy e sugar baby. Estou prestes a explodir.
— Taeyong, tem como você parar com isso?
— Não — ele ri. Ótimo, teve efeito contrário. — Tu deveria mudar sua bio do Instagram para "Sugar daddy aos vinte".
Quase me engasgo com a massa penne, se não tivesse recorrido ao vinho antes da desgraça acontecer. Lee apenas fica rindo de mim, ainda segurando minha mão, agora virando a palma para cima e deslizando a ponta dos dedos nas minhas linhas.
— Caralho... Eu te odeio, Taeyong! — tento chutá-lo por debaixo da mesa, mas não consigo e desisto logo na primeira tentativa.
Depois disso, um pouco de silêncio. Comemos olhando o rochedo que estamos situados e, durante toda a refeição Taeyong acariciou-me a mão e o antebraço. Saímos para buscar informações sobre o serviço de lavanderia do hotel e levamos as roupas de Tae para lavar. O que numa outra concepção é uma pena, porque ele está um amor nessa minha camisa florida que comprei na Itália. Voltamos ao nosso quarto e ele pega alguns refrigerantes no frigobar, dizendo que o calor está insuportável. Ele é exagerado demais, mas é bem carinhoso o modo que beija minha nuca enquanto estamos abraçados no sofá. Encontro-me a ler ficção científica, descansando nos braços dele, sentindo a brisa marítima banhar-nos e a luz solar alumiar tudo em mim.
— Sugar daddy aos vinte — ele me chama, porque de repente esse é meu novo apelido. — Tu tá recebendo uma chamada de algum contato que está em tailandês — ergue meu celular, que estava atrás dele, no braço do sofá, pousado enquanto carrega.
Olho o nome do contato e percebo que é minha irmã. Taeyong tira meu cabelo do rosto, pois percebe meu suor, no mesmo instante que aceito a chamada e ponho o aparelho na orelha.
— Então quer dizer que o mocinho ainda está viajando? — é a primeira coisa que ela me diz.
— Garota, você está stalkeando? — rio, esticando as pernas e encostando-me mais no peitoral nu de Taeyong, porque ele abriu a camisa assim que voltamos ao quarto.
— Claro, né! Quero saber em qual século você vai aparecer aqui...
— Espera... Você já está em Bangkok?
— Eu cheguei tem uns dois dias. Mas ainda não fui em casa, porque estou mostrando a cidade para o meu namorado que você odeia.
— Não odeio ele, só odeio o fato de que você contou para a nossa mãe antes de me contar.
— Guardador de mágoa você é.
— E você me ligou só para isso?
— Não, estou perguntando quando você vem...
Sinto um pingo gelado na minha perna e só assim noto que Taeyong está me entregando uma latinha gelada de refrigerante de laranja. Faço um gesto para ele abrir e espero até que faça.
— Ahn... Eu só vou estar na Coreia daqui a... Quase uma semana. Tenho uma reunião para comparecer, além de dar uma avaliada em coisas pendentes do restaurante, então... Provavelmente vou estar aí daqui a umas três semanas.
— Esse tempo todo?
— Claro, né! Essa semana vou estar viajando, semana que vem eu volto, na outra eu vou resolver b.o e na seguinte eu vou ver se posso viajar. Mas acredito que sim. Espero que seja rápido. Tipo, só uns quatro dias e pronto... Você sabe qual o assunto importante?
Pego a lata gelada que Taeyong acaba de abrir e dou um gole. Está muito bom.
— Acho que envolve o vovô — minha irmã responde. — Mas, vem cá... Você voltou com aquele menino, é?
— Que menino, Tern? — olho o rosto perdido de Taeyong por cima do meu ombro. Acho que ele já desistiu de tentar entender a conversa em questão.
— O menino com quem você foi à Paris daquela vez... — a ousadia dela em querer saber quem é Taeyong me faz rir que nem besta.
— Do que você está falando, garota?
— Que você gravou um vídeo com ele mais cedo. Eu juro que foi com ele... Eu não vejo seus stories sempre, também não sei se você já tinha postado algo com ele nesse ano... Mas eu realmente não sabia que vocês tinham voltado. Você nunca me fala dele e olha que da última vez você postou um bocado de coisas íntimas de vocês dois numa boate.
Suspiro, porque aquelas postagens estão sempre nas memórias das outras pessoas. Logo elas, as quais faço de tudo para fugir.
— Depois diz que não conto dos meus namorados — ela acrescenta.
— Ele nem é meu namorado — digo, encolhendo os ombros, porque Taeyong está rodeando os braços em mim. — É tipo uma amizade colorida.
— Ah, sim... Pensei que você iria finalmente aparecer dizendo que está namorando.
— Você se ilude... — rio baixinho. — Ok, estou curtindo minha Grécia, então, por favor, não incomode-me mais para me apressar e se intrometer nos meus esquemas.
— Desculpa, então. Tchau.
— Tchau.
Assim que desligo a chamada, bebo meu refrigerante em silêncio pensando aqui quão estranho pode parecer eu estar de volta com Taeyong, sendo que isso nunca acontece comigo. Tenho medo de pensarem que é algo sério e afins. Não quero criar um mal-entendido.
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