eu não fazia ideia disso!

Yuta é uma porcaria no ping-pong. Ele já arremessou essa bola na minha cara umas seis vezes e insiste em rebater com força. Seu jeito violento e desesperado em jogar me dá tédio. Me pergunto quando foi que cresci tanto assim, ao ponto de achar tudo chato, sem graça, e o ato de sentar-se e olhar para as paredes ser algo prazeroso. Virei vovô. Nunca critiquei.

Uma hora e meia esperando Taeyong e nada dele. Doyoung está na portaria de olho, fazendo uma chamada com a gente para nos atualizar de tudo. Eu questiono qual será a desculpa da vez. Ele diz que vai atrair Taeyong ao salão de festas com o intuito do Lee gravar um vídeo dele fingindo que está quebrando a parede e depois colocar um efeito especial para postar na internet. E agora eu percebi que nunca antes quis dar um tapa no Doyoung.

— Você já falou isso para ele? — eu questiono, segurando o celular no viva-voz, ao passo que minha outra mão ocupa-se em fazer carinho no couro cabeludo de Jaehyun. Estamos jogados no sofá. A diferença é que Jaehyun está, literalmente, deitado.

— Não, mas ele com certeza vai acreditar — Dodo responde. A inocência dele é o que me preocupa.

— Dodo, isso não vai funcionar — respondo com toda a paciência do mundo. — Diz que colocaram uma televisão nova aqui, ela é gigante, aí dá pra vocês jogarem aqueles jogos bestas que vocês gostam.

— Primeiro, senhor Ten, saiba que jogos são arte! — e começa o tonto do Doyoung fazer a militância dele. Ai, ai, estou sem paciência.

— Dodo tá certo — Yuta aparece atrás de mim, tentando olhar para ver se é chamada de vídeo ou não. Solta um suspiro decepcionado ao perceber que é só o áudio e me dá vontade de soltar um "se manca" por ele estar praticamente colado em mim. — Mas só na parte do jogo mesmo. No resto das coisas, Ten tem razão.

— Viu só? — digo. — Esquece essa parada de vídeo e foca na televisão gigante que supostamente colocaram.

— Tá ok, então — olha só, o corno é bem obediente. — Mas fiquem sabendo que o Taeyong super acreditaria na minha desculpa.

Até parece. Se ele, que namora uma mulher há anos e aparentemente nunca ficou com nenhum homem, se defende como hétero em tudo quanto é lugar; o Taeyong não acredita e acha que é do vale... Imagina só se ele soltasse uma porcaria daquela como desculpa.

— O negócio é você não negar o aniversário. Diz que comprou um jogo besta aí e que está louco pra jogar com Taeyong nessa televisão top daqui. Também diga que é um bom presente de aniversário. Aí ele não desconfia que estamos fazendo algo. Vai por mim, não fingir demência no dia do aniversário de alguém é a melhor forma de enganá-la — eu pareço até um profissional falando, mas a verdade é que estou ansioso para quando Taeyong chegar.

Tipo... Como vai ser sua cara? Ele vai ficar surpreso? Aposto que sim. Tem balões prateados de letras que formam seu nome. E a televisão está aqui, mas não é tão grande quanto espero que Doyoung narre que é. E temos Just Dance. E karaokê. E essa mesa ridícula de ping-pong. E uma de totó. Um tabuleiro de xadrez, porém duvido que alguém irá jogar. Renjun que trouxe, dizendo que Taeyong recentemente demonstrou interesse em querer aprender outra vez, porque só lembra os movimentos do cavalo e da torre. Eu sei jogar xadrez muito bem e só em pensar em jogar com ele, eu sem querer sorrio. Espero que ele jogue e queira fazer isso comigo.

E há doces e salgados na mesa, assim como o bolo brega com sua foto de espacate, rodeado de chantilly. Eu sempre rio quando olho para a mesa, então passo a ficar encarando a tela do aparelho televisivo onde Renjun brinca de dançar com o namorado dele, um garoto alto chamado Jaemin. Parece que eles dois enchem muito o saco do Taeyong e me pergunto aqui para o que nesta vida Lee Taeyong tem paciência para lidar? Ta ok que sua visão sobre Yuta ser insuportável era totalmente correta — até mesmo eufemismo, percebi nesses dias de intensa interação —, mas o resto é puro estresse dramático que o faz ficar extremamente adorável com aquela cara de pateta e de raiva. Ai, quero logo que ele chegue...

Além do Renjun e seu namorado, brotou aqui também o único amigo que ele tem da faculdade. Isso me deixa meio triste, mas está tudo bem. Taeyong sempre foi de centralizar. Ele foca em algo e ignora o arredor, ou talvez não consiga dar conta de outras coisas. E eu sempre entendi muitas coisas dele.

— Fala que tu conseguiu o Final Fantasy VII Remake, porque ele estava interessado quando saiu — o amiguinho de Taeyong fala, mas sua voz é tão baixa que o Dodo não escuta muito bem.

— Não ouvi nada — Yuta diz, com sua expressão exageradamente confusa.

Final Fantasy VII Remake — digo, repetindo o dito por ele.

— Jungwoo, você tem que falar um pouquinho mais alto, meu anjo... — Yuta vai lá pegar na mãozinha dele pra explicar sobre cordas vocais. Eu já me cansei dessa palhaçada toda ao redor de mim.

— Se todo mundo falasse como Jungwoo, minha cabeça não doeria tanto — é o que Jaehyun comenta.

— Ew, Jaehyunnie... Tem remédio lá no meu quarto, vou passar lá e pegar antes de aparecer aí com Taeyong — narra Dodo, e o sorriso de Jaehyun torna-se ridículo.

— Viu só? Ele cuida mais de mim do que você diz que cuida — ele ainda tem a maldita coragem de falar isso para mim.

Jaehyun tem que entender que na nossa vida cada um cuida do outro e no final todo mundo se ama. Eu cuido do Taeyong. Jaehyun cuida de mim. Doyoung cuida de Jaehyun. Ninguém cuida do Yuta, porque ele é chato. Taeyong cuidava de mim, agora não, acho que ele não liga mais para isso. Doyoung também cuida do Taeyong. Taeyong agora não cuida de ninguém, Taeyong é criança, precisa de cuidado e atenção. E esse esquema todo fechado é a nossa relação, nosso squad. Quem olha nem imagina que um pega o outro, um gosta do outro, um beija o outro... Que fase, amigos.

— Vai se lenhar, Jaehyun — me levanto de propósito só para fazê-lo levantar-se também.

Renjun e Jaemin terminam a canção do Just Dance e se sentam com as respirações desreguladas. Eu não vou me acabar todo agora, estou apenas esperando a festa começar para fazer tudo que quiser.

— Shhh, o Taeyong desceu do buzu agora! — Dodo sussurra no telefone. — Vou desligar, tchau!

E o surto começa agora. Desligamos todas as luzes, nos escondemos, ficamos todos quietos à espera dos dois. Sabemos que irá demorar, porque tiveram a ideia genial de fazer o salão de festas perto da área das piscinas e afastado dos prédios, para que o som não incomode tanto os vizinhos. E como Taeyong ainda está na portaria, meio que isso vai demorar um pouquinho. Mas não temos pressa. Não mesmo.

— Que cheiro foi esse? — Jungwoo, com um tom bem pleno, questiona. Já sei quem foi, mas não vou me estressar mais. Não vou.

— Foi meu pum... Hehe — e, como sempre, Yuta fode tudo. Ele ainda solta uns três bem altos e minha real vontade é de esganá-lo. Ele não tem senso? Por que Taeyong está com ele, afinal de contas? Que garoto desnecessário, grrrrr... Ódiooo.

— Tem como você travar esse cu aí, por favor? — Jaehyun pede bem gentil enquanto gruda-se a mim para não ser visto, caso Taeyong apareça do nada.

— Shhh, seus merda! O macho tá chegando! — Renjun reclama e, tirando a parte de que me chama de merda, ele é bem sensato.

De fato. Inicialmente, silêncio. Do nada, passos e um chiado de conversa. Reconheço a voz do Taeyong perguntando qual o modelo da televisão (mas qual a importância disso??) e a resolução da imagem. Doyoung diz que não sabe muito e, após falar o nome do jogo que supostamente comprou, eles entram e ele é obrigado a ligar a luz.

— Surpresa!! Feliz aniversário!! — nós gritamos, porém cada um do seu jeito e com as palavras de preferência. Só consegui extrair isso de igual.

O rosto de surpresa de Taeyong é de fazer meu queixo ir para o chão. Porque ele está realmente surpreso com isso, explicitamente. Nos seus braços, dois livros grossos de filosofia. Ele está vestindo um moletom e uma calça preta, algo bem básico mesmo. Acabou de voltar da faculdade e seus olhos cansados são enfeitados por um brilho que diz que isso não passava nem nos seus pensamentos.

— Isso... Nossa, eu... — atrapalha-se todo ao falar. — Eu não fazia ideia disso!

E agora vendo seu sorriso, ainda mais quando o olhar enconta-se com o meu sem querer, eu me sinto animado com sua reação positiva. É como um café, sabe? Que me deixa bem alerta e atento a tudo.

— Feliz aniversário, Taeyong — eu sorrio para ele, após consertar o óculos no rosto. — Já tá virando mocinho...

Eu não sei se é porque sou o primeiro da rodinha, mas ele simplesmente avança e me abraça. Ele não parece estar tão cansado assim como pensei que estaria (porque Jungwoo disse que todo mundo vai embora, mas Taeyong sempre fica por lá para estudar na biblioteca), talvez porque sentiu-se energizado com tudo isso. E sinto-me energizado com ele aqui. Tenho que tentar ficar na ponta do pé para deixá-lo confortável, e meu queixo vai para seu ombro como se fosse o encaixe perfeito. Eu gosto disso, de toda forma. Porque é ele aqui, me abraçando daquele jeito forte e urgente, como se eu fosse fugir logo em seguida.

Eu gostaria de sentir mais seu cheiro, de tocar seu pescoço, de lhe deixar beijos. Mas tenho que fingir que sou seu amigo, então dou batidinhas nas suas costas e afasto-me meio sem jeito.

— Feliz aniversário, cara — eu digo, e ele me olha desapontado.

É que algumas coisas precisam ficar claras.

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