eu quero me casar com você
Beijos no chuveiro estão ficando corriqueiros. Pode trocar o disco, já vi esse filme antes. É que ele sempre me empurra contra a parede ou pega-me desprevenido. É carinhoso demais, devo confessar. E quando saímos da ducha, observo quando ele se veste numa lentidão questionável. Ocupo-me em cuidar do rosto, após isso, e em pentear meu cabelo para eu parecer menos maluco. Sinto-me bem agora, sabe? Exatamente bem. Leve, delicado e fresco. Pouco promíscuo, sei. Mas sinto-me bem, apesar de tudo.
— Preciso ir ao salão quando voltarmos — comento, secando meu cabelo com o secador. — Ou eu mesmo faço na minha casa, não sei.
— Que você quer fazer? — através do espelho, vejo como ele tira os olhos da tela do notebook e olha para minhas costas.
— Não sei — respondo francamente. — Não sei se pinto a raiz de loiro, se volto com o cabelo preto ou se faço luzes.
— Adoraria ver-te das três formas — ele responde.
— Nossa, Taeyong... Você me ajuda tanto na minha indecisão... — o sarcasmo toma conta de mim neste momento.
Desligo o secador e volto ao banheiro para guardá-lo. Assim que volto ao quarto, jogo-me na cama ao lado de Taeyong e fico a esperar ele terminar de digitar um e-mail ao Renjun — um pouco de invasão de privacidade da minha parte ficar notando isso, mas não tinha muito para onde olhar. Quando clica no "enviar" e começa a fechar as quinhentas abas abertas, eu deslizo meu corpo na sua direção.
— Você trouxe algum baralho? — lhe questiono.
Taeyong está focado em fechar tudo para desligar a máquina, mas não deixa de juntas as sobrancelhas num bug interno.
— Não... — responde-me. Eu lamento. — Por que um baralho seria útil?
— Para jogar strip poker — eu lhe conto. Taeyong ainda parece confuso, visto que a expressão não muda ao pôr o notebook na bancada. — Strip poker, Taeyong.
— Não sei do que se trata.
— É um poker, só que você tira uma peça de roupa se perder na rodada — calmamente explico, olhando-o de cima, já que não está deitado aqui comigo.
— Ah, entendi... — ele gira o corpo na minha direção, movendo o lençol. — Espera... Você quer brincar disso comigo?
— Não, com o recepcionista — reviro os olhos. A lerdeza dele ainda me surpreende. — Claro que é com você, né!
— Hahaha — ele coça a nuca. — Tomei um susto. Você é muito impaciente para me explicar as coisas.
— Você tem sorte por eu ainda explicar — ergo o tronco, sentando-me. Sinto vontade de pegar Taeyong, enfiar ele na bolsa e levar para casa. — Enfim...
— Hm? — ele aproxima-se de mim.
— Você vai para a festa ou é meme? — apoio-me na mão esquerda e uso a direita para acariciar o peitoral e clavícula dele.
— Desde quando trabalho com memes? — brinca.
— Tá, então vou contigo — concluo. — Saímos no finalzinho do pôr do sol então, ok?
— Uhum — Taeyong, bobinho, encosta a bochecha no meu ombro. — Obrigado.
Eu sorrio com seu rostinho todo espremido contra meu ombro. Ele sorri sem mostrar os dentes e, enquanto isso, lhe acaricio o pescoço. Estamos sem maquiagem agora, e dá para ver levemente os rastros das marquinhas que deixei nele no outro dia. Ainda não fizemos nada em Santorini, mas, sinceramente, estou pensando em comprar algumas camisinhas e ver no que dá. Eu nem sei porque ainda não comprei.
— Você é lindo — lhe digo, antes de inclinar-me para lhe dar um beijo rápido e estalado. Taeyong sorri de verdade agora. — Que foi?
— É que agora você está sendo muito mais carinhoso — Taeyong comenta, piscando os olhos lentamente como se estivesse prestes a dormir.
Deve ser a maresia que bate após a praia. A gente não comeu nem nada, porque Taeyong enrolou dizendo que iria comer depois. O depois é agora, mas ele está com um sorriso bobo no rosto e aparenta estar querendo dormir. Pelo que estou vendo, não vamos mesmo comer nada.
— Eu não era antes? — questiono, agora fazendo cafuné na sua nuca. Ele está muito molenguinho. Acho que vou surtar de amor.
— Era, eu acho — ele abraça-me pela cintura. Eu amo quando ele faz isso. — Mas agora está mais... — então boceja, escondendo o rosto na minha camisa.
— Tá com sono? — gentilmente faço-o deitar na cama, uma vez que ele nem luta contra. Deito-me ao seu lado, a mão em seu rosto, acariciando a delicadeza da sua pele. — Durma, depois eu te chamo..
— Tá bom — ele fecha os olhos, mas ainda não dorme.
Eu já observei Taeyong dormir vezes demais para saber quando ele está dormindo, quando está cochilando, quando está descansando e quando está fingindo. Os dois últimos posso ter confundido algumas vezes, decerto. No entanto, os dois primeiros são claros demais para mim. Agora, ele só está descansando. Deve ter descansado pouco, uma vez que ficou até tarde conversando comigo.
Me aconchego mais junto a ti o suficiente para dar-lhe alguns beijos no rosto. São barulhentos e lentos. Acho que ele não liga. Certo momento ele sorri, então deixo selinhos em seus lábios. Ele tenta beijar-me de língua, mas eu fujo do contato. Quero só deixar alguns beijinhos do seu rosto, só um pouco. Quero que sinta-se amado e calmo, que consiga dormir pelo menos com isso. Cubro seus olhos para que não olhe para mim e capturo seus lábios outra vez. Ele consegue beijar de língua, porque eu realmente vacilo quanto a isso. Ainda assim, caio nessa. Eu amo o jeito que ele me beija.
Taeyong tem mil e quinhentos jeitos de me encantar. São como armas. Eu deixo ele me domar, me ganhar, sacudir as vigas que me sustentam. Mas o beijo é meu, eu deixo lento. E lento, ele puxa meu quadril perto o suficiente para que a mão esquerda escorregue delicadamente pela minha bunda. Dessa vez estou a usar roupa íntima e uma bermuda jeans, para caso de sairmos. Não vamos por agora e está tudo bem. Lhe entupo de beijos, mais e mais, até ele ficar de olhos fechados com um sorrisinho bobo no rosto. Tiro sua franja do lugar, bagunçando seu cabelo, sentindo a textura delicada por não estar exposto ao descolorante. Eu gosto dele com cabelo platinado. Mas também gosto bastante dele com o cabelo preto.
— Ten? — do nada me chama, não abre os olhos para me olhar. — Você vai ficar diferente quando voltarmos?
— Diferente como?
— Sei lá... Diferente — ele se encolhe um pouco. — Tipo... Diferente de agora.
— Que seria diferente de agora?
— Porra... — ele resmunga, aconchegando o rosto em meu peito. — Você vai me abandonar? É isso que quero dizer...
— Antes tivesse dito isso, Taeyong — abraço-o pelo ombro bem forte. — Vai dormir, vai. Quanto antes você dormir, mais vai descansar.
De fato, tua quietude chega. Fecho os olhos por um tempo, fazendo-lhe carinho, sentindo sua respiração ficar pesada. Cochilo e acordo inúmeras vezes até pegar o telefone e checar o horário que falamos que iríamos nos arrumar. Sinto-me sonolento mesmo chamando ele para nos arrumarmos. Após muita luta, ambos ficamos prontos. Eu não quero chegar cedo, uma vez que não sei como é. Mas já está escuro demais, então vamos nessa.
O endereço dado a nós acaba servindo como uma luz ao taxista que, ao perguntar onde iremos, acaba recebendo uma encarada meio sem sentido. Eu não sei onde ele percorre, mas fico quieto — exceto quando puxo Taeyong para perto, porque ele estava grudado na porta. Essa frase nunca fez tanto sentido quanto agora: se ele morrer, eu mato. Eu estou falando sério.
Quando chegamos, eu me surpreendo por ter dado um valor bem filho da puta no taxímetro. Taeyong me instiga a questionar, mas eu só faço pagar. A frente da casa é branca e tem um jardim e uma piscina após o portão, só que posso ver quão cheio está de gente. Nós entramos calmamente, analisando a arquitetura e os três andares da casa. O terraço também tem pessoas, porque consigo ver algumas delas inclinadas com copos nas mãos.
Ao passo que entramos, Taeyong segura-me pela cintura e me deixa abrir caminho entre as pessoas. Assim que nos vemos na sala entupida de gente, Theo vem ao nosso encontro, com um sorriso no rosto e cabelos meio desgrenhados. Acho que ele já bebeu bastante, e olha que nem deu nove horas ainda. Apresenta-nos a alguns amigos e, em pouco tempo, o porquê de ter nos chamado aqui fica claro: ele tem um amigo que está a fazer um dicionário mundial de palavrões e está contanto conosco para darmos algumas informações sobre escrita e pronúncia dos palavrões coreanos, tailandeses e, de quebra, também italiano.
Bebemos conversando com ele numa salinha do segundo andar. Ele faz isso no papel e nós ajudamos. A todo momento Theo aparece aqui com uma bandeja com bebidas e algumas coisinhas para comermos. Acho que ficamos tão empolgados... Ou talvez seja o álcool. Eu gosto quando bebo e fico assim, porque fica sem um peso nas costas e sinto-me livre para fazer ou falar as coisas que penso. A cada gole, sinto-me voar. E fico rindo do Taeyong todo torto tentando explicar em que tipo de situação se usa determinado palavrão. Ele tem um sotaque muito fofo. Ele é tipo: "eu não estou muito seguro, mas estou tentando". E isso é tão legal. O modo com que ele para, começa a falar, trava outra vez e retoma numa frase diferente da que ele estava falando, porém de mesmo significado. Sorrio do nada olhando ele.
— Estou animado para aprender palavrões em tailandês também! — o amigo de Theo, um tal de Alexandre, exclama ao virar o verso da quarta página do caderno dele. — E italiano também.
— Eu não sei muitos em italiano, mas tentarei ajudar ao máximo — eu ainda respondo, agora pegando a garrafa de alguma coisa na mão de Theo. Eu não sei bem o que está acontecendo.
Eu só sei que essa merda é forte demais, parece até aquela bebida que comprei mais cedo. Essa tem um gosto bem amargo e eu detestei, mas o álcool desce rasgando tudo que eu nem me toco em parar de beber. Taeyong tem a mão no meu joelho e estou tentando ser útil aqui. E, falando nele, está bem gostoso nessa camisa de botões — raridade, só para enfatizar — numa estampa de formas esquisitas azul e branca. Eu amei a textura do tecido, só não entendo por que é que não paro de passar a mão no seu peitoral.
Eu não sei quanto tempo levamos ensinando este cavalheiro as balbúrdias dos países que tive contato. Por incrível que pareça, o sono dissipa. Ele agradece nossa contribuição e, bem na hora, uma moça de mechas douradas surge a lhe chamar. Falamos um até logo bem mixuruca e, quando ele sai, misteriosamente fico olhando o tênis dele. Será que é um Jordan? Meu senhor, meus pensamentos já estão avoados...
— Esse negócio é horrível! — Taeyong exclama, sentado ao meu lado, servindo-se mais com essa coisa da garrafa. — E é tão forte que é capaz de matar.
— Eu acho que se eu beber um gole dessa coisa e for dormir, eu acordo uma ressaca infernal.
— Com — Taeyong fala do nada, afastando os lábios do copo.
— Com o quê?
— Você esqueceu de falar o com — pontua ele. Depois disso, dá o temido gole. Sua expressão diz tudo. Parece que está bebendo ácido. — Quando disse que acorda com ressaca infernal.
— Tá bom, dicionário — recosto-me no sofá e reviro os olhos. Taeyong ri.
— Ey, Ten... — sua mão encontra a minha pousada na coxa. Ele entrelaça nossos dedos e percebo que sua mão está úmida, não sei se de suor ou da bebida. — Eu, Ten... Ten... Eu quero me casar com você.
— Taeyong, você já está bêbado? — porque apenas sua hesitação e enrolação para falar já deixou tudo mais que escancarado.
Se Taeyong começa a beber assim, ele fica meio carente. Se Taeyong fica carente, é lei ele vir me abraçar, me beijar, me pedir amor, pedir em namoro e, agora, em casamento. Se eu ficar dando corda é pior, então é melhor deixar as coisas bem claras desde já.
— Não, não! Eu juro! — ele exclama com tanto entusiasmo que nem preciso levar em consideração as suas palavras. Também, Taeyong se acabou de beber enquanto eu explicava.
Puxo sua mão para que juntos possamos ir ao térreo encontrar Theo ou apenas arranjar bebidas que não tenham gosto de morte. Um azedume isso daqui, de fato. Tae está meio lentinho nos passos. Não entendo porque bebeu tanto se não para de reclamar do gosto esquisito. É um maluco mesmo.
— Fica aqui — lhe peço, deixando ele sentado num dos sofás da sala. — Eu vou procurar o banheiro e já volto.
Taeyong faz um "legal" com a mão e eu me retiro. Eu entro na cozinha duas vezes, porque me perdi real na hora de procurar o banheiro. Quando decido perguntar, eu recebo a informação de que estou, literalmente, ao lado da porta. Ponto para a minha lerdeza. Parabéns.
O sabão do banheiro estranhamente acabou, então tenho que lavar minhas mãos com lencinhos umedecidos. Eles lavam mesmo? Só deus sabe. Tô contanto com a sorte na minha higienização. Eu ia usar o sabonete do box, mas era em barra e provavelmente usam isso no corpo, então... Ok, pareço um fresco agora que tem nojinho das coisas, mas... Nunca se sabe, né? Prefiro os lencinhos. Tem cheiro de bebê. E eu sou um bebê, então... Já está explicado.
A desgraça toda acontece quando eu saio do banheiro e não encontro Taeyong onde deixei. Começo a pensar que ele foi embora ou me desobedeceu. Como Tae está na era rebelde da adolescência, ele com certeza deve estar vadiando por aí de propósito. Estou quase subindo as escadas outra vez quando escuto a algazarra na cozinha. Eu penso: vou dar só uma olhada, pô. E o que eu encontro? Isso mesmo. Taeyong Lee numa disputa de shots com um cara. Não é nada de mais, né? Errado. Eu olho os copos vazios dele e fico estarrecido. E se de repente Taeyong morrer de cirrose? Ah, nossa, que exagero, né? Mas e se ele ficar num coma alcoólico? Aquela música estúpida de The Smiths vai se tornar real? Caramba, Taeyong é muito maluco e irresponsável!
Eu sou o cara que diria: não, man, seu corpo é muito jovem para você ficar bombardeando ele com tanta porcaria, isso vai atrapalhar seu desenvolvimento. Também diria, 500 anos após, para a mesma pessoa: não, man, seu corpo é muito frágil e velhinho para você ficar bombardeando ele com tanta porcaria, isso vai atrapalhar seu envelhecimento. Então, sendo a pessoa nova ou jovem: não é para acabar com a droga do corpo, banana, porque o dinheiro que seria destinado para coisas que você quer, vai acabar sendo usado para pagar o seu velório. Você quer isso? Eu vou dar uma surra no Taeyong. Eu vou meter a porrada nele. Tem literalmente oito copos vazios perto dele. Agora tem nove. E ele não para de beber os que estão cheios.
Taeyong perde o ritmo gradativamente. O moço com quem está a competir parece ser afiado para este tipo de coisa, ele realmente parece não se importar em beber copos atrás de copos de bebida alcoólica. Taeyong é mais fraco. De início, sagaz. Agora, está meio hesitante ou não consegue ir tão rápido quanto o oponente. Decerto, a lentidão lhe acarreta numa pausa. Inclina o corpo, olha para o chão e sabemos que ele está desistindo quando afasta-se da mesa. O mais foda disso tudo são os burburinhos e comentários. Eu não sei o que falam, está em grego. Alguns exclamam em inglês, mas não estou prestando tanta atenção. Então, vejo bem, Taeyong tira a carteira do bolso e paga o vencedor com algumas notas e uma batidinha no braço. Não acredito que isso tudo foi uma aposta.
— Você tá bem? — quero saber, assim que ele lembra da minha existência e vem até mim.
— Mais ou menos — fala rápido, apoiando-se no meu ombro direito.
Levo Tae ao sofá de antes, frisando que não deve sair nem a pau. Ele concorda, mas acho que porque aprendeu a lição da pior forma. Arranjo um copo cheio de água e lhe dou. Fico um tempo ao seu lado, cantarolando algumas músicas enquanto ele fica quieto, observando a movimentação ao redor de nós. Ele só sacode um pouco a perna e não diz nada. Nada. Só observa.
— Quer vomitar? — pergunto próximo, para que a música alta não atrapalhe seu entendimento.
— Não, eu tô... Preciso ainda não — ele solta um suspiro e balança a cabeça. — Você quer dançar?
— Você vai conseguir dançar?
— Vamos logo — ele levanta de repente, puxando-me junto com ele para perto das caixas de som.
De início, cada qual move-se no seu próprio ritmo. Mas nos esbarramos tanto, nos esfregamos tanto que o grude torna-se inevitável. Vez ou outra gosto de tê-lo próximo. Bem próximo. Próximo só para beijá-lo e poder acreditar em algo menos cruel que meus pensamentos.
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