eu tenho coisas para fazer

Ocupamos o dia na praia, andando em trilhas e, depois, resolvendo as coisas do aluguel que Doyoung deixou sob nossas responsabilidades. Ajudamos também na limpeza e ainda nos despedimos de alguns convidados que estavam embarcando no início do sol poente. Eu até dei tchau ao pessoal da equipe, dizendo que provavelmente irei voltar amanhã à noite, mas só irei aparecer no restaurante no dia seguinte. E como não estamos mais na mansão, nós três nos hospedamos num hotel, cada um num quarto diferente. O bom de eu estar sozinho aqui é poder focar no meu trabalho. Marco uma data para me encontrar com o produtor lá na emissora e, além disso, faço vídeo chamadas de madrugada (horário local) com Kun para saber sobre o restaurante e quais são as demandas atuais.

Agora sinto-me exausto, vou tomar um banho. O vento que vem da janela é calmo e delicado demais para o calor que  estou sentindo. Tomo uma ducha gelada e, quando saio do banheiro, tem uma notificação de chamada de vídeo na tela do MacBook. É Taeyong. Sento-me na cama, ainda enrolado na toalha, e aceito a chamada. Ele está sem camisa e deitado de bruços na cama dele, mas daqui dá para ver o rosto avermelhado pela quantidade de sol que tomou hoje.

— Oi, Ten — ele acena para mim, apoiando-se nos antebraços. — Tem um minuto?

— Oi... — afasto a franja do rosto e me estico para ligar o abajur, porque a iluminação do meu rosto está bem ruim.

— Você vai voltar amanhã mesmo? — questiona. — Ou melhor... Hoje, né? Porque já passou da meia noite...

— Acho que sim... Por quê? — sinto agonia com o ângulo de inclinação da tela, então fico ajustando enquanto Taeyong ergue-se para sentar-se na cama.

— Você disse que ia pensar sobre Santorini e Atenas, lembra?

— Ah...

Fico olhando o céu escuro pela janela, pois de fato não estou totalmente lembrado disso. Achei que tivesse sido um sonho, mas aparentemente não foi. Ainda bem que não confirmei nada, uma vez que seria loucura ficar esticando o tempo da viagem. Yuta vai hoje, então talvez eu vá com ele também.

— É que eu tenho coisas para fazer — digo, mas não no intuito de dar-lhe desculpas.

Pela sua expressão, ele fica bem chateado com isso. Eu não quero que ele se sinta mal com essas coisas, mas ele realmente fica.

— Você também disse que queria viajar comigo, então pensei que... — ele solta um suspiro. — Ah, deixa pra lá. Desculpa por te incomodar.

E ele simplesmente desliga a ligação... Tipo ?????? Quê?

Estou tentando entender que aconteceu com Taeyong desde que descemos para falar com Yuta. Porque antes disso ele estava normal, seu humor estava trezentos vezes melhor que o meu — aliás, daqui explica-se o que foi que aconteceu naquele quarto, naquela cama, nos nossos corpos —, até demais. E, do nada, ele ficou mais fechado, sendo que eu realmente estou mais aberto com ele do que era antes. Deveria ser algo bom, certo? A gente dizer que se ama e ficarmos juntos, e trocarmos carinhos... Então qual o problema dessa vez?

Tento inciar uma nova chamada, mas ele parece rejeitá-la. Eu não gosto dessa ideia de ir correr atrás de alguém, porque esse era o tipo de coisa que nunca gostei de fazer e, mais ainda, um dos porquês de relacionamentos serem uma porcaria. Não que eu acho que eu deveria ter tudo na mão, porém compreendo a simplicidade de determinadas coisas que são dramaticamente dificultadas por questões sentimentais. Ele está amuado e eu estou com raiva já. Que ótimo.

Eu deveria era encher ele de chamadas, mas não posso, porque ele não tem mais celular. E sei que jurei não comprar um celular para ele, mas a primeira coisa que irei fazer ao voltar para Seul será comprar um aparelho novo e de última geração para ele. Porque, sinceramente, é difícil manter contato por email e chamadas de vídeo pelo notebook — que, com toda a certeza, ele deixou de lado justamente para me ignorar. E o que Ten Chittaphon Leechaiyapornkul está fazendo agora mesmo? Sim, vestindo-se o mais rápido possível para bater à porta dele e perguntar um "qual foi?".

— Qual foi? — falo isso mesmo, assim que ele abre.

— Nada, eu vou dormir — é o que Taeyong me responde, o rosto todo assado porque esqueceu de repôr o protetor depois de mil horas debaixo do sol. — Boa noite... Ou madrugada.

— Vou entrar — empurro um pouco a porta e entro no quarto dele. Terrivelmente idêntico ao meu.

Sigo para a cama dele enquanto Taeyong fecha a porta. Quando senta-se ao meu lado, aproximo-me o suficiente para lhe dar um beijo na boca. Ele nem reage a isso, e olha que Taeyong é louco por beijos.

— Você não vai me beijar só porque não posso viajar contigo? — pergunto, apoiando-me apenas com uma mão no colchão.

Taeyong olha para a minha coxa por alguns segundos, depois ergue o olhar ao meu. Toco seu ombro e faço um pouco de carinho, porque ele parece meio tenso e não sei o que ele está dentro dele. Quero mostrar apoio, mas também não quero ficar sendo ignorado o tempo todo.

— Não é isso, é que... — solta um suspiro enorme. — Você está diferente, mas ao mesmo tempo é a mesma pessoa de antes...

— Você esperou que eu fosse outro alguém? — junto as sobrancelhas, meio confuso com a conversa.

— É que você veio com aquele papo de relacionamentos e tudo mais e acho que já estou cansado disso.

Pardon? Devo cuvar-me perante tuas vontades?

— E você namorou na Itália, o que parece meio hipocrisia da sua parte... — ele acrescenta, encolhendo os ombros.

— Porque era uma situação diferente, era uma pessoa diferente. Eu sabia que se eu sumisse no dia seguinte e fosse para a Coréia, ele iria ficar bem... — eu explico, já entendendo qual é o ponto da conversa.

— Ten, ninguém fica bem com isso.

— Ele, sim.

— Como você tem certeza?

— Praticamente falo com ele todos os dias e posso assegurar que está tudo bem — dou de ombros.

Taeyong aperta os olhos por alguns segundos.

— Eu não consigo te entender, por mais que eu tente... — vira-se para tirar o notebook da cama e deixá-lo numa das bancadas. — Às vezes fico a pensar que o problema sou eu.

— Taeyong, você quer tanto assim viajar? Se sim, está tudo bem — eu agarro o notebook dele assim que põe sobre a bancada. Abro e faço um gesto para que ponha a senha.

— Não é isso, Ten... — ele digita a senha rapidamente e, como está nervoso, erra umas duas vezes. Quase peço para ele me dizer qual é, porque claramente estou mais calmo que ele agora.

Meu impulso é abrir o navegador para pesquisar como podemos embarcar para Santorini, mas a aba aberta com um email de Yuta chama minha atenção.

De: lalalalalalamotomoto@outlook.com
Para: powpowtaetae@gmail.com
Assunto: noss gato vose eh enorme
─────────────────────
taetae não se esqueça de falar com o @ sobre aquele papo de relacionamento viu? porque eu sei que isso te deixa meio bad ent tu tem que falar. peça no serviço de quarto uma faca, porque se ele levar a dele, vocês tem como lutar igualmente. o maluco é psicopata cuidado viu, ele quase arrancou meu cu. boa sorte e não morra !!
— assinado: tu me ama porque sou o motomoto bebe mostra tua pança

Finjo que não li o e-mail rapidamente e abro uma outra aba onde começo a pesquisar. Sinto vontade de perguntar ao Taeyong se ele está ficando comigo ou se é Yuta no lugar dele, já que o japonês praticamente está por trás de todas as atitudes que o Taeyong tem em relação a mim. Esfrio um pouco minha cabeça, mesmo quando Taeyong vê o que estou pesquisando e tenta tirar o aparelho do meu colo.

— Vamos para Santorini, então... — afasto sua mão do teclado. — Deixa só eu pesquisar aqui...

— Você não tem que fazer isso se não quiser, Ten — me diz. — E eu já disse que o ponto não é esse. É que tipo... Há algo de errado comigo?

Giro o corpo na direção dele e inclino-me para um beijo. Taeyong levemente vira o rosto para o lado, e meus lábios acabam encostando sua bochecha. Lhe dou um beijo aqui, depois desço um pouco para o pescoço e lhe deixo outro beijo carinhoso. Se ele não quer, também não sei como posso expressar meu amor por ele. Se não posso abracá-lo, porque não irá retribuir... E se também não posso beijá-lo... É difícil. Eu não sei que é que eu tanto faço de errado.

— Tá, desculpa... — olho seu rosto bem próximo e enxugo um pouquinho de suor que ele tem na testa por conta do cabelo. — Eu faço meu máximo por você e não sei como posso melhorar quanto a isso. E sei disso porque... Caramba, Taeyong, eu posso ter namorado com várias pessoas durante toda a minha vida... Mas você tem o meu amor e... Eu já parei de negar isso, entende? Isso é um puto avanço meu, porque me deixa muito desconfortável e me faz parecer fraco e eu não gosto de parecer fraco, então... Eu te amo, entende? E você talvez tenha algo que eu absolutamente não consigo dar a alguém... Só quero que fique bem, ok? 

— Desculpa, Ten, desculpa — ele abaixa a cabeça e apoia em meu ombro.

— Para de pedir desculpa, sou eu o problemático aqui — acaricio sua nuca. — Vamos passar uns cinco dias viajando... Tudo bem por você?

— Uhum — ele ergue a cabeça e sorri. — Obrigado.

— Está tudo bem — respiro fundo e volto a prestar atenção no site que estou navegando. Ele está inteiramente em inglês e, como Taeyong não tem tanta paciência, apoia a lateral da cabeça em meu ombro e fica brincando com a costura meio solta da camisa que, por milagre, estou usando.

Fico tão focado nas contas de hospedagem e pesquisa sobre os lugares que iremos passar que mal percebo a ambiguidade da mão ousada de Taeyong no meu peitoral e abdômen até chegar à minha virilha. Eu não consigo entender essa atitude dele e viro o rosto para o seu.

— Taeyong? — olho para onde sua mão está, porque ele começa a apertar como quem quisesse me deixar ereto. — Taeyong? Você não precisa ficar fazendo isso para me agradar, não. Está tudo bem, sério.

— Eu sei — simplório, responde-me, sem nem cessar com a mão lá embaixo. — Só quero fazer. Você deixa?

— Por que você está agindo assim? — tiro a mão do touchpad do notebook e tento afastar a sua do meu short. Era pra ter feito isso antes, porque acabei gostando do carinho. — Não é do seu feitio... Tá com tesão acumulado, é?

— É — ele responde e eu tô ????

— Era piada, não sabia que você iria concordar — rio. — Espera... Isso é sério?

— Uhum — ele concorda com a cabeça.

— Depois te ajudo nisso, estou tentando ver as coisas da viagem... — volto a prestar atenção no monitor, alternando entre a calculadora e sites que estou acessando. O lugar é um puto lugar lindo, que inferno.

Agora sim consigo ver-me com ele entre as construções alvas e cúbicas das principais cidades. Está me encantando tanto essas imagens e olha que mal tenho tempo para fazer turismo. Normalmente só viajo quando preciso resolver alguma coisa, não para simplesmente curtir aquilo. Mas que bom que vou tirar um tempo de folga — mais tempo, na verdade. E isso me deixa até mais aliviado. Tenho medo de gostar demais e ficar com preguiça de voltar, porque do jeito que eu muitas vezes procrastino e sou preguiçoso... Isso tem grandes chances de acontecer.

E, enquanto Taeyong fica quietinho fazendo carinho na minha coxa, eu decido que iremos ficar em Oia e qual hotel iremos nos hospedar. Depois disso, onde iremos e quando voltamos para Atenas. Vamos passar uns três dias em Santorini, dois em Atenas e depois voltamos para Seul e aos nossos afazeres. Em Atenas, planejo ir a um museu e em lugares clássicos, afinal nunca estive lá e só ouvi falar. Depois pesquiso mais sobre Atenas, porque Taeyong está todo apressado perguntando se já acabei ou não.

— Acabou? — é a sexta vez que ele pergunta.

Solto um suspiro.

— Já, Taeyong... — acho que ele percebe minha falta de vitalidade em fechar o notebook e deixá-lo sobre a mesinha.

— Ai, que bom...

Após me sentar outra vez, ele arranca a cueca, senta no meu colo e começa a me beijar. E é assim que passamos essa parte da madrugada. Com eu, claro, ocupando minha cabeça com vários "??????????????"

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